Quando Tudo Aconteceu escrita por Mi Freire


Capítulo 17
Capítulo XVI


Notas iniciais do capítulo

Ufa, finalmente é sexta-feira. Precisei de dois dias para poder concluir esse capítulo e aqui está finalmente. Espero que gostem. Com o final de semana chegando quero aproveitar meu tempo livre para adiantar alguns capítulos para não precisar enrolar tanto para postar.



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― Quando pensou que iria me contar? – ouço Isabel andando firmemente até mim. Ela tem um papel em mãos, que logo reconheço ser a última carta que o Bernardo me entregou naquela manhã de sábado logo após o Vicente ter saído para o trabalho.

Vicente saiu por volta das nove da manhã, um pouco depois que acordei. Nem fez questão de tomar o café da manhã, pois disse que tinha algo muito importante a se resolver e que ele queria voltar pra casa o quanto antes. Dois minutos depois que ele saiu com sua pasta de trabalho em mãos, ouço alguém bater à porta. A primeira coisa que pensei foi que o Vicente devia ter esquecido algo, pois saiu muito depressa, e queria que eu pegasse pra ele.

Corri até a porta, mesmo ainda de pijama, o cabelo solto muito bagunçado e o rosto ainda amassado por ter acordado a pouco tempo; e dei de cara com o Bernardo, na porta da minha casa, com a carta em mãos. Por sorte eu havia pelo menos escovado os dentes, e ele me deu um rápido beijinho depois de olhar para os lados e se certificar de que estávamos seguros. E mesmo me sentindo estranhamento ridícula ainda de pijamas, o cabelo bagunçado e os olhos apertados de sono, eu o abracei forte. Ele me entregou a carta e foi embora logo depois.

Um verdadeiro cavalheiro. Fofo. Romântico. Carinhoso. Atencioso e prestativo. Bernardo é composto de mais qualidades do que defeitos. Eu sinto que gosto dele cada vez mais, a cada dia que se passa, me sinto mais conectada a ele. E estou verdadeiramente gostando desse nosso namoro – não oficial – secreto. Sei que é arriscado, mas me sinto viva, uma verdadeira adolescente que só que ter o que deseja mesmo que pra isso tenha que passar por cima de muita coisa. Eu confio nele, me sinto segura ao seu lado. Até mesmo protegida. E só quero que isso que temos juntos dure por muito tempo.

Peguei meu copo com suco – já que detesto café com leite – peguei também minhas torradas e subi correndo para o meu quarto para ler a carta. Enquanto lia, só conseguia sorrir e suspirar. O Bernardo consegue ser até mais romântico que eu, bem à moda antiga, o tipo ideal de garoto. E eu que achei que isso não fosse possível. Às vezes eu gostaria de ser como ele: segura de si, corajosa e determinada. Mas quando se trata dos meus sentimentos eu simplesmente não consigo agir como gostaria. Eu admito, também sou romântica, gosto de escrever, gosto de filmes e livros de romance e já sim sonhei com o príncipe encantado como a maioria das garotas. Mas tudo que escrevo, sinto, gosto, de alguma forma não consigo expor para o mundo, e deixo guardado dentro de mim ou deixo escondido dentro da minha caderneta no fundo da minha gaveta. Algo só para mim.

Isso me faz pensar se o Bernardo gostaria que eu fosse mais como ele, se ele também gostaria de receber cartas, bilhetes ou declarações. Quem não gostaria? É uma pena, que por mais que eu tente, sinto uma espécie de bloqueio dentro de mim.

― Você não leu isso, não é? – perguntei, encarando-a. Isabel também estava muito séria. Parecia ofendida.

― Claro que não! Só eu sei o quanto você odeia a violação da própria privacidade. – ela me encara de volta. ― Eu vi as iniciais no envelope e deduzi do que se tratava.... Clarissa, você e o Bernardo estão namorando? E você não pretendia me contar?

Isso é realmente importante pra ela.

Já é tarde. São três e meia da tarde e já almoçamos.

Pego a mão de Isabel, arrasto-a até o sofá da sala e nos sentamos ali. Com a carta sobre meu colo começo a contar tudo a ela. Tudo que eu deveria ter contado desde o início, mas preferi esconder por medo. Por fim, a expressão de Isabel foi mudando pouco a pouco, de séria a surpresa, estampada e animada com as minhas revelações.

― Eu não acredito nisso! – ela estava de queixo caído. Os olhos verdes arregalados. ― Eu sabia! Desde o início eu sabia! Lembra? Eu disse que ele estava na sua e você dizia: “Não, não tem nada a ver. Porque um garoto como ele iria gostar justamente de mim?” – ela tentou imitar a minha voz, o meu jeito, e até que mandou bem. ― Mas no fundo eu sabia! Sabia que você também estava a fim dele, como nunca antes se sentiu por nenhum garoto, mas estava com medo desse paixão, do que ela poderia te transformar. – pra uma garota de quatorze anos, Isabel sempre foi bem mais esperta do que eu. ― E agora, olha só pra vocês, estão namorando!

― Não é bem um namoro, Isa. – digo, passando meu dedo pela carta. Sobre a caligrafia do Bernardo. Tão bonita! ― E lembre-se: é segredo. Você não pode contar isso a ninguém, nem mesmo para as suas amigas ou para o Edu. Nem mesmo ele sabe. Só a Marina. E por falar nisso. – lembrei-me de algo. ― Você e o Edu...?

― Fica tranquila, não está rolando nada entre nós. – ela desvia o olhar, e suspira. ― Não ainda. O Edu é o cara mais bacana que já conheci, Clary. Ele é divertido, super amigo, engraçado, mega inteligente, viciado em jogos e é bem bonitinho. E o melhor de tudo é que ele não é em nada parecido com o Lucas. Aquele idiota! Eu cansei, Clary. Cansei do babaca do Lucas. Ele é tão imaturo! Ele não é capaz de enxergar algo que sempre esteve de baixo do nariz dele.

Eu ri. Ri porque a Isabel é tão melodramática. Parece até uma atriz. Ela é bem infantil as vezes, mas quando tem que ser séria, ela realmente leva as coisas a sério. Até demais. É tão bonitinha.

O Eduardo é mesmo um garoto diferente. Considerado um dos melhores alunos do colégio inteiro. Claro que depois da irmã gêmea dele, Letícia, de outra turma. Ele é bem sério, intelectual, fissurado em jogos de todos os tipos, tímido, calado, e muito concentrado. Aparentemente ele é bonitinho, não mais que o Bernardo ou o Miguel ou o Gustavo. Eduardo é bem mais discreto. O cabelo dele é preto, curto, bem cortado, com um meio topete. Tem sardas, os olhos são castanho-escuros, e usa óculos de grau quadrados de armação preta.

― Você sabe que ele é mais velho que você, não sabe?

― Dois anos. Idai? Nem é tanta diferença assim. E nem aconteceu nada ainda, nem sei se vai acontecer. Mas acima de tudo ele parece gostar de mim, da minha companhia, das minhas piadas...

― Você tem razão. Se ele gosta de você de verdade é o que realmente importa. – sorrio pra ela, segurando sua mão.

― Ah Clary... Estou tão feliz por você e pelo Bernardo juntos. Vocês formam um casal tão bonitinho. – ela sorria também. ― Vai me deixar ler ou não essa carta ai?

Que escolhas eu teria?

Deixei ela lendo a tal carta, afinal ela pediu e eu já tinha lido, e fui até a cozinha para colocar ração para o Pepel e trocar a sua água. E o espertinho, balançando seu rabo branco peludo de um lado pro outro logo ressurge do nada, esfregando-se em mim.

Meu celular começa a tocar sobre a mesa. No identificador de chamadas o nome do Bernardo pisca junto a música de toque para quando ele ligar para mim e eu sempre saber que é ele. A música é Demons do Imagine Dragons.

― Oi, Bernardo

― Clarissa, meu amor, oi.

― Que bom que você ligou.

― Estava com saudades?

Dei uma risadinha toda sem jeito.

― Pois eu estava. Estou. Morrendo de saudades de você.

Ficamos alguns segundos calados.

― Clarissa, você quer ir hoje no cinema comigo?

Que? Nosso primeiro encontro de verdade?

― Bernardo... Não vou poder... Você sabe...

― Eu sei. – ele pareceu levemente chateado. ― Eu sei.

― Quer saber de uma coisa? Eu vou tentar ir. Tudo bem?

― Eu vou adorar! E também vou estar esperando.

― Eu te ligo mais tarde para dar a resposta.

― Por favor, não esqueça.

Fico por um momento olhando para o visor do meu celular, pensando no que exatamente eu faria para soluçar esse problema. Eu queria muito sair com ele. E daria um jeito.

Assusto-me quando sinto uma mão grande sobre o meu ombro, viro-me no mesmo momento. É o Vicente. Chegou do trabalho.

― Clarissa, o que está fazendo? – ele me olha, sério.

― Estava... Estava colocando ração para o Pepel. – escondo meu celular atrás do corpo para não levantar suspeitas.

Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, a Karen surge atrás dele, abraçando-o por trás, como ela sempre costuma fazer, e ela sorri amarelo pra mim. Meio falsa, meio exagerada. Tento sorrir de volta, mas isso, só porque o Vicente está por perto.

― Amorzinho, pensou no meu convite? O papai e a mamãe já estão a caminho. Eles adoraram te conhecer. E eu tive a ideia do jantar, hoje à noite, lá em casa. – a voz dela me dá náuseas.

Ele se vira pra ela, como se tivesse se esquecido disso.

― Pai, vocês vão sair? Eu pensei em irmos no cinema hoje. – digo, quase sem pensar. Olhando inocentemente pra ele. ― Faz tanto tempo em que não vamos ao cinema.

― É pai, a Clary está certa. Faz um tempão mesmo. – Isabel adentra a cozinha com cara de cachorrinho pidão. Chamando a atenção de todos.

Vicente parece complemente perdido, olhando para nós três alternadamente, quase como se esperando uma resposta do céus. Ele passa a mão pela testa parecendo preocupado e depois suspira forte.

― Amor, não venha me dizer que sair pra ir ao cinema é mais importante que um jantar em família. – Karen protesta, olhando pra ele.

― Karen, por favor, deixa que eu resolvo isso. – ele pede pacientemente. Depois, vira-se para mim e para a Isabel. ― Meninas, seria muito bom se vocês pudessem deixar o cinema pra outro dia e virem conosco, para o jantar com os pais da Karen.

― Não! – a Karen se surpreende com a proposta. Essa era exatamente a reação que eu esperava dela.

Está tudo dando certo.

― Pai, a estreia do filme é hoje. – Isabel diz antes de mim, aparentemente mentindo. Não sei de nenhuma estreia para hoje...

― Amor, é um jantar sério, entre adultos. É um momento único. Poderemos ir no cinema qualquer outro dia, mas não dá pra remarcar o jantar. – Karen volta a dizer. Eu apenas observo. ― Deixa as meninas irem ao cinema, só por hoje. Deixa elas se divertirem como duas garotas dessa idade. Podemos busca-las depois, se preferir.

Vicente parece avaliar o que ela diz. Sei que se dependesse somente dele iriamos a esse jantar e não tínhamos porque discutir sobre isso. Faríamos tudo que ele mandasse. Mas como a Karen fez uma proposta interessante, exatamente o que eu esperava dela, Vicente não tinha outras escolhas, a não ser deixar que irmos ao cinema mesmo sem a sua companhia. E tudo estaria conspirando ao meu favor.

― Vocês venceram. Pode ir ao cinema. – ele não parece tão feliz ao ter que dizer isso. ― Iremos busca-las as nove.

Ele e a Karen saem da cozinha, deixando eu e Isabel sozinhas.

― Conseguimos. – digo, sorrindo largamente. ― Mas você ainda vai ter que me ajudar nessa.

― Farei qualquer coisa, Clary.

Expliquei a ela, detalhe por detalhe, do plano repentino que eu tinha em mente. Depois, enquanto o Vicente se arrumava para o tal jantar com os pais da Karen na casa dela, e ela esperava por ele na sala de estar, mudando impacientemente de canal, procurando algo fútil para assistir, aproveitei para ligar para o Bernardo e confirmar a minha presença ao cinema naquela noite.

Ao meu pedido, Isabel também ligou para o Eduardo – o único que ela queria que a acompanhasse ao cinema – e chamou ele pra ir com ela. Antes de nos arrumarmos, vimos na internet os horários dos filmes e decidimos que veríamos filmes diferentes em horários diferentes, mas que não fossem tão diferentes assim, já que tínhamos que voltar as nove, pois o Vicente iria nos buscar a todo custo.

O plano era fingirmos que iriamos juntas ao cinema, só nós duas, mas chegando lá, nos separaríamos, eu encontraria com o Bernardo e ela com o Eduardo. E mesmo que eles fossem amigos e a ideia de ter um encontro entre “casais” fossem tentadora, o Eduardo ainda não poderia saber do meu namoro secreto com o Bernardo. Daríamos um jeito de ele não perceber que estaríamos no mesmo lugar que eles – ele e a Isabel – para que ele não visse eu e o Bernardo juntinhos.

O Vicente saiu por volta das seis horas com a Karen grudada a ele. Ele fez questão de pedir para que tivéssemos cuidados, não falássemos com estranhos e que ligássemos pra ele assim que a sessão do filme terminasse. Assim que eles se foram, eu fui me arrumar. Isabel fez o mesmo. Tomei um bom banho, vesti um jeans preto, uma blusinha de alças azul em degrade, sapatilhas brancas e minha bolsa de ombro também preta. Deixei os cabelos soltos, passei creme e perfume, fiz uma maquiagem básica e por fim passei um gloss rosado nos lábios.

Isabel optou por um shortinho jeans claro rasgadinho, uma blusinha branca estampada, sapatilhas vermelhas, bolsa também preta e os cabelos presos em um coque mal feito, a maquiagem ressaltando os grandes olhos verdes e um perfume doce.

Ao sair de casa, chamei um taxi, enquanto esperávamos do lado de fora, com o céu já escurecendo, mandei uma mensagem de texto para o Bernardo e disse que nos encontraríamos no shopping da cidade, que é pequeno, básico e o único.

Chegando lá, ao descer do carro, sentindo o vento noturno tocar meu rosto, a primeira coisa que eu e Isabel fizemos foi nos separar. Pedi a ela que me mantivesse informada por mensagens de texto. Fui ao encontro do Bernardo, em frente ao cinema, de longe o vi me esperando, com seu jeans, uma camisa com efeito jeans, o velho All Star preto, os cabelos pretos bem penteados, os olhos azuis iluminados e nas mãos ele segurava uma rosa azul, minha cor preferida.

Mesmo entre uma movimentação agitada, de um lado para o outro, o normal de um shopping no sábado à noite, Bernardo era o garoto mais bonito que eu já vi em toda a vida. E aquele sorriso, meio tímido, de lado, era de deixar qualquer garota paralisada. Assim como eu me sentia, com as pernas vacilantes.

― Oi. – digo, já diante dele. Dou-lhe meu melhor sorriso. ― Está há muito tempo me esperando aqui?

― Não. Cheguei agora a pouco. – ele beijou meu rosto. Mesmo muito entusiasmada com o nosso primeiro encontro oficial, eu também estava muito nervosa, por estarmos no único shopping da cidade, em um lugar bastante frequentado por todos. Por acaso, alguém poderia nos ver com tamanha intimidade e os boatos logo começariam, podendo até chegar nos ouvidos do meu pai. ― Trouxe isso pra você.

Ele me entregou a rosa azul, de verdade, muito perfumada.

― Obrigada, Bernardo. Não precisava.

― Claro que precisava. É pra você guardar e pode sempre se lembrar do nosso primeiro encontro. – ele pegou a minha mão calmamente. ― Vem, vamos escolher ao filme. Juntos.

Optamos por uma comedia, que começaria em poucos instantes. Tivemos tempos de comprar pipoca, refrigerante e doces. Não vi nenhuma sinal da Isabel e do Eduardo para o meu total alivio. Assim que entramos na sala escura do cinema, com os trailers já em andamento, dirigindo-se para nossos lugares no canto lá no fundo, antes mesmo de desligar o celular, eu mandei uma mensagem de texto para a Isa, avisando que já estávamos dentro. Não havia mais porque ela se preocupar ou enrolar o coitado do Eduardo.

Só se ela estivesse gostando.

Em seguida, desliguei o celular.

Juro que assim que começou o filme todos suspiraram cheios de expectativas. Mas eu, ao contrário de todo mundo, suspirei por estar ao lado do Bernardo, o garoto mais maravilhoso que já conheci. Ele é canhoto, e com isso, comia com uma mão, e a outra ele segurava a minha, sem largar nenhum instante. Eu mal prestei a atenção no filme, já ele pareceu bem concentrado, e eu confesso que adorei aquela carinha.

Pelo canto do olho, muito discretamente, fiquei o tempo todo ligada a ele, observando seus gestos, por mínimos que fossem. Como ele mastigava a pipoca vagarosamente ou se implicava para beber o refrigerante no canudinho, como as vezes ele se virava pra mim e sorria lindamente, algumas vezes até me dava um rápido beijinho, ou como ele ria nas cenas mais engraçadas, tombando um pouco a cabeça pra trás e depois se recompondo, arrumando a franja lisa caída sobre a testa. Ou como ele respirava devagar, ritmicamente. Ou fazia momento circulares com o polegar nas costas da minha mão, a qual ele segurava firmemente.

Por um longo momento, esqueci que estávamos no cinema, rodeado de pessoas, a sala razoavelmente cheia, e escura. Esqueci-me de que não saberia por onde começar caso precisasse falar o que exatamente eu mais gostava nele. Esqueci-me que ainda assim era muito perigoso estarmos juntos, como um casal, quando qualquer um poderia nos ver e espalhar a notícia já que o Bernardo é bem conhecido. Esqueci-me de que um dia cheguei a odiá-lo por ser tão ousado, atrevido e por ter me concebido o primeiro beijo da minha vida. Esqueci-me de quando eu era diferente, não tinha amigos, nem colegas, não falava com as pessoas, as detestava e preferia ficar sozinha. Esqueci-me de que um dia já o julguei mal por ser tão famosinho pelo colégio, por ser o filho da professora e ter privilégios sobre isso, por ter tido uma filha tão jovem e por fazer as meninas se apaixonarem tão facilmente por ele.

Tudo que eu sei agora é que estou perdidamente apaixonado por ele como poderia ser com qualquer outra, cada dia a mais, por ser tão companheiro, cavalheiro, romântico, bonito, inteligente, por ter os olhos mais bonitos do mundo, o sorriso mais apaixonante que já conheci, e por ser tão bonito por fora quanto por dentro. Tudo que sei é que eu nunca senti isso por ninguém, que é a minha primeira vez de tantas coisas, e mesmo que ele não saiba, é como se soubesse, pois é sempre tão cuidadoso comigo. Tudo que sei é que só quero passar mais tempo com ele, conhece-lo melhor, aproveitar cada instante e desfrutar dessas novas sensações que ele me permite sentir.

― O filme terminou. – ele disse, despertando-me do meu devaneio. ― Você precisa ir embora as noves, não é? Mas ainda são oito e quinze. Dá tempo da gente passear por ai.

Antes de lhe dar a resposta preciso urgentemente fazer uma coisa. Pego o meu celular e digito uma mensagem para Isabel, torcendo pra que ela não tenha desligado o celular, caso já tenha entrado no cinema.

Sem problemas, Clary. Façam o que quiserem. Pra sua sorte, o meu filme ainda está pela metade. Vai terminar um pouco antes das nove. Então, não há o que temer. Vai lá e boa sorte.”

― É uma boa ideia. Vamos. – pego sua mão, com a rosa azul ainda na outra. ― Só não podemos dar muita bandeira...

― Eu sei. Por isso tive uma ideia. Conheço um lugar mais discreto, assim, não corremos o perigo de alguém nos ver.

É um Confeitaria dentro do shopping na área externa. Há mesas tanto dentro do estabelecimento, quanto do lado de fora. Do lado de fora há muitos lugares vazios. É onde há uma pequena fonte com água corrente, algumas flores e poucas arvorezinhas. É uma clima bem agradável, especialmente com o céu estrelado sobre nós.

Bernardo e eu seguimos até a mesinha mais distante para dois e nos sentamos ali. O cardápio está sobre a mesa. Há uma variedade enorme de bolos, docinhos, Cupcakes, tortas e tudo que se pode imaginar. Tudo bem decorado, dá até vontade levar pra casa e nunca comer, para não estragar. Mas tudo parece muito delicioso.

Fazemos os pedidos e aguardamos.

― É bem legal aqui, não é? – ele pergunta, me olhando. ― Você está gostando do nosso encontro?

― Muito. – respondo, apertando carinhosamente sua mão sobre a mesa. Sorrimos um para o outro. ― Você é maravilhoso, Bernardo.

― Mas eu duvido que tenha sido o melhor dos seus encontros. – ele brinca, fazendo uma carinha de desapontado.

― Na verdade – engulo em seco, abaixando o olhar. ― esse é o primeiro encontro que eu já tive.

― Sério? – ele parece bem surpreso. ― Eu não sabia... Desculpa. É que você é tão bonita, tão diferente que eu pensei que já tivesse tido coisas bem melhoras que essa. Você nem se quer gostou do filme que escolhemos, pelo que percebi.

― Não diga bobagens. Eu adorei! Mas estava muito mais fascinada em você do que em qualquer filme. – me inclino sobre a mesa tocando meus lábios nos seus. ― Bernardo, você é o primeiro garoto por me encantei em dezesseis anos. Com você eu sinto como se estivesse nas nuvens. Ainda não consigo acreditar que isso é real.

― De todas as garotas que eu já conheci – ele tocou meu rosto, acariciando de leve a minha pele. ― eu te juro, que ainda não tinha sentido nada parecido com isso. – ele me beija outra vez, agora mais demoradamente. Até alguém nos interromper, trazendo os pedidos.

Rimos sem graça, antes de devorar os doces. Quando terminamos de comer e o Bernardo fez questão de pagar a conta, faltava apenas quinze minutos para as nove. Provavelmente o firme da Isa e do Edu já estava chegando ao fim. Caminhei com o Bernardo até a saída do shopping, onde em um canto pouco iluminado, ficamos abraçados conversando até que a Isabel desce algum sinal de vida.

― Quando você chegar em casa pesquisa na internet uma música chamada Entre nós dois da banda Nx Zero. Não é uma das minhas bandas preferidas, mas eu gosto das músicas deles, das letras. Essa música diz muito do que eu sinto por você.

Ficamos por um momento nos entreolhando, ele com a mão no meu rosto, passando os dedos nos fios dourados do meu cabelo. E eu, com a mão na sua cintura, sentindo mesmo através do tecido da camisa os contornos de seus músculos pouco definidos.

Me afastei do Bernardo quando senti meu celular vibrar dentro do bolso da calça. Só poderia ser a Isabel, e eu estava certa.

“Já estamos saindo. Te encontro no ponto de taxi.”

― É o meu pai. – menti, mas bem que poderia ser também. Afinal, já são quase nove horas da noite. ― Eu adoraria ficar um pouco mais, mas não posso. Infelizmente. Sinto muito.

― Não tem problema. – ele aproximou seu rosto do meu, colando nossas testa. ― Eu gostei de cada momento desse encontro. – ele me rodopiou, como se estivéssemos dançando. E eu ri. ― Quando chegar em casa vou pensar em você, escutando a nossa música. E mal posso esperar para te ver amanhã na igreja. Espero que possa ir.

― É claro que eu vou. Nem que seja só pra te ver. – sorrio timidamente, voltando a aproximar nossos rostos. Ele aproveita para me beijar, com a mão no meu pescoço. Um beijo terno e prazeroso

Me despeço dele com mais um rápido beijo e um abraço demorado. Não queria ter que deixa-lo, não agora que estava tudo tão bom. Mas eu precisava, e rapidamente, enquanto caminhava às pressas até o ponto de taxi, liguei para o Vicente para ele vir nos buscar.

Ele e a Karen chegaram em questão de segundos, eu e Isabel mal tivemos tempo para conversar.

― Que rosa linda! – a Karen notou, quando entramos dentro do carro, no banco de trás.

― Rosa? – o Vicente aproveitou o farol fechado para olhar para trás, vendo a rosa azul nas minhas mãos. Me senti corar. ― Quem te deu isso, Clarissa?

― Isso? – olhei pra flor, ainda intacta. ― Ah, ninguém. Perto do cinema havia um senhor vendendo flores para os casais, e mesmo sem eu pedir, ele me deu essa.

Eu estava me saindo uma mentirosa profissional. Isso não é legal, eu me sinto muito culpada, bem lá no fundo. Mas é preciso. Tudo isso porque o Vicente não entenderia.

― O que eu disse pra vocês? – ele voltou a olhar pra frente, o carro outra vez em movimento. ― Não é pra aceitar coisas de estranhos. Quando é que você vai entender, Clarissa, que ninguém dá coisas sem esperar alguma coisa em troca.

Nem todas as pessoas, papai. Tive vontade de dizer. Mas fiquei calada e troquei um olhar significativo com a Isabel que mesmo sem eu ter dito sabia exatamente de quem eu ganhei a flor.

O Vicente deixou a Karen em casa já que os pais delas ficariam o final de semana na casa dela. Os dois desceram do carro para se despedir. Um beijo intenso e um tanto... Nojento. Eu e Isabel fizemos caretas e rimos da situação.

Eu já estava me preparando para dormir quando ouço alguém bater de mansinho na porta. Já sei quem é. Minha irmã entra com seu pijama rosa e um sorriso de orelha a orelha se juntando a mim sobre a cama.

― Me conta tudo! Como foi o encontro de vocês?

Muito baixinho para o Vicente não escutar, mesmo que provavelmente ele já tivesse ido dormir, mesmo assim tínhamos que tomar cuidado, eu contei a ela basicamente tudo que aconteceu no shopping. Isabel pareceu tão feliz quanto uma criança que acaba de ganhar um brinquedo. Eu fiquei contente por ter ela com quem contar.

Ela se foi, só depois de contar também como foram as coisas entre ela e o Eduardo. Nada demais, ela disse. Os dois riram muito, lancharam, ele comprou um jogo novo, quis até dar algo a ela, um presentinho, mas que ela não pôde aceitar, para o Vicente não desconfiar caso visse em suas mãos.

Aproveitei que estava sozinha finalmente, mesmo sendo quase onze horas da noite, liguei o computador depois de trancar a porta, e pesquisar a música que o Bernardo pediu. A letra é linda! Eu escutei repetidas vezes, incansavelmente. Precisava ligar pra ele antes de cair no sono, precisava agradecer por tudo e ouvir a sua voz.

― Estou ouvindo a nossa música de fundo. – ele observou. É, eu ainda estava ouvindo a canção. ― Você também está escutando ela?

Conversamos até que senti que não conseguia mais segurar o sono. Mas antes, guardei a rosa azul dentro da minha caderneta. Guardaria pra sempre, para poder lembrar do Bernardo e do nosso encontro. E dormi repentinamente.

Naquela noite sonhei que estava com o Bernardo em um campo florido, repleto de rosas azuis, eu estava sentada entre suas pernas e ele sussurrava palavras de amor no meu ouvido.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de comentar. E agradeço a todas vocês pelos últimos comentários. Vocês são todas tão fofas! Sempre que leio seus comentários eu fico sorrindo atoa, me sentindo tão importante rs



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