Quando Tudo Aconteceu escrita por Mi Freire


Capítulo 13
Capítulo XII


Notas iniciais do capítulo

Oi, meninas. Ai onde vocês moram também está fazendo muuuito calor? Nossa, tá difícil até pra escrever. As mãos soam, me sinta cansada, agoniada e só consigo pensar em água gelada haha Terminei esse capítulo ontem de noite e já estou começando o próximo. Aproveitem.



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Apesar da surpresa do final de semana, por podermos enfim, fazer alguma coisa diferente que não estivesse ligado a rotina, foram também dois dias em que eu e Isabel tivermos que suportar por infinitas horas a presença da Karen, namorada do Vicente, que acabou convencendo o próprio a irmos até a Capital, nos hospedarmos em um hotel e aproveitarmos o tempo livre para conhecer a cidade grande.

Fizemos muita coisa como se fossemos uma família de verdade igual aquelas de novela. Passeamos por todos os lados e não tivemos momento algum de descanso. A Karen é bastante animada, por ser nova ainda, é cheia de pique e vontades. Eu não sabia dizer o que exatamente tinha acontecido entre e ela e o Vicente, mas ele acabou cedendo, sem protestar, a todos os pedidos dela. Desde que incluísse a mim e a Isabel, por isso, eu mal tive tempo para pensar em qualquer outra coisa. Admito, mesmo que não seja em voz alta, que fiquei bastante feliz pelo passeio e por um momento me senti fazendo parte de uma família.

Voltamos para nossa cidadezinha no domingo à noite, e já em meu quarto, desfazendo a mala, foi que me dei conta que não tínhamos ido a igreja no domingo de manhã como de costume e por essa razão, por dois dias seguidos, eu não tinha visto o Bernardo que não fosse na escola.

O Vicente deixou que eu fizesse parte da organização do Sarau no colégio exatamente como eu havia imaginado. Por isso, nem tive receio, de alguns dias atrás, pedi-lo para assinar a autorização para a minha permanência da escola depois das aulas. Ele acreditou que não haveria nenhum problema, já que eu estaria dentro do colégio colaborando de alguma forma. Ele acreditou não ter nenhum perigo. E não teria mesmo, se eu no fundo, não tivesse apenas aceitado a proposta do Bernardo, na expectativa de passar um tempo a mais com ele e quem sabe assim, nos conhecermos melhor e toda aquela nossa birra, ou minha birra, ficasse pra trás como se nunca tivesse existido.

Na segunda-feira de manhã, durante os intervalo saímos pelo colégio, mas especificamente o Bernardo e o Diego – meu grupo – saíram para procurar alunos, exatamente como se estivéssemos caçando, para saber qual deles estariam dispostos a participar da recitação de poesias ou coisa do tipo daqui a um mês, no dia do Sarau. Bernardo e Diego foram de sala em sala, falando com os alunos, até pelos corredores ou pelo pátio, e eu só pude ajudar mesmo com meu auxilio, já que se entrasse em qualquer sala de aula ou parasse qualquer aluno pelos corredores, certamente seria linchada ou completamente ignorada pela imagem de “garota esquisita” que eu tanto ouço ao meu respeito pelo colégio.

Depois da aula, peguei minha mochila, enquanto a sala esvaziava e os alunos estavam loucos para ir embora de uma vez, fui até o auditório onde me encontraria com os meninos, para saber sobre o resultado da nossa busca.

Chegando lá, me deparei com mais pessoas do que o esperado, todas colaboradoras, mas nenhuma delas me deram atenção, estavam muito ocupados exercendo suas funções. Vi o Diego em um canto, mexendo no celular, mas nada do Bernardo. Onde ele estaria? Me aproximei do Diego, quem sabe ele soubesse de alguma coisa, e me sentei ao chão, recoberto por um grande carpete escuro, ao lado dele.

Diego, além de muito bonitinho, também me surpreendeu por ser um garoto muito legal. Eu não sabia da sua existência até sexta-feira quando fomos apresentados. Ele é simpático, meio tímido, todo risonho e fica uma gracinha quando está sem jeito, as bochechas ficam rosadas, e ele abaixa o olhar. Fiquei ainda mais surpresa ao saber que ele não tinha uma visão completamente ruim de mim. Ele é mais do tipo que não acredita em tudo que as pessoas dizem até que provem o contrário.

Eu, particularmente, já gosto dele. Acho que não teremos nenhum problema agora e nem futuramente. Nenhuma desavença ou conflitos. Ele é muito na dele e sabe me dar espaço também. Apesar de não nos conhecemos muito, aceitos um ao outro. Uma regra fundamental para sobrevivência. Quem sabe no futuro, poderemos até ser amigos.

― O Bernardo disse que se atrasaria um pouco. – ele respondeu, assim que eu perguntei. Diego não tirava os olhos do celular. ― Pediu pra esperar, se não fosse pedir muito. Eu disse a ele que tudo bem, esperaríamos. Você não se importa, não é?

Ele finalmente olhou, e eu percebi que gostava da cor clara dos olhos dele. Parece que todos a minha volta têm olhos bonito e não muito comuns como os meus. O que é uma injustiça e tanto.

Cinco minutos depois – sim, eu contei – o Bernardo apareceu com alguns papeis em mãos, sentou-se conosco, no chão. Os papeis que ele tinha em mãos, eram nomes de alguns alunos, até mesmo professores e funcionários do colégio, que se mostraram interessados.

Falamos sobre isso por uns vinte minutos.

― Então é isso. Você pode imprimir pra mim os folhetos e os cartazes, Diego? – o garoto diz que sim, sem esboçar desanimo. ― Vamos continuar a procura por mais interessados. Minha mãe disse que quanto mais gente melhor. Porque tem também, aqueles que no dia, faltam com o compromisso, ou perdem a coragem diante da multidão.

No meu caso, eu seria uma das que provavelmente perderia a coragem, assim que subisse ao palco, e visse tanta gente me olhando.

― É só isso? – Diego pergunta, já levantando-se. ― Amanhã eu trago tudo que imprimi. Agora eu preciso mesmo ir, preciso ter uma conversa bem séria com a minha namorada.

Ele se despede e se vai muito depressa. Eu e o Bernardo trocamos um olhar de surpresa, pois não sabíamos que o Diego tinha uma namorada, mesmo que ele não tenha falado muito sobre ele, digamos que ainda não tivemos o tempo necessário para parar e conversar sobre outras coisas que não tenha sido sobre o Sarau.

― Você vai ficar mais tempo? – Bernardo me ajuda a levantar estendendo sua mão. Eu a seguro, sentindo a maciez. ― Minha mãe pediu pra que eu ficasse e ajudasse em umas coisas.

― Ah, hoje eu não vou poder ficar. Desculpe. Tenho que ir pra casa, afinal, amanhã tem prova da sua mãe. Esqueceu? – sorrio.

Ele bate a mão na testa.

― Obrigado por lembrar. Eu quase tinha me esquecido. Mas não tem problema, estudo mais quando chegar em casa. Eu comecei a estudar um pouco na semana passada.

Despeço-me, e volto para casa, mesmo caminhando, pois deixei a bicicleta em casa. Quando chego e entro, estou suando por causa do calor lá fora, vou direto beber água e encontro Isabel a mesa da cozinha.

― O que tá fazendo? – me aproximo, curiosa. Ela esconde o que está fazendo com os braços. Mas não parece ofendida, pelo contrário, está sorrindo de maneira muito ousada. Cara de quem está aprontando.

― Escrevendo uma carta. Uma carta anônima de amor. Você acha que vai funcionar? Vou secretamente me declarar para o Lucas e tentar descobrir se ele sente o mesmo por mim.

Antes que eu diga qualquer coisa, o celular dela toca, sobre a mesa. Isabel se estica e pega o aparelho sorrindo largamente ao olhar para o visor e ver de quem se trata.

― É o Edu. – ela declara, levantando-se da cadeira e saindo do meu campo de visão com o celular em mãos. Toda animada.

Edu? Amigo do Bernardo?

A carta que ela está escrevendo fica abandonada sobre a mesa. Isabel não é muito do tipo que escreve para dizer o que sente, ela é mais do tipo que vai lá, na cara dura, e diz cara a cara o que sente. Não sei exatamente o que está acontecendo com ela, sinto que por trás disso há alguma coisa que eu deveria saber. Mesmo assim, não ouso a ler o que ela escreveu.

Já em meu quarto, tomo um banho, troco de roupa e me tranco para o resto do mundo, deixo de lado qualquer pensamento invasivo e tiro o resto da tarde para estudar para a prova de amanhã.

― Pepel, saia já daqui. – estou levemente irritada. Esse gato sabe ser folgado e muito preguiçoso quando quer. O que não me impressionada mais, mas me irrita algumas vezes. Parece que ele não sabe fazer mais nada além de dormir espaçosamente sobre a minha cama, ocupando todo o espaço por mais pequeno que ele seja.

Pepel abre os olhos preguiçosamente, um azul e outro verde, é fascinante, mas não me deixo encantar. Ele me olha como quem pergunta o que eu quero, pois estou atrapalhando seu sono. Dou um pequeno empurrãozinho nele, para que ao menos dê-me espaço.

Muito vagarosamente ele me dá espaço e aproveito para espalhar meus livros didáticos, folhas e anotações pelo espaço me concedido.

― Clarissa? – é o Vicente, entrando logo após bater à porta. Lá fora já está escuro, estive tantp tempo fora do ar que nem me dei conta.

Ele entra, se aproxima da minha cama, que é onde estou, faz um carinho em Pepel com uma das mãos e um meio sorriso. Depois ele volta-se para mim, dando um beijo na minha bochecha.

― Está estudando, querida? – é meio obvio, mas assinto, sem ser grosseira. O que deu nele? ― Sabe Clarissa, estou muito orgulho de você ultimamente. Tem se saído uma ótima filha. E eu trouxe isso pra você como recompensa. – ele tira uma das mãos, que até então manteve escondida atrás do corpo e eu nem percebi, mostrando uma barra grande de chocolate amargo. Meu preferido, que combina perfeitamente com a minha personalidade.

― Isso é pra mim? – arregalo os olhos, antes de pegar o presentinho. Ele sorri, balançando a cabeça de forma afirmativa. ― Obrigada, pai. Mesmo.

Ainda estou muito confusa quando ele sai do meu quarto me deixando a sós com a barra enorme de chocolate que vou devorar sozinha em poucos minutos. Deito-me na cama, sentindo-me no céu, e ao mesmo tempo assustada, pela forma como meu pai agiu.

Será que as coisas deram bem no seu trabalho ou até mesmo com a Karen? Antigamente, ele era exatamente assim quando tinha um bom dia no trabalho. Chegava em casa contente, bem-humorado e sempre trazia alguma coisa que tivesse o feito se lembrar de nós durante o dia.

Na terça-feira estou bastante ansiosa para a prova da Débora que acontecerá uma aula antes do intervalo. Sei que me darei bem, sinto que sim, estou preparada, com o conteúdo na ponta da língua.

Quando ela entra na sala estão todos em seus lugares, como ela gosta, em ordem numérica. Antes de entregar as provas, ela olha bem para todos nós, passando os olhos de um por um, parece estar pensando em alguma coisa. O que será?

Fico a imaginar, se o Bernardo como filha dela, tem alguma vantagem nisso. Em saber mais ou menos como será a prova, talvez ele tenha visto sobre a mesa enquanto ela não estava por perto. Ou ela comentou sem querer com ele a respeito e deixou escapar algo. Ou, por ser seu filho, ela tem dado algumas dicas, falado diretamente sobre o conteúdo para ele não fazer vergonha.

Há quem diga que o Bernardo trapaceia, pelo menos na matéria de português, com a mãe como professora. Já que ele tem notas super altas. Mas, eu particularmente não acredito, afinal, ele é sempre tão inteligente em tudo. Nunca tira notas vermelhas.

― Hoje a prova será feita em dupla. Direi dois número aleatoriamente e quero que muito rapidamente, sem bagunça, vocês se unam ao seus parceiros e iniciem a prova. Consultem apenas um ao outro. E se eu tiver alguma problema com suspeita de cola vou tomar a prova na hora e é zero automaticamente.

Ferrou. Ninguém quer fazer provas ou trabalhos comigo. Geralmente faço tudo sozinha e não vejo problema nisso. Até prefiro. Mas não porque eu não seja inteligente, mas sim, porque não sou amigável, ninguém me quer por perto, sinto que a maioria tem medo que eu morda ou algo do tipo. Preferem manter a distância. O Bernardo, foi o único maluco, que arriscou, mesmo depois de um ano na mesma turma, a se aproximar e tentar puxar conversa.

― Número um e número quinze. – Débora começou a formar as duplas, dizendo números aleatórios. Fechei os olhos, receosa. Alguns gostavam de seus parceiros escolhidos pela sorte, outros detestavam. ― Número sete e número doze.

Eu, eu sou o número doze, mas quem é sete?

― Posso? – o Bernardo ressurgiu a minha frente com um sorrisinho bonito.

Por um momento perguntei-me se a mãe dele tinha alguma coisa a ver com aquilo. Será que ela sabia de alguma coisa entre nós? Pois parecia sim, que ela estava conspirando a favor. Mas acho que não, porque ele conversaria com ela sobre essas coisas?

Não podia acreditar que seria eu e o Bernardo fazendo a prova em dupla. Seria isso bom ou ruim? Eu não sabia, mas confesso que tê-lo como parceiro parecia bem melhor que qualquer outro.

Eu estudei, ele estudou, foi fácil até demais. Era metade da prova de dissertativa, deixei que ele respondesse a caneta com a própria letra, que por ser um garoto, tem a caligrafia bem mais bonita que a minha. E na outra metade de alternativas, discutimos duas ou três vezes, até chegarmos a uma conclusão. Mas não é tão difícil entrar em um acordo com o Bernardo, principalmente quando ele te olha com aqueles olhinhos azul brilhando que parecem te revirar por dentro.

Entregamos a prova dez minutos antes do termino da aula. Débora, a professora, deixou que saíssemos da sala para não atrapalhar os outros e se quiséssemos, poderíamos descer até a cantina para o intervalo. Bernardo preferiu ficar no corredor, do lado de fora da sala, esperando os amigos. Eu fiquei com ele, conversando sobre o Sarau.

Mais tarde, logo após o colégio ter esvaziado antes do horário da tarde dar início, nos encontramos em um sala vazia disponível no final do corredor no segundo andar. Diego havia imprimido o que Bernardo lhe pediu e agora, separadamente, verificaríamos os textos dos alunos interessados que já tinham a certeza de que participariam.

Fiquei em um canto, no fundo da sala vazia, lendo com a atenção cada texto proposto. De um lado eu colocava aqueles que pra mim, na minha opinião, seriam perfeitos. Certamente muitos iriam gostar de ouvir algo assim. Do outro lado, sobre a mesa, eu colocava aqueles mais duvidosos, complexos, complicados para o entendimento. Afinal, não podia ser algo cansativo, tinha que ter a ver, agradar as pessoas.

Algumas vezes, enquanto lia alguma frase, meu olhar acidentalmente se cruzava com o do Bernardo, sentado lá na frente perto do Diego, ele que também tinha os olhos fixos em mim. Por alguma razão isso acontecia e mexia comigo de uma maneira indescritível. Tentava disfarçar com um sorriso, que ele encantadoramente retribuía.

O resto da semana foi de fato muito prazerosa. Eu nem imaginava que um simples Sarau pudesse me moldar tanto. Com o resto na tarde no colégio, sem precisar mentir diretamente para o meu pai, ajudando da forma como eu podia, me senti de alguma forma mais próxima das pessoas a minha volta. Aquelas que eu costumava odiar por tão pouco e me manter distante por pré-julgamentos tanto eu em relação a maneira como elas me olhavam e falava sobre mim mesmo sem me conhecer ou pela maneira que elas me tratavam sem nem saber ao certo quem eu sou, apesar de nem sempre estarem erradas ao meu respeito.

Aos poucos fui gostando ainda mais do Diego, e acho que ele um pouquinho mais de mim. Ele é um garoto adorável, fácil de lidar e é do tipo que a gente não se cansa de conversar. Ficamos mais próximos e eu estava começando a gostar da ideia de ter “amigos”.

Com o Bernardo as coisas só aumentaram gradativamente. O Diego estava sempre por perto para ajudar, porém, por pouco tempo. Ele sempre dava um jeito de ir embora mais cedo, pois dizia ter uns problemas para solucionar com a ex-namorada. Que um dia era ex e no outro atual. A palavra certa para a relação deles, como ele mesmo disse durante uma conversa nossa, é complicado. Quando o Diego ia embora, eu e o Bernardo tínhamos mais tempo para conversar, mas sem deixar de “trabalhar”, e acabávamos conversando muito. Algumas horas de conversa já era o suficiente para eu saber mais sobre ele.

Saber mais sobre ele, não significava necessariamente ele saber mais sobre mim. Já que eu não gosto muito de falar sobre mim, sobre as minhas coisas, justificar o meu jeito, dar explicações ou satisfações. Não sei falar sobre meus sentimentos. É como um bloqueio. E eu ficava contente, ao voltar pra casa pensando, por ele não forçar, fazendo perguntas cansativas. Aos poucos, fui percebendo que de alguma maneira, quando próximas de mim, as pessoas tentavam não quebrar certos limites, elas não insistiam em determinados assuntos e se limitavam a fazer certas perguntas.

Na quinta-feira, praticamente, já estava tudo certo. Conversamos com os alunos interessados, debatemos sobre as poesias e os textos, deixamos tudo combinado, falamos mais ou menos como as coisas funcionariam e determinamos certos pontos para que nada desse errado no grande dia. Combinamos que na semana seguinte começaríamos uma serie de ensaios, para quebrar a timidez ou a tensão. Mas as vagas, para quem ainda tivesse interesse para participar, ainda estariam abertas. As divulgações continuariam pelo colégio.

― Marquei de almoçar com a Vanessa. – Vanessa é a “namorada” do Diego. Ele já se levantou, já está de saída. ― Vejo vocês amanhã.

Não só comigo, Diego tem também tido uma relação muito boa, quase como amigos de infância, com o Bernardo.

― Terminei por hoje. – Bernardo anuncia minutos depois, com algumas folhas em mãos. ― E você, quer ajuda?

― Não, faltam apenas três. – confiro minha lista. Só mais três textos para ler e eu estarei livre.

― Tudo bem. Eu te espero. – ele pisca, levantando-se. ― Vou dar um jeito de comprar alguma coisa pra gente comer. Espere aqui.

Quando ele volta com sacolas de plástico em mãos eu já terminei o que tinha que fazer. Já guardei tudo dentro das pastas e organizei a sala que raramente era usada pelos professores e alunos.

Bernardo trouxe refrigerante e salgados.

― Hum... Isso aqui está uma delícia! – ele comenta, devorando um misto-quente. Confirmo, com um simples gesto, estou de boca cheia, não há o que acrescentar. Está tudo muito ótimo, apesar do calor. ― Você ficou sabendo da festa no sábado?

― Não. Não fiquei sabendo de festa nenhuma. Até porque eu posso até está tentando ser mais legal, mas não é como se todos soubessem ou acreditassem nesse meu melhor lado. – sorrio, bem-humorada. Eu realmente não me importo se fui ou não convidada. Afinal, não tenho escolhas. Meu pai não permitiria.

Terminamos de comer e jogamos as sacolas e latinhas no lixo mais próximo. Pronto. Agora realmente não tem mais nada pra fazer por hoje. Só me resta pegar a pasta e a mochila, voltar pra casa e voltar pra minha rotina de costume, trancada em casa. Por isso, enquanto estou dentro do colégio, tento aproveitar ao máximo cada segundo.

― Antes de ir – ele me para na porta, impedindo minha passagem com o corpo. É sempre assim, quando tomo a iniciativa de ir embora, ele vem comigo. Quando é ele, eu vou atrás. Não ficaria de jeito nenhum sozinha. ― queria te perguntar uma coisa.

― Então pergunte. – deixo um sorriso escapar. Estou olhando pra ele, e geralmente, me sinto hipnotizada por aquele azul de seus olhos. Todas as tarde, Bernardo está muito bonito, apesar de simples. Gosto disso, ele parece não fazer nenhum esforço para ficar bonito e ainda assim parece ainda mais bonito a cada dia. Ele tem cheiro de água-de-colônia.

― Na verdade não é bem uma pergunta. – ele dá um passo à frente, diminuindo a distância entre nós. Não consigo agir contra, apenas sinto o coração bater mais forte e zunido no ouvido. ― É o que eu tenho vontade de fazer sempre que a gente tem que ir embora.

Sem mais explicações, ele abaixa-se, ergue meu queixo devagarzinho e cola seus lábios nos meus por alguns segundos, assim, sem se mover. Acho que esperando a minha aprovação para continuar, mas não consigo pensar e nem agir direito. E permito que o resto se desenvolver devagar, por mais que tenhamos prometido a um outro que isso não voltaria a acontecer. Falhamos.

As vezes o desejo do coração é muito mais forte que as ordens da consciência.

Não pedi que ele parasse, e eu também não fiz nada para impedir.

Beijamo-nos lentamente, devagar ele me encostava na parede, dando-me apoio para as pernas bambas, com sua mão fixa na minha cintura e outra no meu pescoço.

Beija-lo se tornou algo tão mais... Fácil de certa forma. Como se eu já soubesse desde sempre o que fazer e não que aquele fosse apenas o nosso terceiro beijo. Ou mais precisamente, o meu terceiro beijo na vida.

― Desculpe... Eu não deveria ter... – ele ia começar a se desculpar, com a mandíbula tensa, pausando nosso beijo.

― Por favor. Não diga nada. – sussurrei, beijando seu lábio inferior. Não queria abrir os olhos. Não queria despertar. Só queria ficar ali... Pelo resto da tarde. ― Apenas me beije.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que vocês acham do Bernardo? Ele não é encantador? Tanto, que nem a Clarissa resistiu por muito tempo. Quando a gente tá perto de quem a gente gosta, é meio difícil raciocinar.



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