–--(Peeta)---

Acaricio seus cabelos devagar com medo de acorda-la mas sei que será necessário. A medida em que seus olhos abrem e se focam nos meus ela abre a boca devagar.

–Quanto tempo fiquei apagada? - sua voz sai falhada e isso me preocupa.

–Só 20 minutos. Tive que te acordar. Você está com febre, é melhor tomar um banho gelado.

–Deve ser por causa da chuva de hoje, quando ficamos encharcados. - diz se levantando. Ainda está mancando por causa da torção. Pega a primeira roupa que acha em sua gaveta e se tranca no banheiro. Está tão cansada a ponto de não querer escolher uma roupa para dormir.

Desço até a cozinha para buscar um copo de água sem gelo para ela poder beber quando sair do banho.

Quando abre a porta do banheiro, Katniss aparece vestida com um shorts preto e uma regata branca. Parece que só percebe a roupa que usa enquanto me encara sem conseguir fazer cara séria quando me pega olhando um instante para suas pernas.

–Katniss. Não acha que está meio frio para estar com essa roupa? -apesar da primavera ter chegado, as noites tomam um rumo de vento frio por conta da temperatura que abaixa durante a madrugada. Fico meio preocupado.

Ela ainda parada na porta lutando para não rir apenas me encara.

–Pode vir. Eu não mordo. A menos que você queira. -digo enquanto ela se aproxima com um sorriso. Ela se senta em meu colo e coloco meus braços em volta dela. Verifico sua testa e percebo que sua febre baixou. Dou-lhe o copo de água.

Quando ela acaba de beber, coloca o copo de volta em cima da cômoda e sussurra em meu ouvido

–Eu quero.

Mal deitamos e seu corpo se junta ao meu, sua cabeça em meu peito e sua cintura envolta pelos meus braços.

–Boa noite. Anjo. -digo depois que mordo-a levemente seguindo com um beijo.

Vejo um sorriso em sua boca e ouço uma resposta.

–Boa noite Peeta.

Caio no sono até acordar com seus gritos.

–--(Katniss)---

Estamos no túnel que usamos para sair do apartamento -que era nosso esconderijo- até a Capital. Todos que ainda estavam vivos estavam lá. Então ouço os bestantes sibilarem meu nome. Começamos a correr pelos túneis e depois de mais ou menos 1 minuto, percebo que a ausência de alguém me incomoda. Peeta. Me viro pra trás e o vejo sendo decapitado por um bestante.

Acordo com um grito de choro. Peeta está me abraçando forte.

–Calma Katniss, foi só um pesadelo. -sua mão em meus cabelos me acalmam.

Quando o vejo, as lagrimas escorrem livremente pelo meu rosto. Sua mão vem até ele e o limpa.

–Quer me contar? -vejo a preocupação em seus olhos.

–Era você. -respiro e continuo- Você foi decapitado. Você quis ficar para trás. Eu não devia ter deixado não devia! -minha voz sai um pouco elevada e rouca. Me impressiono com a calma e paciência que Peeta tem comigo.

–Calma, eu estou aqui com você. -seus lábios impedem que minhas próximas palavras escapem. -E a culpa foi minha. Eu quis ficar pra trás e você não deixou. Você me salvou. Se não fosse por você eu não estaria aqui. -puxo sua boca para mais perto e isso me acalma.

–Obrigada. - minha voz sai falhada. Junto meu corpo ao dele o mais perto possível e adormeço de novo.

Acordo e como de costume, Peeta já tinha acordado. Calço meus chinelos, escovo os dentes e quando já estou na ponta da escada, ouço a voz de Peeta vindo do escritório.

Abro a porta devagar e o vejo em pé no telefone, de costas para mim. Caminho devagar e o abraço por trás. Ele se vira e me abraça. Suas ultimas palavras no telefone são "sim, eu aviso ela sim, obrigado por me avisar". Seu rosto tem uma expressão preocupada.

–Katniss. - eu quase abro a boca pra perguntar quem era e ele responde como se lesse minha mente - Era a Effie. - não só seu rosto mas sua voz tem um tom preocupado.

–O que ela disse que te deixou tão preocupado?

–Haymitch... - "Problemas" penso. - Ela me disse que ele teve uma recaída.

Aquilo me abala por dentro. Haymitch não é a pessoa mais agradável do mundo mas eu me preocupava com ele, eu quase o considerava como um pai. Ele tinha se tratado, passado dois meses no hospital para se livrar do álcool e já sem beber a 7 meses e de repente...

–Uma recaída? -as palavras quase não saem da minha boca -Mas como foi isso? - Peeta se importa com Haymitch tanto quanto eu.

–Pelo que entendi ele achou uma caixa de bebida em sua dispensa ontem de madrugada e não resistiu. Tinha 8 garrafas la. Tomou todas e apagou. Effie me disse que ele já está no hospital do D7 e o acompanhou. Acho que devemos ir pra lá. - começo a organizar as palavras em minha cabeça enquanto estou envolvida pelos braços de Peeta.

–Vamos, vamos sim. Agora.

Começamos a arrumar uma mala. Não sabemos quantos dias vamos ficar no D7.

–Está pronta? -pergunta ele comprimindo os lábios em seguida. Assinto com a cabeça enquanto coloco uma blusa fina de frio. As manhãs de primavera não estão sendo muito quentes. Partimos da estação de trem para o D7. Foi lá que Haymitch se tratou da primeira vez porque o 12 ainda não tem um hospital. É complicado pra Capital restaurar todos os distritos de modo que os primeiros hospitais foram construídos onde havia mais necessidade enquanto os com menos doentes improvisavam um hospital e o D7 era o mais próximo.

Passo a viagem inteira -que dura cerca de 7 horas- no quarto com Peeta conversando sobre Haymitch e nosso casamento.

Quando chegamos nos encaminhamos para a Vila dos Vitoriosos onde tem algumas casas vagas. Iremos ficar em uma delas junto com Effie. -ela anda se aproximando cada vez mais de Haymitch de modo que um ajuda o outro. Haymitch a ajuda a se tornar mais normal e Effie o ajuda a parar com a bebida.

–Effie deve estar no hospital já. -comento depois que vejo suas malas em cima da cama de um dos quartos.

Seguimos para o hospital e encontramos Effie na sala de espera. Corro abraça-la.

–Como ele está? -pergunto.

–Está internado porém o médico disse que ele sai em em um dia. A quantidade de bebida que ele ingeriu de uma vez foi um choque ainda mais depois de muito tempo ausente em seu corpo.

–Tenho certeza de que ele vai se recuperar rápido. -Peeta diz sorrindo levemente e Effie o retribui.

–O médico virá nos chamar quando Haymitch estiver disposto a receber visitas. Vocês podem voltar pra casa se quiserem e eu os chamo depois. Não sei quanto pode demorar.

Olho para o relógio. Já são 16:37. Com essa correria só agora percebo o quanto estou com fome ainda porque não comi nada além do almoço no trem.

–Effie, vou comer alguma coisa. Se te chamarem nos encontramos no quarto dele. -ela assente com a cabeça.

Quando Peeta e eu voltamos vejo Effie conversando com um médico e me aproximo.

–Ele vai ficar bem sim, porém vai tomar soro mais um dia. - Ele nos reconhece e nos cumprimenta

–Vocês já podem vê-lo.

Quando entro no quarto, lá esta ele. Fraco, doente porém confiante. Abre um sorriso quando nos vê. Meus olhos ameaçam a deixar uma lágrima cair.

Effie se senta a seu lado. Eu chego perto da cama e o ouço dizer com a voz fraca

–Não se preocupe, docinho. - é incrível que mesmo doente ele não perde o tom de ironia - Vou ficar bem. Peeta me abraça e diz

–Pode contar com a gente Haymitch, pode contar sempre.

–Obrigado garoto.

O médico chega e nos diz que temos que ir.

–Haymitch precisa descansar. Vocês podem voltar amanhã e ficar mais tempo.

–Nos da mais um minuto? Por favor. -imploro e ele cede. Preciso fazer uma coisa importante.

–Haymitch. -a surpresa fará bem pra ele - Eu e Peeta vamos nos casar. Quero que você me acompanhe no lugar de meu pai