–--(Katniss)---

Sinto algo macio, não só rodeando minha cintura, mas cobrindo cada parte do meu corpo. Abro os olhos. O braço de Peeta está por cima de mim, quase como dormimos ontem, e sobre nós está um lençol seguido de um cobertor.

Involuntariamente minha boca se transforma em um sorriso ao lembrar da noite anterior. Peeta super feliz e animado com nosso primeiro filho, e agora eu consigo ficar assim também. Agora ele está comigo de novo. O começo de uma família.

Procuro com os olhos meu roupão no chão antes de levantar e vesti-lo a caminho do banheiro. A água quente me desperta e ameniza o ar frio que o inverno traz, além de me segurar mais no banho. Quando finalmente decido sair, o vapor já embaçou o espelho do banheiro. Visto o roupão e volto para o quarto. Peeta não está mais ali, e decido antes de descer, procurar roupas quentes que tenham, por sorte, sobrado aqui quando fui passar um tempo na casa da minha mãe. Acabo vestindo uma calça jeans, aproveitando que ainda me servia, uma blusa de frio minha e uma jaqueta de Peeta. Calço minhas botas e pego as luvas.

Estou prestes a descer quando a porta do quarto é aberta por Peeta. Meus lábios se transformam em um sorriso assim como os dele.

–Bom dia Anjo.

–Bom dia pessoa mais feliz de Panem.

–Pode ter certeza que sim -ele sussurra em meu ouvido.

Entrelaço meus dedos nos seus enquanto seus lábios tocam os meus. Sua pele está quente assim como sua respiração. Uma de suas mãos solta a minha e passa envolta de minha cintura.

–Fiz nosso café, porém já está quase na hora do almoço -ele sussurra. Eu o encaro fazendo-o recuar.

–Almoço? -pergunto. Ele assente estranhando minha confusão.

–Já são mais de onze horas.

Franzo as sobrancelhas.

–Achei que eu acordava cedo no inverno.. Mas acho que as coisas vão mudar.. Já mudaram. -concluo.

Só consigo ver parte do seu sorriso antes de puxa-lo para mim de novo. Estou quase com os lábios nos seus novamente quando ele desvia o rosto e começa a rir enquanto me pega no colo. Rapidamente vejo que estamos indo em direção a cama.

–Se demorarmos muito, não vamos conseguir fazer toda a "mudança" hoje -diz fazendo aspas quando menciona mudança. Seu rosto está perto o bastante para eu tocar seus lábios com os meus mais uma vez.

–Bom, se é assim.. Já tenho uma ideia de onde podemos almoçar -digo.

–Huum, contanto que você cumpra a promessa de se alimentar direito, tudo bem.

Seus beijos percorrem a extensão de meu corpo até meu abdômen, onde para e levanta minha blusa me beijando ali. Depois volta e distribui beijos em meu pescoço. Fecho os olhos aproveitando o contato de sua pele com a minha.

–Vamos lá? -sussurro quando volta para minha boca. Ele sorri e se levanta estendendo a mão. Eu a pego e vamos em direção à cozinha.

Sigo-o escada abaixo. Ao chegar na cozinha vejo dois chocolates quentes em cima da mesa. Consigo ver fumaça saindo deles.

–Ohh, é isso que o inverno pede -comento vendo seu sorriso.

–Imaginei que fosse gostar.

Me sento à sua frente. Estou quase bebendo um gole do chocolate quente quando ouço-o dizer:

–Você vai queimar a língua -adverte.

–Minha fome é maior -digo não contendo uma risada, assim como ele.

Quando o líquido quente encosta em meus lábios e em minha língua de uma vez, sinto uma queimação. Ele estava certo. Tento não demonstrar minha reação e comprimo os lábios.

–Eu disse... -ele vai até a geladeira, enche um copo de água e me entrega -Você e sua teimosia.

–Obrigada.

Ele volta a se sentar e permanecemos em silêncio por um bom tempo. Depois do meu último gole, me levanto em direção à pia. Muitas coisas estão se revirando em minha cabeça ainda, mas antes que eu consiga dizer algo, ouço-o.

–Anjo? Você está bem?

Percebo que estou parada olhando fixamente para a janela e agarrando a beira da pia.

–Eu só... só estava pensando...como eu senti falta disso. De todas essas coisas. Do Thor com a gente. De tudo. De você.

Encaro a neve caindo na grama do quintal, agora toda encoberta. O sol reflete nos flocos. Eu costumo não gostar do inverno, mas parece que esse será diferente. Sinto os braços de Peeta em minha cintura.

–Agora você tem tudo de volta -sussurra. Coloco o copo cuidadosamente na pia antes de virar para ele. Ele me beija calmamente e consigo diminuir a tensão que estava sentindo.

–Onde quer almoçar? -sussurra assim que nos separamos.

–Pensei em ir no Prego, Greasy Sae... Topa?

–Com certeza -ele sorri.

–Então vamos começar a trazer nossas coisas de volta para depois almoçar..

–--

–--(Peeta)---

–Mãe! -grita Katniss batendo na porta. Seu olhos encontram os meus quando ouvimos um barulho vindo la de dentro até a Sra. Everdeen aparecer.

–Filha! Peeta! Então foi isso que você quis dizer no ontem telefone com...

–Sim, sim -Katniss a interrompe.

Eu estou um pouco confuso mas deduzo que esteja relacionado com nossa reconciliação. Clara parece feliz em me ver, em nos ver novamente juntos. Ela nos convida para entrar e é o que fazemos, com Thor vindo direto em nossa direção quando nos vê.

Katniss se afasta de repente e quando levanto meu olhar, percebo o porque. Talvez ele não estivesse ali exatamente quando entrei ou simplesmente não o percebi, mas Gale está ali. Não tinha nenhum problema com ele, mas ele me olha de maneira estranha. Desconfiado talvez. Não sei ai certo, mas presumo que Gale sabe o que aconteceu e obviamente não ficou feliz com o que fiz, porém, ele não soube dos meus motivos. Vejo ele trocando algumas palavras com Katniss enquanto mato a saudade de Thor. Logo vejo-o vindo em minha direção e me levanto. Gale me cumprimenta normalmente e se retira, deixando Katniss e eu sozinhos na sala.

–Vamos lá? -pergunta indicando a cozinha. Assinto e ela me beija antes de seguirmos para a cozinha.

–Filha, vocês querem ficar para almoçar? -pergunta Clara. Os olhos de Katniss encontram os meus pedindo uma resposta. Assinto e sorrio.

–Deixaremos Greasy Sae para a noite.

Ajudamos a por a mesa e nos sentamos. Gale também ficou para o almoço e me tratou normalmente desde. Quando acabamos, ajudo Katniss a pegar suas coisas para deixarmos tudo em casa e decido deixar para amanhã a tarefa de trazer minhas coisas. Eram apenas duas mochilas e insisti em levar as duas, tentando evitar que ela carregasse peso, mas sua teimosia venceu e eu não queria uma briga. Acabei levando uma das mochilas e Thor, para que não andasse na neve.

Assim que chegamos, abro a porta e coloco Thor no chão. Encosto na parede da escada observando Katniss colocar ração para ele. Tenho uma dúvida mas tenho medo de perguntar. Porém, se não perguntar, a dúvida vai martelar em minha mente.

–Seria errado eu perguntar sobre hoje? Sobre..

–Gale? -ela pergunta com um sorriso divertido -Não, não.. É que... Eu estava decidida a não contar nada do que tinha acontecido para ninguém, até que ele apareceu no hospital depois do meu exame. Minha mãe o chamou. Eu não fiquei brava, eu gostei, mas ele achou o que você fez errado e não achou que nos reconciliaríamos tão rápido... Mas eu expliquei tudo à ele. Está tudo bem.

À medida que vou entendendo as palavras, surgem imagens em minha mente. Imagino cada cena e não posso deixar de voltar a sentir uma culpa, uma irritação.

–Ei -ela diz se aproximando de mim -Não fica assim com essa expressão de culpa. Já passou -sussurra. Suas mãos seguram cada lado de meu rosto e ela me beija -Já passou.

–--

As luzes das casas iluminam o caminho até o Prego. Katniss caminha ao meu lado com os dedos entrelaçados nos meus. Quando chegamos percebo Katniss boquiaberta.

–Então é assim que o Prego ficou? Eu não venho aqui faz um bom tempo...

O Prego está totalmente iluminado. Embora seja noite, as iluminarias e as velas clareiam toda a extensão. As tendas de diversos tipos se estendem pelo caminho, assim como as pessoas. Mas o que costumava ser um mercado negro agora pode ser um comércio comum. Katniss me puxa pela mão me guiando até o local de Greasy Sae. Ela parece reconhecer-nos de longe e abre um sorriso quando nos vê.

–Peeta e Katniss! Quanto tempo! -ela diz.

Chegamos e a cumprimentamos, sem contar a conversa que tivemos enquanto jantávamos nossa sopa. Seus olhos pareceram brilhar quando Katniss contou sobre a gravidez. Mais do que imagino que os meus brilharam.

Quando acabamos, nos despedimos e caminhamos de mãos dadas silenciosamente de volta para casa, com apenas as luzes das casas e a luz na lua iluminando a noite. O vento oscilou entre as árvores até chegarmos em casa.

–Peeta, posso te pedir um favor? -Katniss pergunta assim que entramos. Fecho a porta e me encosto na parede.

–Claro que pode -digo sem tirar os olhos dos seus.

–Eu... preciso falar com Rosy amanhã.