–--(Peeta)---

Fiquei pensando a semana inteira, todos os dias, mas principalmente na noite anterior. Minha rotina estava relacionada a Katniss mesmo que eu não estivesse com ela porque ainda somos parte da vida um do outro. Acho que nunca me senti tão arrependido quanto agora e eu queria que ela soubesse disso tanto quanto queria que não tivéssemos brigado. Mas toda vez que isso me vinha à cabeça eu também lembrava das palavras da Sra. Everdeen. "Também acho que vocês deveriam ficar um tempo sem contato". E isso acabava com minhas expectativas.

Levanto da cama para tomar a caminho de um banho para ir à padaria como tenho ido todos os dias apesar de não ter a mesma vontade. Quando a água quente cai sobre mim, consigo me sentir um pouco mais relaxado somente até sair de casa e ver o céu ainda escuro e o começo dos flocos de neve que marcam o início do inverno. Me vem à cabeça como Katniss não gostava muito dessa época e como eu queria estar com ela.

Logo depois de abrir a padaria e dar iniciação ao trabalho, Tony chega e se junta à mim, perto das 6:00. Não se passa muito tempo e vejo Rosy entrando, o que me deixa um pouco melhor. Ficamos de almoçar e depois ela me prepararia para o jantar da Capital.

A manhã até que passou bem rápido na minha situação. Conversar com Tony, Henry e Rosy me distraia um pouco, pelo menos o suficiente até a hora do almoço. Rosy e eu almoçaríamos em casa, porém ela me encontraria lá mais tarde. Decidimos que seria melhor pois eu junto a uma moça em um restaurante causaria falsas impressões e pioraria a situação.

Vou para casa e começo a preparar o almoço já quando chego por conta do horário. Pouco menos de meia hora se passou quando ouço o barulho da porta. Peço a Rosy que entre e se sente assim que começo a servir o almoço.

–Muito obrigado por ter vindo.

Trocamos um sorriso e isso me faz pensar a felicidade que Rosy me transmite. Somos como melhores amigos, talvez até mais do que um dia fui assim com Delly que estava um pouco afastada de mim desde que começou o namoro com Gale. E eu definitivamente não queria acabar com minha amizade com Rosy. Eu precisava de uma solução.

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–Hmm, muito bom -diz Rosy em tom de aprovação.

Ela está quase terminando de arrumar meu smoking quando ouvimos batidas na porta.

–Haymitch? -ela me pergunta quase em um sussurro. Olho para o relógio antes de assentir para ela. -Acho melhor eu..

–Não -digo interrompendo -Você não precisa embora por causa de Haymitch. Ele sabe que ainda somos amigos.

Peço a ela que desça comigo até a porta. Haymitch entra vestido com um smoking parecido com o meu.

–Boa noite Haymitch.

–Boa noite.

–Boia noite Garoto, Rosy.

–Bom, eu já vou indo -diz Rosy caminhando até a porta -Bom jantar para vocês. Boa sorte Peeta -seu sorrisinho me deu uma força a mais.

–O aerodeslizador chega em casa daqui a pouco, vamos lá -diz Haymitch já na porta e eu o sigo.

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Eu estava inquieto desde que soube que Katniss iria ao jantar da Capital e que eu a veria. Haymitch pareceu perceber isso.

–Ei, Garoto. Você está bem?

–Só estou...

–Ansioso demais para vê-la... -completa me encarando com uma expressão um pouco séria. -Eu sei que já faz quase duas semanas mas eu aposto que não passam um mês afastados. Vocês só estão passando por uma fase difícil.

Seria estranho ouvir esse tipo de coisa vindo de Haymitch se ele não tivesse se transformado tanto. Desde que parou de beber mesmo que tenha sido obrigado e não admitia isso e começou a namorar Effie, ele mudou muito positivamente.

–Obrigado Haymitch. Você não sabe o quanto é bom ouvir isso de você.

–Estou torcendo por você, Peeta.

Ouvir isso me provoca um pequeno sorriso e uma série de pensamentos. O aerodeslizador pousa e Haymitch troca um olhar de incerteza comigo.

–Vamos lá -digo com um sorriso determinado.

–Assim que eu gosto Garoto.

Descemos na pista e, trocando poucas palavras, caminhamos até o carro que nos levaria dali à entrada da mansão. Eu já estava ciente de que chegaríamos antes de Katniss e Effie mas mesmo assim é estranho não ver elas ali quando entro. Cumprimentamos todos ali presentes. Somente Katniss, Effie e Annie estavam ausentes assim que nos sentamos.

–Cade os amantes desafortunados? -pergunta Johanna em tom de brincadeira. Por mais ruim que seja ouvir aquilo, eu não a culpo e muito menos me irrito com ela, apenas balanço a cabeça em negativa como resposta. -Desculpa. Eu não sabia que era sério -continua.

–Tudo bem -respondo.

Sentamos lado a lado e eu conto tudo a ela. Johanna não era a pessoa mais bem humorada que já conheci, mas era uma ótima amiga. Ela tenta mudar de assunto assim que percebe que me desanimava um pouco falar do que estava acontecendo, mas quando o desviar dos olhos dela coincide com o barulho da porta se abrindo, desconfio e não resisto. Katniss. Minha respiração acelera quando a vejo pela primeira vez depois de duas semanas. Ela parecia bem, na medida do possível. Eu adorava quando seu cabelo estava solto, como agora, em leves ondas pelos seus ombros. Eu sentia muita falta. Falta de tudo.

Effie a acompanhava enquanto se sentavam depois de cumprimentarem a todos. Não nos cumprimentamos e tentei não observa-la na medida do possível, mas parecia quase impossível.

Tento me distrair em conversar até que o barulho da porta me tira a atenção. Annie chega junto do pequeno John. Eu sempre fui apaixonado por crianças e John era muito especial para mim. Sentada ao meu lado, Annie começa uma conversa comigo, Johanna e Haymitch e volto a tentar me distrair, mesmo tendo noção dos olhos de Katniss em mim enquanto John estava comigo.

Mesmo brincando com John percebo que Katniss sussurra algo para Effie antes de se levantar e sair. O pior é que ela não parecia bem. Meu olhar passa em Haymitch e Johanna antes de se fixar em Effie e aí que percebo sua preocupação.

–Amigão, eu já volto -sussurro para John colocando-o no chão ao lado de Annie.

–Onde você vai tio Peeta?

–Vou resolver uma coisa muito importante, mas eu volto.

Ver aquele sorrisinho de John, um sorrisinho que pedia um retorno, me fez retribuí-lo antes de sair a caminho da porta. Apresso os passos o máximo possível mas tentando disfarçar a pressa. Uma agonia toma conta de mim quando alcanço o corredor e já não vejo Katniss. As portas do corredor são muitas e eu não poderia abrir todas, na verdade nenhuma sem permissão mesmo não havendo ninguém no corredor, então decido passar na frente de cada uma e procurar uma pista.

Fico um pouco frustrado quando não consigo nada até chegar à ponta do corredor mas quando viro, ouço um barulho. A segunda porta à minha direita acabara de se fechar e surge uma esperança dentro de mim de que seja Katniss. Mesmo me aproximando mais da porta, não consigo ouvir nada então arrisco entrar e a cena que vejo me quebra por dentro. Katniss, bem ali, encolhida na parede do qua parece ser uma biblioteca, com lágrimas escorrendo pelo rosto quando levanta a cabeça o suficiente para me ver. Corro até ela e apenas me sento ao seu lado com os olhos fixos nos seus apesar de ela não fazer o mesmo.

Eu queria poder abraça-la, conforta-la em meus braços, tentar faze-la se sentir melhor, mas eu não podia. Eu estaria invadindo o espaço dela, o espaço entre nós que eu mesmo impus. Mas queria pelo menos saber o que a deixou assim.

–O que você... está fazendo aqui? -pergunta. Sua voz parecia assustada e reparo em sua pulseira quando sua mão começa a tremer. A pulseira com minha pérola e um coração, a qual a dei de aniversário. Vê-la em seu braço aumentou minha esperança.

–Você não saiu bem da sala de jantar. Queria saber o que aconteceu. Não gosto de ver você assim.

Eu diria a ela toda a verdade, como sempre, mas ela se recusava a me encarar e aquilo me entristeceu. Talvez ela estivesse se sentindo pressionada com eu a observando então mantenho o foco no chão.

–Parece que você não pensou quando foi embora.

Eu conhecia o jeito que Katniss tinha, seu temperamento e sua raiva, mas aquilo foi demais. Parecia que realmente estava irritada comigo e eu não a culpava.

–Você tem razão. -digo. A luz da lua que nos iluminava era pouca mas consegui perceber que quase imediatamente seus olhos atingem a altura dos meus, o que me surpreende. -Eu achei que conseguiríamos pensar se estivéssemos afastados mas eu estava errado.

–Eu preferiria que... que tivéssemos tido uma discussão em vez de você ir embora. Senti sua falta -sua resposta vem depois de um longo silêncio. As vezes eu não sabia como me sentir em relação a Katniss. Achei que ela estivesse brava comigo até ouvir suas últimas palavras.

Mesmo me sentindo um pouco confuso eu ainda a amava e tinha certeza disso. Senti-a arrepiar quando beijo levemente seu braço e entendo como uma coisa boa assim como quando seus olhos se fecham. Talvez ela tenha gostado. Talvez não.

–Eu não queria ser assim.

–Eu não te culpo. Eu só quero te entender.

Mais uma lágrima escorre em sua bochecha e eu a limpo com meu polegar, o que faz seus olhos encontrarem os meus por um instante.

–Você e seus ciúmes -continuo. -São os pesadelos ou os pensamentos? O que eu ou o que as pessoas ao me redor fazem que te chateia? Eu não demonstro mais que te amo?

Ela apenas balança a cabeça, parecendo confusa. Percebo seus olhos focados em minha mão que estava em seu braço e não consigo deixar de pensar que estão olhando para a aliança.

–Tudo bem -sussurro. -Você não precisa falar nada, pelo menos não agora.

Eu não queria pressiona-la. Senti que estava invadindo demais seu espaço assim que a toquei então volto a me sentar mas não com expectativas menores.

–É um pouco de tudo -sussurra quase inaudivelmente -Menos da última.

Só consigo ficar em silêncio. Em silêncio e com muitos pensamentos na cabeça.

–Eu não quero que você sinta tanto ciúmes. Não só por mim, mas por você também, Anjo. -digo. Ela foca seus olhos nos meus mas não consigo decifrar sua expressão.

–Eu queria poder esquecer tudo. Esquecer e recomeçar. Mas não tem como esquecer antes de resolver.

–Nós não temos mais nada para resolver -me apresso em dizer.Eu estava disposto a esquecer tudo de ruim que passamos.

Sua cabeça estava baixa enquanto uma lagrima escorria por sua bochecha. Levo minha mão até sua franja, colocando-a para traz, e toco seu rosto limpando sua bochecha.

–Eu não quero te ver triste, não quero te ver sofrer. -sussurro. -E quando digo que não quero ver é mesmo se você esteja sozinha. Não quero que fique triste de nenhum jeito.

Ela parecia com medo de se aproximar de mim tanto quanto eu mas decido arriscar. Seus lábios estão quase juntos aos meus e eu não queria acabar com aquilo. Eu a queria mais perto de mim, mas por decisão dela. Quando percebo que ela para, parece querer falar algo.

–Peeta. Fica comigo?

Mesmo confuso não haveria outra coisa que eu gostaria de responder.

–Sempre.