–--(Katniss)---

Pisando nas folhas das árvores que haviam caído no chão e ouvindo o barulho delas se estilhaçando, os recentes minutos voltam em minha mente e sinto uma intensa tranquilidade de ter me acertado com minha mãe. Apesar de precisar conhecer Robert, confio nela. Sei que não escolheria qualquer um só para amenizar a perda. Também sei que ela nunca superará totalmente.

Hesito no meio do caminho, pesando onde estou indo. "Peeta deve estar trabalhando, vou encontra-lo". Sigo caminho perdida em meus pensamentos mas minha felicidade é interrompida quando chego na padaria vendo Rosy e Peeta conversando. "Você vai manter a calma, Katniss".

–--(Peeta)---

Vejo Katniss entrando na padaria vindo me encontrar no balcão. Seu olhar se desvia um instante para Rosy que conversava comigo.

–Oi Anjo. -abraço-a por trás beijando seu pescoço entre os cabelos. -Tudo bem? Como foi? Ela cumprimenta Rosy normalmente com um "oi" e depois me da um beijo.

–Tudo muito bem! -ela suspira mais aliviada do que tensa. -E, Sr. Mellark, preciso ter uma conversa com você... -diz me encarando.

–Ah não, dessa eu fiquei com medo! -brinco. -Rosy, ela descobriu.

Ela cerra os olhos para mim depois tenta disfarçar com um sorriso.

–Vamos almoçar no restaurante hoje, pode ser? -digo em seu ouvido, em parte tentando acalma-la.

–Vamos então, te conto no almoço... -ela me puxa pela mão e dou um tchau para Rosy saindo da padaria. Me surpreende Katniss gritar um "tchau Rosy" já do lado de fora mas depois ouço-a praguejar alguma coisa do tipo "Muita provocação, isso me fez perder a paciência".

–O que disse? -pergunto para ver se entendi direito e não obtenho resposta. -Ah Anjo, foi a brincadeira? Desculpa.

Percebo que além de não falar nada ela mantém o olhar baixo então paro e a paro junto.

–Katniss. -coloco a mão em seu rosto fazendo-a me encarar porém com um olhar fulminante. Antes que ela possa seguir caminho, agarro sua cintura com uma mão e seu rosto com outra para beija-la. No começo ela resiste, tentando ficar parada o máximo possível mas depois abre passagem e retribui, como se não conseguisse ignorar. Pressiono meus lábios em sua boca várias vezes antes de me afastar.

–Anjo? Ela balança a cabeça não conseguindo desviar o olhar de minha boca.

–O que? -diz saindo do "transe" logo segue com um suspiro tenso -Aff. Você é muito sem graça! -diz revirando os olhos e retornando ao caminho do restaurante.

Sigo-a e a abraço de lado, para minha surpresa ela deita a cabeça em meu ombro.

–Não faz mas isso, obrigada.

–Se está se referindo a brincadeira, não for por querer. Mas se for ao beijo, foi totalmente intencional. Ela revira os olhos, porém com um sorriso.

Quando pisamos no restaurante percebo o quanto está cheio e não temos reserva. "Como não pensei nisso ante?!"

Sinto uma mão em meu ombro enquanto caminhava até a recepcionista.

–Haymitch? -eu e Katniss dizemos ao mesmo tempo.

–Boa tarde Garoto, Docinho. Parece que não estão com sorte sem reserva. Se sentem com a gente. -ele diz estendendo a mão para o lugar de reservas onde vejo Effie. -Estávamos precisando mesmo falar com vocês.

Olho para Katniss que encontra meu olhar e da de ombros então seguimos Haymitch até a mesa e Effie nos cumprimenta parecendo bem alegre.

–Ainda bem que Haymitch os viu entrando -diz Effie tirando algo da bolsa -Precisávamos entregar isso a vocês.

–O que é? -pergunta Katniss.

–Leia. -Effie diz, animada.

–É da Capital? -pergunto quando vejo a insígnia na carta e eles assentem.

Haymitch pede mais dois pratos do prato especial do almoço enquanto Katniss abre a carta que Effie nos da e a coloca na mesa enquanto lemos.

–Isso aqui... Isso aqui... Um jantar? Katniss parece tão confusa quanto eu.

–Sim, um jantar. Mas ela não mencionou nenhum motivo, somente um jantar. Parece que todos os vitoriosos vão -explica Haymitch Volto meu olhar para a carta.

–É amanhã? É isso mesmo? Effie assente.

–Amanhã? -A voz de Katniss soa um pouco mais alto do que o necessário -Mas para chegarmos na Capital de trem leva muito tempo. E uma roupa e...

–Paylor vai disponibilizar um dos aerodeslizadores que estão levando trabalhadores para os distritos em reforma, para nós por causa do horário curto. -diz Effie.

–Não se preocupe, Docinho. Você vai ter até amanhã para escolher seu vestidinho de rainha e essas coisas...

Katniss mostra a língua para Haymitch que para de rir e toma um gole de sua bebida que torço para não conter álcool. Em pouco menos de quinze minutos nosso almoço chega e a conversa fluí enquanto comemos.

–--(Katniss)---

–Ainda ficamos de conversar hein? -diz na saída do restaurante.

–Claro. Então.. Como eu imaginava , tivemos uma pequena briga e depois comemos um bolo. Bem típico -faço-o rir.

–Então deu tudo certo?

–Ah sim. Não poderia ter sido melhor. Ah, não, poderia, mas foi uma discussão sensata e acabou tudo bem -um sorriso se abre em meus lábios só de lembrar.

–Isso é muito bom. Não falei? Vocês iam se acertar.

–Ahh mas eu tive que dar broncas, como se eu fosse a mãe. E... Peeta, que história é essa de conversarem sobre mim?

Ele revira os olhos acompanhando com uma risada.

–Katniss, só falamos bem de você. E a questão de você não contar quase nada para nós.

Fico feliz de ele ter mencionado isso. Percebo a sinceridade que ele transpõe.

–Queremos o seu bem.

Sorrindo, dou um beijo em seu pescoço enquanto sua mão passa envolta de minha cintura me juntando a ele para me proteger do frio o resto do caminho.

–Thor, sinto muito, mas vai ficar sozinho um tempo.. -me abaixo para acariciar seu pelo cor de mel quando entramos em casa.

Por não entender nenhuma palavra do que digo, ele apenas balança o rabo de forma feliz pelo carinho. Quando me levanto ele me segue até o sofá onde deixo minha jaqueta e até a cozinha onde pego um copo de suco.

–Aff, está vazando suco! Olho para minha blusa que era um branco rendado que acaba de ser sujo com suco de morango. -Vou trocar isso aqui! -aviso Peeta que estava colocando ração para Thor.

–Posso te ajudar, se quiser... -um sorriso com um toque de malícia levanta um canto de sua boca se aproxima de meus lábios. Me surpreendo quando percebo que seu beijo é delicadamente doce.

–Acho que ainda sei trocar de roupa sem ajuda, mas... -sussurro em meio aos meus próprios risinhos quando seus lábios e sua língua sentem meu pescoço. -É serio, quero sair com Effie ainda hoje por causa das roupas... Sinto o calor de sua boca em vários beijos leves na chupada, depois de volta para mim.

–Vai me deixar sozinho? -diz fazendo uma cara de dó, parecendo Thor quando triste.

–Você pode vir se quiser, mas suponho que vai se entediar.. Até eu já me vejo entediada experimentando vestidos... Já volto.

Hesito na metade da escada.

–Ah e Peeta! -ele se volta para mim. -Nada de falar sobre mim com minha mãe no telefone...

Sua boca se abre de surpresa com uma risada e entro correndo no quarto mas não rápida o bastante.

–Só por isso vou ligar para ela agora! -diz quando aperta minha cintura por trás e sai correndo até o telefone.

–Peeta! -sem perceber na hora, bato o pé no chão.

–É brincadeira. -beija minha testa antes de sair do quarto.

–Se você ligar eu vou saber hein! -grito.

–Fica tranquila! -consigo ouvir sua voz do corredor.

Pego uma blusa limpa no guarda-roupa e depois de vesti-la, vou para o banheiro. Quando olho no espelho, a marca de Peeta me chama atenção. Na base de meu pescoço está uma marca roxa avermelhada. Vejo um sorriso bobo em meu rosto mas logo minha língua estala com a preocupação. Se não fosse pela jaqueta que colocarei por conta do frio, isso ficaria visível demais a olhares curiosos.

–--

–Está pronta Katniss? -ouço-o perguntar de lá de baixo.

–Já estou descendo! -grito de volta. Termino de prender meu cabelo em uma trança e abro o guarda-roupa. Pego um casaco branco e o coloco por cima da mangas azuis de meu vestido.

–Uau! -os olhos de Peeta me fitam de cima a baixo.

–Não acha que estou... Sei lá... É só um jantar na casa da minha mãe mas não me sinto bem com a situação.

–Você está linda! Para com isso.

–Você sempre diz isso...

–Porque você sempre está.

Meu revirar dos olhos acompanha nossos passos até a porta com somente o barulho do vento noturno oscilando nas árvores.

–Está tremendo de frio ou de nervosismo? -pergunta quebrando o silêncio.

–Acho que um pouco dos dois. Conhecer o namorado da minha mãe é... estranho, porém bom. Mas continua estranho. Eu nunca pensei que esse dia existiria.

Antes que Peeta possa responder, chegamos à porta e bato nela hesitante quando não demora muito para minha mãe aparecer com Robert, ambos sorrindo.

–--

Quando me deito na cama observando as gotas de chuva recentemente iniciada escorrerem pela janela, a conversa que tive com minha mãe depois do jantar volta a minha cabeça.

"-Você tem certeza de que gosta dele?

–Não estaria com ele por outro motivo"

Robert foi muito gentil comigo e com Peeta, nos demos muito bem com ele. Sempre ele fazia-nos rir, inclusive minha mãe. Acho que isso foi uma coisa boa que aconteceu com ela e espero que sempre seja assim.

"-De qualquer forma, se algo acontecer, me avise. Não quero que nada aconteça com você, mãe".

Desvio as lembranças quando Peeta aparece com Thor no colo na porta do quarto.

–Ele não para de choramingar la embaixo, deve estar com medo da chuva. Seria uma má ideia deixa-lo com a gente hoje?

–É difícil negar algo a ele tanto quanto a você. Pode vir.

Peeta o coloca na ponta da cama e se deita ao meu lado, puxando o cobertor para nós.

–Boa noite. -puxo-o para mim beijando sua boca com a vontade que meus lábios pedem.

–Boa noite Anjo.

Me deito bem junto a ele e adormeço fácil com o barulho da chuva penetrando em minha cabeça.