–--(Katniss)---

–Thor, pra dentro!

Ele bate com as patinhas na minha perna quando já estou na porta.

–Thor, eu já volto.

Peeta o chama e fecho a porta quando se destrai.

Saio de casa com o livro de plantas na mão a caminho da casa de minha mãe. O 12, assim como todos os distritos, está se reconstruindo aos poucos, tendo comércios, praças e casas sendo construídas ou reconstruídas.

Minha mãe está morando na ultima casa da vila dos vitoriosos, que fica ao lado do hospital improvisado. Chego batendo na porta e ouço vozes até minha mãe abrir.

–Oi. -chego abraçando-a mas ela não parece tão abalada quanto eu.

–Katniss! - ela parece surpresa em me ver.

De primeira não encontro ninguém na casa que possa ser a fonte das vozes mas então quando entro, um homem -alto, cabelos loiros e olhos cinzentos, até lembra meu pai, porém os cabelos são mais curtos. Tem uma barba rasa. Parece ter a idade próxima da de minha mãe. - aparece do corredor e da um beijo em minha nela.

Só depois ele percebe minha presença. Encaro os dois por um instante e o silêncio impregna a sala até que minha mãe o apresenta.

–Katniss, esse é o Robert, ele é... -ele vem me cumprimentar mas eu recuso.

–Seu namorado? -antes que ela possa terminar eu a interrompo e sinto a raiva subir pelo meu corpo enquanto uma lágrima ameaça a escorrer pelo meu rosto. -Não sabia que você tinha esquecido o papai, não a ponto de não se lembrar que dia é hoje. - bato a porta e saio correndo.

Escuto ambos me chamarem mas não paro. Chego em casa com o rosto escorrendo lágrimas e com a respiração acelerada, abro a porta já tirando minha jaqueta e a jogo no chão.

Peeta se levanta rapidamente do sofá quando me vê, vem até mim e me abraça. Encosto a testa em seu peito respirando fundo várias vezes depois afundando a cabeça em seu pescoço.

–O que aconteceu? -sua voz soa preocupada.

Quando sentamos no sofá, Thor sobe em meu colo e o acaricio de leve, então eu começo a falar

–Minha mãe. Ela nem sequer sabe que dia é hoje. E nem se preocupou em me dizer que tem um namorado. -sinto minha garganta arder.

Ele tira as mechas de cabelo do meu rosto antes de falar calmamente

–Calma Katniss. Tenho certeza de que a não esqueceu, está sendo difícil pra ela tanto quanto pra você e ela merece voltar a ser feliz.. -só de pensar que Peeta está defendendo a escolha dela de não me contar, minha raiva volta.

Volto um olhar fulminante para ele.

–Não acredito nisso...Olha Peeta se for pra defende-la eu não quero ouvir! Ela me escondeu isso e está errada! -grito com ele e subo para o quarto trancando a porta. É o melhor que sei fazer. É a única coisa que me ocorre quando brigamos, me isolar.

–KATNISS! - ele me chama enquanto tenta abrir a porta -KATNISS!

Enterro a cabeça nos travesseiros tentando bloquear o som de suas palavras e me esquecer de tudo.

–--(Peeta)---

Não sei o que fazer. Katniss está trancada no quarto há 45 minutos. "Preciso mandar fazer chaves reservas" penso. Sei que ela precisa ficar sozinha mas estou preocupado.

É quando ela aparece com o rosto vermelho, me encara com uma cara triste e se aproxima dando um longo suspiro.

–Você tem toda razão. Você só me ajuda e eu só brigo com você, isso é injusto. Desculpa. -quando se senta em meu colo sendo acompanhada de Thor e a abraço. Antes que ela comece a falar de novo eu a interrompo

–A culpa foi minha. Eu que sugeri que você fosse pra lá. Eu devia ter ficado do seu lado pelo menos quando você chegou.

–Não foi não. Eu teria de ir la de um jeito ou de outro, minha cabeça ia acabar me lembrando. E você está certo sobre ela. Ela merece ser feliz mas ela escondeu de mim que tinha um namorado. Eu só queria que meu pai não... - seu choro volta e então a coloco deitada em meu peito enquanto passo a mão em sua trança.

Katniss hesita quando o telefone toca ao nosso lado e eu o atendo.

–Boa tarde. -quando atendo percebo que é a Clara, a mãe da Katniss e vejo que sua voz parece desesperada.

–Boa tarde. - olho de relance para Katniss e vejo os olhos dela em mim.

–Peeta, ainda bem que é você, se fosse a Katniss ela desligaria. Por favor diga para ela vir aqui hoje ou amanhã, precisamos conversar.

–Pode deixar.

–Muito obrigada Peeta, até logo.

–Não tem de que, até. -encaro Katniss novamente. -Era sua mãe.

Seus olhos se desviam para baixo como se estivesse pensando no que falar

–Ela quer que você hoje ou amanhã. Qualquer hora.

Ela me encara por um instante depois encosta a testa em meu peito fechando os olhos.

–Que beleza, depois do belo do barraco que eu fiz hoje ainda vou ter que encara-la. Não só ela mas aposto que o namorado também... Thor, você tem sorte de ser um cachorro -diz bufando para ele.

Ela solta um suspiro tenso.

–Você tem que me ajudar. -sua mão agarra a minha. -Vai comigo amanhã .-ela aperta minha mão.

–Não fica assim Anjo, eu vou, mas deixo vocês a sós para conversarem.

Ela beija meu pescoço.

–Valeu Peeta, não sei onde eu estaria sem você.

–--

–--(Katniss)–--

–Essa conversa não vai demorar muito, não to pra lá de animada pra ver o que isso vai dar -digo empurrando um copo de leite garganta abaixo. Nem com fome estou. Peeta acaba de tomar seu suco e coloca nossos copos na pia depois se volta para mim.

–Vocês precisam se entender. São mãe e filha, precisam se dar bem. Você a ama tanto quanto ela te ama. Sabe disso. -ele coloca minha franja atrás da minha orelha e sobe o zíper de minha jaqueta. Depois que dou um leve sorriso ele me da um beijo.

–Queria ter essa sua habilidade com as palavras.

–Você tem muita coisa melhor. -ele segura meu rosto com as duas mãos.

–Minha raiva e falta de paciência dizem o contrário. Ele balança a cabeça negativamente e se aproxima de minha boca

–É perfeita. Perfeita desse jeito.

Encho a tigela de comida do Thor antes de sairmos.

–Psiu, não demoro. -digo a ele que me responde com dois latidos e um abano de rabo.

Esse outono começou mais frio que os outros de modo que o vento sopra forte. Aperto a jaqueta, agarro a mão de Peeta e não solto antes de chegar a casa da minha mãe. Quando chegamos eu bato na porta e espero.

–Peeta vamos embora. -digo quando não obtemos resposta.

Ele simplesmente me abraça mas não se move. Eu o encaro mas minha atenção se desvia quando minha mãe aparece no vão da porta. Quando me vê, um sorriso esperançoso aparece em seu rosto.

–Te vejo depois. -diz me dando um beijo e acena com a cabeça para minha mãe.

Entro pensando no modo mais fácil de lidar com isso.

–Filha precis...

–Há quanto tempo? -interrompo-a para tentar ir de uma vez.

–Há quanto tempo o que?

–Ele está aqui agora?

–Se está se referindo ao Robert, não Katniss..

–E há quanto tempo vocês estão juntos? Ela pondera um instante.

–Faz quase um mês. Só um mês.

–Você fala só? Você acha que é SÓ um mês? -minha voz se eleva. Ela parecia querer falar algo mas a interrompo -Não acredito que me escondeu isso um mês inteiro!

–Katniss, me escuta!

Paro um momento me encostando no sofá para tentar ouvi-la e a encaro.

–Eu queria esperar até depois do seu casamento. Achei que você iria ficar chateada com a questão de quem ... -ela parece perceber as lágrimas que tento prender em meus olhos quando quase mencionou a questão de quem me levaria no casamento então continua tomando outro rumo -Você foi passar uma semana fora na lua de mel e não tive tempo, filha.

–Mas a gente se falou por telefone várias vezes depois!

–Eu te conheço. Você não gostaria de saber isso por telefone. -sua voz volta a ser calma. -Eu queria te contar com jeito, apresentando-o para você. Você ia entender melhor.

O silêncio toma conta do ambiente enquanto procuro as palavras certas para prosseguir até que ela prossegue.

–Filha, não é porque estou com o Robert que eu esqueci seu pai. Só achei que deveríamos todos seguir em frente.

Percebo que também há lágrimas em seus olhos então fecho os meus tentando afastar lembranças mas a situação só piora. Caio de joelhos no chão e uso minhas mãos como apoio. Sinto minha mãe me abraçar e seus braços me proporcionam um conforto diferente tanto dos braços de Peeta quanto dos de meu pai. Não que seja melhor, não há como comparar os três mas seus braços tem um conforto de proteção e segurança específicas de mãe.

–Filha por favor, tenta me entender. Me perdoa por ter escondido de você, por não ter conseguido contar.

Encosto as costas na parte de trás do sofá e deito a cabeça em seu ombro, reorganizando meus pensamentos. Era incrível como eu sempre me arrependia de brigar com todos mas sempre sendo teimosa.

–Eu entendo, entendo também que você não teve culpa. Mãe sou eu que tenho que pedir desculpas e não só para você mas para Robert também.

–Eu falei com ele ontem. Ele não está bravo nem nada, ele mais do que compreende o que você está passando, não precisa se preocupar.

–Mesmo assim, eu devo desculpas. Vou me sentir culpada. Ela me joga um olhar compreensivo.

–Então, que tal um jantar hoje a noite aqui? Nós quatro, você, Peeta, Robert e eu. -seu sorriso me reanima.

–Tudo bem. -pauso um instante. -Obrigada mãe. Sinto muito sua falta.

–Filha sempre que precisar de ajuda pode me procurar. Eu sei que você é muito fechada... Andei conversando com Peeta.

–Como é que é? -pergunto mas não com raiva, mas sim com um sorriso arqueando as sobrancelhas.

–Peeta e eu concordamos em muitas coisas, Katniss. Você não se abre muito com ele também não é? -ela diz e assinto com a cabeça. -Então, se você não se abre com a gente não temos como ajudar você.

Ela tinha razão. Acho que eu acostumei e sempre preferi guardar meus sentimentos do que me abrir. Eu achava isso certo porque era o mais fácil.

–Vou tentar. -demonstro um sorriso leve -Mas não fiquem falando mal de mim no telefone e nem por outro lugar, obrigada. -brinco e ela me abraça rindo.

–Só queremos o seu bem... Que tal comer um bolo agora? Fiz porque tinha esperança de que você viesse.

–Adoro seu bolo mãe, e agora fiquei com fome -ambas rimos -

–Vem vamos lá.

Sentamos na mesa e comemos bolo juntas, conversando sobre várias coisas, coisa que quase nunca fizemos e sentia muita necessidade de fazer. Passar um tempo de mãe e filha.