O Sangue do Olimpo escrita por Belona


Capítulo 7
Annabeth


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora!
Boa leitura!



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Pensamos em pegar um bote, que ficava guardado no porão do navio, mas daria muito trabalho. Calculamos o tempo de vida e morte da ilha. Ela permanecia viva por quinze minutos, morria por cinco. Voltava à vida por meia hora, então morria por dez minutos. Ficava viva por uma hora inteira, então voltava a ficar morta por tempo indeterminado. O ciclo recomeçava.

Descemos pela escada de madeira e mergulhamos na água. Tínhamos que bater os pés para não afundar, mas Percy cuidou disso e, quando a faixa preta se dissolveu, já pisávamos na praia. Obviamente que tínhamos esperado pelo maior tempo.

– Ok! – Leo disse, enrolando a barra da calça. – Em uma ilha desse tamanho, acho melhor nos separarmos, não é?

Torci a boca. Em uma ilha desse tamanho, acho melhor não nos separarmos, não é? Pensei. Mas não falei.

– Aham – Jason concordou. – Nos encontramos na praia daqui a quinze minutos.

Todos assentiram, e cada um foi para um lado (muito a contragosto).

Enveredei-me pela mata, e não demorou muito para a subida começar. Seria muita sorte que o vulcão estivesse desativado, mas nos primeiros cinco metros cumpridos o topo do morro já começou a soltar fumaça. Preta, com cheiro de enxofre. Ela se alastrou por tudo, me fazendo engasgar.

Não sabia o que exatamente estava procurando, mas pretendia encontrar alguma coisa.

Dito e feito. Caminhei por mais alguns metros e parei numa clareira limpa. Não sei por que, mas puxei minha espada da bainha. A lâmina provocou um barulho agradável ao raspar o couro, e o osso de drakon reluziu aos ínfimos raios de Sol.

Olhei para todos os lados, dissecando a campina com meus olhos. Nada encontrei.

Estava quase dando meia-volta, quando alguns estalidos me fizeram ficar paralisada.

Fiquei na mesma posição por vários segundos. Nada mais aconteceu. Coloquei um pé atrás do outro, mas então eu vi que algo na grama havia mudado.

No centro da clareira, uma árvore começava a crescer. Não era uma árvore normal, pois crescia muito rápido e seu tronco era grosso demais, muito diferente de todas as outras ao redor.

Franzi as sobrancelhas, observando-a se desvencilhar da terra e crescer. Após alguns segundos, na minha frente havia uma árvore grande, de tronco grosso. A sua copa era farta. Mas não era de folhas, e sim de flores.

Pisquei algumas vezes, estranhamente atarantada. O tronco era meio acinzentado, como se fosse um branco mais escuro... As flores eram dessa cor. Algumas mais claras, outras mais escuras. A campina ficou completamente carregada de um aroma exótico, novo. Não era doce nem amargo. Parecia a mistura dos dois ao mesmo tempo, mas era confuso quando a brisa mudava de tonalidade.

Sentia-me um pouco entorpecida, meio tonta. Continuei a observar a árvore, e então uma flor flutuou até minha mão.

Era cinza escura. Fitei suas pétalas delicadas, e não resisti ao impulso forte de cheirá-la. Infelizmente ou felizmente, ela me trouxe uma lembrança.

Vi Luke. Ele me dando a faca de bronze... Depois segurando o céu. Ele me visitando em São Francisco. Ele com possuído por Cronos. E por último, ele morrendo. Sangue escorrendo por seu braço... Perguntando-me se eu o amava.

Abri os olhos, tentando me desvanecer, e vi que a flor tinha ficado preta. Apertei-a um pouco, e quando abri a mão ela havia se tornado carvão.

Engoli em seco, tentando pensar com clareza, mas outra flor veio parar em minha mão. E logo uma enxurrada de flores se soltou dos galhos e, com o vento, fizeram um redemoinho a minha volta. Arquejei, mas de algum modo acabei me sentando (ou caindo) no chão. O redemoinho se assentou, e me vi rodeada por elas.

Olhei para a flor na minha mão. Tentei jogá-la fora, mas antes que conseguisse, acabei inalando o seu perfume. Entrei em transe novamente.

Dessa vez, a lembrança foi boa.

Vi Percy sorrindo para mim. Ele estava com a mão estendida e sorria abertamente, revelando os dentes brancos.

– Venha, Annabeth – Ele chamou.

Vi-me aceitando sua mão. Ele me puxou levemente e colocou uma mão em minha cintura.

– Para onde estamos indo? – Minha voz soou distante, como se falasse debaixo da água.

– Vamos enfrentar os seus medos – Ele sorriu mais uma vez e começou a caminhar.

– Meus medos?

– Sim, Annabeth – Ele assentiu, sério. – Porque eu não suportaria te ver atormentada por eles mais uma vez.

– Mas... Percy. Não podemos fazer isso agora – Protestei. – Temos a missão, temos Gaia, temos...

Ele parou e me olhou com tristeza. Colocou uma mecha de meu cabelo atrás da orelha.

– É esse o seu defeito, Annabeth... Você não olha para si mesma... Não se preocupa com si mesma. – Ele falava calmamente. – Você nem me olha mais direito.

– Percy, que mentira! – Comecei a ficar preocupada. Coloquei as mãos em seu rosto. – Claro que eu olho pra você. Eu só tenho olhos pra você.

Percy deu um passo para frente e encostou a testa na minha.

– Quando eu morrer...

Meu coração desacelerou.

– Percy, você não vai morrer! – Gritei.

Ele riu.

– Sinto muito. Eu vou.

– Não! Você não pode! – Comecei a chorar. Acabei caindo, desabando.

Abri os olhos, totalmente suada. Estava deitada no meio das flores. Levantei a mão segurando a maldita coisa que havia me levado para aquele pesadelo. Dessa vez, ela estava verde mar. Amassei-a com força, e o carvão escorreu por meus dedos.

Sentia alguma coisa me puxando, me sugando para o chão, para aquele torpor eterno. Não sei por quanto tempo fiquei assim, indecisa, meio embasbacada, nem por quanto tempo eu ficara ali.

Novamente uma flor veio para cima de mim. Só tive tempo de perceber que era bem clara, quase branca. Ela passou por meu nariz e tive uma nova visão.

Minha mãe estava olhando para mim.

Atena estava com o cabelo comprido solto por cima dos ombros. Ela estava bonita como sempre, a pele pálida, os lábios vermelhos, as sobrancelhas tão escuras quanto o cabelo estavam arqueadas, e ela me fitava com seus olhos acinzentados. Ela abriu a boca e disse apenas uma palavra.

– Annabeth.

Levei um susto tão grande que levantei na hora, assim que abri os olhos. As flores ameaçaram um redemoinho novamente, mas eu olhei na direção que tinha vindo, tapei o nariz com a mão esquerda e ergui a espada com a outra. Dei três passos para a floresta, mas hesitei. Um pouco com raiva, um pouco com medo, dei meia volta e, com força, brandi a espada na direção da árvore. Cortei seu tronco ao meio. Empurrei com um chute, e a árvore caiu com estrondo na campina. Então ela virou carvão.

Não senti nada. Não senti como se alguma lembrança houvesse me deixado. Apenas senti satisfação.

Chacoalhei a cabeça e corri pelo caminho de volta.

Cheguei à praia sem fôlego e tropeçando. A areia levantou quando arrastei os pés por ela.

Olhei para os lados, e avistei Piper.

Corri até ela e quase esbarrei.

– Deuses... – Arquejei.

– Uma... Uma... – Ela tossiu. Seus cabelos estavam todos atrapalhados, saltando do seu rabo de cavalo. Ela parecia extremamente cansada – Uma árvore?

– Aham – Confirmei. – Quanto... Quanto tempo?

– Não faço ideia. – Então ela pareceu se dar conta da situação. – Ah meus deuses! Não faço ideia!

Jason apareceu correndo, com Percy logo atrás. Os dois não estavam muito melhores do que nós duas.

– Onde está Leo? – Percy perguntou.

– Não faço ideia – respondi. – Ele não está com vocês?

– Não – Jason parecia preocupado de verdade. – Vamos...

Ele se interrompeu.

A ilha começou a estalar. Olhamos para o vulcão, e vimos a fumaça ficando cada vez mais densa. Então, com um barulho excepcionalmente alto, lava jorrou do topo em bolas de fogo, atingindo a floresta.

– Filho da... – Piper iria falar, mas se abaixou quando um pedaço de madeira voou em direção a sua cabeça.

– Tem como tirar a gente daqui? – Jason gritou para Percy.

– Não – Ele indicou a água.

Já tinha se tornado negra.


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