O Sangue do Olimpo escrita por Belona


Capítulo 35
Piper




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Lutar ao lado dos deuses foi a coisa mais f*** e a mais perigosa que Piper fez em toda a sua vida.

Ela queria usar o seu charme, mas os gigantes eram rápidos demais e estavam sendo massacrados pelos deuses.

Hermes, Atena e Annabeth estavam combatendo contra Hipólito. Ártemis, Apolo, Jason e Zeus lutavam contra Porfírio. Percy e Poseidon estavam dando um jeito em Polibotes. Hades, Perséfone, Hécate e Hazel avançavam para Alcioneu (Piper não se dera conta de que as duas deusas tinham vindo até vê-las). Dionísio, Marte e Frank lutavam contra Efialtes. Deméter, Leo, Hera e Hefesto combatiam com Encédalo.

Piper e Afrodite estavam lado a lado. Elas não avançavam para nenhum gigante em especial, mas não ficavam desocupadas nem por um segundo. Sempre havia um inimigo à sua frente, e sempre tinham que socá-lo ou chutá-lo. Pareceu tolice na hora, porém Piper notou que a cada vez que Afrodite e ela golpeavam alguém, a força do alvo diminuía consideravelmente.

É a força do amor. Sua mãe sorriu para ela. O amor é a única coisa que faz os deuses e os gigantes caírem de joelhos.

Como que para ilustrar sua frase, Porfírio caiu de joelhos aos pés de Piper. Ele arfava pesadamente, mas não estava nem perto de ser derrotado. Piper engoliu em seco e deu chutou-o no peito com a maior força que podia. Para sua surpresa, o gigante voou cinco, dez, quinze, vinte metros, até aterrissar aos pés de Zeus, ao lado de Jason. Jason sorriu para ela e fez sinal de positivo, com o polegar para cima, então disparou um raio na testa do inimigo.

Piper se virou, bem na hora em que Hipólito vinha na sua direção. Mas ele vinha de uma maneira estranha, como se estivesse sendo arrastado por algo invisível.

Invisível.

Piper recordou-se de alguma coisa relacionada a Hermes, que ele ou Hércules matava usando o boné da invisibilidade. Era Hermes, não Hércules. Ela achava, pelo menos. Mas tudo parou de importar quando a pessoa que estava usando o boné da invisibilidade fez o gigante dobrar-se sobre os joelhos e expor o pescoço.

Annabeth tirou o boné, deixando a cascata de cabelos loiros caírem até o meio das costas em ondas. Ela tinha sangue na cara, mas sorriu abertamente para Piper.

– Segure. – Ela indicou o braço de Hipólito.

Piper segurou seu braço direito e colocou o pé nas costelas. Annabeth fez o mesmo do outro lado, e juntas elas conseguiram imobilizar o imortal.

Hermes surgiu a frente do gigante, empunhando o caduceu.

– George, Martha... – Ele falou mansamente. – Modo Hermes decepa cabeças.

O caduceu imediatamente se transformou em uma espécie de lança, só que era metade empunhadura e metade lâmina chata.

– Senhoritas... – Ele inclinou abaixou a cabeça em respeito e Annabeth e Piper sorriram. – Hipólito. Suas últimas palavras.

Hipólito – que encarava o chão – levantou o olhar.

– Não importa quantas vezes você me mate. Eu sempre vou voltar. – Ele respondeu com um ar travesso.

– Essa é a graça de ser imortal. – Hermes deu de ombros, ergueu a lança e a desceu sobre o pescoço do gigante.

O corpo do imortal desfez-se em pó, em uma explosão de luz, que ofuscou a todos por um momento. Piper e Annabeth quase caíram para trás.

Menos um. Agora só faltam cinco.

Piper impulsivamente iria ver quem mais precisava de sua ajuda, mas até ali estavam todos bem, até que ela foi surpreendida por uma onda que a encharcou, junto com todos no recinto, lavando todos os cortes e ardendo. Ela olhou na direção, e viu Percy, Poseidon e Polibotes em uma batalha impressionante. Os três controlavam um turbilhão inimaginável de água, jogando-a contra si e rebatendo. Percy e Poseidon eram extremamente parecidos, principalmente porque estavam vestidos do mesmo jeito, e tinham os mesmos cabelos negros e olhos verdes. A diferença era que Poseidon brandia um tridente, e Percy, a Contracorrente. Polibotes usava uma clava.

Mais para o lado, Zeus e Jason estavam acabando com Porfírio. Era uma batalha que valia a pena assistir.

Jason erguia sua espada dourada, invocando raios, trovões, chuva e tempestade. Zeus estava invocando aquilo tudo dez vezes mais.

Todo o Parthenon mágico estava tomado por nuvens tempestuosas, chuva torrencial. O fogo no centro do salão não se extinguia de jeito nenhum. Estava tudo preto e nevoento, temeroso.

O rei dos gigantes não era maior que os outros, porém parecia.

Jason o empurrou pelos ombros, e Porfírio foi jogado encima de Hera. Ela caiu, com ele prendendo-a.

– Não! – Júpiter rosnou e empunhou o raio mestre. Agarrou Porfírio pelas tiras da armadura e o jogou para o outro lado. No trajeto, o gigante bateu em Alcioneu e em Polibotes, que caíram.

– Maldito seja! – Hades praguejou. – Vai contar vantagem para sempre!

O som mais delicioso daquela guerra foi a risada espontânea dos sete semideuses e dos quinze deuses presentes.

Zeus passou tempestuosamente pelo recinto, e nesse meio tempo Piper teve tempo de fitar Jason. Ele tinha uma expressão indefinida no rosto, mas Piper podia jurar que ele estava feliz. Quando seus olhos se encontraram, ela piscou sugestivamente e virou-se para encarar Efialtes.

Piper, Frank, Leo, Dionísio e Ártemis lutavam acirradamente contra ele, não dando chances. Piper lhe socou o rosto, Leo ateou fogo à sua pele, Dionísio fez ramos crescerem em seu âmago. Ártemis pulou nas costas do gigante como uma gata, agarrando-se a ele como se estivesse brincando. Ela era graciosa e letal. A Deusa da Caça fitou Frank, que entendeu.

Ele transformou-se em uma pantera negra, afastou-se alguns passos e saltou para a cabeça do gigante.

Em uma explosão de luz, Ártemis tinha caído de pé no meio da poeira, e Frank tinha uma cabeça imortal entre os dentes. Ele forçou o maxilar e aquilo explodiu em pó.

– Isso aí, mana! – Apolo gritou para Ártemis. Ele segurava Encédalo pelo cangote, enquanto Atena e Annabeth falavam algumas coisas para o gigante.

– Não seja tolo, Raio de Sol! – Dionísio protestou. – Sem eu, eles nunca teriam essa glória. Não é mesmo?

Piper fez uma coisa que nunca pensou que fosse fazer.

Ela segurou o queixo de Dionísio e beijou sua bochecha.

– O senhor é o máximo! – Ela disse.

Se algum deles nunca vira um deus ficar corado, viram naquela noite.

Jason e Zeus continuavam a lutar contra Porfírio, Percy e Poseidon estavam quase acabando com Polibotes. Hazel estava de olhos fechados, recitando algo que fazia uma névoa negra sair de sua mão e circundar Alcioneu. Atena tinha dispensado Apolo e as duas mantinham Encédalo imóvel de alguma maneira, usando apenas a estratégia.

Numa extremidade do salão, Poseidon deu um golpe de judô em Polibotes, usando toda a força de seu peso contra o gigante. Polibotes caiu no chão.

– Filho. – Poseidon chamou. Quando Percy ergueu a cabeça, seu pai jogou-lhe o tridente. Percy o agarrou no ar, olhou para Polibotes, estatelado no chão, e colocou um pé sobre seu peito. O gigante iria reagir, mas Poseidon surgiu por cima dele. Polibotes tinha uma expressão de cansaço e derrota no rosto. Chegou a dar pena. Percy girou o tridente na mão e o levantou. Por uma fração de segundo, ele hesitou. Seus olhos encontraram os de seu pai, e houve um entendimento silencioso entre eles. Poseidon segurou o tridente um pouco mais para baixo e, juntos, o deus e seu filho baixaram a arma, decapitando Polibotes.

Um pouco mais para trás, Atena estava parada, de queixo erguido, encarando Encédalo.

– O tempo vai passar. – O gigante rosnou. – Nem sua maldita filha – ele olhou para Annabeth -, vai conseguir mudar isso. Todos nós retornaremos.

– Estaremos esperando. – Atena sorriu secamente.

– Estaremos mais fortes do que nunca. – Ele prometeu.

– Ah. – Annabeth revirou os olhos e puxou a espada. – Vocês disseram que seriam inderrotáveis nessa guerra. Estão provando o contrário.

– Eu voltarei para esganar você. – Ele rugiu e quis se levantar, mas Ares surgiu de lugar nenhum e o manteve abaixado.

Marte fitou Atena sadicamente. A rixa entre os dois aflorou, mas Atena sacudiu a cabeça.

– Se os deuses quiserem, eu já estarei morta até que você volte. – Annabeth posicionou a espada embaixo do seu queixo.

– Você teme.

Annabeth sorriu.

– O medo me impele a fazer coisas que, com coragem, eu não seria capaz.

– Eu vou voltar. – Ele repetiu com convicção.

– Estaremos esperando. – Atena deu um passo à frente. – A sabedoria nunca acaba, enquanto ainda houver uma alma pensante.

– A causa de vocês é uma causa perdida. – A voz de Ares era surpreendentemente complacente.

– Não é uma causa perdida enquanto ainda houver uma alma desgraçada que ainda lute por ela. – Encédalo engoliu em seco.

Atena sorriu ainda mais.

– Você é sábio, Encédalo. E quase me derrotou várias vezes. Da próxima, tente escolher o lado certo. E talvez, juntos, possamos dividir o poder.

Atena segurou o cabo da espada de Annabeth, e num único movimento, perfuraram o peito do gigante.

Ocorreu mais uma explosão de luz.

– Você estava brincando, não? – Ares parecia nervoso. – Essas promessas nunca devem ser feitas.

– Eu não prometi nada. – Atena rebateu. – E eu sei o que nunca deve ser dito, primo.

Hazel tinha coberto todo o Alcioneu por sua névoa. Ele estava de joelhos, olhando para as próprias mãos. O gigante tinha perdido o tato, a visão, a audição e o faro.

– Por favor... Por favor... – Ele gemia. – Eu peço redenção...

Hades, Hécate e Perséfone olharam para Hazel.

– A decisão é sua. – Afrodite disse.

Hazel sacudiu a cabeça.

– Muitos vão morrer. E ele tem parte nisso. Não vai trazer aos mortos a vida, mas vai se fazer justiça.

– Quem você escolhe? – Plutão perguntou.

Hazel sorriu.

– Não acho mais justo que o meu pai.

Ao contrário dos outros, Hades e Hazel não usaram armas. Eles ficaram lado a lado, fecharam os olhos e recitaram um canto gregoriano antigo. Alcioneu, aos poucos, foi perdendo a lucidez. Ele parou de gritar, parou de se mover, de respirar. Desfaleceu, perdendo as forças aos poucos. Até explodir em uma nuvem de pó.

Todos viraram a cabeça para ver a luta de Jason, Zeus e Porfírio. Eles tinham trazido o gigante até o centro do salão, e a fogueira transformou-se numa menina de doze anos, ruiva, encapuzada. Ela levantou-se e saiu do caminho quando o Rei dos Gigantes, o maior de todos, o que se opunha a Zeus, foi colocado no lugar dela.

– Não se fazem mais guerras como antigamente. – Dionísio desprezou. – Quando os gigantes eram fortes.

Afrodite lhe lançou um olhar calmo, e Dionísio se calou.

– Paz, Baco. – Zeus disse. – A imortalidade significa isso.

– Nunca perdemos as forças. – Porfírio manifestou-se. Ele tinha cicatrizes de raios por todo o corpo, como se tivessem feito-lhe uma nova pele.

– Sabemos disso. – Afrodite sorriu, tranquilizando o gigante.

– Ele não merece essa calmaria. – Ares cerrou os punhos. – Deveríamos deixá-lo agonizar.

– A vida é uma dádiva. – Ártemis o repreendeu. – Morrer já é mais do que suficiente.

– Os imortais não morrem, garota. – Porfírio a repreendeu.

– Ficar no cosmo, no Tártaro, por mais uns cinco éons, já é mais que suficiente. – Ela se corrigiu.

– Zeus. – Hades alertou.

Zeus levantou o raio mestre. Todos pensaram que seria o fim daquilo tudo, mas o deus se interrompeu.

– Jason. – Ele deu um passo para trás. – Faça o seu destino.

Jason pareceu embasbacado por um momento, então deu um passo à frente e pegou a espada. Antes de se voltar para Porfírio, ele fitou seus amigos.

Percy, Frank e Leo sorriram, incentivando-o. Jason adorava os três, do fundo de seu coração. No entanto, ele era mais chegado a Leo. Sabia a história do garoto, e queria que ele tivesse um papel importante.

O destino dele está guardado. Era Hefesto.

Jason achava Piper, Annabeth ou Hazel igualmente merecedoras de tal honra. Sem as garotas, o navio nunca teria sido construído, quem dirá a missão.

Mas os deuses o tinham escolhido. Seu pai tinha escolhido Jason.

Ele suspirou e ergueu a espada.

Jason achava digno olhar nos olhos de suas vítimas, então ele fitou as profundezas dos olhos de Porfírion. Eram azuis, como os dele, como os do seu pai. Carregavam sabedoria, fúria, desespero e muitos milênios.

Jason não acharia legal ser morto por um herói passageiro. Mas preferiria morrer por pessoas diferentes a ser morto sempre pela mesma. Ou não. Ele não gostaria de ser morto, mas... Ah, você entendeu.

Todos os deuses presentes estenderam seus braços na direção dele, enviando um fluido pequeno de seus poderes. Cada fiapo enrolou-se imperceptivelmente na lâmina do gládio.

Jason contou até sete.

Então brandiu a espada.


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