O Sangue do Olimpo escrita por Belona
– Pense num animal. – Frank disse para Leo.
Estavam no convés do Argo, ancorados, esperando Jason, Piper e Annabeth retornarem. Fazia um calor intenso, e todos eles se abanavam.
– Ah, por quê? – Leo choramingou. – Posso pensar em um leão e você me transformar num pato.
– Que tentador. – Frank sorriu. – Sério, eu não sei se vou conseguir se não tentar. Agora pense em um animal. Ou vou ter que tentar em Percy.
Percy se encolheu.
– Tente com Hazel. Garanto que você não iria falhar.
Hazel riu e se encostou na amurada, cruzando os braços. Ela usava uma regata branca que tinha um rastro de suor no colo. Frank achava difícil não ficar olhando.
– Pensou? – Frank pressionou Leo.
– Pensei. Um leão, por favor. – O menino respondeu.
Frank fechou os olhos e se concentrou. Lembrou de Ares e Marte o orientando, ajudando-o. Sentiu o poder fluir por seus membros. Ele suspirou e fez a mesma força que usaria para transformar a si mesmo.
Havia um pato no convés.
– Oh, deuses... – Hazel arregalou os olhos.
– Eu disse para ele se concentrar! – Frank defendeu-se. – Ele não estava pensando em um leão. Ainda estava imaginando um pato.
O pato fez quak e começou a correr atrás de Frank. Frank começou a fugir.
– Eu não vou conseguir ajudar se você... Não... Aaah... Ohhh aaahhhh!
Leo começou a bicar os calcanhares de Frank, e Frank começou a pular para espantá-lo.
Percy e Hazel desataram a rir. A visão de um cara de um metro e noventa, forte como um jogador de futebol americano, pulando e fugindo de um pato era demais.
– Leo, pense em ser Leo! – Frank gritou.
– Quak! – Leo respondeu.
Hazel se forçou a parar de rir e a se endireitar. Ela ficou séria e fez um movimento de um ginasta girando duas maças. Disse algo em latim, um encantamento para acalmar.
O pato parou e voltou a ser Leo.
– Quem estava penteando minhas penas? – Ele indagou com um olhar acusador.
– Ninguém. – Frank parecia muitíssimo aliviado.
– Você quase me deixou na forma eterna de um pato! – Ele o recriminou.
– Eu imaginei um leão. – Frank retrucou.
– Gente. – Percy alertou.
Eles olharam para a ilha majestosa de Ítaca. No cume o grande palácio ficava cada vez mais agitado. Havia barulho de pessoas se divertindo, gritos e risadas, altas o suficiente para se fazer escutar àquela distância.
– Droga... – Leo murmurou. – Será que não devíamos... Explodir alguma coisa?
– O sinal. – Hazel sacudiu a cabeça. – Temos que esperar o trovão de Jason.
– Se ele conseguir invocar um trovão naquela forma. – Leo pôs uma mão no queixo.
– Ei. – Hazel se defendeu. – Minha magia é boa. E eu sei o que estou fazendo.
– Ninguém discorda. – Frank aplacou. – Não é mesmo?
– É. – Leo deu de ombros e começou a mexer nos controles. – Há quanto tempo que eles partiram?
– Uns vinte minutos. – Hazel respondeu. – Não estou contando. Mas acho que eles irão retornar. Vivos, espero, e com a resposta.
– São duas garotas e um garoto. – Leo refletiu.
– Algum problema em serem duas garotas? – Hazel pôs as mãos na cintura. – Por que é que você está tão atentado hoje?
Leo a encarou como se ela fosse uma professora briguenta.
– E desde quando você ficou tão mandona assim? – Ele indagou. – Até uns dias atrás, você era a garota dos anos quarenta boazinha.
– Até uns dias atrás, eu não tinha que lutar tanto pela minha vida. – Ela respondeu friamente. Depois relaxou. – Desculpe. Só estou tentando... Fui eu quem fez a magia. Se algo der errado, a culpa é minha.
– Relaxa. – Frank a abraçou pela cintura. – Vai dar tudo certo. – Ele apoiou o queixo no topo de sua cabeça.
– Eahhh!
Era o palácio. Os pretendentes definitivamente estavam felizes.
– Ou eles fumaram um baseado. – Leo tamborilou os dedos na cabeça de Festus. – Ou eles conseguiram o que não tiveram há muito tempo.
– Uma noiva. – Frank completou. Percy se encolheu mais ainda.
– Calma, cara. – Leo deu um tapinha amigável no ombro do filho de Poseidon. – Não acho que Annabeth vá trocar você por um bando de fantasmas.
– Não é exatamente isso o que me preocupa. – Percy indicou a montanha com a cabeça. – Alguém escapou da festa.
Ele tinha razão. Uma sombra descia a colina em velocidade surpreendente.
Hazel pegou a espada; Frank se transformou em um leão, Leo puxou suas chaves de fenda e Percy sacou Contracorrente.
Todos ficaram alerta e imóveis quando a sombra subiu no navio e parou no meio do convés.
– Vim chamá-los para o casamento. – A sombra revelou-se ser um cara de toga branca grega, com cabelos castanhos e barba do mesmo tom. Ele tinha sandálias nos pés e um algo divertido nos olhos, como se tivesse acabado de ganhar uma partida de Pinochle. – Finalmente aconteceu.
– Hum... – Leo assentiu dramaticamente. – E quem exatamente vai se casar?
– Não vai ter casamento nenhum. – Outra sombra surgiu no convés. Era um cara parecido com aquele. Extremamente parecido, para falar a verdade. – Aquele velho não é velho coisa nenhuma.
Jason, Frank pensou.
– Como assim não vai ter casamento? – O Cara Número 1 exclamou. – Estava tudo certo!
– Não estava! – O Cara Número 2 protestou. – A mulher já é do velho!
– Ora, então pegue a outra! – O Número 1 simplificou.
– Não podemos. – Seu amigo suspirou. – Ela tem aquela aura estranha. Nunca é bom numa noite de núpcias a noiva ter uma aura ruim.
– E desde quando auras importam? – O primeiro disse.
– Com licença. – Hazel entrou no meio. – Quem autorizou vocês à virem aqui?
Os dois a fitaram com curiosidade.
– Essa aí poderia servir. – Um deles disse.
– Essa aí pode te escutar, sabia? – Ela rosnou. – E ninguém sobe aqui sem nossa permissão. Vocês pediram permissão?
– Hum, eu acho que não. – Leo deu um risinho.
Os dois caras começaram a ir para trás, a medida que Hazel ia para frente. Só que não viam que Frank estava bem atrás deles, um leão a espreita.
– Leo. – Percy sussurrou.
Leo se virou, e Percy indicou a colina. Leo entendeu e foi mexer nos controles.
– Vocês vão embora. – Hazel ordenou. – Estão entendendo?
– Mas...
– O casamento...
– Não haverá casamento. – Ela disse em seu tom autoritário. – Nenhuma mulher aqui está disponível. E nenhum de vocês é digno de se casar.
– Garota... – Os dois se ofenderam. – Você não deveria tratar os mais velhos assim.
Hazel bufou.
– Eu posso ser mais velha do que você pensa. Agora vão!
No momento em que eles se dispersaram, um trovão ecoou no topo da colina.
– É o sinal. – Frank voltou à forma humana.
Leo apertou um botão e um compartimento se abriu na lateral do navio. Um míssil não muito grande surgiu e foi disparado na direção do palácio, alguns quilômetros acima.
Ele ficou pequeno, e foi diminuindo a medida que ia subindo. Então se perdeu de vista.
– Você tem certeza... – Frank começou.
Mas foi interrompido pela explosão.
O palácio foi destruído e o fogo disseminou a floresta num raio de um quilômetro quadrado. Todas as árvores recuaram, até os tripulantes do navio deram um passo para trás. Estilhaços choveram por todas as colinas, e alguns chegaram a cair no mar.
– Onde eles estão? – Percy murmurou.
– Espere. – Frank deu um passo para frente. – Estou tentando captar o cheiro...
– Ali. – Hazel apontou.
Os quatro estreitaram os olhos para ver. No meio da colina central, correndo em meio a nuvem de poeira, Piper, Jason e Annabeth vinham desenfreadamente na direção deles.
– Eles estão sendo seguidos? – Percy indagou. – Ah, droga. Eles estão sendo seguidos.
Era verdade. Uma horda de pretendentes-fantasma os perseguia morro abaixo. Eram espantosamente velozes.
– Vão conseguir? – Hazel puxou a espada.
– Leo, prepare o navio. – Percy alertou.
– Sim, capitão!
– Você é o capitão. – Percy retrucou. Leo sorriu imperceptivelmente e fez o navio ganhar vida. Os motores rugiram com o barulho de mil metralhadoras sendo disparadas ao mesmo tempo.
– Vou conseguir detê-los por pouco tempo. – Hazel disse.
– Espere. – Frank observou. – Jason está na forma dele mesmo.
– Eu disse que ia dar errado! – Hazel desesperou-se.
– Calma! – Percy, Frank e Leo falaram ao mesmo tempo.
– Ainda nem sabemos se eles conseguiram. – Frank lembrou. – Pode ter dado certo.
– Ou pode ter dado errado. – Hazel choramingou.
– Depois resolvemos isso. – Percy falou sem prestar muita atenção. Seus olhos estavam fixos nos três que vinham correndo. Eles estavam cada vez mais próximos.
Agora a forma de cada um já era discernível. Annabeth corria com os cabelos loiros balançando atrás dela como se fossem uma tocha. Ela escorregou, derrapou e rolou, mas conseguiu voltar a ficar em pé e a correr novamente.
Piper era a que estava na frente, mas ela não parava de olhar para trás. Annabeth chegou ao seu lado, agarrou sua mão e gritou algo. Piper assentiu e continuou correndo.
Jason, atrás delas, começou a voar. Ele segurou as duas, e em poucos segundos eles já estavam no navio.
Os três caíram pesadamente e rolaram até bater as costas na amurada.
– Ar ou mar? – Leo alardeou. – Eles estão chegando perto!
– A... Ar! – Jason gritou.
Leo puxou seu controle Nintendo e o navio se lançou no céu, deixando um rastro na água do mar. Ele bateu num botão e todo mundo quase foi parar na popa com o impulso.
Hazel correu para a extremidade do navio, gritando encantos e feitiços, invocando magia de proteção. Os pretendentes não conseguiram sair de Ítaca, mas a garota achava que era porque eles estavam presos lá, não porque ela tinha usado os poderes.
– Conseguiram? – Frank se equilibrou o suficiente para se soltar das cordas que segurava.
– Atenas... Parthenon... Acam... Acampamento. – Piper se levantou.
Eles esperaram pacientemente até que estivessem completamente recuperados. Piper e Annabeth tinham os vestidos rasgados e furados. Tinham a pele arranhada e sangue aparente. Pouco, mas era sangue. Jason não parecia muito melhor. Ele ainda estava cheirando a naftalina, e parecia que não tinha recuperado a força total.
– Eles não deram nenhuma resposta direta. – Annabeth cutucou Hazel e instantaneamente ela voltou para suas roupas normais: short e camiseta regata. – Gaia vai levantar no Acampamento Meio-Sangue. Mas o ritual é em Atenas. Provavelmente no Parthenon. – Ela amarrou os cabelos. – E precisamos estar reunidos. Uma coisa de cada vez.
– Então eu traço o curso para Atenas? – Leo interpelou.
Jason assentiu.
– Vamos ter que falar para os outros segurarem a barra no Acampamento enquanto combatemos aqui. Quando terminarmos... Partimos pra lá. – Ele falou.
Todos engoliram em seco.
– Ainda temos uma vantagem. – Percy disse. – Nossos pais.
– O que não é muito garantido. – Hazel suspirou. – Não podemos contar com eles. Podemos nos decepcionar.
– Tem razão. – Annabeth divagou. – Mas agora sabemos onde, e quando.
– Hoje é dia vinte e seis. Temos tempo até lá. – Piper torceu as mãos.
– Com a nossa sorte, eu diria que chegaremos encima do laço. – Leo sorriu. – Mas a tempo. Sempre damos um jeito no final. Não vai ser diferente.
– Mas o que aconteceu lá encima? – Frank perguntou. – Quer dizer, lá embaixo.
– Piper quase se casou. – Annabeth sorriu. – Mas um certo velhote quase teve um infarto.
Jason sorriu.
– Deveria ter visto a cara que os pretendentes fizeram.
– Eu acho uma tormenta meio estranha. – Annabeth torceu os lábios para o lado. – Mas não importa. Conseguimos as respostas vendendo Piper para um bando de fantasmas e escapamos fugindo dos mesmos depois que Jason explodiu a cabeça de alguns.
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