O Sangue do Olimpo escrita por Belona


Capítulo 29
Frank




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– Pense num animal. – Frank disse para Leo.

Estavam no convés do Argo, ancorados, esperando Jason, Piper e Annabeth retornarem. Fazia um calor intenso, e todos eles se abanavam.

– Ah, por quê? – Leo choramingou. – Posso pensar em um leão e você me transformar num pato.

– Que tentador. – Frank sorriu. – Sério, eu não sei se vou conseguir se não tentar. Agora pense em um animal. Ou vou ter que tentar em Percy.

Percy se encolheu.

– Tente com Hazel. Garanto que você não iria falhar.

Hazel riu e se encostou na amurada, cruzando os braços. Ela usava uma regata branca que tinha um rastro de suor no colo. Frank achava difícil não ficar olhando.

– Pensou? – Frank pressionou Leo.

– Pensei. Um leão, por favor. – O menino respondeu.

Frank fechou os olhos e se concentrou. Lembrou de Ares e Marte o orientando, ajudando-o. Sentiu o poder fluir por seus membros. Ele suspirou e fez a mesma força que usaria para transformar a si mesmo.

Havia um pato no convés.

– Oh, deuses... – Hazel arregalou os olhos.

– Eu disse para ele se concentrar! – Frank defendeu-se. – Ele não estava pensando em um leão. Ainda estava imaginando um pato.

O pato fez quak e começou a correr atrás de Frank. Frank começou a fugir.

– Eu não vou conseguir ajudar se você... Não... Aaah... Ohhh aaahhhh!

Leo começou a bicar os calcanhares de Frank, e Frank começou a pular para espantá-lo.

Percy e Hazel desataram a rir. A visão de um cara de um metro e noventa, forte como um jogador de futebol americano, pulando e fugindo de um pato era demais.

– Leo, pense em ser Leo! – Frank gritou.

– Quak! – Leo respondeu.

Hazel se forçou a parar de rir e a se endireitar. Ela ficou séria e fez um movimento de um ginasta girando duas maças. Disse algo em latim, um encantamento para acalmar.

O pato parou e voltou a ser Leo.

– Quem estava penteando minhas penas? – Ele indagou com um olhar acusador.

– Ninguém. – Frank parecia muitíssimo aliviado.

– Você quase me deixou na forma eterna de um pato! – Ele o recriminou.

Eu imaginei um leão. – Frank retrucou.

– Gente. – Percy alertou.

Eles olharam para a ilha majestosa de Ítaca. No cume o grande palácio ficava cada vez mais agitado. Havia barulho de pessoas se divertindo, gritos e risadas, altas o suficiente para se fazer escutar àquela distância.

– Droga... – Leo murmurou. – Será que não devíamos... Explodir alguma coisa?

– O sinal. – Hazel sacudiu a cabeça. – Temos que esperar o trovão de Jason.

Se ele conseguir invocar um trovão naquela forma. – Leo pôs uma mão no queixo.

– Ei. – Hazel se defendeu. – Minha magia é boa. E eu sei o que estou fazendo.

– Ninguém discorda. – Frank aplacou. – Não é mesmo?

– É. – Leo deu de ombros e começou a mexer nos controles. – Há quanto tempo que eles partiram?

– Uns vinte minutos. – Hazel respondeu. – Não estou contando. Mas acho que eles irão retornar. Vivos, espero, e com a resposta.

– São duas garotas e um garoto. – Leo refletiu.

Algum problema em serem duas garotas? – Hazel pôs as mãos na cintura. – Por que é que você está tão atentado hoje?

Leo a encarou como se ela fosse uma professora briguenta.

– E desde quando você ficou tão mandona assim? – Ele indagou. – Até uns dias atrás, você era a garota dos anos quarenta boazinha.

– Até uns dias atrás, eu não tinha que lutar tanto pela minha vida. – Ela respondeu friamente. Depois relaxou. – Desculpe. Só estou tentando... Fui eu quem fez a magia. Se algo der errado, a culpa é minha.

– Relaxa. – Frank a abraçou pela cintura. – Vai dar tudo certo. – Ele apoiou o queixo no topo de sua cabeça.

Eahhh!

Era o palácio. Os pretendentes definitivamente estavam felizes.

– Ou eles fumaram um baseado. – Leo tamborilou os dedos na cabeça de Festus. – Ou eles conseguiram o que não tiveram há muito tempo.

– Uma noiva. – Frank completou. Percy se encolheu mais ainda.

– Calma, cara. – Leo deu um tapinha amigável no ombro do filho de Poseidon. – Não acho que Annabeth vá trocar você por um bando de fantasmas.

– Não é exatamente isso o que me preocupa. – Percy indicou a montanha com a cabeça. – Alguém escapou da festa.

Ele tinha razão. Uma sombra descia a colina em velocidade surpreendente.

Hazel pegou a espada; Frank se transformou em um leão, Leo puxou suas chaves de fenda e Percy sacou Contracorrente.

Todos ficaram alerta e imóveis quando a sombra subiu no navio e parou no meio do convés.

– Vim chamá-los para o casamento. – A sombra revelou-se ser um cara de toga branca grega, com cabelos castanhos e barba do mesmo tom. Ele tinha sandálias nos pés e um algo divertido nos olhos, como se tivesse acabado de ganhar uma partida de Pinochle. – Finalmente aconteceu.

– Hum... – Leo assentiu dramaticamente. – E quem exatamente vai se casar?

– Não vai ter casamento nenhum. – Outra sombra surgiu no convés. Era um cara parecido com aquele. Extremamente parecido, para falar a verdade. – Aquele velho não é velho coisa nenhuma.

Jason, Frank pensou.

– Como assim não vai ter casamento? – O Cara Número 1 exclamou. – Estava tudo certo!

– Não estava! – O Cara Número 2 protestou. – A mulher já é do velho!

– Ora, então pegue a outra! – O Número 1 simplificou.

– Não podemos. – Seu amigo suspirou. – Ela tem aquela aura estranha. Nunca é bom numa noite de núpcias a noiva ter uma aura ruim.

– E desde quando auras importam? – O primeiro disse.

– Com licença. – Hazel entrou no meio. – Quem autorizou vocês à virem aqui?

Os dois a fitaram com curiosidade.

– Essa aí poderia servir. – Um deles disse.

Essa aí pode te escutar, sabia? – Ela rosnou. – E ninguém sobe aqui sem nossa permissão. Vocês pediram permissão?

– Hum, eu acho que não. – Leo deu um risinho.

Os dois caras começaram a ir para trás, a medida que Hazel ia para frente. Só que não viam que Frank estava bem atrás deles, um leão a espreita.

– Leo. – Percy sussurrou.

Leo se virou, e Percy indicou a colina. Leo entendeu e foi mexer nos controles.

– Vocês vão embora. – Hazel ordenou. – Estão entendendo?

– Mas...

– O casamento...

– Não haverá casamento. – Ela disse em seu tom autoritário. – Nenhuma mulher aqui está disponível. E nenhum de vocês é digno de se casar.

– Garota... – Os dois se ofenderam. – Você não deveria tratar os mais velhos assim.

Hazel bufou.

– Eu posso ser mais velha do que você pensa. Agora vão!

No momento em que eles se dispersaram, um trovão ecoou no topo da colina.

– É o sinal. – Frank voltou à forma humana.

Leo apertou um botão e um compartimento se abriu na lateral do navio. Um míssil não muito grande surgiu e foi disparado na direção do palácio, alguns quilômetros acima.

Ele ficou pequeno, e foi diminuindo a medida que ia subindo. Então se perdeu de vista.

– Você tem certeza... – Frank começou.

Mas foi interrompido pela explosão.

O palácio foi destruído e o fogo disseminou a floresta num raio de um quilômetro quadrado. Todas as árvores recuaram, até os tripulantes do navio deram um passo para trás. Estilhaços choveram por todas as colinas, e alguns chegaram a cair no mar.

– Onde eles estão? – Percy murmurou.

– Espere. – Frank deu um passo para frente. – Estou tentando captar o cheiro...

– Ali. – Hazel apontou.

Os quatro estreitaram os olhos para ver. No meio da colina central, correndo em meio a nuvem de poeira, Piper, Jason e Annabeth vinham desenfreadamente na direção deles.

– Eles estão sendo seguidos? – Percy indagou. – Ah, droga. Eles estão sendo seguidos.

Era verdade. Uma horda de pretendentes-fantasma os perseguia morro abaixo. Eram espantosamente velozes.

– Vão conseguir? – Hazel puxou a espada.

– Leo, prepare o navio. – Percy alertou.

– Sim, capitão!

Você é o capitão. – Percy retrucou. Leo sorriu imperceptivelmente e fez o navio ganhar vida. Os motores rugiram com o barulho de mil metralhadoras sendo disparadas ao mesmo tempo.

– Vou conseguir detê-los por pouco tempo. – Hazel disse.

– Espere. – Frank observou. – Jason está na forma dele mesmo.

– Eu disse que ia dar errado! – Hazel desesperou-se.

– Calma! – Percy, Frank e Leo falaram ao mesmo tempo.

– Ainda nem sabemos se eles conseguiram. – Frank lembrou. – Pode ter dado certo.

– Ou pode ter dado errado. – Hazel choramingou.

– Depois resolvemos isso. – Percy falou sem prestar muita atenção. Seus olhos estavam fixos nos três que vinham correndo. Eles estavam cada vez mais próximos.

Agora a forma de cada um já era discernível. Annabeth corria com os cabelos loiros balançando atrás dela como se fossem uma tocha. Ela escorregou, derrapou e rolou, mas conseguiu voltar a ficar em pé e a correr novamente.

Piper era a que estava na frente, mas ela não parava de olhar para trás. Annabeth chegou ao seu lado, agarrou sua mão e gritou algo. Piper assentiu e continuou correndo.

Jason, atrás delas, começou a voar. Ele segurou as duas, e em poucos segundos eles já estavam no navio.

Os três caíram pesadamente e rolaram até bater as costas na amurada.

– Ar ou mar? – Leo alardeou. – Eles estão chegando perto!

– A... Ar! – Jason gritou.

Leo puxou seu controle Nintendo e o navio se lançou no céu, deixando um rastro na água do mar. Ele bateu num botão e todo mundo quase foi parar na popa com o impulso.

Hazel correu para a extremidade do navio, gritando encantos e feitiços, invocando magia de proteção. Os pretendentes não conseguiram sair de Ítaca, mas a garota achava que era porque eles estavam presos lá, não porque ela tinha usado os poderes.

– Conseguiram? – Frank se equilibrou o suficiente para se soltar das cordas que segurava.

– Atenas... Parthenon... Acam... Acampamento. – Piper se levantou.

Eles esperaram pacientemente até que estivessem completamente recuperados. Piper e Annabeth tinham os vestidos rasgados e furados. Tinham a pele arranhada e sangue aparente. Pouco, mas era sangue. Jason não parecia muito melhor. Ele ainda estava cheirando a naftalina, e parecia que não tinha recuperado a força total.

– Eles não deram nenhuma resposta direta. – Annabeth cutucou Hazel e instantaneamente ela voltou para suas roupas normais: short e camiseta regata. – Gaia vai levantar no Acampamento Meio-Sangue. Mas o ritual é em Atenas. Provavelmente no Parthenon. – Ela amarrou os cabelos. – E precisamos estar reunidos. Uma coisa de cada vez.

– Então eu traço o curso para Atenas? – Leo interpelou.

Jason assentiu.

– Vamos ter que falar para os outros segurarem a barra no Acampamento enquanto combatemos aqui. Quando terminarmos... Partimos pra lá. – Ele falou.

Todos engoliram em seco.

– Ainda temos uma vantagem. – Percy disse. – Nossos pais.

– O que não é muito garantido. – Hazel suspirou. – Não podemos contar com eles. Podemos nos decepcionar.

– Tem razão. – Annabeth divagou. – Mas agora sabemos onde, e quando.

– Hoje é dia vinte e seis. Temos tempo até lá. – Piper torceu as mãos.

– Com a nossa sorte, eu diria que chegaremos encima do laço. – Leo sorriu. – Mas a tempo. Sempre damos um jeito no final. Não vai ser diferente.

– Mas o que aconteceu lá encima? – Frank perguntou. – Quer dizer, lá embaixo.

– Piper quase se casou. – Annabeth sorriu. – Mas um certo velhote quase teve um infarto.

Jason sorriu.

– Deveria ter visto a cara que os pretendentes fizeram.

– Eu acho uma tormenta meio estranha. – Annabeth torceu os lábios para o lado. – Mas não importa. Conseguimos as respostas vendendo Piper para um bando de fantasmas e escapamos fugindo dos mesmos depois que Jason explodiu a cabeça de alguns.


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