O Sangue do Olimpo escrita por Belona


Capítulo 24
Percy




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– Você tem certeza de que está bem? – Poseidon ajudou-o a se levantar.

– Estou. – Percy assentiu mais para si mesmo do que para o seu pai.

– Percy...

– É sério. Eu odeio dar trabalho. E estou bem. – Percy afirmou.

– Já viu o tamanho do corte? – Poseidon franziu as sobrancelhas.

– Já. Não é tanto. – Ele esfregou o peito.

– Sabe que ela não fez aquilo por querer, não sabe? – O deus incitou.

Percy meneou a cabeça.

– Atena. Não foi?

Poseidon comprimiu os lábios.

– Não exatamente. Foi mais a força da sabedoria. Por mais que ninguém veja isso, por mais que nem Annabeth saiba, ela tem poder, e é muito poderosa. A inteligência dela é bem abrangente. Tão grande que chega quase a ser tangível.

– Eu sei. – Percy suspirou. – É, eu sei.

– Percy... – Os ombros de Poseidon murcharam. – Eu sinto muito.

Seu filho o encarou. Os olhos do deus e os olhos de Percy eram idênticos, de um verde profundo, escuro, da cor do mar.

– Eu sei que você passou por experiências insuportáveis. Eu sinto muito por isso. – Poseidon esfregou o rosto. – E sinto muito por ser um pai ausente, também.

– Não foi culpa sua. – Percy apressou-se. – Zeus... Não é mesmo?

Poseidon fitou o horizonte, o mar infinito.

– É. Em partes... Entenda, ele fez isso não só pelo orgulho.

– Por quê? – Percy sacudiu a cabeça. – Ele tem medo que seus filhos se voltem contra ele?

O deus inclinou a cabeça em consideração.

– Seria um bom argumento. Ele mesmo matou seu pai. O que não impediria Jason ou Thalia de se revoltarem contra ele.

– Eles nunca iriam...

– Percy. – Poseidon o olhou com carinho. – Você conhece as histórias. Sabe que tudo aquilo é verdade. Os deuses brigam e são mortais quando enfurecidos. Nós, os Três Grandes, somos os mais perigosos. – Ele suspirou. – Nem sempre somos bonzinhos.

Poseidon passou a mão pelos cabelos negros e sentou-se na praia. Percy sentou ao seu lado e agarrou um punhado de areia, deixando-a escorrer entre os dedos e fazendo tudo de novo repetidas vezes.

– E, eventualmente... Nossos filhos também nem sempre serão disciplinados. Não é a toa que fizemos o pacto de não ter mais filhos. É muito perigoso.

Percy engoliu em seco.

– Não encare isso com tanto ceticismo. – Seu pai sorriu de lado. – Você mesmo pode provar isso. Hera roubou sua memória, mas creio que você se lembre do vulcão Santa Helena. E acho que você pode deduzir que não é qualquer semideus que acorda Tifão.

O garoto sorriu.

– Uma vez, Hefesto disse que eu não tinha consciência do meu poder. – Ele divagou.

– E não tem, mesmo. – Poseidon puxou a maré, depois a soltou. Começou a fazer ondas e desfazê-las. – Nem mesmo eu tenho consciência do meu poder. Percy, ser semideus é tão ruim assim?

Um siri subiu no pé de Percy e começou a subir por sua perna. Ele o apanhou e começou a passá-lo de uma mão para a outra.

– Não. Mas... É estranho. Às vezes... Parece que a vida é tão... Tão... Grande. – Ele franziu as sobrancelhas. – Eu não sei explicar. É que, no Tártaro...

Poseidon se mexeu desconfortavelmente a menção do nome.

– As arai me mostraram que... Não importa quantas vezes eu mate alguma coisa, ela sempre vai voltar. Não importa o quão bom eu queira ser, nunca vou dar conta de tudo. Bob... Damásen... – Seu coração se apertou. – Eu teria ficado...

– Eu sei. – Poseidon deu um tapinha em seu ombro. – Você teria ficado para salvá-los, mas Annabeth não deixou. Menina esperta.

Percy deixou o siri de lado, vendo-o cavar uma toca.

– Eu sei o que elas mostraram a você. Sinto muito. – Ele repetiu. – Percy... Isso é a realidade. Não importa o quão bom você seja... Nem sempre vai conseguir resolver o mundo. Mas... Pense nas suas atitudes. Você se acha mau? Acha que é o vilão?

O deus se indignou quando seu filho hesitou.

Percy.

– O quê? – Ele sussurrou.

– Você é um menino completamente mau, mesmo. Porque se jogou no Tártaro para salvar sua namorada. Porque mergulho no Estige por diversão. Porque foi atrás de cada um de seus amigos que sumiram. Porque defendeu uma causa justa. Porque você fez tudo o que fez por maldade.

– Talvez eu seja porque não fui ver como estava Calipso depois da batalha. Porque não fiquei com Beckendorf. Porque não salvei Silena. Porque, até mesmo, não fui ver Bob. É tão ruim ficar sem sua memória... E eu fiz isso com ele. – Percy retrucou.

– E o que mais você quer fazer? – Poseidon perguntou. – Segurar o fardo de Atlas porque ele pode ser um titã bom? Quer deixar Gaia acordar para que talvez mude de ideia e se torne uma boa mãe? Quer assumir a missão sozinho, com medo de que alguém se machuque?

As ondas quebraram com mais força.

– Percy, não se pode fazer isso. – O deus disse. – Não se pode ser tudo o que se quer, nem se ter tudo o que precisa. Todo mundo vai morrer. Menos eu, é claro, e meus parentes. Não se esqueça de que você vai morrer. Você é meio mortal. E mesmo que fosse inteiramente imortal... Cada um tem um preço a pagar. Não vou dizer que o universo banca tudo, porque é mentira. A vida é injusta. Todos estamos pagando um preço, mas nem todos temos algo a pagar.

Percy se deixou ser influenciado. Porque queria ter um pouco de tranquilidade e porque era verdade.

Poseidon solto uma risada amarga.

– Você é um verdadeiro filho do deus do mar. Sabe que a água faz parte de você, e sabe que você faz parte da água. E a água quer englobar tudo. Odeia estar presa, e por isso, quando solta, alaga. Seu efeito é igual, Percy. Eu não vou impedi-lo de fazer o que você quiser. Seja errado ou certo, você faz suas próprias escolhas. Eu só quero que você saiba que não pode ajudar todo mundo. E que você faz um excelente trabalho ajudando quem pode.

Percy deixou um sorriso aparecer.

– E, filho. – Poseidon suspirou. – Eu sempre estou com você. Mesmo quando ache que não estou, eu estou vendo. Sei que você odeia dar trabalho. Mas eu sou seu pai. Quando você achava que eu não estava lá, eu estava ao seu lado, só que você não via. Eu sou parte da água, como você. Somos feito da mesma coisa. E, quando precisar de ajuda, chame. Lembre-se de que a água está com você onde você vai, de que eu estou com você, escutando e observando. Tenha mais confiança em você mesmo. Porque, aonde você vai, além de tudo, a sua coragem está com você. E ambos sabemos que ela é bem grande. E já me dei conta de que você não tem medo de morrer. Você não teme a morte, Percy. Já parou pra pensar no que isso implica?

Percy negou.

– Desculpe. – Ele pediu. – Eu deveria ter sido mais complacente e entendido quando deveria ter entendido.

– Tudo, bem, Cabeça de Alga. – Poseidon aceitou e os dois riram.

Percy se levantou e bateu a areia do short.

– Quando tempo fiquei com você? – Ele perguntou.

– Um mês.

Um mês?! – Os olhos de Percy quase saltaram das órbitas.

– Calma. – Seu pai estendeu a mão. Percy pegou-a e o puxou, e Poseidon se levantou. Tinham a mesma altura. – Annabeth está controlando o tempo. Está tudo bem. Você não perdeu nada.

– Ah. – Foi a única coisa que ele disse.

– Está na hora de ir. – Poseidon o abraçou. – Cuide-se, Percy. Lembre-se do que eu disse. A batalha se aproxima. E não vai ser fácil. Mas você não teme a morte e tem a própria água a seu favor.

Percy assentiu e começou a caminhar na direção da água.

– E...Percy. – Percy se virou. – Nem sempre somos bonzinhos. E não sabemos o tamanho do nosso poder. E a água está com você. Não se esqueça. – Poseidon colocou a mão na testa e a tirou rapidamente, como um gesto entre amigos, então sumiu. Percy fez o mesmo para o vazio e mergulhou no mar.


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