O Sangue do Olimpo escrita por Belona
Notas iniciais do capítulo
Me responsabilizo por eventuais choros.
Meu coração deu umas falhadas na hora de bater. Olhei para cima e para os lados. Estávamos no meio do monte, com neblina por todos os lados, frio de partir os ossos. Havia neve sob meus pés. E na minha frente pude distinguir a silhueta de Gaia, com seu vestido verde picotado sendo agitado por entre suas pernas.
– Oh, acho que vocês não estão tão confortáveis. – Ela ronronou.
No instante seguinte estávamos num salão fechado, sem portas, com arabescos gregos rabiscados pelo chão e tochas iluminando a sala. Eu segurava minha espada firmemente, sentindo o áspero couro de drakon da empunhadura. Percy segurava Contracorrente e tinha uma cara nada satisfeita.
– Enfim, vocês vieram... – Ela suspirou. – Dia vinte e um de Julho. Faltam onze dias para o Banquete da Esperança, vocês sabem, e também não estamos em Atenas. Mas não tem muita importância. Tenho um casal de semideuses... – Ela estendeu as mãos para nós. – Os semideuses que eu queria. Tenho pedras antigas, e agora só falta um detalhe. – A Terra sorriu. – Matá-los e espalhar seu sangue.
A neblina, que havia sumido, reapareceu bem no meio do meu estômago. Gaia virou-se de costas e fingiu limpar a unha, então rodopiou e nos encarou, com suas tiras verdes manchadas de barro batendo em suas coxas bronzeadas.
– Sabe, há um problema irônico. Eu tenho milhares de monstros ao meu comando, tenho poderes quase ilimitados. Eu sou o mundo. – Ela recitou. – Mas, por leis divinas, o sangue de vocês só funciona se for eu a matá-los, entendem? Nada de monstros, nada de gigantes. Eu quero o sangue, eu mato, com minhas próprias mãos. E ouvi por aí que vocês dois são difíceis de matar. – Ela suspirou de novo. – Bom, só vou descobrir a verdade se tentar, não é mesmo?
Gaia era singela.
– Mas... – Seus olhos arderam. – Eu tenho sangue frio. Nada comparado ao meu núcleo, o coração deste corpinho mortal, que, comigo, se torna imortal... Resumidamente, eu não sinto pesar. A Terra por muito tempo se deixou levar. Apanhando, sendo desmatada, sentindo nas árvores o poder das criaturinhas dos deuses. A fome das coisas, o orgulho, a cobiça. Agora chegou a hora de acordar. E vocês serão meu despertador.
Bem, não tão singela.
– Eu poderia fazer rapidamente. – Ela levantou as sobrancelhas num gesto de generosidade. – Se vocês suplicassem.
Percy e eu devíamos ter feito caras de “nem a pau”, porque ela exasperou-se.
– Tá bem, tá bem! – Passou as mãos pela cintura, pelo revestimento do vestido e tirou dois cordões. Ela os estalou, e eles viraram seus chicotes. – Vou começar a recitar.
Percy ergueu sua espada.
– Tsc, tsc, tsc... – Ela alertou. – Não adianta. Nem vocês dois juntos me derrotariam.
– Só vamos descobrir se tentar. – Relembrei.
Ela fez uma expressão de sarcasmo e levantou os chicotes.
Ergui a espada e fiquei de guarda, do mesmo jeito que Percy estava.
É o fim.
Era a voz de Gaia.
Não é. É só o começo.
Retruquei para mim mesma.
– Vocês passaram tanto tempo juntos... Não vai ser muito diferente. – Ela deu de ombros.
– Percy... – Minha voz tremia. – Você confia em mim?
– Claro. – Ele sussurrou de volta.
– Então... – Engasguei enquanto a coruja vermelha de Atena queimava no punho da espada, debaixo de meus dedos. – Então me desculpe.
Ele franziu as sobrancelhas. Gaia levantou os chicotes, mas em um milésimo de segundo eu a impedi. Fiz um movimento que surpreendeu a nós três.
Finquei a espada no peito de Percy.
Por um instante, ninguém fez nada. Até Gaia gritar.
– Não!
O seu grito ecoou pelo salão e em nossas cabeças. Ela se abaixou, e lentamente sua silhueta se dissolveu.
Percy estava atônito. Ele olhou para baixo, para a enorme mancha vermelha que se expandia cada vez mais por sua camisa. Ele olhou em meus olhos. Então desabou.
Segurei-o para amortecer a queda e, num ímpeto tirei a espada de seu corpo. Ele arfou.
– Desculpe... – Solucei. – Desculpe, desculpe, desculpe...
Não sei o que mais empapava sua camisa. O sangue rubro ou minhas lágrimas torrenciais.
Abracei-o no chão e chorei. Meu coração se apertou, meu corpo parou de reagir, e eu comecei a me afogar no choro.
– Eu te amo. – Sussurrei. Se fossem as últimas palavras que ele escutasse... Não, não podiam ser. Não seriam as últimas.
O salão já não existia. Estávamos de volta na montanha, e a neve derretia com o calor do sangue dele. O frio não me incomodava, nada mais importava.
Aproximei meu rosto do dele e comecei a embalá-lo. As lágrimas não paravam de cair, eram lágrimas amargas, malditas.
Seus olhos estavam brilhantes e focavam nos meus. Ele piscou, então suas pálpebras lentamente se fecharam.
Berrei de desespero.
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