O Sangue do Olimpo escrita por Belona


Capítulo 16
Percy




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Annabeth riu enquanto tirava meu cabelo da testa.

– Por que é que você nunca penteia os seus cabelos? – Ela perguntou e depois deu de ombros. – Bem, eu não penteio muito os meus, então não posso falar nada.

Sorri, olhando meus braços submersos. Observei Annabeth. Ela estava bonita, como sempre. Seus cabelos molhados não estavam assim tão emaranhados, mas caíam de uma forma bonita por seus ombros até encontrarem a linha d’água e se tornarem amarelos novamente. Ela estava de camiseta e short, do mesmo jeito que eu. Agora estava quente, contrastando o clima que fazia mais cedo.

– Gosto de ver você na água. – Ela disse.

– Por quê? – Perguntei.

– Porque você sempre parece mais à vontade. Como se soubesse o que está fazendo. Do mesmo jeito que age quando luta. – Annabeth explicou.

Por um instante a encarei, perscrutando as profundezas de seus olhos cinzentos, e alguma coisa estalou dentro de mim. Pisquei.

– Tem alguma coisa aqui. – Soltei.

– Eu sei. – Ela assentiu. – Você nunca deixaria Piper sozinha no navio sem um bom propósito. E então, lulas gigantes, camarões...?

– Você me conhece bem demais. – Repeti a frase que falei em Roma.

– E ainda assim eu gosto de você. – Ela respondeu à frase que eu nunca havia feito.

Fechei os olhos e me concentrei na água. Era sempre meio perigoso fazer isso, porque eu nunca sabia ao certo a quantidade de água que eu sentiria. Nesse momento, senti o oceano, o Mar Egeu e tudo o que ele implicava. Sem querer, vi o rei Egeu pular do telhado e morrer afogado no mar. Ainda que tenha acontecido eras antes, experimentei a sensação de agonia. Depois enxerguei todos os navios. As trirremes antigas da Antiguidade, os navios de cruzeiro atuais. Senti as guerras que haviam acontecido, e então vi uma náiade. Ela estava nadando. Perto.

– Náiade. – Abri os olhos.

Senti uma pontada de desespero quando não vi Annabeth na superfície. Só voltei a respirar quando a vi mais embaixo, mergulhando e observando o resto. Submergi e a cutuquei na cintura, e ela se virou, assustada. Depois riu, com os cabelos flutuando ao redor de seu rosto.

Náiade, falei no seu ouvido.

Ela levantou as sobrancelhas. Não sei o que dizer. Só nos resta esperar. Ela não falou isso nem nada, eu nem ouvi sua voz telepática. Só simplesmente sabia que ela havia pensado isso.

Annabeth sinalizou o nariz. A superfície estava longe.

Segurei seu rosto entre as mãos, enchi os pulmões, cobri sua boca com a minha e soprei uma baforada de ar. Na verdade, eu respirava água, mas esperava ter funcionado. Quando me afastei, ela sorriu e fez o sinal de positivo.

Dois segundos depois, a náiade apareceu.

Annabeth se encostou em mim e segurou minha mão. Ficamos encarando a náiade, até que Annabeth apertou meus dedos.

Sim?

Instiguei.

– Filho do deus do mar... – Ela falou, enviando vibração pela água. – Filha da deusa da sabedoria...

Algo nela me fazia lembrar do Oráculo. Só que ela era bem mais bonita e menos estranha, claro.

Deixem a filha de Afrodite no navio e sigam para o norte. Vocês saberão onde entrar. Mas que fique bem claro que apenas um retornará.

Ela se dissolveu.

Olhei para Annabeth, e ela retribuiu o olhar. Seu rosto estava cansado, sem expressão. Abracei-a com força. Ela segurou meu rosto e pediu mais uma baforada.

Ela apontou para o norte, eu apontei para a direita, onde havia praia. Ela assentiu, então nadamos por alguns minutos até encontrar uma escada (escadas para mergulho no mar eram comuns na Grécia). Subimos para a calçada, encharcados dos pés à cabeça, o que tornava andar um pouco incômodo, mas logo as roupas já estavam praticamente úmidas e geladas. O tempo havia se fechado, deixando o dia sombrio. As nuvens cobriram o sol e um vento frio soprava. Annabeth passou um braço por minha cintura e chegou bem perto, mas nem abraçados deixávamos de sentir frio.

– Isso lembra Roma, não acha? – Ela falou firmemente, sem bater os dentes.

– Lembra. – Concordei. – E o modo que isso vai acabar também recorda.

Seus ombros murcharam sob meu braço.

– Percy, não importa o que aconteça, eu vou estar com você. – Sua voz estava meio embargada.

Eu queria dizer o mesmo, mas algo chamou minha atenção.

– Hm, quando você seguiu a Marca de Atena...

– Sim? – Ela voltou os olhos tempestuosos para mim.

– Tinha alguma coisa sinalizando?

– Tipo o quê?

– Tipo isso. – Indiquei a coruja vermelha que queimava numa parede de pedra.

Ela virou a cabeça e ficou paralisada.

– Annabeth? – Chamei.

Ela suspirou.

– É... É. A coruja.

Aproximei-me da parede. Não tinha nada ali, a não ser uma caçamba de lixo, bem embaixo da coruja. Empurrei-a por dois metros, e na parede surgiu um túnel escuro, não muito maior do que a tampa de um bueiro.

– E então? – Ela instigou.

– Será que você vai ter que ir sozinha? – Meu estômago se contorceu.

Ela fez uma careta.

– Acho que...

Antes que terminasse a frase, a coruja se apagou com o barulho de uma fogueira sendo extinta, e onde ela estava apareceu um tridente verde.

– Acho que isso responde sua pergunta. – Annabeth terminou a frase sorrindo.

Abaixei-me e analisei o buraco. Passei a mão pela borda e meus dedos encostaram em algo frio. Puxei o objeto, que era uma espada branca. Era a espada de osso de drakon de Annabeth.

Levantei e entreguei para a dona.

– Como isso veio parar aqui? – Ela passou levemente o polegar pela lâmina e a girou na mão.

– Quem geralmente responde a essas perguntas difíceis é você. – Dei de ombros e destampei Contracorrente. Comecei a engatinhar pelo túnel.

– Consegue ver alguma coisa? – Annabeth perguntou atrás de mim, sua voz ecoando.

– Não. – Respondi. – Tenho uma parede à esquerda e outra à direita. Trevas à frente e você atrás. Consegue ver alguma coisa?

– Só o seu traseiro.

– Que bela visão. Fui burro em não pedir pra que você viesse na frente. Aí eu poderia estar vendo seu traseiro.

Senti uma palmada na panturrilha. Dei risada.

– Meus joelhos estão me matando. – Ela resmungou.

– Quer parar? – Indaguei.

Ela hesitou.

– Não, vamos mais um pouco.

– Hm, agora estou conseguindo ver alguma coisa.

– Monstro?

– Não, tá mais pra um pontinho branco.

Ela riu.

– Deve ser a saída, então. Está muito longe?

– Você sabe que eu não sou muito bom de matemática, mas eu daria uns quarenta metros.

Seguimos em silêncio pelos quarenta metros. Comecei a contar na minha cabeça, tentando ignorar a sensação de frio na barriga. Perdi as contas no cinco, pensando em coisas aleatórias e vendo letras gregas na minha frente.

Quando finalmente o pontinho se mostrou outro buraco na parede, coloquei a cabeça pra fora, sentindo o vento cortante nas orelhas. Tínhamos chego ao... Não, não podia ser. Pulei, caindo um metro e meio abaixo na grama. Finquei a espada na terra e ajudei Annabeth a descer.

– Pelos deuses... – Ela arregalou os olhos.

– Esse é o lendário?

– É... – Ela meneou a cabeça. – O Monte Olimpo.

A coisa era gigantesca e tinha um ar de imponência. Era parecido com o verdadeiro Monte Olimpo, aquele do Empire State, só que sem o monumento encima e a vila. Eram rochas empilhadas, que definitivamente alcançavam o céu.

– É uma encosta íngreme, então não dá pra escalar, e levaria dias. Isso aqui é uma cratera invertida. – Annabeth murmurou.

Hey, chefe.

Sorri.

– Blackjack?

Oh, espere. Ai! Droga, raspei a asa na neve, aqui. Estou chegando.

O cavalo surgiu detrás da neblina, realmente com neve nas asas e na crina. Ele relinchou e sacudiu. Afaguei seu pescoço.

– Senti sua falta. – Falei.

Ele relinchou e focinhou Annabeth. Ela riu e disse que também tinha sentido falta dele.

Subam. Segurem-se e não olhem.

– Por que não podemos olhar? – Perguntei.

Porque mesmo que quisesse, não conseguiria. Nuvens, neblina e Névoa. A Névoa.

– Névoa não funciona em semideuses.

Chefe, você tem pouco tempo.

Dei de ombros e montei, estendi a mão para Annabeth e ela me abraçou.

– Não olhe. – Falei.

– Tudo bem. Não é um palácio de Nix.

Concordei.

Blackjack levantou e eu fechei os olhos. Senti o balanço, o frio e a atmosfera nada boa. Meus pelos se arrepiaram e parecia que alguém estava deslizando um cubo de gelo por minha espinha dorsal.

Pulem quando eu mandar.

– Pular? – Estranhei.

– Pular? – Annabeth se exaltou.

Não olhem. Confiem em mim. A distância vai ser curta... E... Eu sinto muito. Pulem!

Segurei Annabeth e inclinei para o lado. Caímos de costas um milésimo de segundo depois.

– Vocês vieram... – Uma voz conhecida falou. – Podem olhar agora.

Nós dois engolimos em seco.

Era Gaia.


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