– Não vão matá-lo, Piper... – Annabeth tentava me reconfortar. – Ela quer dois semideuses, um casal. Não adianta manter presos Frank e Jason, ela provavelmente terá uma função em mente pra cada um.

– Eu sei... Eu sei... – Murmurei. – Pobre Frank. Aquele chicote deve ter doído.

Annabeth estremeceu.

Ela estava com o ombro totalmente enfaixado e melecado por ambrósia. Percy estava no convés, guiando navio, enquanto lanchávamos.

– E se os torturarem? – Perguntei.

– Piper. – Ela largou o garfo. – Eu não posso impedir. Talvez ela o torture, talvez ela o mate, talvez ela mande os pedaços em uma caixa. Eu não sei. – Ela suspirou. – Não estou sendo grosseira com você, estou te contando a verdade, porque sei que você odiaria ouvir mentiras da minha boca. Então, Pipes, todos nós estamos sujeitos à tortura, a cortes, a guerra.

Assenti de leve e voltei a comer meu sanduíche de queijo e abacate.

– Ficou magoada?

– Não. – Respondi. – Você só falou o que eu precisava ouvir.

– Vou levar comida lá em cima. – Ela pegou um prato cheio de biscoitos azuis e subiu as escadas.

Passei a mão pelo copo, desejando algo que me despertasse. Imediatamente o recipiente se encheu até a borda com um líquido laranja. Provei um gole. Era isotônico de tangerina. Tomei tudo de uma vez só, e senti uma necessidade de arrotar.

Fui ao banheiro e lavei o rosto, as mãos e os arranhões. Ainda estava meio frio, mas não me importei. Olhei o reflexo no espelho, e uma garota estranha me encarou. Meu cabelo havia crescido até o meio das costas, minha pele estava queimada e áspera. Pensei em quanto tempo não tomava banho. Só de pensar comecei a me coçar, então fui direto para minha cabine, tirei toda a roupa e me esfreguei o máximo e pude e em tempo recorde. Troquei de roupa, o que melhorou minha situação.

Percy estava sentado à mesa, distraído, olhando para um copo d’água.

– Consegue tirá-la daí? – Indaguei, me apoiando em uma das cadeiras.

– Oi? – Ele levantou o olhar.

– A água. Consegue tirá-la daí?

Ele inclinou a cabeça. Fitou a água por um instante, então ela subiu, saindo da sua “prisão”.

– Chegamos à... – Annabeth vinha descendo as escadas. Ela parou quando viu o que Percy estava fazendo. – Percy!

A água se espatifou pela mesa. Percy olhou, ressentido, para Annabeth.

– Desculpe. – Ela sorriu. Em seguida se virou para mim. – Chegamos à Grécia, pessoal. Estamos entre o continente e a ilha de Creta. Há milhares de navios por aqui... Quem tá afim de um mergulho no Egeu?

– Acabei de tomar banho. – Falei.

– Ah, Piper... – Ela fez uma cara de quem não aceitava um “não” como resposta. – Depois você toma de novo.

– Acho melhor ficar aqui, tomando conta. – Pisquei. – Aproveitem. Prometo que não conto nada para o Hedge.

Os dois riram.