Casos do Acaso escrita por Juffss


Capítulo 4
Dia 03




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/463331/chapter/4

DIA 03

27 de novembro de 2014

Pisar no acelerador o relaxava. Emmett sentia saudade de dirigir inconsequentemente no meio da madrugada. Entrou em seu carro, e ajustou o rádio para uma que não fosse infantil. Certificou que todas as portas e janelas da casa estavam fechadas, e só depois pisou no acelerador para dar ré. Tentou fazer com que o motor do seu carro fizesse o mínimo de ruído que poderia. A Ackerman Lane era uma rua totalmente calma e, por isso tentou evitar ruídos, uma rua sem saída, como aquela, sempre era familiar.

O ronco de aceleração soou mais forte quando pegou a avenida. Sorriu para si mesmo olhando no retrovisor. Aquilo era bem melhor do que jogar Forza ou Need for Speed. Muito mais emocionante.

Poderia ficar horas a fio dirigindo pela cidade, mas sabia que não poderia ficar tanto tempo fora da casa de Jasper. Tinha consciência que havia deixado os bebês para trás. Sabia que ele estavam dormindo e que nada de mal aconteceria, porém a insegurança falou mais alto. De fato era errado, mas ele precisava daquele tempo para si mesmo. Ou achava que precisava.

Os minutos corridos foram o suficiente para relaxá-lo e para que seu sono voltasse. Tentou pegar o caminho mais longo que conhecia para voltar para Green Valley North. Os últimos minutos de liberdade daquele dia seriam preciosos. Suspirou pesado. Só tinha que esperar a Rosalie.

Seus olhos se fecharam, momentaneamente, quando chegou na esquina da rua da qual nunca deveria ter saído. Não daquele jeito. Quando suas pálpebras voltaram a abrir, na penumbre da noite, o farol do seu carro brilhou contra os fios de cabelo loiro dourado, esvoaçantes e perdidos no meio de um sobretudo preto. Das duas explicações, uma era plausível: ou ela era um fantasma brincalhão que queria matá-lo de susto, ou era uma mulher perdida. Talvez uma mulher da vida. Não era tão incomum, principalmente numa cidade ao lado de Las Vegas.

O olhar mortífero, que a loira o lançou, fez com que suas pernas bambeassem de medo. Ela dava medo. Em contra partida, suas curvas eram totalmente definidas pelas roupas bem delineadas, e seu rosto com a pouca maquiagem era perfeito. Seus olhos se destacam diante aquele vislumbre. Saiu do carro quase tremendo. A loira se segurou para não gritar um palavrão e acordar os moradores das casas que os circulavam. Emm tentou se desculpar.

– O que pensa que está fazendo? – a mulher, de forma sensacional, praticamente cuspiu em sua cara as palavras. Suas delicadas mãos, de unhas mais do que bem feitas, estreitaram na alça de sua mala. Alça que Emmett só vira naquele momento.

Seus olhos piscavam sem crer enquanto ele murmurava um pedido de desculpas. Naquela proximidade ele hesitou no que dizer. Ela era a mulher mais bonita que já vira. Seus olhos azuis-violeta brilhavam de raiva. As bochechas estavam mais coradas do que o normal, e ele tinha certeza que era por causa do quase atropelamento. O cheiro de pneu queimado subiu forte e penetrou as narinas dele junto com o perfume floral da mulher a sua frente. Não pode aproveitar a chance.

– Você é louco - ela grunhiu.

A loira pularia no pescoço do musculoso a sua frente, se tivesse certeza que ele não a bateria de volta. Ou se ele fosse um pouco mais baixo e menos musculoso. O olhar violeta transmitia que aquela era uma pessoa destemida, e que brigaria caso fosse preciso. Emm, por sua vez, fugia até de matar uma barata, quem diria querer distribuir socos de um lado pro outro. Ele defendia o direito de todos.

De uma hora pra outra, enquanto estava perdido em pensamentos quase que pervertidos, sentiu sua bochecha queimar. Os dedos da loira a sua frente tocaram seu rosto de uma forma nada delicado. Pareceu involuntário, mas o tapa tinha ardido.

– Você é um idiota! - ela falou rápido demais, como se quisesse fugir dele.

Calmamente girou nas pontas dos calcanhares. A pessoa que o estapeou queria se ver longe dali. Voltou a andar como antes, só que dessa vez com passadas mais largas, remexendo o quadril enquanto puxava sua mala. Não fez de proposito, era só sua forma de caminhar. Ela emanava sensualidade enquanto se movia pelo meio da rua.

Foi a vez de Emmett grunhir. Voltou ao seu carro, mesmo que com as pernas tremulas e deu a partida. Fez com que o carro andasse a menos de 10km por hora para acompanhá-la. A alcançou na esquina da Decareo Court com a Arckerman Lane, sua rua. E logo gritou algo como “Pelo menos, sai do meio da rua!”. Assim que o fez, acelerou para virar na garagem da sua casa emprestada.

Pode ver pelo retrovisor a loira mexer os lábios em um claro xingamento. Ela trilhou o passeio em direção a porta. "Sua" porta.

– O que está fazendo?! - ele se conteve para não gritar.

Abriu a porta de sua Edge e, praticamente, se jogou para fora. A encarou claramente com raiva. Bateu a porta fazendo um baque nada silencioso. Nervoso, andou até ela estava.

– Eu que deveria te perguntar o que está fazendo, McCarty! – a mulher disse sem o encarar.

Por um minuto sua cabeça congelou. Se perguntou como a irritadinha sabia seu nome. Quem ela seria para falar com ele daquele jeito? Sentiu seu rosto ficar quente, não de vergonha, é claro.

Pareceu transparente, como um rio cristalino, quando a mulher se debruçou sobre um arranjo floral na entrada. Ela passou os dedos pela terra procurando a chave da casa. Quando finalmente achou, bateu uns dedos contra os outros na intenção de limpá-los. Rapidamente colocou a chave no trinco.

A loira não tinha torcido o punho para abrir a porta quando Emmett a agarrou por trás. Ele a manteria bem longe da entrada. O musculoso de covinhas tinha certeza que ela era uma assaltante. Uma ladra que que estuda muito bem as vítimas. Agradeceu aos céus por ele ter chegado antes dela. Por Deus, ele acabara de colocar as crianças em risco. E se ela estivesse interessada em sequestrá-los?

– Me larga, McCarty! - a loira esbravejou.

– Não vou deixar uma ladra entrar na minha casa! - ele fez mais força para mantê-la envolta.

– Ladra? – a mulher não acreditou no que ouviu, forçou uma risada sem vontade - Ladra? Tem certeza? – perguntou para ele - Meu irmão vai amar saber que deixou as crianças sozinhas! – concluiu.

– Você trafica crianças! – exasperou em constatação.

– Você está vendo muita televisão! Por Deus! Quanta palhaçada! – ela apenas não conseguia acreditar no que ele estava pensando.

– Eu conheço esse tipinho como você! Me dão nojo!

O choro de um dos bebês cortou qualquer explicação que ela pudesse dar. Emm esbravejou. Agilmente desamarrou o sobretudo da mulher e puxou o cinto. Segurou os seus braços, e os amarrou, um contra o outro, atrás do corpo. Em sua cabeça, daquele jeito, a ladra não fugiria. A jogou, junto com a mala, dentro da casa e trancou a porta.

– Nem pense em fugir! - avisou antes de desaparecer no andar de cima, a deixando só com sua indignação.

Quando retornou depois de longos minutos a mulher ainda estava no mesmo lugar que ele havia a deixado. Mas, seu lindo rosto tinha desaparecido. No lugar havia uma carranca que mataria mil só de olhar. Ele ascendeu a luz e pegou o telefone para ligar para a polícia.

– Ah, fala sério Emmett, me solta! – disse quando viu o que musculoso, que agora achava que não tinha cérebro, iria fazer.

– Você queria roubar os meus bebês!

– Seus uma ova! São os filhos do meu irmão e a filha do Edward! – ela gritou nervosa, não aguentou controlar a altura com a qual falava.

– Quem é você? - a mulher revirou os olhos quando ouviu essa pergunta.

– Mégara, a esposa de Hércules - ironizou.

– A Mégara é ruiva!

– Me larga Emmett - grunhiu brava.

– Então explica o porquê de insistir que Jasper é seu irmão! – ordenou.

– Porque ele é! – ela novamente gritou, nervosa o suficiente.

– Rosalie! - o gigante quase pulou antes de abraçá-la e tirá-la do chão.

– Você é um idiota! – a mulher esbravejou – Me larga agora!

Emmett teve pressa em colocá-la no chão e desdar o nó que fez no cinto de seu sobretudo. Nunca havia ficado tão feliz em ver alguém. Não conseguia entender tanta felicidade. E pelos céus, ela estava deslumbrante. Realmente não mentiram quando falaram que ela havia mudado. E que mudança!

– Jasper saberá que abandonou os meninos... – ela avisou enquanto esfregava os punhos.

– Como descobriu o endereço?

– Isso não vem ao caso!

– Claro que vem!

– Liguei para Jasper, perguntei como estavam e avisei que meu voo foi cancelado. Disse que estava indo para Nova Jersey pegar o próximo avião. Ele me passou o endereço para não te acordar no meio da noite! E olha o que vejo quando chego! Você acordado e pior, fora de casa – e naquele instante ele nem precisava pensar o motivo de nunca ter reparado de verdade em Rosalie. Ela era uma chata sem vida!

– Tudo bem, eu precisei relaxar um pouco e tomar um ar.

– Não se faz isso com crianças – cortou – você é um débil mental!

– Olha como fala comigo! – ele apertou uma mandíbula na outra nervoso pelo jeito que ela o tratava.

A loira tremeu na base quando ele levantou a voz. Mais do que depressa passou a mão nas suas coisas e subiu os degraus pisando duramente. Tentou se concentrar para não pisar torto com o salto, não que fosse comum para ela, mas com as pernas bambas que ela tinha naquele momento seria um desafio.

Emmett ficou a encarar o vazio onde ela deveria estar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!