DIA 01

25 de novembro de 2014

O que poderia dar de errado em um dia com três crianças pequenas? Emmett se perguntou milhares de vezes durante a madrugada. Seus melhores amigos estavam prestes a embarcar e os intermináveis músculos de Emmett serviram para ajudar a carregar as malas.

Alice tinha o dom de levar muitas coisas para uma viagem de dias. Ele revirou os olhos. Não usaria metade daquilo que carregava, mas Jasper não reclamava. E se o marido não rezingava, quem era ele para fazer crítica?

Por mais que seu corpo protestasse em andar até o check in do aeroporto, ele o fez. Devia isso aos amigos. É pra isso que os “manos” servem.

As crianças seriam a parte fácil. Tentou se convencer com essa afirmação. Quer dizer, qual mal poderia existir em cuidar de dois bebês de aproximadamente 11 meses e uma criança de 3 anos? Ele, pelo menos, esperava que nenhum.

– Então é só isso – disse no final, aquilo na sua linguagem significava “Até mais ver”.

– Tem certeza que vai ficar bem? – Edward perguntou após sair do guichê.

– Tenho... Nem chega a ser 24 horas sozinho...

– Não vai esquecer de buscá-la não é? – Jazz o olhou na dúvida.

– Acho que estou muito interessado na chegada dela – ele sorriu frisando a sua vontade de não ter que cuidar deles sozinho.

– Ness está tomando ferro antes das refeições. O médico disse que seria bom, e...

– E isso não preciso saber, é só dar... Bella eu já coloquei milhares de despertadores no celular pra me lembrar disso. Fica tranquila. – ele pegou o celular para mostrá-la.

– Tudo bem... E não vá esquecer dos deveres ou das aulas extracurriculares... – ela falou ignorando o visor do smartphone do amigo.

– Tá... Não vou... Agora vão logo que quero comprar os novos jogos de Playstation 4 e de Xbox One antes de buscá-los na escola.

– Emmett presta atenção um pouco – Alice resmungou.

– Tá bom dona Alice, fala logo... – pediu.

– Olha as fraudas! Tem uma reserva no maleiro, quando acabar você terá de pegar lá em cima... E as vezes terá de fazer mais de uma vez por dia. – ele suspirou de tédio enquanto ela falava.

– Ok, ok...

– Se estragar a minha casa vai ter de vender esse Galaxy S5 pra consertar tudo! – ameaçou.

– Sou perfeito. – ele a olhou ajeitando a blusa e piscando. Jasper riu.

– Você se acha! – o seu amigo falou.

– Não. Eu sou... – ele o repreendeu – Eu quero que se divirtam como se o mundo fosse acabar. Eu dou conta, e depois... Amanhã a senhora perfeita já vai estar aqui, então se esqueçam que tem filhos e vivam!

– Você se lembra de tudo? – Edward questionou pela milionésima vez desde que saíram de casa.

– Sim... – Emm os empurrou para o portão de embarque.

– A Nessie é alérgica a canela e a...

– Nozes, eu me lembro – ele a imitou. – Vocês podem ir logo?

– Tem certeza que vai ficar bem? – Jasper questionou novamente.

– Tenho, mas só se forem logo!

– A gente vai te recompensar – Edward garantiu.

– Ok... Ok... – Emmett já estava sem paciência.

– Ah só mais uma coisa! – Bella se lembrou – Pizza não é comida!

– Nem hambúrguer – Alice completou. – Nada de dar doces antes das refeições, e só um pouco depois, os meninos já comem pedaços, mas evita... Opte por purê de algum legume, ou alguma coisa assim, e carne desfiada... Se for dar algo mais inteiro, dê com muito feijão... E sem claras de ovos. Só a gema. Bem cozida!

– Não se preocupe com esses detalhes, a Rose recebeu uma cópia com tudo isso – Jasper tranquilizou o amigo.

Emmett coçou a nuca os olhando. Agora sim ele tinha ficado confuso. Nunca se imaginara em uma vida de fraudas e restrições alimentares. As suas “cunhadas” beijaram seu rosto antes de se despedirem de verdade e ele deu um meio sorriso.

– Emm, por favor... Enquanto estivermos fora você será o pai e não o irmão mais velho, ok? Cuida bem deles, são tudo pra nós – Bella pediu com os olhos enchendo d’água.

– Não... Sem choro, já disse que tudo ficará bem! – ele falou tentando conter as lágrimas de Isabella.

– Rosalie vai te ajudar Emmett – Jasper falou mais uma vez e o gigante revirou os olhos.

– Tinha entendido da primeira vez que falou, há uns 4 dias.

– Emm... – Alice chamou – Obrigada.

Emmett deu seu melhor sorriso enquanto eles se afastavam felizes pela viagem. Seu coração apertou. Era a primeira vez que não ia com o grupo, e isso o machucou em partes. Não que ele se animasse com viagens de casais, nem mesmo tinha namorada para se animar com isso, mas aquilo praticamente dizia que ele estava sozinho dali pra frente. Seus amigos tinham sido mordidos pelo mosquito do matrimonio, e, com isso, já eram as viagens de pura curtição. Agora seria só ele em longas noites em Amsterdã comendo brownies de maconha ou a primeira prostituta que cruzasse sua frente.

Ele sorriu tristemente colocando as mãos em seu bolso. Olhou a última vez para a porta de embarque e deu as costas para ir embora. Eles estariam felizes e isso o deixaria feliz. Ele daria o seu máximo para se divertir com as crianças, por mais que elas não entendessem metade das coisas que ele fazia.

O dia tinha passado extremamente rápido até o momento de buscar as crianças na creche. Ele havia perdido a hora pensando entre comprar os clássicos readaptados ou os ultramodernos jogos da nova geração de consoles. Talvez a escolha fosse fácil se a atendente não fosse extremamente gostosa como ele a via.

Ele custou alguns longos minutos para descobrir como montar e desmontar o carrinho dos gêmeos e como prender a cadeira da Renesmee no carro. Ele havia se recusado a usar o veículo preparado para esses momentos assim que chegou na casa dos amigos e viu o modelo. Ele considerava o Honda de Alice totalmente feminino para ele e preferiu mil vezes transportar as crianças em seu Ford Edge, recém saído da fábrica, preto.

Não que Emmett fosse rico para ter tudo de última geração. Mas seu pai tinha uma classe mais avantajada. E tudo que ele fazia era compensar com o dinheiro que ganhava a sua falta que fez na infância e adolescência do filho. Não que Emmett gostasse, mas mimos o faziam sentir melhor agora que estava sem emprego.

O contratante não havia sido nem um pouco delicado na demissão de Emm. Na verdade, ele havia sido o oposto de delicado. Ele poderia até ser mulherengo, mas era fora da empresa. Ele respeitava o trabalho e as acusações de assédio sexual eram falsas. Talvez um bando de garotas nas quais ele deu o fora tenham forjado essas mentiras. Mas ele era totalmente inocente. Pelo menos sabia onde a divisa do trabalho e da agarração estava. E não a desrespeitou.

– Titio – Nessie o chamou colocando a mãozinha na boca rindo baixinho. Emm agradeceu pelos gêmeos terem dormido logo que os colocou no carro e Renesmee ter demorado quase a viagem toda para abrir a boca.

– Fala Ness!

– Titio, sabia que a titia lá da escola está me ensinando a colorir?

– Ah, é verdade?

– É a pura verdade – ela falou igual a Bella.

– E o que mais? – perguntou sem nenhum interesse real.

– O Jake me empurrou de novo titio!

– E você não fez nada?

– Não... A mamãe me disse que brigar não é a solução. E o papai falou que tinha que só contar pra titia que ela resolveria.

– Que tia?

– A da escolinha, titio! – Nessie murmurou enquanto Emm estacionava em frente a imensa casa de Jasper.

– Ah – ele fingiu empolgação – essa titia... Agora vamos sair que chegamos em casa! – ele sorriu.

– Essa não é minha casinha – ela falou cruzando os braços aparentemente nervosa – essa é a casinha do titio Jazz!

– Será a sua casinha nos próximos dias! – Emmett tentou falar de uma forma doce e transmitir confiança para a pequena.

– Porque? – ela perguntou curiosa enquanto ele a tirava do carro.

– Porque a mamãe e o papai viajaram – ele falou a verdade.

– Ah... eles me abandonaram? – Renesmee fez cara de choro e instantaneamente o gigante de covinhas se arrependeu.

– Não... não – disse tentando montar o carrinho dos gêmeos sem acordá-los. – eles tiveram de viajar pra comprar um presente pra você! O Natal está chegando...

– Mas eu já escrevi a cartinha pro papai Noel. – ela o interrompeu.

– É... Só que não ia chegar a tempo ai o papai e a mamãe tiveram de ir entregar senão você ficava sem presente. – ele respondeu dando por fim o assunto e então levou os três para dentro da casa, ou melhor quase mansão.

Jasper andava muito bem de vida, ele a estilista em miniatura. Desde que o amigo abriu o escritório de advocacia, e a esposa dele a lojinha, que ela fazia questão de chamar de masion, eles colocavam muito dinheiro no bolso, não que eles fossem as pessoas mais conhecidas da cidade. Mas acabara funcionando a lojinha de noivas junto com a firma de advogados. Afinal de contas, estávamos falando da cidade da perdição: Las Vegas.

Edward e Bella também não ficavam pra trás. Apesar de não estarem tão bem quanto o outro casal a pequena cafeteria que ambos abriram depois de Bella engravidar estava começando a dar pequenos passos. Eles haviam abandonado o emprego para ficar mais tempo com a filha e para não ficarem sem renda abriram o seu próprio negócio. Um olhava durante a manhã e o outro durante a tarde. Eles se revezavam em casa durante o dia, mas a noite era da família. E parecia funcionar pra eles.

Não demorou muito para os bebês acordaram. E então ele pode sentir o gosto do que seria seus próximos dias. Cada um demandava uma coisa diferente. Enquanto Ava queria comer, Noah chorava por sua frauda suja e Renesmee fazia manhã para brincar.

– Tio – ela chamou pela milionésima vez.

– Renesmee, eu estou ocupado – Emmett disse enquanto quebrava a cabeça para limpar Noah sem se sujar.

– Você está trocando a frauda dele tem um tempão!

– E eu ainda não consegui...

– Você não sabe fazer isso!

– Sei sim!

– Então porque ainda não fez?

– Tô raciocinando.

– Ah não titio – choramingou – está demorando muito.

– Espera! – Ele respondeu duramente e a criança a sua frente fechou a cara em um choro eminente. – Não chora – falou pausadamente. Dessa vez não adiantou. Pareceu um custo fechar a frauda do pequeno homem com aquela barulheira quase ritmada de choros.

Emmett estava a um fio de perder as estribarias e gritar o mais alto que conseguia quando, finalmente, a comida que encomendou no restaurante da esquina chegou. Assim ele teve um motivo para chamar a atenção das crianças, e tentar resolver um problema de cada vez. Não que isso fosse fácil.

Por mais esfomeado que estivesse ele não teve tempo para jantar junto com os meninos. Ele revessou para dar comida para os dois bebês, e depois ainda teve que alimentar Ness. Quando enfim acabou, já era hora de trocar as roupas dos gêmeos e os fazer dormir. Foi a tarefa mais complicada do dia. Nenhum dos dois pegavam no sono. Nessie se aninhou no seu colo cansada e fechou os olhos. Sua barriga roncou nesse momento. Uma história... Somente uma história e as três crianças exaustas finalmente estariam desmaiadas em suas respectivas camas. E ele poderia matar sua fome.

Olhou no relógio quando terminou todas as suas tarefas e constatou ser quase 22 horas. Por mais que fosse cedo ele não tinha animo nenhum pra jogar videogame e beber uma cerveja bem gelada. Naquele momento ele só queria saber de comer alguma coisa, mesmo que fria, e dormir por horas sem fim.

E foi o ele tentou fazer.