Coração de tinta escrita por Anistia


Capítulo 6
Eu as observo




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Querido Charlie,

Desculpe pelo tempo sem escrever,sei que deveria ter escrito antes.Sei que vai entender.

Vai haver um concurso de redações na cidade,e eu quero muito participar.Não pelos prêmios e os títulos que as pessoas pessoas vão receber.Simplesmente por participar.

Acho que quero provar a mim mesma que não sou invisível.

Eu acho que talvez,se eu ganhasse esse concurso,poderia continuar nessa corda bamba que estou andando,e,em vez de cair para o lado errado,eu cairia para o certo.

Ou talvez eu consiga me manter equilibrada e andar até o final.

Mas está difícil Charlie,eu descobri que participar é bem mais complicado do que parece.Não deixei ninguém da minha família ver esse panfleto.Esta bem guardado debaixo do meu colchão e dentro da minha mente.

Eu me pergunto até quando vou conseguir antes de que haja a primeira rachadura,e isso vaze como um dique.

Acho que deve ter percebido que gosto muito de usar certas frases de efeito.Não consigo evitar,elas vem na minha cabeça,e eu me sinto impelida a escreve-las.Espero que não ache esse um hábito irritante,realmente espero.

Eu gosto de caminhar para a escola,eu gosto por que nas minhas caminhadas eu ando pela rua e vejo o movimento dos carros e das pessoas,eu as vejo falando ao telefone e ouço as buzinas do carro,e passo por árvores nas quais as folhas fazem a passagem do sol parecer especial.

Nesses momentos,eu me atreveria a dizer que me sinto viva,Charlie.

Eu sei que as pessoas que olham para mim não recordarão de meu rosto no fim do dia,e que para elas eu só apenas um elemento da paisagem,nada digno de um olhar demorado.Mas assim eu posso observá-las de um modo diferente.

Eu posso ver suas expressões e imaginar o que pode ter acontecido neste dia.

As marcas de lágrimas e olhos inchados,a ruga entre os olhos,o brilhos dos olhos,as mão inquietas,tudo é fascinante para mim.

Estou torcendo que não me ache estranha por isso.

Mas é tudo isso,Charlie,eu ando pelas ruas e penso que isso não passa de um dia comum para algumas pessoas,mas pode também ser um dia triste ou extremamente feliz para outras.

Eu me sinto tentada a perguntar para as pessoas como está sendo o dia,e de falar com elas,de ouvir o que elas tem a dizer,para que elas se sintam especiais como eu me sinto quando escrevo para você.

Para elas sentirem que alguém realmente se importa.

Então eu as observo,mas não falo.Como poderia?

Sou invisível,não tenho voz,nem coragem.

Não participo.

E,quando seus olhos se encontram com os meus,nos olhamos por alguns segundos,eu tento passar o que quero dizer para o meu olhar,e então desvio.

Como já disse antes,apenas uma observadora na multidão.

Obrigada por me ouvir,Charlie.

Com amor,uma amiga


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