Dançando Sobre o Gelo escrita por Lyria


Capítulo 8
Capítulo 8




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Agora, Anna entendia.

Ela entendia o motivo de sua irmã sempre ter se isolado, de sempre evitar outras pessoas, de nunca tê-la deixado se aproximar demais...

Se ao menos ela tivesse percebido aquilo antes, talvez sua irmã não tivesse fugido daquela forma...

A ruiva havia deixado Arendelle havia algum tempo, e agora, viajava ao lado de Kristoff, um vendedor de gelo – cujo melhor amigo era uma rena, só para constar – que concordou em levá-la às montanhas, rumo as quais Elsa havia fugido. É claro, em outra situação, ela “nunca” teria aceitado viajar com um completo estranho, mas Anna sabia que aquela era sua única opção e, além disso, Kristoff era uma pessoa simpática... Quando não estava cuspindo acidentalmente na cara dos outros, ou gritando por ela ter apoiado os pés sobre seu trenó, ou teimando que o amor entre ela e Hans não era verdadeiro.

O que ele poderia saber sobre amor verdadeiro? Seu melhor amigo era uma “rena”! Bem... não que ser amiga de quadros fosse muito melhor...

Mas aquilo não importava! Kristoff podia ser irritante, mas após um longo tempo viajando juntos, Anna havia percebido que, apesar da falta de modos, ele era uma boa pessoa, e também parecia digno de sua confiança.

Além disso, olhando melhor, até que ele era bonitinho... Não tão bonito quanto Hans, é claro! Não havia homem nenhum, no mundo todo, mais bonito que seu amado noivo!

Anna baixou os olhos ao se lembrar do ruivo: ela tentara impedi-lo de ir atrás de Elsa, mas ele havia dito que a segurança de sua noiva era mais o importante, e partira corajosamente, junto ao velhinho dançante – Duque de Weselton, se ela não se enganava – e os guardas que o acompanhavam, atrás de sua irmã. Mas ela, como a boa irmã e noiva que era, jamais deixaria as pessoas que mais amava sozinhas! Logo em seguida, ela partira rumo às montanhas, disposta a encontrá-los o mais rápido possível.

Claro que sua aventura dera errado instantes depois de ter se iniciado: ela foi soterrada por neve, seu cavalo fugiu, precisou andar por horas naquele clima enregelante, e como se não bastasse, caíra sentada no rio, e seu vestido congelara, a ponto de ela mal conseguir se mover direito. Aquilo era azar demais para uma pessoa só... Realmente, ela só perdia para Kristoff – não havia como competir com alguém que vendia gelo em um lugar que fora completamente congelado.

Sinceramente, ela só queria encontrar logo sua irmã, e então voltar com ela para o castelo – e para sua cama quentinha...

“Não tem como ir mais rápido, não?” ela perguntou, de forma impaciente.

“Mais que isso?” Kristoff arqueou levemente a sobrancelha, como se a ruiva tivesse feito uma pergunta realmente estúpida “Não, não dá. Você está querendo demais.”

Anna bufou, irritada. Sem dúvidas, aquele vendedor de gelo nunca seria um cavalheiro como seu noivo, Hans! Ah, bem que o ruivo podia ensinar a Kristoff como se portar diante de uma dama como ela!

“Ei.”

Ao ouvir a voz do maior, Anna olhou para ele com uma expressão emburrada.

“Eu sei que está preocupada com sua irmã, e tudo mais.” ele disse, ainda olhando para o caminho à frente deles “Mas fique tranquila, logo chegaremos.”

Ao dizer isso, ele olhou brevemente para ela, e ofereceu-lhe um sorriso encorajador, para logo em seguida voltar a fixar seus olhos escuros no caminho.

Anna permaneceu estática por alguns minutos, seu cérebro demorando para processar o que havia acabado de acontecer; e, quando finalmente o fez, a ruiva sentiu o rosto arder violentamente.

De jeito nenhum... De jeito nenhum ela poderia ter achado, mesmo que por um único micromilésimo de segundo, que aquele vendedor de gelo, rude e sem modos, era mais adorável que seu perfeito noivo das Ilhas do Sul!

Anna suspirou pesadamente: o frio do inverno devia estar fazendo mal à cabeça dela...

~*~

“Rainha Elsa?”

Hans se aproximou da loira com um ar hesitante e preocupado, caminhando lentamente, como que para não assustá-la. Elsa ergueu o rosto, apenas o suficiente para que pudesse olhar para o inesperado convidado.

“Você...” disse ela com voz fraca “O que está fazendo aqui?”

“Eu vim te procurar.” ele respondeu “Você espantou a todos nós no castelo...”

Elsa se encolheu com a lembrança do ocorrido.

“Eu...” começou ela, hesitante “Não era para aquilo ter acontecido... Eu não queria que todos soubessem...”

“Mas agora eles sabem...” Hans a interrompeu, ainda sem abandonar seu ar de preocupação “E estão todos com medo.”

“Por isso eu preciso ficar aqui.” ela explicou, tristemente “Neste lugar isolado, não vou poder machucar ninguém.”

Hans suspirou brevemente, balançando sua cabeça, como que com pena da outra.

“Você já machucou, Elsa... Não percebeu?” ele disse em tom sério “Seu poder congelou toda Arendelle...”

Aquelas palavras fizeram com que Elsa levantasse a cabeça, os olhos arregalados pela surpresa.

“O que...?” indagou a garota.

“Tudo está coberto por gelo e neve, para onde quer que se olhe.” o ruivo prosseguiu “Todos estão falando que você jogou uma maldição sobre o reino. Eles mal ousam dizer o seu nome em voz alta, com medo de agravar sua fúria.”

“Não!” apressou-se a dizer Elsa “Não é nada disso, eu não quis...”

“E Anna...” ele a interrompeu, como se não tivesse ouvido suas palavras.

“Anna...?” repetiu a loira, hesitante.

Um quase imperceptível sorriso se formou nos lábios de Hans.

“Ela ficou tão assustada com tudo isso...” ele disse, forçando uma expressão magoada “Disse que não podia acreditar que a irmã dela era um monstro, pobrezinha.”

Elsa voltou a baixar os olhos, as mãos apertando fortemente os próprios braços.

“Não...” ela murmurou “A Anna não diria...”

“Ela te odeia, Elsa.” completou Hans, dando um passo em direção à loira.

“Não... Não pode ser...” insistiu Elsa, cobrindo os ouvidos com as mãos, não aguentando mais ouvir aquilo “Você está mentindo...”

“Ela até mesmo disse que alguém como você não merecia viver.”

“Pare!” Elsa virou o rosto. Não queria mais ouvir aquelas palavras, não queria mais olhar para Hans...

Como se a máscara que cobria seu rosto houvesse finalmente se despedaçado, a expressão de Hans se metamorfoseou, indo da falsa preocupação e seriedade para um sorriso cínico e cruel. Lentamente e sem fazer barulho, ele desembainhou sua espada, levantando-a sobre a garota à sua frente.

“E eu concordo plenamente.” acrescentou.

Com um rápido movimento, ele baixou sua espada sobre a garota, que nem mesmo olhava em sua direção, aproveitando-se daquele momento para acabar com tudo rapidamente e sem muito esforço.

Mas, antes que a lâmina pudesse atingi-la, uma parede de gelo se formou entre ele e Elsa, protegendo-a de seu ataque. O barulho da espada chocando-se contra o gelo chamou a atenção da garota, que ao se dar conta do que quase acontecera, recuou.

“O que você está fazendo?” ela questionou, de forma instintiva.

“Maldita bruxa...” praguejou Hans, erguendo a espada mais uma vez “Por que você tem que sempre complicar as coisas pra mim?!”

Ele tentou atacá-la novamente, mas mais uma vez, uma parede de gelo se ergueu entre eles; porém, desta vez, dela surgiram cristais pontiagudos, que se estenderam rapidamente na direção do príncipe, que por pouco conseguiu desviar, evitando ter seu braço perfurado.

“Pare de se defender, Elsa!”

A garota, porém, estava tão surpresa quanto ele: ela não estava usando seus poderes. E, se aquilo tudo não era obra dela, a loira só conhecia uma pessoa que poderia ser a responsável.

“Não pode ser... Ele não está aqui.”

Aquela batalha continuou, tornando-se mais intensa: logo, Hans nem mesmo conseguia chegar perto de Elsa, sendo mantido longe dela por estalagmites que surgiram repentinamente perto de seus pés, e por mais cristais de gelo afiadíssimos, que eram lançados em sua direção um após o outro. Hans conseguiu desviar ou conter a maioria com sua espada, mas alguns deles conseguiram feri-lo, mesmo que superficialmente. Aquilo só pareceu aumentar a fúria do ruivo.

“Se você tivesse permitido que eu me casasse com a tonta da sua irmã, vocês duas poderiam ter vivido na ignorância por um longo tempo, até eu encontrar uma forma de me livrar de vocês...” Hans esbravejou.

Então, aquele era o plano dele? Estava fazendo tudo aquilo por poder? Elsa não podia dizer que era algo inesperado, mas usar os sentimentos de uma garota inocente para isso? Quão cruel aquele homem poderia ser?

Elsa fez menção de dizer algo, mas antes que pudesse, sua atenção foi tomada por outra coisa.

... você... arrepender... enganado... Anna...

Talvez fosse sua mente criando estranhas alucinações devido ao medo, mas Elsa teve a impressão de ter ouvido uma voz baixa e distante...

Uma voz conhecida.

“Se você tivesse me deixado acabar com a sua infeliz vida agora, eu poderia voltar à Arendelle como o herói que derrotou a terrível Rainha de Gelo e salvou o reino do inverno eterno...” continuou o ruivo “Até mesmo sua irmãzinha acreditaria na minha historia, e sem você no caminho, tudo seria mais fácil...”

... nunca... te perdoar...

“Mas, se você quer fazer as coisas da forma mais difícil, Elsa...” ele prosseguiu “Então, que seja.”

Dizendo isso, ele desviou de mais alguns cristais de gelo, correndo em direção à Elsa, disposto a acabar com aquilo de uma vez. Porém, antes que pudesse, uma estaca de gelo voou rapidamente em sua direção, cravando-se dolorosamente em seu ombro esquerdo. Hans grunhiu com a dor, e por pouco seus joelhos não cederam.

“Nem pense nisso, principezinho.” disse aquela conhecida voz, desta vez, mais alta e clara que antes.

Elsa prendeu inconscientemente a respiração: não havia dúvidas, mesmo que ela não fosse capaz de vê-lo, a garota sabia que, diante de si, se encontrava um garoto de cabelos brancos e olhos azuis, com seu costumeiro cajado de madeira na mão.

“Jack...” murmurou Elsa, para si mesma.

Ela não conseguia compreender o motivo de não poder vê-lo, mas ele estava ali... Estava ali com ela.

“Eu não vou deixar você fazer mal a ela.” murmurou o garoto com os dentes cerrados.

Ele ainda não conseguia compreender o motivo de a lua ter lhe mostrado aquelas lembranças depois de tanto tempo, mas de uma coisa Jack tinha certeza: ele havia salvado uma pessoa que amava quando estava vivo, e agora, ele faria o mesmo.

Ele protegeria Elsa a qualquer custo.


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Notas finais do capítulo

Gente, a bruxaria de vocês deu certo, não chove aqui desde sexta (antes estava chovendo todos os dias). o__o'
O próximo capítulo deve ser um pouco maior que o normal, então é possível que eu demore um pouco a mais para postá-lo. Vou tentar ao máximo não atrasar, mas prefiro já deixar avisado. :)