Dançando Sobre o Gelo escrita por Lyria


Capítulo 7
Capítulo 7




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Havia horas que Elsa estava encolhida, com os braços ao redor dos joelhos, e a cabeça baixa, soluçando vez ou outra.

Depois de ter passado um longo tempo de joelhos sobre a neve, chorando, ela havia se levantado, voltando a subir por aquela montanha, sem pausas. Mesmo quando se deparou com um penhasco em seu caminho, a garota seguiu em frente, criando uma longa escada de gelo, a qual hesitou brevemente antes de subir, como que incerta sobre seus próprios poderes. Em seguida, após olhar demoradamente para as próprias mãos, ela ergueu paredes de gelo ao seu redor, formando uma espécie de abrigo para proteger-se do forte vento. Porém, ao contrário do que poderia se imaginar, o gelo possuía um tom ligeiramente avermelhado, e de sua superfície surgiam diversas e finas pontas, como se aquele abrigo improvisado fosse um reflexo de como a garota se sentia por dentro.

E era ali que eles se encontravam desde então.

Elsa passava a maior parte do tempo daquela forma, sentada no chão, de cabeça baixa. Às vezes, ela se levantava e ia até a janela do abrigo, onde passava vários minutos olhando para fora, como se esperasse pela chegada de alguém.

E esse alguém estivera o tempo todo ali, ao lado dela, mas o medo, as dúvidas e a culpa que a garota sentia haviam dominado completamente seu coração na noite da cerimônia, fazendo com que ela acreditasse do fundo de sua alma que todos a odiavam, e que estava completamente sozinha.

E era justamente esse o motivo de ela não conseguir vê-lo: Jack Frost era um ser etéreo, visível apenas para aqueles que acreditam em sua existência. No início, quando Elsa nem mesmo o conhecia, seus poderes de gelo e seu grande desejo de ter um amigo permitiram que ela o enxergasse pela primeira vez, e nos anos que se seguiram, a certeza de que tinha um grande amigo ao seu lado fez o mesmo.

Mas depois de tudo que havia acontecido, o medo se tornara algo maior: ela não havia conseguido controlar seus poderes, dissera algo horrível à sua irmã, quase machucara várias pessoas... Fez com que todo o sacrifício de seus pais ao ordenar que fechassem os portões fosse por nada.

Ela havia feito tudo errado, e por isso, achava que ele estava decepcionado com ela... Por mais que o conhecesse bem, e soubesse que a ligação que dividiam era forte, algo em seu coração lhe dizia que Jack não ia querer estar perto de alguém como ela... Que ele estava pensando que ela era uma pessoa horrível... Que ele não queria mais vê-la.

E acreditar naquilo, havia tido o mesmo efeito de não acreditar em sua existência.

“Me desculpe...” ela murmurou em tom quase inaudível.

Jack, que estava sentado ao lado de Elsa, baixou seus olhos, entristecido.

“Eu te disse que nada disso foi sua culpa...” ele respondeu “Por que não acreditou em mim...?”

Silêncio.

“Eu que devia te pedir desculpas...” ele acrescentou “Porque realmente não sei o que fazer pra te ajudar.”

Novamente, silêncio. Não aguentando mais aquela situação, Jack se levantou, indo até aquela janela, sentando-se em sua borda. Não demorou para que seus olhos pousassem sobre a enorme lua, cujo brilho contrastava com o negro do céu. Jack suspirou brevemente, e então, fez algo que não fazia havia muito tempo: falou com ela.

“Você nunca me disse o motivo da minha existência...” ele começou “Eu sempre odiei ser desse jeito, sabia? Odiei não ser ouvido ou visto, e me perguntei, dia após dia, se esse motivo realmente existia... Mas então, eu conheci essa garota.” ele sorriu levemente. “Eu mal pude acreditar no começo, mas ela realmente podia me ver... E, sabe, isso me deixou feliz, porque pela primeira vez, eu senti que era alguém de verdade.”

Ele suspirou brevemente, voltando a baixar seus olhos.

“Depois de um tempo, eu comecei a pensar que ela era o meu motivo...” prosseguiu “O motivo de eu estar aqui, de toda a minha existência... Que a única razão de eu ser quem sou, era para que um dia nós nos conhecêssemos, e para que eu pudesse fazê-la feliz...”

Mas eu não consegui, ele pensou, sem conseguir dizer em voz alta.

“Ei...” ele voltou a falar, após hesitar um pouco “Eu nunca pensei que diria isso, mas... eu não me importo de continuar sendo invisível. Eu nunca vou pedir qualquer outra coisa pra você, mas, por favor, me responda só dessa vez...”

Ele olhou brevemente por cima do ombro, para aquela garota que ainda se encontrava naquela mesma posição, observando-a por alguns segundos, antes de voltar seus olhos azuis para a lua mais uma vez.

“O que eu posso fazer pra ela parar de chorar?”

A lua permaneceu a mesma no céu: brilhante, imóvel, silenciosa. Jack cerrou os dentes, apertando fortemente o cajado em sua mão, até que ela começasse a doer.

“Por que você nunca me responde?!” ele perguntou em tom alto, sentindo a raiva crescer dentro de si “Você acha tudo isso engraçado? Você gosta tanto assim de assistir as pessoas sofrendo, daí de cima?”

Dizer aquilo não fez com que ele se sentisse melhor. Desanimado, o garoto voltou para dentro do abrigo, dizendo a si mesmo que, desde o início, aquela conversa estava fadada a terminar daquela maneira: sem qualquer resposta.

“Eu nunca vou te entender...” Jack murmurou, dando as costas para a janela.

O garoto fez menção de se aproximar novamente de Elsa, quando repentinamente parou no mesmo lugar, levando ambas as mãos à cabeça: uma gigantesca onda de imagens e sons surgiram em sua mente, cenas passando de forma veloz, a ponto de ele apenas conseguir compreender alguns fragmentos do que via.

“Jack!”

De repente, tudo parou. Diante dele, estava uma garotinha de cabelos castanhos, que sorria animadamente. E ele a conhecia.

“Jack, estou com medo!”

A cena mudou, ambos estavam sobre o gelo, e a menina parecia aterrorizada. Ele tentou acalmá-la, sorrindo de forma encorajadora enquanto tentava desesperadamente pensar em uma maneira de ajudá-la.

“Jack!”

Novamente, outra cena: a garota estava em segurança, mas o gelo cedeu sob seus pés. Ele afundou no lago por um longo tempo, cercado apenas pelo frio e pela escuridão...

Até que ele viu a lua.

Jack voltou a abrir os olhos, respirando aceleradamente. Ele estava caído sobre o chão, e a cabeça ainda doía devido a todas aquelas memórias que haviam sido despertadas de uma única vez. Ele olhou para seu próprio cajado, se dando conta de que havia sido graças àquele pedaço de madeira que ele havia conseguido empurrar aquela menina para uma área segura.

Aquela menina que, agora ele se lembrava, era sua irmã.

Ele ficou parado por um tempo, sem saber o que pensar sobre tudo aquilo... Então, ele já fora uma pessoa normal? Já tivera uma família e amigos? E aquela menina, sua irmã... Ele sacrificara sua vida para que ela pudesse viver, sem pensar duas vezes, e sem arrependimentos.

Mas por que ele estava se lembrando de tudo isso naquele momento?

Ele voltou seus olhos para a janela, onde ainda era possível ver o brilho pálido da lua.

“Então... É isso...?” ele perguntou, mais para si mesmo “É esse o motivo de eu estar aqui...?”

É esse o motivo de você ter me escolhido?

Antes que pudesse pensar mais sobre aquilo, algo chamou a atenção do garoto: o distante som de vozes. Apressadamente, ele se dirigiu à entrada daquele abrigo de gelo, e dali pôde ver um grupo de pessoas, a poucos metros da escada feita por Elsa.

Porém, o que mais o surpreendeu não foi o fato de haver pessoas ali, naquele lugar isolado, mas sim um dos integrantes daquele grupo, que agora subia a escada de gelo, seguindo em direção a onde sabia que Elsa se encontrava, embora não tivesse aparentes motivos para estar ali. Apressadamente, Jack voltou para perto da loira: mesmo que aquela pessoa não parecesse exatamente perigosa, ele não estava disposto a arriscar, principalmente agora que sabiam sobre os poderes dela.

“Rainha Elsa?” chamou a pessoa, aproximando-se lentamente.

Era Hans.


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Notas finais do capítulo

Oh, Hans... Ninguém estava sentindo a sua falta.
É provável que eu não consiga postar amanhã, mas como sempre, segunda terá capítulo novo (a não ser que a chuva acabe com a minha internet novamente... Torçam pra isso não acontecer! @___@').