Dançando Sobre o Gelo escrita por Lyria


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Eu planejava ter postado este capítulo ontem, mas a chuva maligna acabou com minha internet. Pra compensar, o capítulo está um pouquinho maior que o normal.



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Jack perdeu um tempo considerável procurando por Elsa em meio aos convidados, até finalmente localizá-la, olhando aos arredores, como se procurasse por algo... Provavelmente por ele próprio, o que devia ter sido a causa todos aqueles desencontros.

“Elsa!”

Pega de surpresa, a garota deu um pequeno pulo no mesmo lugar.

“Jack!” por um momento, Elsa se esqueceu de fingir que não via o garoto, mas logo em seguida disfarçou, passando a falar com ele apenas pelo canto da boca “Onde você estava? Eu fiquei te procurando...”

“Desculpe por ter sumido, mas eu pensei que... Ah, não é hora pra falar disso, estamos com problemas!”

“Problemas...?”

“Escute, a Anna...”

Jack não teve tempo de terminar o que dizia, pois logo em seguida, Anna e seu “noivo” surgiram, correndo em direção à Elsa, parecendo extremamente empolgados. Elsa os olhou com uma expressão ao mesmo tempo perdida e desconfiada.

Jack teve um mau pressentimento quanto àquilo.

“Elsa...” disse Anna, e então, se corrigiu “Quero dizer, Rainha... Este é o príncipe Hans das Ilhas do Sul.”

Então o nome dele era Hans... Hans das Costeletas Superdesenvolvidas, só se for... Cada vez mais, aquele sujeito desagradava Jack, que se colocou ao lado de Elsa, embora achasse difícil poder ajudá-la naquele momento.

“Sua Majestade!” disse ele, curvando-se exageradamente “Nós gostaríamos de pedir...”

“A sua bênção...” completou Anna, sorridente.

“Para o nosso casamento.” terminaram ambos, ao mesmo tempo.

Jack quase pôde ver algo desabando dentro de Elsa naquele momento.

“Casamento...?” ela repetiu, franzindo levemente o cenho.

Os dois concordaram prontamente, e então começaram a discutir animadamente sobre seus planos para o futuro, como se Elsa já tivesse concordado com todo aquele absurdo.

“Se acalme, Elsa...” disse Jack, em resposta “Anna só está impressionada, porque nunca conheceu alguém de fora dos portões, muito menos um príncipe... Se vocês conversarem, ela vai perceber que isso é loucura...”

Mas Elsa parecia incapaz de ouvir qualquer coisa naquela situação.

“Esperem um momento.” disse a Rainha, de forma séria e pausada “Não haverá casamento algum.”

No mesmo instante, os risos animados de Anna cessaram.

Os instantes seguintes foram como ver algo se partindo lentamente em centenas de pedaços, e não poder fazer nada para impedir. Elsa pediu para conversar com Anna, e esta negou, parecendo indignada que a irmã não quisesse fazer isso diante de seu “noivo”, e então acusou a mais velha de não compreender o que era amor, já que tudo que sabia era manter as pessoas afastadas. Elsa pareceu perder grande parte de seu controle emocional neste momento.

“Você pediu por minha bênção, e a resposta é não.” disse a loira de forma decidida, e então prosseguiu em voz alta, para que todos ouvissem “A festa acabou, fechem os portões.”

Jack colocou a mão sobre o ombro da garota, e ela apenas lhe lançou um breve olhar de relance, antes de se afastar apressadamente dali.

“Amanhã ela vai estar mais calma.” disse o garoto de olhos azuis “Eu sei que vocês vão se entender...”

“Elsa, espere!”

Jack foi interrompido pela voz de Anna, cujo braço o atravessou no momento em que ela tentou segurar o pulso da irmã, arrancando-lhe a luva acidentalmente. Elsa olhou para a mais nova com uma expressão aterrorizada, e o garoto sabia o motivo: sem suas luvas, e nervosa do jeito que estava, as chances de algo ruim acontecer eram grandes.

“Elsa, por favor, eu não aguento mais viver desse jeito!” prosseguiu a ruiva.

Elsa olhou para a irmã por alguns instantes, e diversos sentimentos passaram rapidamente por seus olhos azuis: tristeza, dor, medo... Principalmente medo.

“Então vá embora.”

Aquelas palavras doeram. Em Elsa, por ter dito algo que soava tão cruel à irmã; em Anna, por sentir que, mais uma vez, estava sendo empurrada para longe do mundo da mais velha; em Jack, por saber o quanto ambas sofriam, e não poder fazer nada para mudar aquilo.

Elsa virou as costas, dirigindo-se à porta. Ela estava em seu limite... Apenas queria sair logo dali e trancar-se no seu quarto, onde não precisaria ter medo de ser descoberta. Precisava se afastar de todos, principalmente de Anna, antes que seus poderes fugissem do controle.

Mas, é claro, as coisas nunca eram fáceis demais para ela...

“O que eu fiz pra você?” ela ouviu a voz elevada de Anna atrás de si.

“Já chega, Anna...”

“Por quê?” voltou a questionar a mais nova “Por que você se afastou de mim?”

Elsa apertou os próprios braços, fechando os olhos com força, uma sensação de culpa preenchendo seu peito. Percebendo isso, Jack se aproximou dela, passando a empurrá-la cuidadosamente em direção às portas. A garota, porém, parecia perdida em seus próprios pensamentos, e nas palavras que acabara de ouvir, como se elas, cada vez mais, congelassem seu coração.

“Elsa, pare de se culpar!” ele disse a ela, em tom urgente “Vamos sair daqui, vocês podem conversar sobre isso depois...”

Ela abriu os lábios, como que para dizer algo em resposta, mas a voz de Anna a interrompeu antes mesmo que pudesse começar:

“Por que você se afastou de todos?”

Porque eles não podem saber que sou um monstro. Ela pensou.

“Do que você tem tanto medo?”

De te machucar novamente.

Memórias do dia em que atingira Anna com seu poder tomaram sua mente, intercaladas por frases como “você quer brincar na neve?”, o som de batidas na porta, risos da época em que ambas eram pequenas e ainda brincavam juntas...

Anna fazendo todas aquelas perguntas em voz alta, como se a odiasse.

“Eu disse chega!”

Sem pensar, Elsa se voltou para a irmã, e no mesmo momento, uma barreira de gelo pontiagudo se ergueu entre a loira e as demais pessoas. Elsa permaneceu parada por alguns segundos, e só então se deu conta de seu erro: todos olhavam para ela, aterrorizados, até mesmo Anna...

Principalmente Anna.

A loira recuou instintivamente, sentindo a porta às suas costas. Apressadamente, levou a mão à maçaneta, abrindo-a, correndo para longe dali.

Agora eles sabiam.

~*~

“Elsa, espere!”

Anna havia seguido sua irmã por todo o caminho até o rio, e sua necessidade de alcançar logo a mais velha fez com que ela nem mesmo prestasse atenção nos enormes cristais de gelo espalhados pelos corredores e pela entrada do castelo, às fontes congeladas do lado de fora, ou ao fato de Elsa estar andando sobre as águas do rio, em uma ponte de gelo que se estendia sob seus pés, e aumentava a cada passo. Anna tentou-seguir aquele mesmo caminho, mas escorregou assim que pisou sobre o gelo, caindo de frente, apoiada sobre as duas mãos.

Ela apenas permaneceu ali, caída sobre o chão congelado, observando aquela capa arroxeada desaparecer à distância.

“Elsa...” ela disse o nome da mais velha em voz baixa, ciente de que a irmã não voltaria, por mais que continuasse a chamá-la.

Tudo havia acontecido rápido demais, e de uma forma surpreendente demais... De repente, havia gelo em todos os lugares, e Elsa estava com uma expressão de puro terror em seu rosto.

Ela não conseguia entender... O que estava acontecendo?

O que sua irmã havia escondido dela por todos aqueles anos?

Para onde Elsa estava indo?

Como ela estava se sentindo?

Ela queria as respostas... Ela queria sua irmã de volta – um sentimento que a perseguia desde que era pequena, e que agora, havia se tornado muito mais forte, quase insuportável. E o pior de tudo: ela sentia que grande parte do que acontecera aquela noite havia sido sua culpa.

“Anna, veja!”

A voz de Hans chamou a atenção da ruiva, que em meio a toda aquela situação, quase havia se esquecido que o príncipe estava ao seu lado. Ela seguiu o olhar do maior, arregalando os olhos ao ver que a superfície congelada da água estava se estendendo rapidamente em todas as direções, congelando tudo em seu caminho. O ar ficou terrivelmente frio, e flocos de neve começaram a cair sobre eles, conforme um inverno não natural se espalhava por toda Arendelle.

Ela se lembrou novamente da expressão de Elsa, pouco antes desta sair correndo... Algo dentro de si lhe dizia que Elsa estava tão assustada com tudo aquilo quanto as outras pessoas, se não mais – muito mais.

“Eu preciso ir até ela...” murmurou a ruiva, em tom baixo, mas decidido.

Ela sentiu a mão de Hans apertar levemente seu ombro, e automaticamente, voltou seus olhos para o maior.

“Não, Anna.” disse ele, parecendo preocupado “É perigoso, e eu não quero que você se machuque.”

“Mas... Ela é minha irmã!” protestou a garota “Ela nunca iria me machucar, e além disso... Não posso deixá-la sozinha.”

Hans desviou seus olhos de Anna para as águas congeladas diante de si, permanecendo daquela forma por um tempo, como que pensativo. E então, ele fixou novamente seus olhos no rosto da menor, e disse em tom sério:

“Eu vou.”

~*~

“Elsa!”

Jack a seguiu durante todo o trajeto entre o castelo e as montanhas, mas em momento algum Elsa olhou para trás, como se estivesse mergulhada fundo demais no próprio desespero. Depois de um longo tempo, as forças da garota finalmente cessaram, e ela caiu de joelhos sobre o chão coberto de neve, exausta.

“Elsa...” Jack se abaixou ao lado dela, preocupado.

Ao observar o rosto da loira, percebeu que lágrimas se formavam nos cantos de seus olhos, apenas para correrem lentamente por seu rosto logo em seguida.

“Não deixe que saibam...” ela murmurou “Agora... todos sabem...”

“Não foi sua culpa...” ele disse, em tom gentil “Elsa, olhe pra mim.”

Ela levantou o rosto, olhando para o garoto de cabelos brancos

“Jack...”

Ele sorriu para ela, tentando animá-la.

“Sim, eu estou aqui.”

Mas Elsa não manteve seus olhos no garoto por muito tempo, passando a olhar ao redor com uma expressão quase assustada.

“Jack...?” ela repetiu.

Jack franziu o cenho, confuso com aquela estranha reação por parte da garota.

“Elsa... O que foi?”

Ela não respondeu, e nem mesmo olhou em sua direção.

“Onde está você?” ela voltou a perguntar, levantando-se, voltando a olhar ao redor.

Jack a seguiu com o olhar, sem saber o que fazer, ou ao menos o que pensar: aquilo não era uma brincadeira – Elsa não faria algo como aquilo, muito menos naquele tipo de situação. Jack se aproximou dela novamente, e a garota nem mesmo pareceu notá-lo.

“Jack...” ela voltou a chamar, e seu tom de voz era urgente, quase desesperado “Jack, não me deixe sozinha!”

“Do que você está falando...?” perguntou o garoto, tentando forçar um sorriso “Eu estou aqui, do seu lado.”

Jack se colocou à frente de Elsa, abrindo seus braços em uma tentativa de segurar a garota entre eles, para mostrar que ele estava ali e acalmá-la. Porém, o que ele menos esperava aconteceu...

Ela o atravessou.

Jack arregalou os olhos, sem conseguir acreditar no que havia acabado de acontecer. Ele olhou por cima do ombro, vendo que Elsa ainda olhava ao redor, chamando seu nome repetidamente.

“Não...” sua voz falhou ao se dar conta do que estava acontecendo “Não, não, não!”

Ele estava acostumado a não ser visto e nem ouvido, e a ser atravessado daquela forma por todos, mas...

“Elsa, não... Não você...”

Lágrimas correram pelo rosto da garota, que abraçou o próprio corpo, permitindo-se cair novamente sobre a neve, como se todas as forças a tivessem deixado.

“Jack!” ela voltou a chamar “Por favor, não me deixe! Eu não quero ficar sozinha!”

O garoto de olhos azuis se abaixou ao lado de Elsa, olhando para seu rosto.

“Você não está sozinha!” ele disse em tom alto, como se esperasse que, daquela forma, ela fosse capaz de ao menos ouvi-lo – Eu estou com você... Eu sempre vou estar com você! Eu te prometi isso, lembra?”

Ela não se mexeu, e nem deu qualquer sinal de que o havia ouvido. Jack baixou o rosto, sentindo que lágrimas também brotavam em seus olhos, as quais ele tentou ao máximo conter.

“Por que... Por que você foi embora...?” murmurou Elsa, levando as mãos ao rosto, soluçando baixo por um longo tempo.

Jack apenas a observou, e pela primeira vez, não tinha ideia alguma do que deveria fazer. Sentia-se fraco, incapaz, derrotado.

“Jack...” ela disse com a voz baixa e fraca, como se já tivesse perdido as esperanças de ser ouvida “Eu te amo...”

Aquelas palavras murmuradas por Elsa, que em qualquer outra situação teriam feito o garoto pular de alegria, naquele momento, pareceram perfurar seu peito como adagas afiadas. Ele levou sua mão ao rosto da mais nova, em uma tentativa de secar suas lágrimas; mas, como o esperado, não pôde tocá-la, e seus dedos apenas atravessaram sua pele, como se ela – ou ele – não estivesse ali. Ele cerrou os dentes, e sem conseguir mais contê-las, permitiu que as lágrimas corressem livremente por seu próprio rosto.

“Eu também Elsa...”

Jack nunca pensou que admitiria isso em uma situação como aquela. Nos livros que Elsa lhe mostrara, as declarações eram sempre momentos felizes, repletos de puro amor... Não deveria haver lágrimas... Não deveria haver dor.

Ele envolveu o corpo de Elsa com os braços, mas sem tocá-la, o que era o mais próximo de um abraço que ele poderia lhe oferecer naquele momento.

“Eu também te amo...” repetiu em voz baixa.

Ele desejou ter dito aquelas palavras antes.


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Notas finais do capítulo

Acho que nunca escrevi uma cena de declaração tão triste...
Enfim, como devem ter percebido, a partir daqui vou parar de seguir totalmente a historia de Frozen, e também darei um pouquinho mais de ênfase no lado "A Origem dos Guardiões" da historia. Comentei com duas pessoas sobre meus planos para essa fic, e elas pareceram gostar, mas também gostaria de saber a opinião de vocês sobre o rumo que as coisas estão tomando, ok? :)