Dançando Sobre o Gelo escrita por Lyria


Capítulo 5
Capítulo 5




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Com a exceção do dia em que machucara Anna acidentalmente, Elsa nunca havia sentido tanto medo em sua vida. Quando precisou tirar as luvas no fim da cerimônia, a garota acreditou que tudo estava acabado.

Mas, no fim, ela conseguiu conter seus poderes, e agora, todos dançavam e comemoravam alegremente diante de si, ignorantes quanto ao perigoso poder de sua nova líder.

“Eu disse que tudo ia dar certo.”

Elsa sorriu levemente ao ouvir a voz de Jack ao seu lado. Ela não olhava para ele, e também não dizia qualquer palavra, afinal, não queria que o povo de Arendelle pensasse que sua Rainha era uma lunática que conversava sozinha. Mas mesmo assim, saber que ele estava ali, perto de si, era reconfortante.

“Ei...” a voz de Jack chamou-lhe novamente a atenção “Aquela não é a sua irmã?”

Elsa olhou para o lado, apenas para ver que Anna vinha em sua direção – ou melhor, era levada para perto da mais velha, com uma expressão digna de alguém que está sendo obrigado a dividir seu espaço com um urso feroz. Elsa não podia culpá-la: havia quantos anos que não falavam uma com a outra? Ou pior, que mal olhavam uma no rosto da outra...?

Anna permaneceu ali, próxima a Elsa, parecendo totalmente desconfortável, enquanto lançava olhares de canto para a irmã vez ou outra. Estava claro que ela queria iniciar uma conversa, mas não sabia como fazer tal coisa.

“Fale com ela.” sugeriu o de cabelos brancos.

Por um momento, Elsa hesitou, mas logo sorriu levemente, concordando com um gesto quase imperceptível: aquela era a sua maior chance. Ela olhou para Anna de forma discreta, sentindo seu coração acelerar de ansiedade apenas por aquilo.

“Oi.” disse, finalmente.

Uma simples palavra que, à primeira vista, poderia parecer não ter muito significado, mas que fez com que a ruiva levantasse os olhos instantaneamente, encarando a mais velha com uma expressão incrédula.

“Oi... Pra mim?” perguntou, ligeiramente insegura.

Elsa concordou com a cabeça, sorrindo gentilmente. Como que incentivada por aquilo, Anna também sorriu, de uma maneira meio constrangida, mas, sem sombra de dúvidas, feliz.

“Oi.” respondeu a mais nova.

Jack sentiu que aquele era o momento certo para deixar que aquelas duas tivessem um momento para si próprias

“Divirta-se.” ele murmurou para Elsa, e então, se afastou voando. Obviamente, ele tinha vontade de ver as irmãs conversando e se divertindo juntas depois de tantos anos, mas ao mesmo tempo, sabia que Elsa também preferia as coisas desta forma: ela precisava de um tempo sozinha com a sua única família.

Ele flutuou despreocupadamente pelo castelo por um tempo, passando por entre os diversos convidados, ouvindo trechos das mais variadas conversas. Porém, nada o prendia por muito tempo, e logo ele voltava a voar por aí, buscando uma forma de distrair-se. Algum tempo depois, seu olhar pousou sobre um singelo casal, que dançava lentamente, longe dos olhos das demais pessoas, como se quisessem que aquele momento especial pertencesse apenas aos dois. Jack não pôde evitar sorrir ao vê-los, parecendo tão felizes e sonhadores apenas por estarem juntos.

“Seria bom se as pessoas pudessem me ver...” ele pensou consigo mesmo “Assim, eu e a Elsa poderíamos nos divertir desta forma, como um casal normal...”

Demorou alguns segundos para que o garoto de cabelos brancos finalmente se desse conta de seus próprios pensamentos: ele e Elsa, um casal? Por que ele estava pensando nisso? Não, ele quis dizer “como um casal normal de amigos”! Eles eram apenas grandes amigos, e...

E a quem ele estava tentando enganar?

Era verdade que, por muitos anos, ele vira Elsa como uma grande amiga... Mas havia um tempo – desde quando exatamente, Jack não saberia dizer – que ele não conseguia deixar de notar o quanto aquela garota era... incrível: inteligente, divertida, sincera, doce e linda – mesmo quando havia acabado de acordar, mesmo quando estava zangada por algo, ou quando tinha o rosto sujo de geléia, Elsa sempre estava linda.

Jack suspirou baixo, e se afastou daquele casal, voltando a flutuar lentamente por entre os convidados. Podia não ser evidente por causa de seu jeito tipicamente animado e despreocupado, mas não era a primeira vez que ele pensava sobre aquilo, e sobre como as coisas poderiam ser diferentes caso ele fosse um garoto normal: alguém com quem ela poderia conversar sem ter que disfarçar, ou andar de mãos dadas sem ser com o aparente vazio... Alguém que a fizesse feliz, alguém com quem ela pudesse passar a vida inteira...

“Eu nunca vou ser essa pessoa...” pensou desanimado, fazendo com que alguns minúsculos flocos de neve caíssem ao seu redor dentro do salão, surpreendendo a um atento senhor nobre, que decidiu que havia chegado a hora de parar de beber.

Mas o desânimo do garoto não durou muito, pois logo Jack se deu conta de um importante detalhe: se ele fosse uma pessoa normal, nunca teria aparecido à janela de Elsa mais de dez anos antes, não teria sido capaz de compreendê-la, e nem de conquistar sua confiança. Se ele fosse uma pessoa normal, mesmo que acabassem se conhecendo de outra maneira, Elsa teria medo de se aproximar dele... Eles nunca teriam ficado tão próximos.

Jack sorriu levemente: ele costumava odiar ser daquele jeito, diferente das outras pessoas; mas, naquele momento, ele agradeceu silenciosamente por ser exatamente quem era: Jack Frost, o garoto invisível que trazia nevascas por onde passava, e o melhor amigo da garota mais perfeita do mundo – mesmo com todos os defeitos inclusos.

Ele seguiu lentamente em direção à varanda, ainda pensando em tudo aquilo. Talvez, ele devesse dizer tudo aquilo à Elsa... Ele podia não ser um príncipe encantado, mas ela lhe dissera antes que não se importava com isso, e que apenas queria alguém que a aceitasse, entendesse e amasse...

E, se ele pudesse ser essa pessoa para ela, nada mais importava.

Da varanda, o garoto voou para o telhado, onde se sentou, observando distraidamente à paisagem ao seu redor, disposto a dar mais alguns minutos para que Elsa e Anna ficassem sozinhas antes de voltar para dentro. Arendelle era um belo lugar à noite, porém, era difícil encontrar algo que se destacasse em meio a todo aquele cenário monocromático.

Por isso, aquelas duas criaturas ruivas lhe chamaram tanto a atenção, apesar da distância em que se encontravam. Sem pensar muito, Jack se aproximou, e ao ver de quem se tratava, não pôde evitar surpreender-se.

“Anna...?”

Aquilo era estranho, Anna deveria estar com Elsa... A não ser que algo tivesse dado errado entre as duas... Não, aquilo era péssimo! Talvez, ter deixado as irmãs sozinhas não tivesse sido uma ideia tão boa...

Jack se aproximou um pouco mais, e então, se deu conta de que a pessoa ao lado de Anna era um homem alto e ruivo, que trajava vestes brancas e principescas.

De uma coisa, Jack tinha certeza: não havia gostado daquele cara. Talvez, isso se devesse às costeletas grandes demais, ou talvez, ao seu ar de garotinho mimado... Mas, na verdade, o que mais incomodou Jack foi o fato de seus gestos e palavras não parecerem naturais, como se ele tivesse decorado o roteiro de uma peça de teatro, e agora estivesse encenando em um gigantesco palco, para que todos acreditassem que ele realmente era o personagem perfeitinho que estava interpretando.

Jack balançou brevemente a cabeça, dizendo a si próprio que só estava se preocupando demais com a segurança da irmã de Elsa, e que aqueles pensamentos não tinham fundamento algum. Ele fez menção de deixar os dois sozinhos e voltar para perto da amiga, quando ouviu algo que o impediu de se afastar.

“Posso dizer uma loucura?” perguntou o rapaz, com um sorriso “Você quer se casar comigo?”

Jack olhou imediatamente para trás, os olhos arregalados: aquele idiota não podia estar falando sério, né? Os portões do castelo estiveram fechados até aquele dia, então era impossível que ele e Anna tivessem se conhecido anteriormente... Ele realmente esperava que ela aceitasse algo absurdo como aquilo?

Porém, ao contrário do que esperava, Anna abriu um largo sorriso ao ouvir aquele pedido.

“Posso dizer uma loucura maior ainda?” perguntou a ruiva, animadamente “Sim!”

“O quê?!”

Jack olhou para aqueles dois com uma expressão de pura incredulidade: o que Anna tinha na cabeça, afinal?

“Não, Anna!” disse ele em tom alto “Eu estou te falando, isso é uma péssima ideia... Você nem conhece esse cara!”

A garota, porém, não podia ouvi-lo, e agora falava animadamente sobre pedir a bênção de sua irmã, enquanto andava de braços dados com aquele... Aquele Príncipe das Costeletas Majestáticas, o qual agora ele estava certo de que detestava com todas as forças de sua existência.

Mas aquele não era o momento para perder tempo falando sozinho: ele precisava avisar Elsa do que havia acontecido, antes que Anna cometesse um erro gravíssimo por pura ingenuidade.

Algo dentro do garoto lhe dizia que aquilo não ia acabar bem.


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Notas finais do capítulo

Pensei que não ia conseguir postar hoje, mas milagres aconteceram, e cá estou. Finalmente, mais do ponto de vista do Jack... Ele é um bobo apaixonado. :D
Infelizmente, acho que todos sabemos o que está por vir... Alguém, por favor, afogue o Hans. ¬¬'