Dançando Sobre o Gelo escrita por Lyria


Capítulo 4
Capítulo 4




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Dois anos se passaram rápido. Elsa, agora com vinte e um anos, já tinha a idade certa para se tornar a Rainha de Arendelle. E era exatamente isso que ia acontecer aquele dia.

Pela primeira vez em anos, os portões do castelo seriam abertos para que todos pudessem estar presentes à cerimônia de coroação. Anna, de tão entusiasmada com a ideia, passou a manhã cantando alto – alto o suficiente para que Elsa e Jack a ouvissem do quarto.

“Ao menos alguém parece feliz...” comentou Jack, com um sorriso torto.

Ele olhou na direção de Elsa, que estava deitada de costas sobre a cama, uma expressão nada animada em seu rosto.

“Isso vai ser uma catástrofe...” disse a garota, como se estivesse prevendo o fim do mundo.

Jack riu baixo: quem visse a Rainha durante a cerimônia, com sua expressão madura e séria, jamais imaginaria que, por trás de toda aquela fachada, havia uma garota doce, insegura, e absurdamente amável. Ele se aproximou dela, sentando-se à beira de sua cama.

“Não precisa se preocupar tanto.”ele tentou acalmá-la “Você vai ser uma ótima Rainha.”

“Antes ou depois que eu congelar todo o castelo?” ela retrucou, colocando o braço sobre os olhos.

“Isso não vai acontecer.” insistiu o garoto, afastando o braço da outra de seu rosto, olhando-a nos olhos “Você vai conseguir controlar.”

Elsa entortou levemente os lábios, em uma expressão descrente, e então, agarrou seu travesseiro, colocando-o sobre o rosto.

“Elsa, você vai conseguir.” Jack a assegurou, começando a travar uma breve batalha pelo travesseiro com a garota, a qual ele acabou vencendo, para o desapontamento da outra.

“Mas, e se eu não conseguir?” ela perguntou, o medo evidente em sua voz “E se todos descobrirem? Eles... Eles vão me odiar! Anna vai me odiar...”

Como sempre, o maior medo da loira tinha ligação com sua irmã mais nova. Jack sabia o quanto Elsa amava a ruiva, e por isso, compreendia seu medo.

“A Anna nunca vai te odiar, Elsa.” ele disse, e realmente acreditava naquilo “Vocês são irmãs! E, sério... Eu não consigo imaginar a Anna odiando qualquer pessoa, muito menos você.”

Ao ouvir aquilo, um meio-sorriso surgiu nos lábios de Elsa.

“Ela é gentil demais pra isso, não é?” perguntou a loira, o carinho que sentia pela irmã evidente em suas palavras.

“Sim, ela é.” confirmou Jack.

O sorriso de Elsa durou alguns segundos, até que sua expressão voltou ao desânimo somado a um leve desespero. Em um rápido movimento, ela arrancou o travesseiro da mão de Jack, voltando a colocá-lo sobre sua cabeça, pequenos cristais de gelo surgindo onde seus dedos tocavam o tecido.

“Isso só pode ser um pesadelo...” resmungou ela.

Jack, mais uma vez, precisou conter seu riso. Fazia tempo que ele não via Elsa agir daquela forma, como uma criança birrenta.

“Elsa,vai dar tudo certo.”ele voltou a tentar convencê-la “Tente acreditar mais em você mesma, está bem?”

Alguns silenciosos instantes se passaram, até que, em meio a um suspiro baixo, Elsa voltou a afastar o travesseiro de seu rosto, olhando para o garoto à sua frente com uma leve expressão de derrota.

“Está bem...” disse ela, baixinho “Eu vou tentar.”

O sorriso no rosto de Jack se alargou ao ouvir aquilo.

“É assim que se fala, garota!” disse ele, segurando-a pela mão, ajudando-a a se levantar da cama “Então, vamos lá!”

Ele a puxou animadamente em direção à porta, enquanto Elsa tentava manter-se no lugar.

“Não, Jack...” ela disse, com certa urgência.

“Não podemos perder tempo...” prosseguiu o garoto de cabelos brancos “Temos uma Rainha para ser coroada!”

“Jack...” ela insistiu “Jack, espera!”

Com algum esforço, ela conseguiu se soltar do outro, que a olhou com uma expressão confusa.

“Qual o problema?” ele perguntou “Não me diga que mudou de ideia...”

“Não, não é nada disso!” a loira se apressou a explicar “É que eu não posso aparecer diante de todos desse jeito.”

Ela indicou a si própria com as mãos: ainda usava sua roupa de dormir, e seu cabelo mais parecia um ninho de passarinhos logo depois de ser atingido por um tornado. Jack olhou para ela por algum tempo, e então, deu de ombros.

“Não vejo nada de errado.”

E o pior, era que ele falava sério: às vezes, o garoto de cabelos brancos se mostrava bem pouco apegado a esses detalhes que muitos julgavam importantes... E por que, afinal, Elsa achava isso fofo?

“Talvez você não veja, mas todos os outros verão...” ela tentou explicar “Além disso, eu vou ser a Rainha, então... Preciso me arrumar como uma.”

“Ah, está bem...” finalmente, Jack cedeu, embora ainda achasse aquilo desnecessário “Vá em frente, se arrume.”

Ele permaneceu ali, olhando para ela tranquilamente, como se esperasse que ela rodopiasse no mesmo lugar, e em um passe de mágica, estivesse transformada na maravilhosa Rainha Elsa de Arendelle que todos esperavam encontrar.

“Jack...” ela voltou a dizer, o tom de voz ligeiramente sem graça.

“Sim?”

“Eu vou precisar trocar de roupa.”

“Oh.”

O garoto arregalou levemente os olhos ao ouvir aquilo, e Elsa teve certeza de que, se ele não estivesse fadado a ser eternamente pálido como a neve, seu rosto estaria com um tom vermelho vivo naquele momento. Ela não pôde evitar achar certa graça naquilo, mas conseguiu impedir que isso transparecesse em seu rosto.

“Ah, claro...” disse ele, levando a mão ao pescoço, como sempre fazia quando estava sem jeito, enquanto tropeçava nas próprias palavras “Claro que precisa... Não, tudo bem! Eu... Eu vou, ahn... Esperar lá fora...”

E de novo, lá estava ela, achando seu melhor amigo fofo...

Elsa apenas sorriu e confirmou com a cabeça. Jack se dirigiu apressadamente às portas fechadas, atravessando-as como se fosse um fantasma. Apenas naqueles momentos, Elsa se lembrava de que Jack não era um humano como ela: ele não era visto pela maioria das pessoas, podia voar, atravessar objetos, e também não envelhecia.

Não envelhecia...

Elsa pensou brevemente sobre aquilo: um dia, ela ficaria velhinha e enrugada, e Jack continuaria sendo aquele mesmo garoto de sempre, com a mesma aparência de sempre.

E, um dia, ela não estaria mais ali ao lado dele; um dia, ela teria que deixá-lo sozinho, mesmo que não quisesse. Ele voltaria a ser o garoto solitário de antes, assim como ela costumava ser antes de conhecê-lo.

Pensar naquilo a entristecia profundamente.

“Não, eu não tenho que pensar nisso agora.” disse a si mesma, abrindo seu guarda-roupas com mais força que o necessário, buscando ali dentro o vestido que usaria na cerimônia “Primeiro, eu preciso me preocupar em não congelar todo o castelo.”

Ela colocou aquele longo vestido verde-azulado, de mangas negras e compridas. Depois, parou diante do espelho, onde penteou seus cabelos, prendendo-os em um penteado parecido com o que sua mãe costumava usar. Olhou novamente para seu reflexo, e só então, pareceu entender completamente o quanto aquele dia mudaria a sua vida.

“Eu vou ser a Rainha.” murmurou “Rainha, assim como a minha mãe foi.”

Ela levou, quase que inconscientemente, seus dedos à superfície lisa do espelho; porém, assim que o tocou por um único momento, cristais de gelo começaram a surgir naquele local. Rapidamente, ela se afastou, não conseguindo conter uma súbita onda de temor: e se ela fizesse o mesmo durante a cerimônia?

“Se acalme, Elsa...” ela respirou profundamente uma única vez “Esconda, não deixe que saibam.”

Dizendo isso, ela pegou um par de luvas que combinava com a cor de seu vestido, e colocou-as. Por último, vestiu uma fina capa de seda roxa sobre os ombros.

Estava pronta.

Ela se aproximou da porta de seu quarto, porém, em vez de abri-la, bateu sobre sua superfície algumas vezes. Deu certo: instantes depois, a cabeça de Jack surgiu ali, diante de si. O garoto, porém, tinha os olhos fechados.

“Você está usando roupas, não está?” perguntou ele.

“É claro que estou.” ela apertou levemente o nariz do outro “Pode olhar.”

Jack abriu apenas um olho de início, porém, ao ver a garota, fez o mesmo com o outro, observando-a de cima a baixo, visivelmente surpreso.

“Pareço uma Rainha?” ela perguntou, afastando-se um passo, para que o outro pudesse vê-la melhor.

Jack atravessou completamente a porta, passando a andar lentamente ao redor de Elsa, como se a analisasse minuciosamente. Após alguns instantes, ele parou novamente diante dela.

“E então...?” ela voltou a perguntar “O que acha?”

Ele levou brevemente a mão ao queixo, como se estivesse pensando profundamente sobre aquilo. E então, sorriu.

“Eu acho que todas aquelas pessoas lá embaixo vão amar a nova Rainha.” respondeu, levando a mão ao rosto dela “Você está incrível.”

Ela baixou os olhos, rindo um pouco sem jeito, pousando sua mão sobre a do garoto, sentindo que seu coração se acalmara um pouco apenas com aquilo.

“Espero que você esteja certo.” ela murmurou.

“Eu sempre estou certo.”

Elsa olhou para ele, forçando uma expressão incrédula.

“Convencido...”

Jack apenas riu baixo, e então, ambos olharam quase que simultaneamente para a porta do quarto, como se aquela fosse a última barreira entre a antiga vida de Elsa, e seu futuro como líder de toda Arendelle.

“Está pronta?” perguntou Jack, que apesar de toda a animação, se preocupava com a loira.

“Eu tenho que estar.”

Com esta simples resposta, Elsa dirigiu-se à porta. Mas, antes de abri-la, olhou mais uma vez para Jack.

“Você vai estar ao meu lado, não vai?” aquilo era meio uma pergunta, meio um pedido.

“Como sempre.”

Jack piscou para ela, que sorriu aliviada. Em seguida, ela pousou suas duas mãos sobre a porta, abrindo-a. Diante dos diversos servos, que a esperavam a apenas alguns metros de distância, ela adquiriu a postura e a expressão que sempre usava diante das outras pessoas, dignas da princesa e filha perfeita – e agora, da Rainha perfeita. Dentro de si, porém, ela ainda era uma confusão de sentimentos, duvidas e medo, os quais já a teriam consumido completamente se ela não tivesse alguém para apoiá-la ao seu lado.

“Abram os portões.” ordenou.

Não havia mais como voltar atrás.


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Notas finais do capítulo

E eles, pra variar, são dois lerdos.
Meu tempo para escrever vai ficar bem reduzido essa semana, mas acho que consigo manter esse ritmo de um capítulo por dia, ou, no máximo, a cada dois dias.