Dançando Sobre o Gelo escrita por Lyria


Capítulo 2
Capítulo 2




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Elsa, que agora já tinha dezesseis anos, estava concentrada lendo um livro que ganhara dos pais anos antes, quando leves batidas à sua janela lhe chamaram a atenção. Ao olhar naquela direção, ela foi capaz de ver o garoto de cabelos brancos que flutuava do lado de fora.

“Jack!” disse ela, levantando-se apressadamente de sua poltrona, abrindo a janela.

“Bom dia, Princesa de Arendelle.” disse ele, em tom ligeiramente provocativo.

“Bom dia, irritante espírito da neve.” respondeu ela, no mesmo tom.

“Será que poderia me conceder a honra de entrar em seu quarto?” prosseguiu ele, dando continuidade àquela brincadeira de formalidades.

“Devo recusar, meu caro senhor.” disse a loira, balançando brevemente a cabeça “Sinto que já tenho gelo o suficiente em meu quarto no momento.”

Jack olhou para dentro do cômodo, percebendo que era verdade: havia cristais de gelo por toda a parede atrás da poltrona onde Elsa estava sentada.

“Wow...” disse o garoto, rindo baixo “O livro devia estar mesmo interessante.”

“Ele é maravilhoso!” respondeu a menor, animadamente “Já é a décima vez que estou lendo!”

“Hum, parece bom...”

Elsa concordou entusiasmadamente com a cabeça.

“Então... Você vai me deixar entrar agora?”

“Oh!”

Ao falar do livro, Elsa quase havia se esquecido de convidar o amigo para dentro. Ela deu um passo para o lado, e fez sinal com a mão para que Jack entrasse, e o maior o fez.

“Pensei que fosse me deixar congelando lá fora.” reclamou o de cabelos brancos.

“Você nem sente frio...” retrucou Elsa.

“O que vale é o sentimento.” insistiu Jack “E você acabou de congelar os meus.”

“Mas eu te deixei entrar, não deixei?” Elsa apertou levemente o nariz do outro “Então deixe de ser reclamão, ou te coloco pra fora.”

“Está vendo? É disso que eu estou falando...”

Após aquela breve “discussão”, Elsa e Jack se dirigiram à cama da menor, onde se sentaram lado a lado – já estavam mais do que acostumados com a presença um do outro, o suficiente para se sentirem à vontade quando estavam juntos.

“E então...” disse Jack, lançando um breve olhar para a poltrona onde Elsa estava até pouco antes “Sobre o que era o livro?”

“Ah!” rapidamente, Elsa se levantou, pegando o livro, entregando-o a Jack ao se sentar novamente ao seu lado “É um conto de fadas bem conhecido.”

“A Bela e a Fera...” Jack leu o título em voz alta “Qual é a historia?”

Elsa sorriu levemente: o fato de Jack não conhecer uma historia famosa como aquela não lhe surpreendia.

“É a historia de amor entre uma menina e um príncipe amaldiçoado.” explicou ela.

“Amaldiçoado?” Jack franziu o cenho “Ei, não me diga que ele é a tal ‘fera’...”

“Exato!” confirmou Elsa “Ele era o príncipe mais rico e belo de todo o mundo, mas foi amaldiçoado por ter um coração tão frio quanto o gelo.”

“Ah...” Jack riu sem graça “Então, espero não ser amaldiçoado também...”

“Jack!” Elsa o chamou, em tom de censura “Você pode ser tão gelado quanto a neve, mas seu coração não é frio, disso eu tenho certeza!”

Dizendo isso ela colocou a mão sobre o peito do garoto, e sorriu.

“Se fosse, você não seria o meu melhor amigo...” completou, em tom baixo.

Jack retribuiu o sorriso, levando sua mão à da outra, segurando-a carinhosamente. Eles trocaram algumas palavras silenciosas através de seus olhos, até que Elsa voltou ao que dizia:

“Mas então, depois disso...”

Ela passou a narrar detalhadamente a historia do livro, e Jack a ouviu com toda a atenção do mundo, divertindo-se com o jeito empolgado de Elsa falar sobre o que gostava – um lado da garota que ninguém além dele conhecia. Além disso, Elsa era uma ótima contadora de historias, e logo ele estava tão absorto quanto ela naquele conto.

“E então, eles finalmente se casam, e comemoram dançando juntos no salão de seu belíssimo castelo.” narrou Elsa, parecendo sonhadora “Ah, e é claro, eles viveram felizes para sempre.”

“Ah, já acabou?” perguntou Jack, um tanto desapontado “Que pena, eu gostei da historia...”

“É linda, não é?” perguntou Elsa, sorridente “É o meu livro favorito!”

Ela abraçou brevemente o livro contra o peito, mas logo o soltou, com medo de que ele acabasse congelando. Após colocá-lo a salvo em sua estante, ela voltou para perto de Jack, as bochechas levemente rosadas de contentamento. Para ela, momentos como aquele, onde podia falar sobre o que quisesse com a única pessoa no mundo que a entendia, eram os melhores momentos de sua vida.

“Jack...” disse ela, olhando para ele pelo canto dos olhos “Se eu te contar uma coisa, você promete não rir de mim?”

“Eu posso tentar...” arriscou ele.

Elsa forçou uma expressão ligeiramente emburrada para ele.

“Está bem, está bem...” disse o maior, rindo baixo “Prometo não rir.”

A menina respirou fundo, como que reunindo coragem para falar.

“Quando eu era pequena, antes mesmo de te conhecer...” começou ela “Eu ficava sempre sozinha aqui neste quarto, e por isso, meu pai começou a me dar livros de presente.”

Ela sorriu levemente, perdida em meio à lembrança, e então, prosseguiu:

“Este foi um dos primeiros que li, e me encantei por ele imediatamente... Não porque era uma historia de romance, ou porque tinha um príncipe e um castelo encantado... Eu me apaixonei pela historia porque ela me fazia imaginar que um dia, alguém iria aparecer para mim.”

Ela baixou os olhos, Jack a observou em silêncio.

“Não precisava ser um príncipe ou uma princesa, não precisava ser bonito ou rico...” continuou a garota, em tom baixo “A única coisa que eu queria, era alguém que visse o que há por trás de todo esse gelo... Alguém que me aceitasse, mesmo sabendo que eu não sou como as outras pessoas... Alguém que eu não precisasse ter medo de machucar.”

Ela levantou seu rosto, olhando nos olhos do garoto ao seu lado.

“Eu só queria ser amada, como a ‘fera’.”

Os dois se entreolharam por um longo tempo, sem dizer qualquer coisa. Sentindo-se subitamente constrangida por suas palavras, Elsa forçou um sorriso.

“E então, eu e essa poderíamos dançar juntos, como no livro.” disse ela “E viver felizes para sempre.”

Ela riu baixo do próprio sonho infantil, e esperava que Jack acabasse por fazer o mesmo. Porém, o garoto de olhos azuis se levantou de cama, e para a surpresa da garota, se colocou diante dela, estendendo-lhe a mão.

“O que...?” ela perguntou, confusa.

Jack olhou para o lado, visivelmente sem jeito.

“Eu posso dançar com você, se você quiser.”

Pega de surpresa por aquelas palavras, Elsa ficou em silencio por alguns instantes, o que apenas piorou a situação de Jack.

“Só se você quiser, é claro...”

Elsa sentiu o rosto arder levemente ao perceber que não havia entendido errado o que o maior dissera, e tentou disfarçar isso baixando levemente a cabeça.

“Eu não sei dançar.” admitiu a garota.

“E quem disse que eu sei?” retorquiu Jack.

Elsa levantou seu rosto, ao mesmo tempo em que Jack voltava a olhar em sua direção. Os olhos de ambos se encontraram, e entre toda a vergonha que sentiam, permitiram-se sorrir levemente um para o outro. Sem dizer nada, Elsa segurou a mão de Jack, levantando-se da cama, ficando diante dele, suas mãos ainda unidas.

“Mas... Não tem música.” ela lembrou.

“Bem... Você pode cantar uma das suas favoritas.” sugeriu o garoto.

“Isso seria constrangedor demais...”

“Mais do que dançar sem música?”

Elsa pensou brevemente sobre aquilo.

“Acho que não.” acabou por dizer.

Ela deu uma breve tossidinha, e após alguns instantes, começou a cantarolar baixinho. Ela e Jack tentaram se mover no ritmo da música, mas segundos depois, já haviam tropeçado nos pés um do outro, e quase caído. Desajeitadamente, eles voltaram a tentar, e desta vez, Elsa pisou no pé do de cabelos brancos.

“Desculpe!” disse, afastando-se.

“Que bom que você é magrinha...” resmungou o maior.

“Acho que isso não está dando certo...”

Ela fez menção de se afastar mais um passo, mas Jack a segurou pela mão.

“Claro que não está...” disse ele “Você está se mexendo como uma pedra.”

“Eu disse que não sei dançar.” lembrou a menina.

“Você não precisa saber.” Insistiu Jack “Eu só quero que você se divirta.”

Elsa entortou levemente os lábios, mas não discutiu. Jack percebeu que a estava convencendo.

“Vamos tentar mais uma vez.” disse ele.

Meio a contragosto, Elsa se aproximou novamente de Jack. Ela voltou a cantarolar baixinho, mas logo o garoto a interrompeu.

“Você canta muito baixo.” reclamou ele “Eu mal consigo ouvir.”

“Minha voz é horrível, Jack...”

“Pior que a minha, certamente, não é.”

Após dizer isso, Jack começou a cantar uma música popular entre as crianças dali, e sua voz soou tão desafinada que Elsa começou a rir. Pouco depois, ela tentou cantar novamente, arriscando a primeira estrofe de uma música em voz alta. Ao receber um sorriso de incentivo, ela prosseguiu.

Conforme ela cantava, os dois passaram a se mover, bem lentamente de início. Ambos ainda eram desajeitados, mas por algum motivo, não se importavam mais tanto com isso.

“Tá, sua voz é incrível...” disse Jack, após algum tempo “Mas você ainda é péssima dançando.”

Elsa arqueou uma sobrancelha, e lançou-lhe um olhar que dizia claramente “você é tão ruim quanto eu”. Jack riu baixo: na verdade, para dois péssimos dançarinos, até que eles não pareciam estar indo tão mal. Quando pararam de tropeçar nos pés um do outro, tentaram passos um pouco mais elaborados, aumentando gradativamente a dificuldade.

Um longo tempo se passou daquela forma, em meio a canto, dança e risos, e antes que se dessem conta, ambos se moviam em perfeita sincronia, quase como se pudessem ler a mente um do outro.

Naquele momento, não havia mais nada no mundo além dos dois.


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Notas finais do capítulo

Um pouco de açúcar, e alguns climas estranhos. Se tudo der certo, devo postar o terceiro capítulo amanhã.
Espero que estejam gostando. :)