Dear Gringo escrita por Gaby Molina
Notas iniciais do capítulo
Vocês amando a Bianca s2 (sqn, haushaush)
Bianca
O arrepio conhecido e bem-vindo passou por todo o meu corpo, especialmente onde Will encostava.
— Senti sua falta — ele sussurrou, encostando a própria testa na minha.
— Ah, claro. Porque, afinal, você não encosta em mim desde... Vamos ver... Ontem? — provoquei, sorrindo levemente.
Ele riu um pouco.
— Tempo demais.
— Vamos tirar o atraso, então — e o beijei novamente.
Allison
Eu aprendera algo em meus anos de escola: sempre sabia quando um professor estava prestes a me mandar para a diretoria. Portanto, já coloquei minhas pernas para o lado enquanto esperava o ultimato da professora de Português.
— Eu juro que ela estava atrás de mim, nós... — defendi, sem muita esperança.
Foi quando Bianca entrou na sala. Parecia ter sido atacada pelo furacão Katrina, mas entrou.
— Desculpe o atraso — pediu ela baixinho e sentou-se.
— Tudo bem. Peruzzo, o que está esperando?
— Hã... Você me expulsar, acho.
— Hoje, não. Fique sentada e trate de manter-se quieta.
Assenti e tentei prestar atenção no que a mulher estava falando. Não obtive muito sucesso.
— Onde você se meteu?! — sussurrei para Bianca, erguendo uma sobrancelha.
Ela mordeu o lábio.
— Érrr...
— PERUZZO!
— Eu não estou fazendo nada! — lamuriei-me, deitando a cabeça na mesa.
Isaac
— Ficou sabendo da festa de Carnaval? — Clara me perguntou depois da aula.
— Hoje é meu primeiro dia, Clara.
— Isso não é desculpa — ela sorriu. — É no sábado à noite, no ginásio.
— Como o Prom?
— Não temos esses bailes aqui — ela deu de ombros. — Basicamente, tem muita comida e música ruim.
— Então é exatamente como o Prom — eu ri. — Música ruim tipo Nicki Minaj ou algo do gênero?
— Tipo Calypso — ela corrigiu.
— O que é isso?
— Confie em mim, você não quer saber.
— E... tem um esquema de pares, ou algo do tipo, nessa festa?
— Na verdade, não.
— Que pena.
Clara ergueu uma sobrancelha, fitando-me com seus grandes olhos escuros.
— Por quê?
— Porque eu estava prestes a convidar você.
Ela abriu um leve sorriso entretido.
— Você não perde tempo, não é, gringo?
— Jamais — sorri também. — Vejo você no sábado?
Ela riu e eu pisquei, me afastando. Foi mais fácil do que eu imaginara.
* * *
— Como foi o primeiro dia, queridos? — a Dona Cláudia, cuja casa eu e Emily estávamos hospedados por causa do intercâmbio, perguntou na hora do jantar.
— Pergunta direito, Cláudia — Seu Flávio me encarou. — What first day in school are, baby?
Eu não sei o que aquilo era, mas não era Inglês.
— It was good (Foi bom) — respondi, sem me importar. — Actually, the classes sucked, specially Math. Oh, and I also made friends, robbed a bank and got a llama pregnant (Na verdade, as aulas foram uma droga, especialmente Matemática. Ah, e eu também fiz amigos, roubei um banco e engravidei uma lhama).
Emily me deu uma cotovelada.
— Good! — Seu Flávio sorriu.
Eu sorri de volta, fitando minha irmã.
— Good! — repeti.
* * *
Quando cheguei à escola no dia seguinte, corri para o pátio para ouvir música em paz, mas ele estava lotado. O único lugar vazio era num banco ao lado de Allison Peruzzo, que fitava o nada com uma expressão sentimental no rosto.
Não. Ela não fitava o nada.
— Você é um fucking clichê, sabia disso? — falei, me sentando. — A garota estranha apaixonada pelo garoto popular bonitão. Que original.
— Vá se foder — ela resmungou.
— Estou falando sério. Você deveria fazer algo sobre isso.
Ela me ignorou, continuando a fitar Will, que jogava ping pong.
— Ele nem é tão bom assim — resmunguei.
— Ele ganhou as últimas seis partidas. Não que esteja contando.
Allison
Isaac riu. Não uma risada sarcástica ou presunçosa. Simplesmente uma risada. Fitei-o por um momento, surpresa ao descobrir sua capacidade de sorrir como uma pessoa normal.
— Por que não convida ele para a festa de carnaval?
— Porque não é um baile, Isaac.
— Eu convidei a Clara e pareceu funcionar muito bem.
— Clara? Clara Albuquerque? — indaguei. Ele deu de ombros. — Você não sabe o sobrenome dela, sabe?
— Qual a diferença?
— Toda a diferença do mundo. O que mais não sabe sobre ela?
— Sei o que preciso saber — ele murmurou, entrando na defensiva.
Em outras palavras, sabe que ela é gostosa, pensei comigo mesma.
— Já que é assim, boa sorte — abri um sorriso presunçoso. — Vou deixá-lo fazer sua mágica.
Quando me levantei, ele me puxou pelo pulso com mais força do que seria educado.
— Allison, o que você não está me contando?
— Nada — dei de ombros, ainda sentindo seus olhos acizentados cravados em mim por trás dos óculos com lente anti-reflexo. — Tchauzinho, Geymer.
Isaac
Aquela garota era uma passagem só de ida para um manicômio, então resolvi mantê-la longe de minha mente.
O que não foi muito difícil, devido ao fato de que Clara sentava-se na minha frente e eu podia passar o dia todo flertando com ela sem ter que me preocupar em mudar de sala.
Quando o sinal do recreio tocou, passei pela mesa dela e derrubei seu lápis de propósito.
— Deixou cair seu lápis — sorri, me abaixando para pegá-lo. — Mas como eu sou um perfeito cavalheiro, aqui está.
Os olhos escuros dela me fitaram por um minuto, intrigados.
— Sabe, Isaac, se você não fosse tão bonito, eu provavelmente te bateria agora.
Sorri. Ela me chamava de Izáque, mas eu não me importava.
...
A quem eu estava querendo enganar? Era uma bosta mesmo que fosse a Megan Fox dizendo.
— A culpa é da minha mãe.
— Ela está nos Estados Unidos?
— Ela morreu — falei, e vi a cara dela assumir o tom de pena com o qual eu já estava acostumado. — Não, tudo bem.
— Eu... Eu não... Desculpe, eu jamais teria...
— Eu sei — forcei um sorriso. — Vejo você depois.
Coloquei o lápis na carteira dela e corri para o refeitório. Olhei para o céu e agradeci minha mãe pelos bons genes.
— Agradecendo a Oxum por mais um dia? — disse aquela voz aguda e irritante atrás de mim.
— Eu não faço ideia de o que você acabou de dizer.
— Você nunca entende minhas piadas — Allison choramingou. — Isso não é legal.
— Pobre você. Você não tem outra pessoa para atazanar?
— Uma lista, na verdade. Como vai com a Albuquerque?
— Muito bem, obrigado.
Ainda com a sensação de que ela sabia de algo que eu não sabia, Allison sorriu e saiu andando. Comecei a repassar opções, mas não consegui pensar em nada sobre Clara que poderia colocar aquele sorriso diabólico nos lábios da Peruzzo.
Clara estava parada no corredor, então me aproximei.
— Pensando na vida? — perguntei.
Ela deu de ombros.
— Algo assim.
— Sábado ainda está de pé, certo? — cravei meus olhos nela, me aproximando.
Nenhuma garota conseguia recusar quando eu lançava aquele olhar, e Clara Albuquerque não seria a primeira.
— Claro — ela abriu um leve sorriso.
Aproximei-me e beijei sua bochecha. Perigosamente perto dos lábios.
— Hum, Isaac...
— Não fale.
— Não, é que...
Percebi que seu olhar não estava em mim. Espere, por que uma sombra estava se formando acima da gente?
Olhei para trás com receio e um punho acertou meu lábio. Levei a mão até a ferida, sentindo o sangue escorrer. Minha visão embaçou um pouco.
— O que acha que está fazendo com ela, babaca?!
Eu não tinha muita certeza de o que babaca significava, mas parecia ou nome de comida, ou um nome vulgar para o órgão genital feminino, ou um xingamento. Ou todas as opções.
— E você é...? — perguntei com a visão meio embaçada.
Depois de um momento percebi que meus óculos haviam voado longe. O agressor se aproximou e minha visão entrou mais em foco. Um fato sobre os negões marombados de dois metros de altura do Brasil: eles eram bem mais assustadores.
— Cale a boca ou vai levar outra.
— Ah, bom dia, Jonah — Allison brotou do nada e sorriu para o cara. — Vamos, Geymer.
— Allison, o que...?
— Isaac, vamos.
Seu tom não me deixou espaço para discutir. Ela me empurrou sem nenhuma delicadeza pelo corredor.
— Era disso que eu estava falando. Jonah Dunsimi Chinelo.
— Chinelo? — repeti.
— A família dele veio direto da Nigéria para cá — contou ela. Isso explicava muita coisa. — "Chinelo" significa "pensamentos de Deus" em sei lá que língua que eles falam lá*.
— Como sabe disso?
— Sei disso porque sou estranha, Geymer — ela cuspiu a frase em mim.
— Enfim, o que isso tem a ver com a Clara?
— Eles namoraram. Ela deu o pé na bunda dele, mas ele continua tratando-a como se fosse dono dela e não deixa ninguém chegar perto.
— Com "pé na bunda" você quer dizer...?
— She dumped him (Ela deu o pé na bunda dele) — traduziu ela.
— So much better (Muito melhor) — sorri. Não deveria ter feito isso, porque me lembrou da ferida no lábio.
— A enfermaria é no fim do corredor.
— Aonde você vai?
— Para a aula, ué.
Eu não estava esperando nada diferente vindo dela, então apenas observei-a se afastar.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
*É verdade, juro. Podem pesquisar.