Dear Gringo escrita por Gaby Molina


Capítulo 4
Capítulo 4 - Um soco para mostrar quem manda — e não é o Isaac


Notas iniciais do capítulo

Vocês amando a Bianca s2 (sqn, haushaush)



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Bianca

O arrepio conhecido e bem-vindo passou por todo o meu corpo, especialmente onde Will encostava.

— Senti sua falta — ele sussurrou, encostando a própria testa na minha.

— Ah, claro. Porque, afinal, você não encosta em mim desde... Vamos ver... Ontem? — provoquei, sorrindo levemente.

Ele riu um pouco.

— Tempo demais.

— Vamos tirar o atraso, então — e o beijei novamente.

Allison

Eu aprendera algo em meus anos de escola: sempre sabia quando um professor estava prestes a me mandar para a diretoria. Portanto, já coloquei minhas pernas para o lado enquanto esperava o ultimato da professora de Português.

— Eu juro que ela estava atrás de mim, nós... — defendi, sem muita esperança.

Foi quando Bianca entrou na sala. Parecia ter sido atacada pelo furacão Katrina, mas entrou.

— Desculpe o atraso — pediu ela baixinho e sentou-se.

— Tudo bem. Peruzzo, o que está esperando?

— Hã... Você me expulsar, acho.

— Hoje, não. Fique sentada e trate de manter-se quieta.

Assenti e tentei prestar atenção no que a mulher estava falando. Não obtive muito sucesso.

— Onde você se meteu?! — sussurrei para Bianca, erguendo uma sobrancelha.

Ela mordeu o lábio.

— Érrr...

— PERUZZO!

— Eu não estou fazendo nada! — lamuriei-me, deitando a cabeça na mesa.

Isaac

— Ficou sabendo da festa de Carnaval? — Clara me perguntou depois da aula.

— Hoje é meu primeiro dia, Clara.

— Isso não é desculpa — ela sorriu. — É no sábado à noite, no ginásio.

— Como o Prom?

— Não temos esses bailes aqui — ela deu de ombros. — Basicamente, tem muita comida e música ruim.

— Então é exatamente como o Prom — eu ri. — Música ruim tipo Nicki Minaj ou algo do gênero?

— Tipo Calypso — ela corrigiu.

— O que é isso?

— Confie em mim, você não quer saber.

— E... tem um esquema de pares, ou algo do tipo, nessa festa?

— Na verdade, não.

— Que pena.

Clara ergueu uma sobrancelha, fitando-me com seus grandes olhos escuros.

— Por quê?

— Porque eu estava prestes a convidar você.

Ela abriu um leve sorriso entretido.

— Você não perde tempo, não é, gringo?

— Jamais — sorri também. — Vejo você no sábado?

Ela riu e eu pisquei, me afastando. Foi mais fácil do que eu imaginara.

* * *

— Como foi o primeiro dia, queridos? — a Dona Cláudia, cuja casa eu e Emily estávamos hospedados por causa do intercâmbio, perguntou na hora do jantar.

— Pergunta direito, Cláudia — Seu Flávio me encarou. — What first day in school are, baby?

Eu não sei o que aquilo era, mas não era Inglês.

It was good (Foi bom) — respondi, sem me importar. — Actually, the classes sucked, specially Math. Oh, and I also made friends, robbed a bank and got a llama pregnant (Na verdade, as aulas foram uma droga, especialmente Matemática. Ah, e eu também fiz amigos, roubei um banco e engravidei uma lhama).

Emily me deu uma cotovelada.

Good! — Seu Flávio sorriu.

Eu sorri de volta, fitando minha irmã.

Good! — repeti.

* * *

Quando cheguei à escola no dia seguinte, corri para o pátio para ouvir música em paz, mas ele estava lotado. O único lugar vazio era num banco ao lado de Allison Peruzzo, que fitava o nada com uma expressão sentimental no rosto.

Não. Ela não fitava o nada.

— Você é um fucking clichê, sabia disso? — falei, me sentando. — A garota estranha apaixonada pelo garoto popular bonitão. Que original.

— Vá se foder — ela resmungou.

— Estou falando sério. Você deveria fazer algo sobre isso.

Ela me ignorou, continuando a fitar Will, que jogava ping pong.

— Ele nem é tão bom assim — resmunguei.

— Ele ganhou as últimas seis partidas. Não que esteja contando.

Allison

Isaac riu. Não uma risada sarcástica ou presunçosa. Simplesmente uma risada. Fitei-o por um momento, surpresa ao descobrir sua capacidade de sorrir como uma pessoa normal.

— Por que não convida ele para a festa de carnaval?

— Porque não é um baile, Isaac.

— Eu convidei a Clara e pareceu funcionar muito bem.

— Clara? Clara Albuquerque? — indaguei. Ele deu de ombros. — Você não sabe o sobrenome dela, sabe?

— Qual a diferença?

— Toda a diferença do mundo. O que mais não sabe sobre ela?

— Sei o que preciso saber — ele murmurou, entrando na defensiva.

Em outras palavras, sabe que ela é gostosa, pensei comigo mesma.

— Já que é assim, boa sorte — abri um sorriso presunçoso. — Vou deixá-lo fazer sua mágica.

Quando me levantei, ele me puxou pelo pulso com mais força do que seria educado.

— Allison, o que você não está me contando?

— Nada — dei de ombros, ainda sentindo seus olhos acizentados cravados em mim por trás dos óculos com lente anti-reflexo. — Tchauzinho, Geymer.

Isaac

Aquela garota era uma passagem só de ida para um manicômio, então resolvi mantê-la longe de minha mente.

O que não foi muito difícil, devido ao fato de que Clara sentava-se na minha frente e eu podia passar o dia todo flertando com ela sem ter que me preocupar em mudar de sala.

Quando o sinal do recreio tocou, passei pela mesa dela e derrubei seu lápis de propósito.

— Deixou cair seu lápis — sorri, me abaixando para pegá-lo. — Mas como eu sou um perfeito cavalheiro, aqui está.

Os olhos escuros dela me fitaram por um minuto, intrigados.

— Sabe, Isaac, se você não fosse tão bonito, eu provavelmente te bateria agora.

Sorri. Ela me chamava de Izáque, mas eu não me importava.

...

A quem eu estava querendo enganar? Era uma bosta mesmo que fosse a Megan Fox dizendo.

— A culpa é da minha mãe.

— Ela está nos Estados Unidos?

— Ela morreu — falei, e vi a cara dela assumir o tom de pena com o qual eu já estava acostumado. — Não, tudo bem.

— Eu... Eu não... Desculpe, eu jamais teria...

— Eu sei — forcei um sorriso. — Vejo você depois.

Coloquei o lápis na carteira dela e corri para o refeitório. Olhei para o céu e agradeci minha mãe pelos bons genes.

— Agradecendo a Oxum por mais um dia? — disse aquela voz aguda e irritante atrás de mim.

— Eu não faço ideia de o que você acabou de dizer.

— Você nunca entende minhas piadas — Allison choramingou. — Isso não é legal.

— Pobre você. Você não tem outra pessoa para atazanar?

— Uma lista, na verdade. Como vai com a Albuquerque?

— Muito bem, obrigado.

Ainda com a sensação de que ela sabia de algo que eu não sabia, Allison sorriu e saiu andando. Comecei a repassar opções, mas não consegui pensar em nada sobre Clara que poderia colocar aquele sorriso diabólico nos lábios da Peruzzo.

Clara estava parada no corredor, então me aproximei.

— Pensando na vida? — perguntei.

Ela deu de ombros.

— Algo assim.

— Sábado ainda está de pé, certo? — cravei meus olhos nela, me aproximando.

Nenhuma garota conseguia recusar quando eu lançava aquele olhar, e Clara Albuquerque não seria a primeira.

— Claro — ela abriu um leve sorriso.

Aproximei-me e beijei sua bochecha. Perigosamente perto dos lábios.

— Hum, Isaac...

— Não fale.

— Não, é que...

Percebi que seu olhar não estava em mim. Espere, por que uma sombra estava se formando acima da gente?

Olhei para trás com receio e um punho acertou meu lábio. Levei a mão até a ferida, sentindo o sangue escorrer. Minha visão embaçou um pouco.

— O que acha que está fazendo com ela, babaca?!

Eu não tinha muita certeza de o que babaca significava, mas parecia ou nome de comida, ou um nome vulgar para o órgão genital feminino, ou um xingamento. Ou todas as opções.

— E você é...? — perguntei com a visão meio embaçada.

Depois de um momento percebi que meus óculos haviam voado longe. O agressor se aproximou e minha visão entrou mais em foco. Um fato sobre os negões marombados de dois metros de altura do Brasil: eles eram bem mais assustadores.

— Cale a boca ou vai levar outra.

— Ah, bom dia, Jonah — Allison brotou do nada e sorriu para o cara. — Vamos, Geymer.

— Allison, o que...?

— Isaac, vamos.

Seu tom não me deixou espaço para discutir. Ela me empurrou sem nenhuma delicadeza pelo corredor.

— Era disso que eu estava falando. Jonah Dunsimi Chinelo.

— Chinelo? — repeti.

— A família dele veio direto da Nigéria para cá — contou ela. Isso explicava muita coisa. — "Chinelo" significa "pensamentos de Deus" em sei lá que língua que eles falam lá*.

— Como sabe disso?

— Sei disso porque sou estranha, Geymer — ela cuspiu a frase em mim.

— Enfim, o que isso tem a ver com a Clara?

— Eles namoraram. Ela deu o pé na bunda dele, mas ele continua tratando-a como se fosse dono dela e não deixa ninguém chegar perto.

— Com "pé na bunda" você quer dizer...?

She dumped him (Ela deu o pé na bunda dele) — traduziu ela.

So much better (Muito melhor) — sorri. Não deveria ter feito isso, porque me lembrou da ferida no lábio.

— A enfermaria é no fim do corredor.

— Aonde você vai?

— Para a aula, ué.

Eu não estava esperando nada diferente vindo dela, então apenas observei-a se afastar.


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Notas finais do capítulo

*É verdade, juro. Podem pesquisar.



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