Never Let me Go escrita por Kisa


Capítulo 1
Primeira Parte: Crepúsculo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/461940/chapter/1

Looking up from underneath

Fractured moonlight on the sea

Reflections still look the same to me

As before I went under

O corredor do edifício parecia longo demais, branco demais, estreito demais para as duas pessoas que se encontravam sentadas nas poltronas de tecido, que ficavam posicionadas em frente ao quarto 201.

— Pai, vai demorar muito para a gente poder entrar?

— Eu não sei, filho. Por que não perguntamos as enfermeiras de plantão no posto de enfermagem? — Steve levantou e estendeu a mão para Peter. — Você está com fome? Podemos comer alguma coisa na cantina.

— Eu só quero ver o daddy. — respondeu Peter, num suspiro.

Steve e Tony estavam juntos há doze anos. Quando completaram dois anos de casados, eles resolveram que era o momento propício para formarem, de fato, uma família.

Tony sugeriu visitarem um orfanato do Brooklyn, coisa que Steve não precisou escutar duas vezes.

Assim que entraram, foram conversar com a diretora, Caroline. Pessoa muito compenetrada com seu trabalho, ela logo foi explicando as leis e regulamentos para os dois. Explicou que uma possível demora na aprovação da adoção por parte do juiz seria normal, mas como o caso deles era delicado (vida de super-heróis não é uma vida muito fácil e sim, o juiz avaliaria o fato de a criança adotada poder perder os pais mais cedo do que o esperado) o juiz avaliaria com muito cuidado.

Mas nada disso influenciou a decisão que Steve e Tony haviam tomado; eles esperariam o tempo que fosse possível para ter o futuro filho deles. Tudo dentro da lei.

Não que Tony não tivesse tentado usar da sua influência para agilizar todo o processo; na verdade ele sugeriu isso como uma brincadeira e enquanto brincadeira Steve sabia que o moreno estava de fato planejando fazer aquilo.

— Tony, nem pense nisso. Já encaminhamos todos os papéis e o advogado está cuidando de tudo.

— Está demorando demais Steve. Quanto tempo tem que estamos esperando? — Stark parecia exasperado.

— Duas semanas.

— Viu? Isso é demais, eu nunca precisei esperar nem cinco minutos por algo quem dirá duas semanas...

— Pelo amor de deus, Tony. Isso é sério. E se por acaso a adoção for cancelada porque você resolveu “agilizar o processo?”

— E porque seria descoberta?

— Olha, eu nem vou parar pra discutir esse assunto com você. — Steve se aproximou do moreno e segurou o tecido da camiseta que Tony usava — Nós vamos fazer tudo dentro da lei ou não faremos nada, ouviu?

— Já que pediu com tamanha delicadeza...

Pois é, Steve sabia como ser persuasivo e se fazer entender, de vez em quando.

Mas a espera não foi tão longa quanto Stark havia imaginado. Depois de três meses aguardando, ele estava na oficina, no subsolo de sua casa em Malibu, quando Pepper entrou, informando-o de uma ligação da diretora Caroline.

Ela explicou que o processo havia sido aceito, mas que eles precisavam esperar o documento de aprovação do pedido de guarda provisória ser entregue para daí sim, Tony poder ir buscar o pequeno Peter.

Peter era um bebê com pouco mais de um ano de idade. Possuía cabelos castanhos e olhos também castanhos, o que fez Tony se apaixonar por ele assim que o viu.

Sempre que podiam, Steve e Tony iam ao orfanato visitar aquele que eles já consideravam como filho, e lá perdiam algumas horas, só brincando com o garoto. Quando Tony estava ocupado com o trabalho, Steve ia assim mesmo; assim como Tony nunca deixou de visitar Peter quando Steve estava em alguma missão da SHIELD que ele não fora convidado a participar.

Quando a documentação foi entregue nas mãos de Tony Stark por seu advogado, ele não teve dúvida: junto com Steve ambos foram imediatamente buscar o garoto.

— Finalmente, Steve. — Tony dirigia o mais rápido possível até o Brooklyn.

Tony e Steve estavam hospedados em um dos hotéis da rede Hilton, em New York. Ambos acharam mais fácil uma hospedagem por perto, assim poderiam preparar melhor o filho tão pequeno para a viagem até Los Angeles.

E não foi sem emoção que eles saíram do orfanato com o pequeno Peter, adormecido, nos braços de Steve.

Obviamente a imprensa estava à espera dos três na entrada do orfanato e não foi possível escapar de pelo menos uma pergunta feita pelos repórteres, antes de entrarem no carro.

— Sr. Stark, Sr. Rogers, poderiam nos dizer qual o nome do seu filho?

— Sim, é claro. — Tony respondeu, destravando a porta do carro e auxiliando Steve a entrar. Voltou à face para os repórteres por um momento, antes de se dirigir a frente do volante e ligar o veículo — Peter Rogers Stark.

— Sr. Rogers — a enfermeira, já reconhecendo o homem à sua frente foi passando as informações, sem mais delongas — poderá entrar no quarto daqui a trinta minutos. O médico está fazendo alguns exames nesse momento e o paciente está sedado. Provavelmente quando entrarem lá ele ainda estará dormindo.

— Pai, isso quer dizer que eu não vou poder falar com o daddy?

— Peter, vem aqui — Steve foi andando até encontrar um lugar sem grande movimento. Ele não queria que pessoas alheias a eles escutassem o que conversavam. Abaixou na frente de Peter, para ficarem da mesma altura. — daddy vai poder te ouvir, mesmo estando dormindo.

— Mas... eu queria que ele me respondesse uma pergunta.

— E eu posso saber qual é essa pergunta?

— Não é nada demais, pai. — Peter respirou fundo, olhando para o chão. Juntou as mãos em frente ao corpo, meio indeciso se falaria ou não.

— Não precisa falar se não quiser, viu. Se for algo só pro daddy, eu vou entender.

— Eu queria perguntar se... se... se ele tem orgulho de mim.

Steve não esperava essa declaração do seu filho de onze anos. Respirou fundo, olhou bem dentro dos olhos castanhos de Peter, que, por mais que não quisesse admitir, lembrava muito os olhos castanhos de Stark.

Eles tinham o mesmo tom escuro.

— Nunca duvide, um único dia da sua vida, que ele não sinta orgulho por ser seu pai, Peter. — Steve o abraçou — Você é nosso filho, nunca se esqueça disso. Nunca se esqueça de que nós te amamos.

— Pai... eu não quero perder o daddy. — Peter soluçava enquanto abraçava Rogers.

Nesse momento, Steve não sabia o que fazer. Em ocasiões como essa, quando estava perto do filho, ele deixava de ser o Capitão América e era simplesmente Steve Rogers, magricelo, apanhando da vida.

Cada vez que seu filho chorava por causa de Tony, um pedaço do coração de Steve caía e quebrava. Ele sentia sendo rasgado por dentro porque ele também não queria perder Tony.

Steve estava desamparado.

Rogers levou Peter ao banheiro, para que o garoto pudesse lavar o rosto, antes de entrarem no quarto onde Tony estava internado.

Assim que Peter ficou pronto, o garoto segurou bem forte nas mãos o pai e ambos foram andando até o quarto 201.

Steve hesitou, por um momento, em abrir a porta. Ele sabia o que encontraria lá dentro. Sabia a situação de Stark. Tinha conhecimento que não havia mais volta do estágio que o moreno se encontrava.

— Pai, se o senhor não quiser entrar agora, tudo bem. — Peter tirou as mãos de Steve da maçaneta.

— Não, filho. Eu quero. Eu só estava pensando, só isso.

— Tudo bem, pai. Eu também penso. Mas eu fico triste então eu procuro não pensar.

Peter então abriu a porta e ambos entraram.

Stark estava deitado sobre a maca. Um frasco com medicamentos gotejava o líquido pelo tubo e na ponta, uma agulha, oculta por um esparadrapo, dizia aos dois visitantes que o medicamento estava sendo recebido pelo paciente.

Tony também respirava com ajuda de aparelhos. Fora preciso fazer uma traqueostomia para que o moreno pudesse respirar.

O tom de pele havia mudado drasticamente para um amarelado característico de quem possui problemas hepáticos.

E Stark possuía todos.

Anos e anos abusando de bebidas não o prepararam para o pior, que chegou bem mais rápido e silencioso do que o moreno podia imaginar.

Carcinoma hepatocelular.

Foi tão devastador que, assim que descoberto, foi se espalhando para outros órgãos. Não houve sequer tempo de procurar um doador.

O médico foi taxativo em afirmar que foi o álcool o causador de toda aquela moléstia. A cirrose hepática desenvolvida por Tony não fora tratada corretamente porque o moreno não fizera o tratamento adequado.

Continuou bebendo.

E agora, aos cinquenta e dois anos, estava perdendo a luta pela vida.

E deixando um marido e filho para trás.

Peter, ao entrar, foi logo para perto de Tony. Ele tinha muito que lhe falar.

— Daddy, sabe, eu fui muito bem na escola esse trimestre. Tirei A+ em matemática. Fui muito bem em artes também, mas só pra não deixar o papa com ciúme. — Essa última parte, Peter tentou falar mais baixo, para Steve não ouvir.

“Eu queria te dizer outra coisa também. Eu sinto sua falta. Queria que você me visse andando de skate, eu tenho ficado bom nisso. Mesmo o papa achando perigoso. Eu queria que você estivesse em casa pra me ajudar no meu projeto de ciências. Meu tema foi sobre a vida das aranhas. Papa está me ajudando, mas sabe como é, ele está me ajudando com os desenhos nos cartazes. Você poderia me ajudar com a outra parte. A científica.”

Steve reparou quando o filho levou uma das mãos ao rosto, na direção dos olhos.

Teve vontade de chorar também.

— Mas o que eu queria dizer mesmo, era... eu te amo. Você é um bom pai, só errou um pouco. Eu tenho orgulho de você. E espero que você também tenha orgulho de mim.

Peter foi se afastando da maca e correu em direção a Steve, abraçando-o.

O loiro abaixou e abraçou o filho. Pelo tempo que ele precisava, até o menino recuperar o fôlego.

— Pai, tudo bem se eu for à cantina agora?

— Claro. — Steve secou uma última lágrima que corria teimosa pelo rosto do filho — Você sabe onde eu vou estar quando voltar.

Steve esperou Peter sair e fechar a porta. Ainda ficou olhando aquela direção por um tempo, até ter coragem de chegar até a maca.

Sentou-se ao lado de Tony, sobre o leito mesmo, e segurou as mãos dele, beijando cada uma.

— Eu sei que você estava acordado, Tony. — Steve afastou uns fios rebeldes da face do moreno.

Tony, sofregamente, trouxe uma das mãos em direção à própria garganta. Era mais fácil falar fechando, por alguns instantes, a entrada de ar forçada.

— Desculpe... Steve...

— Não, Tony, não fala nada. Não precisa.

— Preciso... — o moreno parou de falar e encheu os pulmões de ar. Sua voz saía muito diferente daquela voz que Steve estava acostumado a ouvir. — Peter. Ele é... o meu orgulho... diga isso a ele.

— Eu digo, não se preocupe.

— Ele é... a melhor coisa... da minha vida... junto... com você, Steve. Eu... sinto tanto. Sinto muito.

Steve já estava em lágrimas ao ouvir essas palavras. O loiro sabia. Estava ali, afinal de contas.

A hora. Ela havia chegado

— Tony, como vou conseguir... — “viver sem você?” era o que Steve queria ter dito. Ele queria ter falado uma porção de outras coisas. Mas Tony não ouviria nenhuma delas.

Não mais.

And it's peaceful in the deep

Cathedral where you cannot breathe

No need to pray, no need to speak

Now I am under all


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá pessoas.
Primeiro: muito obrigada por lerem o que eu escrevo, viu.
Tinha tempo que eu queria escrever uma fanfic Superfamily e eis que as ideias foram surgindo e sim, aqui está ela.
Ela será divida em duas partes então a próxima será o encerramento, obviamente.
Desculpe qualquer coisa. Eu sei que é difícil, eu mesma fiquei em estado depressivo enquanto escrevia tudo o que aconteceu aqui D:
Enfim, nos vemos no próximo capítulo (eu espero) [se não for morta por uma emboscada antes ç.ç]
Bjo =*

PS.: Parte dois será postada domingo ♥