Prólogo

Eu estava preso naquele quarto durante tantos anos, que eu nem sei mais o que se passava pelo mundo, eu não sabia mais quanto tempo havia se passado, e eu não tinha ideia de como eu me parecia. Eu ainda me lembrava do treinamento e repetia as transformações de forma repetida até que eu já tinha completado todo o processo de controle. A cada vez eu tentava fazer mais rápido, e meu corpo já estava desacostumado ao período de 24h. Eu continuava a exercitar meu corpo humano, todos os dias. Mas eu não sabia como estava indo. Eu não sabia como eu me parecia.

Durante anos eu não escutei nada além do som da minha própria voz, durante anos eu não via uma luz. Por isso, foi uma surpresa quando ouvi a porta do quarto deslizar aberta e na frente aparecerem duas crianças e um homem mais velho. As duas crianças foram deixadas dentro e eu me escondi no fundo do quarto, esperando pelo movimento delas. Eu enxergava excepcionalmente bem no escuro, principalmente se eu tinha me transformado.

As crianças começaram a vasculhar o quarto e eu fugi delas, não me sentindo altruísta o suficiente para ajuda-las, sequer quando elas bateram a cabeça contra a pia. Com o tempo, as crianças se acalmaram em um canto e eu pensei em voltar para minha rotina. Minha surpresa, no entanto, quando uma das crianças se aproximou de mim quando eu estava me preparando ara fazer flexões.

Era uma garotinha de olhos castanhos brilhantes e grandes. Há meio minuto ela estava a três metros de distancia, e no outro ela estava ao meu lado. Rugi forte para ela, mas ela não se moveu, continuou a me olhar com olhos brilhantes.

– Eu estive procurando por você durante muito tempo...

– Claudia! – o menino que estava longe começou a andar, seguindo a voz dela.

– Eu nunca imaginei encontrar um de vocês... – Claúdia disse e eu fiz meus olhos brilharem, batendo a pata nela e jogando-a contra a parede no quarto.

O garoto parou de se mover na mesma hora, os olhos brilhando dourado. A garota se levantou também com os olhos dourados e riu se aproximando do garoto. Ela começou a arrastá-lo para perto de mim e eu tinha que parar isso quanto antes.

– Fique.

– Claudia, não vamos lá!

– Escute o menino, Claudia. Ou eu vou mata-la.

Isso pareceu pará-la de imediato. Eu sorri, ameaças de morte eram efetivas então. As crianças se sentaram e se abraçaram. Voltei a fazer minhas flexões, mas os olhos atentos da menina em mim me deixava desconfortável. Eu olhei para eles com meus olhos azuis e vi diversas circulações sanguíneas vermelhas. Isso sim era novidade.

– Vocês são humanos? – eu perguntei e ela sorriu.

– Sim... – ela me disse e o garoto já tinha dormido ao seu lado – Você tem nome?

– Dezydery. – eu disse, me lembrando do nome de família que não usava há muito tempo. – Mas você não pode pronunciá-lo, as pessoas me chamam de Derek.

– Derek Hall, eu sou Claudia Stilinski. Esse é meu marido, Hazel Stilinski.

– Vocês eram maiores desde que me lembro.

– Nós humanos mudamos muito. Somos mais parecidos com vocês agora... – ela me disse e eu olhei confuso – Derek Hall, por quanto tempo você esteve aqui?

– Eu não sei. Não mais que alguns anos, eu suponho. – eu respondi, coçando a cabeça – Vocês têm noticia de Paige?

– Quem é Paige? – ela era estupida?

– Minha noiva, Paige. Ela estava absorvendo a Estrela do Leste quando eu fui trancado aqui, ela estava defendendo nossas terras dos lobisomens.

– O que ela era?

– Uma fada. – eu disse – Eu só posso servir as fadas...

– Eu sou uma fada também Derek Hall. Mas eu também sou humana...

– Eu não entendo como você pode ser uma fada e ser uma humana? Por que você não está morta?!

– Muita coisa mudou Derek Hall. Você está aqui por mais de um milênio eu acho...

– Um milênio? – isso seria mais de 1000 anos...

– Sim. Eu penso que sua noiva está morta, assim como toda sua família. Eu sinto muito...

Eu deixei a menina longe e não falei mais com ela. Toda a minha família ainda estava viva, eu tinha certeza. E minha noiva também. Assim que tudo estivesse bem, eu iria poder sair deste quarto e ficar ao lado deles, eu tinha certeza...