Antagônicos escrita por Runway Ing
Estávamos jantando e discutindo sobre como seria na casa de meu pai. Jane estava crente de que seria um desastre e até formulou uma cena, que seria Friedrich cortando um pão e eu falaria “amor, me passa a faca?”, ai ele enfiaria a faca no meu olho, tiraria e comeria. Sim, ela tinha uma mente maléfica.
— Amor, me passa o garfo! — pedi, forçando um sorriso.
— Sim, querida. — ele me estendeu o garfo e mandou um beijo no ar.
Ringo cuspiu o café que tinha na boca e eles todos riram da cena. Franzi o cenho, olhei para Friedrich que estava segurando o riso.
— O que foi isso? — fingi desentendida.
— Inveja, amor, inveja.
Para um casal totalmente apaixonada, aquele diálogo tinha sido perfeito. Mas, meu pai não tinha nascido ontem. Ele tinha cinqüenta anos de pura experiência e me conhecia há vinte e seis anos, sabia tudo sobre mim, até a forma como eu costumava tratar algum namorado.
Depois do jantar, fomos para o meu quarto. Ele abriu o guarda roupa, jogou minhas roupas que estavam perfeitamente arrumadas nos cabides, no chão, abriu a mala e começou a jogar as dele dentro.
— Filho de uma p...
— Amor! — ele me repreendeu com o indicador levantado.
Grunhi, bati os pés no chão e entrei no banheiro. Tomei um banho e coloquei meu pijama, dentro do banheiro. Sai descalça e o quarto estava um gelo só. Friedrich estava deitado, assistindo tevê e minhas roupas já não estavam mais pelo chão. Passei pela televisão e a desliguei.
— Sua infame, são os Red Sox e... — ele baixou o rosto. — Tudo bem, anjo.
Sorri vitoriosa e sentei do outro lado da cama.
— Horrível essa roupa, você precisa usar algo mais sexy.
— Eu sou sexy. — ele riu falsamente. — Você vai comigo comprar algo.
Ele se sentou na cama, virado pra mim e eu percebi que ele queria falar mil coisas, mas não falava nada.
— Comece. — ele disse.
— O que?
— Fale curiosidades sobre você.
A curiosidade mais interessante sobre mim, era que eu estava grávida do cara que eu mais odiava no mundo. Mas não era aquilo que ele queria ouvir.
— Eu fico resfriada sempre que acordo, tenho pavor a multidão, alergia a amendoim e abacaxi, meu filme preferido depois de Harry Potter, se chama 10 coisas que odeio em você, minha música preferida é Hey There Delilah, minha banda preferida é Beatles. Adoro organizar e reorganizar as coisas várias vezes, coloco meus livros separados por gêneros, passo perfume nos seios, tenho mania de passar a palma da mão na ponta do nariz, uso um colar com pingente de cavalo porque significa confiança, segurança e liberdade, adoro a palavra “Excelsior” graças ao Pat, sou viciada em séries e não consigo dormir se não for com três travesseiros.
Ele estava parado, a boca entreaberta, os olhos brilhando.
— Usa perfume nos seios?
Fiz um estalo com a boca e rolei os olhos.
— Só prestou atenção nisso? — ele negou com a cabeça. — Sua vez.
— Quando eu acordo minha voz fica parecendo voz de locutor, gosto de MotoCross, cachorro, café e Johnny Cash. Não sei cozinhar, tem várias músicas que gosto, minha cor preferida é verde, não gosto dos meus dentes e quando gosto de uma música, escuto ela milhões de vezes seguidas. Perdi a virgindade com dezesseis, namorei uma vez e passei na faculdade de Direito, mas não quis cursar porque não era o que eu queria, era o que o meu pai queria. Amo meus pais, mas não gosto de morar em sítios, então, moro com minha avó, aquela senhora que lhe ama mais que tudo no mundo.
— Eu já sabia de tudo isso.
— Eu também já sabia de tudo o que você falou. Sei também que você adora andar descalça, assiste os filmes de Harry Potter como se fosse a primeira vez, faz os mesmos comentários, ri das mesmas coisas... E sei que quando você dorme, você cobre a orelha com o lençol.
Não eram coisas que todo mundo sabia. Ele havia me estudado, prestado atenção em todos os meus passos e sabia de todos os meus gostos e desgostos. Eu sabia muito sobre ele, só não que ele tinha passado em Direito, o resto eu sabia e outras coisas também.
— Eu estou com sono. Vamos dormir? — ele disse. — Amanhã podemos ir olhar preços de coisas para o bebê, para ver quanto vamos gastar, não é?
Por que ele nunca tinha mostrado ser daquele jeito antes? Eu não teria o odiado todos esses anos. Eu estava abobalhada com a maneira que ele estava levando a minha gravidez, a última coisa que pensei é que ele acharia ótimo e ficaria ansioso.
Ele trabalhava na empresa do pai dele. O pai dele era muito rico; morava em um sítio longe da cidade, por isso, deixava Friedrich lá para administrar tudo e ele tinha achado que seria mais fácil se contratasse alguém para cuidar de tudo e colocar os créditos dele no final, era um preguiçoso e vagabundo; mas tinham casos mais importantes que só ele podia resolver na empresa. Ganhávamos o suficiente para não precisarmos estar preocupados com quanto iríamos gastar.
— Vamos. — me deitei e me cobri. Ele se aproximou de mim e selou minha testa.
— Boa noite, Char. — sussurrou. Sorri para ele.
— Boa noite, Fred.
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