Antagônicos escrita por Runway Ing


Capítulo 1
Saindo da Caverna


Notas iniciais do capítulo

Pra as minhas meninas da FESO! Tenham uma boa leitura e, comentem, senão mato todos.



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Era uma daquelas tardes em que só viam-se os raios pelas frestas. Eu estava sentada no chão, no canto do quarto, ouvindo Ed Sheeran e chorando feito um bebê. Eu até que sentia vontade de sair daquele quarto, mas as frases “eu avisei”, “você está o caco” e “você é uma idiota, nunca deveria ter iniciado isso”, que eu tinha certeza de que ouviria de Waxler, me faziam desistir de sair de lá. Faziam oito dias que eu estava trancada, só comia na madrugada, depois das quatro da manhã, quando todos saiam da minha casa e a cozinha ficava livre. Minha sorte era que meu emprego não exigia que eu tivesse vinte e quatro horas no escritório, até porque eu estava trabalhando em uma matéria que eu não precisaria ir pra o trabalho tão cedo.

— Toc toc. — chamou Violet.

Suspirei fundo ao ouvir a voz angelical dela. Eu precisava ouvir algumas palavras de conforto, mas Violet não era a pessoa mais recomendada pra fazer isso, ela só dizia verdade sobre toda a verdade.

— Eu quero te ajudar. Abre a porta, Lize.

Sequei as lágrimas na manga do moletom, olhei pra o teto escuro e engatinhei até a porta. Rodei a chave uma vez, indecisa se rodaria a segunda vez. Rodei a segunda vez e sentei ao lado da porta.

Violet abriu a porta devagar, fazendo-a ranger como nos filmes de terror. Demorou alguns muitos segundos para que ela me enxergasse sentada ao lado da porta feito uma psicopata, olhando pra o chão.

— Olha você aí. — ela disse se abaixando. Suas mãos gélidas pousaram no meu pescoço nu. — Como você está pequena.

Afirmou. O “pequena” dela, significava “insegura, desprotegida, vulnerável”. Permaneci no meu silêncio, faziam oito dias que eu não falava nada, e parecia ter um pedaço de madeira na minha garganta impedindo a saída das palavras. Ela ascendeu a luz. Fechei os olhos e coloquei o rosto entre as pernas.

— Faz oito dias que você não sai desse quarto, daqui há pouco você estará virando parte dele, vai ser um móvel. — ela riu. E eu sorri internamente. — Você está agindo como se tudo isso estivesse sido culpa sua, como se você não tivesse sido boa o suficiente pra o canalha do... — ela pigarreou, sabia que eu não queria ouvir o nome dele — Acredite em mim, você é mais do que vítima. E eu preciso que você fique bem, ele não te merece, nem nunca mereceu. Eu e Wax chegamos à conclusão de que você se voluntariou para caridade quando escolheu namorar ele. Por dó, só pode.

Eu olhei-a com os olhos espremidos. Ela estava com as duas bolotas esverdeadas arregaladas pra mim, a franja laranja movendo-se de acordo com as piscadas de olho dela, as sardas pulando para fora do rosto dela, que saudade eu estava daquele rosto. Estiquei-me toda e pulei no pescoço dela, fazendo-a cair de bunda no chão. Chorei um pouco mais enquanto ela me apertava naquele abraço.

Tossi antes de falar, não sabia se minha voz sairia, saiu esganiçada.

— Obrigada, Violet. — sorri de meia boca. — Pode me levar até a loja de doces?

— ISSO! — ela gritou e se levantou num salto.

Coloquei uma boina vermelha e decidi sair do quarto. Pus o pé para fora do mesmo e respirei fundo, como se tivesse sido a coisa mais difícil que eu já tinha feito na vida.

Wax, Ringo, Patrick e Jane estavam na sala, sentados no tapete, meu rosto inteiro sorriu ao vê-los. E o deles ainda mais quando me viram... Wax deu um salto do chão e pulou nos meus braços. Waxler era meu irmão mais velho, éramos melhores amigos e eu só estava tendo um futuro diferente do que os meus pais tinham planejado para mim (medicina, sangue, coração), por causa dele. Abracei-o de volta e prometi a mim mesma, naquele minuto, que jamais o preocuparia como havia feito esses últimos meses.

— Oi pequena, aonde vai?

— Pra Sparkless. Querem algo de lá? — eles ainda estavam sorrindo para mim. Eu sabia que Jane tinha várias coisas na sua cabeça e que queria me abraçar pra nunca mais me largar, mas ela não era expressiva com gestos. E eu já estava acostumada.

— Não, mas talvez o Fred queira. — disse Richard.

— Friedrich está aqui? — meu rosto rapidamente começou a queimar. Ódio. Ódio. Ódio. Imagine alguém que você odeia, agora imagine esse ódio multiplicado por novecentos mil. Exato. Era meu sentimento por Friedrich.

— Estou! — ouvi a voz do demônio atrás de mim. Virei-me rápido, desejei nunca ter saído do meu quarto, agora todas as piadas que eu temi viriam à tona. — Compra remédio pra dor de cabeça, aposto que a sua dói devido às pontas.

Senti meu sangue subir quente. Ai, como eu o odiava. Wax apontou o indicador pra ele, ameaçando-o.

— É brincadeira, Wax.

— Não Fred, a gente não vai aceitar esse tipo de brincadeira, se controle. Ela nem lhe provocou.

— Vou dar essa folga a você. — ele disse como mindinho e o indicador virados para mim.

Violet puxou meu braço e saímos. A loja de doces era na esquina, era o lugar que eu mais gostava de estar. Quando chegamos, fiquei olhando ao redor, querendo comprar todos os doces para compensar os dias que tinha ficado sem comer. Violet estava com uma cestinha na mão, colocando dentadura doce e ursinho doce. Comecei a fazer o mesmo. Ela chegou mais perto de mim e me olhou, analisando-me.

— Você precisa ir num cabeleireiro.

— O que? — chiei, peguei uma mecha nas mãos e penteei com os dedos.

— Fazer um penteado bonito. Já comprei o seu vestido, azul escuro pra combinar com sua cor de pele e...

— O que você está planejando, Violet? — encarei-a.

— A festa da Andy é hoje, sua boba. Hoje é dia quinze, esqueceu?

Eu precisava morrer bem naquela hora. Andy era a irmã do Friedrich, que tinha dezoito anos! O que tinha na cabeça da Violet para querer me levar pra uma festa de garotinhas estranhas, loucas para perder a virgindade no meio da mata, com um jogador de futebol ou, pior, uma festa onde vai ter Friedrich em todos as partes: no palco, na pista, na mata, em cima do bolo, rodando em cima da pista de dança... Eu realmente o odiava, sem exagero.

— O que você usou? Eu não vou, não é obvio?

— VOCÊ VAI. — ela gritou, fazendo as pessoas da loja virar todas para nós. — você vai... — murmurou.

— Me dê um bom motivo e eu irei.

— Jure que se eu lhe der um bom motivo, você irá.

— Eu juro. — rolei os olhos estendendo o mindinho pra ela.

— Esse é o último saquinho de dentaduras...

— Esse é um bom motivo pra se desesperar e não para ir numa festa de dezoito anos.

— Se você não for, eu fico com um dos garotos de dezoito anos e vou com eles pra o meio da mata, depois, me denuncio e vou presa.

— Você não seria tão doente...

Sim, ela seria tão doente. Eu só queria amenizar as coisas. O que eu faria numa festa de crianças que ficam bêbadas com um gole de whisky e sobem na mesa sem camisa?

Ela deu de ombros pra mim e riu, assentindo. Eu sabia que ela era insana a ponto de se auto-denunciar dizendo “uma garota chamada Violet Hudson assediou o meu filho, para não dizer que ela o estuprou, ele está traumatizado, preciso que esta louca seja presa antes que cometa mais algum crime!”

— Eu ainda te mato.

Pagamos os doces e voltamos pra casa. Friedrich não estava mais lá, comemorei, lembrando o tempo de líder de torcida de Violet. Eram seis horas e a festa começava ás onze. Então, não tinha cabeleireira que fizesse milagre em tão pouco tempo e depois, maquiagem. Eu mesma me arrumei. Passei uma maquiagem leve e fiz alguns cachinhos no cabelo. O vestido era simples e bonito, na cor azul escura, pois dizia Violet que azul combinava com o branco-quase-transparente da minha pele.

Jane insistiu que eu usasse um salto preto que ela tinha comprado e realçou a sombra nos meus olhos. Olhei-me no espelho, estava quatro quilos mais magra, pesando 54 e a base tinha escondido minhas olheiras. Era como se eu já tivesse passado por cima do que tinha acontecido comigo e Will; me vi agradecendo mentalmente por ele ter ficado com Rose, eu tinha me livrado dele, apesar de tê-lo amado tanto, ele realmente não me merecia naquele momento. Principalmente porque, eu estava me sentindo linda, meus melhores amigos estavam reunidos na sala da minha casa elogiando cada centímetro meu, me sentia vitoriosa também e quando estava com ele, eu era um lixo e apenas isso.

— Eu vou beber até entrar em coma alcoólico. — informou Jane colocando o braço sobre meu ombro. Ela bebia muito e para nossa sorte, ela sempre dormia quando ficava bêbada.

— Estão todos prontos, podemos ir? — perguntou Ringo enquanto Violet ajeitava a sua gravata borboleta.

— Sim, vamos. — falei pegando a chave do carro em cima da mesa de jantar.

Não sei porquê, mas eu sentia que aquela festa ia resultar em – perdoe o termo – merda.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado *-* e tenham calma, fé, não me matem! Comentem.