Surge um escolhido. escrita por Codyzitos


Capítulo 16
O treinamento do Garoto-Planta




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Você deve fazer ideia do quanto é maravilhoso ter um tempo de descanso depois de estar praticamente destruído. Pois é. Esses últimos dias não foram lá tão tranquilos, foram uma loucura, era adrenalina que não acabava mais — e eu aqui reclamando de andar da minha casa até o colégio no ano passado —, pois agora estou tendo o descanso merecido. Chegamos a Ilha de Guardia há algumas horas, após a guerra que teve no Acampamento Meio-Sangue que, sabe-se lá o que se tornou agora. Martin disponibilizou alguns lugares para o pessoal que chegou, felizmente tinha um lugar para todos, ele também disse que teríamos um jantar especial hoje, resolvi esperar da melhor maneira: deitado. Eu estava em uma rede muito confortável, com uns três travesseiros, a rede ficava no alto das árvores, cada ponta amarrada em um galho, e é muito agradável, pois essa floresta é o lugar mais agradável e quieto que já fiquei. Do lado da rede, havia um galho com alguns suportes, por exemplo: suporte para livro, copo e frutas. Para minha sorte, havia algumas frutas frescas ali e um copo de Pepsi cheio com três cubos de gelo, óbvio que eu iria degustar disso. Não demorou muito para eu cair no sono, afinal, cansaço em excesso e adrenalina uma hora acaba e com isso desabamos para poder ter o descanso merecido, e lá estava eu, dormindo igual a um bebê.

Descansar tão bem assim é maravilhoso, o único problema é quando sonhos indesejáveis chegam. Foi o que aconteceu. Comecei a sonhar com uma caverna, as únicas coisas que eu enxergava ali eram marcas em tinta fluorescente de diversas cores e diversos desenhos. Notei um desenho que parecia a representação de dos deuses gregos sendo massacrados. Vi um desenho de um garoto com riscos representando vibrações saírem de suas mãos. Vi um garoto e um tsunami. Vi sangue, mortes e guerra. Destruição. Tudo. Uma voz falando em grego antigo ecoava baixinho na caverna. Chamas roxas acenderam em uma fogueira próxima de mim. A voz estava próxima, suas palavras agora eram mais nítidas e diziam algo como:

Great Chaos érchetai
Me af̱tó , i̱ katastrofí̱
O gios pou anazo̱pyró̱sei ti̱n kardiá
O kósmos katarréei cho̱rís synchó̱resi̱

Não me pergunte como, mas eu realmente entendi tudo, é como se eu já nascesse aprendendo esse idioma, o grego antigo. Aquilo aparentemente era uma profecia, muito ruim por sinal, dizia algo como: O grande Caos está voltando, com ele, a destruição, o filho que reacenderá o coração, o mundo que desaba sem perdão. Meu corpo estava bambo, comecei a ficar tonto e minha visão começou a escurecer, eu cai... Mas não cai no chão, na real eu não sei o que aconteceu, mas eu parecia cair numa profundeza sem fim. Minha visão clareou, eu estava no céu, ainda caindo, mas agora eu podia ver tudo de cima. Lá em baixo eu vi o Grand Canyon e vi guerra. Uma guerra insana. A cena era inexplicável, pois muita coisa acontecia em questão de segundos. Eu cai com tudo no chão, abri os olhos e agora estava boiando num lago, um lago familiar... O lago de Montreal. Olhei de um lado para o outro e, próximo da ponte, eu vi a flor gigante de prata, e a imagem da pessoa que estava lá dentro era embaçada ainda, porém mais nítida, agora dava para notar... A pessoa tinha cabelo ruivo, parecia ser um garoto pelo tamanho do corte. Sua vestimenta, toda branca. Só isso deu para notar. Então eu acordei, ainda estava na rede, deitado. Nada de diferente pareceu acontecer e aparentemente o sol já estava pronto para se pôr.

Esfreguei os olhos e olhei para frente e vi Thalles sentado numa almofada em um galho, com um saco grande de granola na mão e comendo com o maior prazer.

— E aí, cara. — falei.

— Opa, oi! — disse ele com a boca cheia quando notou que eu estava ali, engoliu os cereais. — Desculpa, não vi você ai.

— Tudo bem. Você está bem?

— Hm... Até que estou e você?

— Não sei...

Nossa conversa foi interrompida por uma voz feminina que bradou para descermos, vindo de lá de baixo. Thalles e eu olhamos e, uma garota de cabelo ruivo-acobreado nos fitava, era Mary, a garota que ficou do meu lado quando participei do caça a bandeira no acampamento meio-sangue.

— Já vai, Mary! — Thalles bradou. — Depois conversamos melhor então? — disse ele enquanto se levantava.

— É, pode ser. Vamos indo.

Eu desci pela escada lateral de madeira lateral, na árvore, e Thalles começou a descer de galho em galho, parecendo um macaco. Descemos e chegamos próximos de Mary.

— Eu me lembro de você! — Mary disse fitando de ponta a ponta. — É, suspeitei que o cabelo desgrenhado fosse familiar.

— Ah...

— Que seja. As oito servirá o jantar, temos uma hora e meia, livres então. Querem dar uma volta? — Mary sugeriu.

— Posso levar o cereal? — Thalles perguntou.

— Claro Thalles...

Mary, Thalles e eu caminhávamos conversando sobre como nos sentíamos depois de tudo que ocorreu. Chegamos até o outro lado da ilha e na areia da praia de lá, vários grupos de centauros pareciam brincar de “pega-pega”.

— São inimigos? — perguntei.

— Não. Ei! Kyon! — disse Thalles acenando.

— Quem é Kyon? — sussurrei para Mary.

— Filho do ex-diretor do acampamento, o...

— Thalles! Quanto tempo. Saudações. — o centauro respondeu após ter se aproximado rapidamente.

— Como vão as coisas, Kyon? — Thalles perguntou.

— Tudo ótimo. A ilha está totalmente bem, os pequenos ataques que sofremos foram detidos rapidamente e, nos últimos meses, nos divertimos mais do que nunca.

— Ah, isso é bom!

— E o que houve no acampamento? Vocês não estariam aqui atoa...

— Bem... Seu pai deixou todo o conhecimento de mitologia para você, certo?

— Sim, claro!

— Então, você sabe muito bem quem é Ortros... E sabe muito bem que não é possível que ele viva novamente.

— Sim, pois se tornou uma estrela...

— Exatamente. Então como diabos ele caiu do céu e destruiu o acampamento? Fora que, uma legião de variados monstros atacou o acampamento me união, destruíram a barreira, mataram campistas... Foi um caos...

Após Thalles finalizar a frase, um trovão retumbou em céu nublado.

— Hm... — Kyon encarou o céu. — Entendo. Bem, após o jantar podemos pesquisar melhor sobre isso.

— Tudo bem. — Thalles olhou para o relógio. — O jantar fica pronto daqui uma hora. Vemo-nos lá então. — Thalles sorriu.

— Nos vemos lá! Vou voltar à corrida, até já! — Kyon cumprimentou nós três e voltou à corrida.

— Estão a fim de treinar? — Thalles perguntou.

— Só se for agora!

— Mas assim eu quebrarei minhas unhas. — Mary disse.

— Tá zuando né? — falei encarando ela.

— Não!

— Fica de juiz então. — Thalles sugeriu.

— Pode ser.

Caminhamos e encontramos um lugar legal para treinar. O local é rodeado de árvores (obviamente), estávamos em um espaço redondo, vazio, com um piso de madeira com uma largura de dez passos. Thalles analisou o local, girou, respirou fundo e soltou o ar. Entregou o pacote de granola para Mary. Após isso, ele caminhou até uma árvore, encostou sua mão nela, pareceu concentrar-se, ficou totalmente parado e em questão de segundos puxou uma espada inteiramente de madeira, uma espada bem feita e, mesmo que de madeira, aparenta ser bem afiada.

— O aroma natural daqui é incrível. Mas enfim. Cody, quero te ensinar técnicas silenciosas, de distração, criação de objetos e tudo o mais. Então a primeira dica que lhe dou é, muita atenção no som ao seu redor, isso é muito importante, você precisa sempre localizar seu inimigo quando o mesmo estiver fora de sua visão, ou se algum aliado do mesmo, ou o que seja, resolva lhe atacar pelas costas, você deve ouvir os passos às suas costas. Vamos começar praticando isso. — Após Thalles falar tudo isso, o mesmo pulou floresta à dentro e sumiu.

Encarei Mary por alguns segundos e logo corri para uma árvore, subi e fiquei agachado em um galho com muitas folhas capazes de me esconder. Tudo estava silencioso, não se ouvi um “piu”, então a voz de Thalles ecoou próximo dali.

— Concentre-se no som.

Olhei para os lados e para trás, mas ele não estava por perto. Meu único foco naquele momento era o som. Eu me concentrei o máximo, me desliguei de qualquer pensamento que não importava nessa ocasião, mantive meu corpo no clima mais calmo que pude alcançar, e controlava uma respiração equilibrada e leve e então comecei a ouvir melhor o som do vento, luma brisa leve e fresca, chegava até a dar sono, mas me impedir de ficar sonolento logo agora. Escutei o som de um esquilo próximo dali. Por fim, encontrei o som que eu procurava: passos. Passos calmos e silenciosos. Capaz de impedir que notassem a presença ali. Porém, os passos estavam próximos e, rapidamente, saquei minha caneta do meu bolso, cliquei e a mesma se tornou espada, virei-me e desferi um corte na horizontal, Thalles esquivou para trás e pulou para outro galho.

— Uau! Gostei de ver! Parece que se concentrar no som não foi um problema para você. Agora teremos que treinar sua habilidade silenciosa e de distração ai inimigo. Não é tão difícil, primeiro: você deve se concentrar no ambiente, deve prestar muita atenção em cada detalhe e saber o quão grande será o barulho de cada coisa que você encostar, isso também se encaixa na parte da distração. Você deve fazer barulhos em lugares estratégicos para induzir seu inimigo em uma armadilha. Pronto? Vamos! — Thalles sumiu em meio à floresta após terminar de falar... De novo.

Saltei daquela árvore e passei por algumas moitas o mais silencioso possível. Abaixei-me, me mantive abaixado todo o tempo. Encostei-me em uma árvore e fiquei atrás de uma “cabana” de folhas e amoras, aparentava ser um lugar bem escondido, resolvi ficar por ali. Esperei alguns minutos, olhando para todos os lados possíveis, acabei lembrando da estratégia de distração/chamar atenção do inimigo, olhei para o chão e havia algumas pedras, não muito grandes nem muito pequenas, abaixei-me cautelosamente e peguei umas três, mirei e tentei calcular o ângulo que poderia fazer a pedra ir para o alto, voltar e bater na parte de cima do tronco. Eu sempre fui péssimo em matemática, mas creio que não seria um problema mirar e jogar, e foi o que eu fiz. Por fim, taquei a pedra, a primeira passou pelo tronco, mas ao invés de cair e bater nele, ela caiu do lado, nem se quer tocou na porcaria da madeira, e acabou fazendo um barulho no chão do outro lado da árvore. Rapidamente saquei outra pedra e taquei, a pedra passou do lado do tronco, caiu e bateu bem onde eu queria. “Boa!” comemorei em pensamento. Fiquei num silêncio total, sem me mexer, apenas observando os lados e onde soou o barulho do impacto da pedra com o galho, mas quando notei, uma cobra começou a descer pela árvore onde eu estava próximo, ela descia lentamente, mas já era o suficiente para me encurralar. Se eu fugisse, Thalles me encontrava, se eu ficasse a cobra me atacava, eu estava num “beco sem saída”. Escolhi a opção se simplesmente esperar. Eu fitava nervoso, a cobra descer. Gotas de suor começaram a escorrer pelo meu rosto. Eu poderia muito bem acertar um golpe no réptil e matá-lo, porém o som do corte e do barulho de dor que a cobra emitirá já seria o suficiente para entregar minha localização. Foi então que olhei para o galho onde acertei a pedra, e Thalles apareceu lá, sorrateiro, olhando para os lados e me procurando. Resolvi arriscar tudo, segurei firme a última pedra que estava em minha mão, transformei Seismós em caneta novamente e atirei a pedra na cara da cobra e em fração de segundos, rolei para o lado e encostei na lateral da árvore. Ouvi o som de alguém pular bem ali onde eu estava — obviamente era Thalles —, e desferir um corte na cobra, o réptil agonizou de dor.

— Era só uma cobra... Cody seu sortudo. — Thalles disse.

Aproveitei a distração do filho de Deméter, encontrei outra pedra no chão e taquei num local distante de mim, cliquei a Seismós e a mesma virou espada novamente, virei com tudo, apontei a espada para ele e disse.

— Checkmate, menino planta!

— Não tão rápido ligeirinho! — uma voz soou atrás de mim.

Olhei para trás e era Thalles apontando sua espada de madeira bem modelada e aparentemente bem afiada, para minhas costas. Olhei para frente e o que parecia ser o Thalles era, agora, apenas um boneco de madeira.

— Uau! Como fez isso? — perguntei impressionado.

— Poderes! — disse Thalles imitando um bad boy. — Falando em poderes, o que houve com seus poderes? Você poderia muito bem me localizar pelas sombras, não?

— Eu... Não sei... Eu simplesmente não consigo soltar esses poderes. Dá primeira vez eu conseguia sentir percorrer meu corpo, agora... Nada.

— Quer tentar?

— Pode ser.

Fechei meus olhos calmamente, respirei e inspirei e me concentrei na escuridão, só tinha isso em mente agora e me lembrei das vezes que utilizei esses poderes. Mantive minhas mãos fora do contato com a caneta. “Vamos lá! Vamos lá!” Eu pensava. Então algo pareceu atormentar meus pensamentos, eu vi imagens macabras, monstros, lutas, mortes, escuridão, vi um homem, cães e uma garota e não aguentei, abri os olhos e as chamas negras que me rodeavam giraram rapidamente, me consumiram e me impulsionaram para trás, fui jogado e bati de costas numa outra árvore.

— Acho que não foi uma boa ideia fazer isso. — falei devagar. — Será que podemos ir correndo para o vilarejo? Estou com um péssimo pressentimento.

— Claro! Vamos.

Thalles e eu saímos correndo e passamos no local onde iniciamos o treinamento, puxamos Mary e fomos correndo até o vilarejo. Não demorou muito até chegar lá e, quando chegamos, todos estavam ao redor do centro — no salão principal que tinha a visão aberta para que pudéssemos ver a lua e as estrelas à noite —, quando notei, o olhar de todos se mantinha no centro, onde chamas negras rodeavam rapidamente e de repente as trevas subiram e evaporaram então uma forma humana surgiu: um homem alto com cabelos longos e totalmente brancos com um leve tom de cinza. Vestia um terno completo totalmente preto e na hora que olhei para suas mãos, eu entrei em desespero, a raiva me consumiu e eu queria espanca-lo, o homem segurava seis correntes que prendiam meus seis amigos cães, o homem se virou em minha direção, eu hesitei, dei um passo para trás, quando vi, o homem segurava Lares pelo antebraço, a cara dela estava pálida e meio baixa.

— E quem seria você?! — perguntei raivoso, porém hesitante.

— Eu? — o som da voz do homem soava frio e sarcástico. — Sou Hades, o Deus do Submundo.


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