Holy Sex escrita por Sofia Brunoro


Capítulo 3
Capítulo 3 – frustração


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura e Amém!



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Todos os dias foram normais até quinta. Todas as aulas foram normais, com exceção a de literatura na quarta, quando a professora tirou uma menina que se negou a ler o livro, porque aquilo desrespeitava a sua crença em Deus. Por sorte, a menina era Samantha, então eu e Mariah rimos muito dela depois, já que a mesma saiu resmungando sobre como o mundo era injusto com ela. E reparei que, quando ela foi tirada de sala, Sam deu um sorrisinho de alegria. Acho que nem ele aguentava mais aquela menina. Todo dia, quando passávamos no corredor perto dela, era sempre um apelido diferente.

Na terça:

– Bom dia, mundiça. – isso foi a Samantha que disse.
– Bom dia, fedida. – isso foi a Mariah. Juro que vi Samantha cheirando seu cabelo depois que passou por nós. Que orgulho da minha loira.

Na quarta:

– Dormiu bem, porca?
– Com o seu pai, quem não dorme? – Juro que ela ficou boquiaberta com Mariah.

Depois disso, todo dia ficava ansiosa com a resposta que Mariah daria. Mah sempre me pegava às 08h40min da manhã em casa. Corríamos para a escola, pegávamos os livros no armário e íamos para a sala. Sempre almoçávamos com os meninos e Brenda. Todo dia os pombinhos ficavam se pegando e na quarta à noite mandei uma mensagem para Brenda depois de tanto desconfiar de Sam e Mariah. Preferi ser bem direta a ficar enrolando.

Eu: Posso te perguntar uma coisa? Só não fala nada para o Dean.
Brenda: Fale. Ele nunca saberá.
Eu: O Sam gosta da Mariah ou é só impressão minha?
Brenda: Ele gosta dela desde que eles se conheceram, todos nós sabemos, menos a Mariah. E com ela é a mesma coisa. Sam tem medo de chegar nela, então só fica apreciando por fora.
Eu: Uau! E a Samantha?
Brenda: Para fazer ciúmes na Mariah, mas ele teve a infelicidade de escolher uma nojentinha, como você já sabe.
Eu: Por que ninguém fala isso para a Mariah?
Brenda: Porque o Sam falou que se alguém falar para ela, vai levar uma na fuça. Palavras dele.
Eu: Mau negócio.
Brenda: Nem me diga. Estou vendo esse triângulo amoroso já faz três anos.
Eu: Então por que o Dean não fala nada para ele?
Brenda: Porque Mariah jurou que nos atropelaria se alguém falasse alguma coisa.
Eu: Que merda!
Brenda: Você já pensou em fazer alguma coisa, né?
Eu: Estou com medo de ser atropelada ou levar uma na fuça. Esqueça meu plano. Acabou de ser inexistente.
Brenda: A gente está planejando fazer alguma coisa no meu aniversário para eles. Topa?
Eu: Estou dentro. A gente se fala amanhã. Tomando banho. Xx.
Brenda: Nos vemos. Xx.

Depois disso, ficou evidente que algo deveria ser feito e eu, como pastora da Santa Igreja do Sexo do Sábado à Noite, sentia-me na obrigação de ser a mediadora, juntamente a Brenda, para fazer esse namoro dar certo e surgir.

Continuei levantando todo dia pela manhã para correr e todo dia via o cara da corrida, apelido que acabou virando o nome dele. Pensei em perguntar o nome dele, mas toda vez que tentava fazer algum som sair de minha boca as palavras travavam e eu quase caía no chão. Sentia-me inútil, e sinceramente, virgem. Na terça, ele estava com uma calça preta larga, tênis de corrida e uma camiseta branca e reparei que ele tinha uma corrente prateada, no pescoço, com um pingente de cruz. Mas, bem de verdade, aquilo não me repugnava. Ele não aparentava nem um pouco ser como os caras daqui. Ele era lindo. Na quarta, ele estava de calça preta novamente e estava ficando mais frio, então estava com uma camiseta de manga comprida. O que eu não daria para tirar aquela camiseta? E aquela calça? Apertava tudo, e quando eu digo tudo, é sem exceção. Todo dia ele falava “bom dia”, eu dava um sorrisinho, porque a voz não saía, e continuava correndo. Todo dia ele parava um pouco para frente do meu trajeto e descansava. Passava a mão direita no cabelo, apoiava as mãos na coxa, curvando as costas, então passava a mão no rosto para limpar o suor e virava na direção de onde tinha vindo para voltar para algum lugar.

E todo dia eu evitava babar. Continuava correndo, e sorrindo, e pensando nele. Era o momento do dia em que eu me permitia pensar como ele seria sem roupa, como seriam os músculos dele se contraindo em cima de mim. Como seria ele se exercitando em cima de mim e, por fim, ele gemendo e me abençoando. Isso me dava um gás para correr que eu terminava meu trajeto em 35 minutos. E até podia enrolar no banho e comer um pouco mais antes de Mariah chegar.

Nossos almoços sempre eram engraçados. Os gêmeos ficavam a maior parte do tempo atentando e estavam sempre com as mesmas roupas, só a cor mudava. Brenda sempre usava minissaias ou shorts. Descobri que ela adorava fazer raiva na mãe. Mariah e Sam sempre ficavam com um jogo de olhares. Quando Mariah olhava, Sam não olhava. Quando Sam olhava, Mariah não olhava. Quando o olhar se encontrava, desviavam rapidamente. E na outra parte do almoço ficavam discutindo sobre o tempo, a aula de espanhol e futebol. Mariah torcia pelo time oposto de Sam, então sempre ficavam com: “meu carro é melhor que o seu”, “eu sou mais bonito que você”, uma coisinha realmente irritante, mas engraçada.

Sempre, antes de dormir, trocava mensagens com Mariah. Ela me explicou o porquê gostava tanto de Sam e eu, finalmente, entendi o que era amar uma pessoa do sexo oposto. Era uma loucura. E pensar que eu entendi o que é amor vendo uma amiga apaixonada é mais ainda. Pelas palavras dela o amor é “ser louco e amar um louco e só querer esse louco, porque você está cansada de ser louca assim sozinha. Porque a loucura do outro parece a loucura do um” . Foi a coisa mais louca que eu já ouvi e que mais bem descreve o amor. Não que eu ache que essa é a única definição de amor, mas para ela e Sam, tenho certeza que essa é a definição possível.

Não dormi até altas horas depois que ela me falou isso na quarta à noite. Fiquei pensando em como seria a minha definição de amor com alguém. Tinha uma música que descrevia meu amor completamente. Take It Off do Kiss. Não era exatamente uma descrição, era o que mostrava a descrição. O meu amor é descrito em uma simples palavra. Sexo. Eu queria isso. A cada dia, mas eu tinha que me conter. Faz bem para a saúde e tudo, porém em grande escala provoca assaduras, vício e, como sempre, orgasmos de fazer a cidade explodir. E não queremos que todo mundo saia voando por aí, não é mesmo? Afinal, eu sou daquelas que se deixa comer silenciosamente.

Dormi maravilhosamente de quarta para quinta. Foi a primeira vez que sonhei com o cara da corrida e digamos que o sonho foi muito atlético e suado. Só me lembro de alguns Ah’s e Oh’s. Acordei às 6 horas. Fui até o banheiro, lavei meu rosto e escovei os dentes. Prendi meu cabelo em um rabo apertado e coloquei uma leg preta, meus tênis de corrida e um top rosa neon. Hoje eu queria que ele visse meus peitos e que se foda a porcaria do frio. Ele que me esquente se achar que eu vou ficar com hipotermia.

Saí e, para minha sorte, não estava tão frio. Comecei meu trajeto em direção ao morro Sant’Anna, como sempre. Cadê ele? Hoje ele estava atrasado. Quando estava quase no fim do meu trajeto de volta, lá estava ele, vindo da direção oposta. Hoje ele estava de calça azul marinho, os tênis de corrida de sempre e uma camiseta branca, a barba por fazer, o cabelo todo amassado do sono e molhado do suor e com o rosto para cima. Ele olhava fixamente para mim, me analisando. E o que acontece? Você tropeça numa pedra mal fixada da calçada e vai de cara para o chão.

Pow. Fácil assim.

E todo um trabalho de ser gostosa e seduzir o cara da corrida foi por água abaixo.

Que merda!

Agora, sim, ele estava vindo em minha direção. Estava correndo mais rápido e atravessando a rua. Merda, ele estava vindo mesmo. Calma, Diana, respira, respira, porra.

– Você está bem? – Se abaixou para ficar mais perto de mim.
– Aham - Aham? Você tem algum problema? Fala direito. – Estou bem.
– Você está sangrando. Seu joelho. Você caiu feio, hein?
– É, mas nem está doendo – Sua visão foi meu remedinho para a dor.
– Você mora muito longe daqui? Quer ajuda para voltar para casa? – disse, com aquela voz meio rouca. Passou um braço pelas minhas costas e um formigamento começou em mim, bem onde ele havia tocado. Uma coisa muito profunda e aposto que ele sentiu também. Era como se tivesse muita energia passando por ali. Como se tivesse fogo, e eu admito, eu estava quase entrando em combustão espontânea. Os olhos dele eram verdes claros, mas tinham pintinhas marrons e os cílios eram grandes. Ele olhou nos meus olhos e, nesse momento, senti como se ele soubesse tudo sobre mim. Cada pedaço de informação guardada e escondida do mundo. Que eu não falava para ninguém.
– É naquela outra esquina ali. Acho que eu consigo ir sozinha. – Sua anta, você tinha que falar que queria que ele fosse junto sim.
– Melhor eu ir com você. Se seu joelho vacilar de novo, alguma coisa vai quebrar. – Tipo o meu coração? Só pode.
– Tudo bem. – Ainda bem que ele era um cavalheiro. Levantou-me e passou um braço pelas minhas costas, apoiando metade do meu peso.
– Você não mora por aqui há muito tempo, mora?
– Não, vim para morar com meus avós. Minha tia resolveu ir ajudar as criancinhas na África.
– Você fala como se isso fosse ruim. Sua tia é uma boa pessoa de querer ajudar o próximo que necessita mais do que você. – Como assim? Você está me dando um sermão?
– Não é ruim. Acho bom que ela foi. Só falei brincando. Ironia, sabe?
– Ironia é uma forma elegante de ser mau.
Eu ri, mas na verdade queria beijar ele. Ali na rua. Jogar ele no asfalto, pular em cima dele, tira a roupa e brincar de dança do acasalamento. Ele tinha um cheiro maravilhoso. Era um perfume forte, amadeirado e parecia que tinha sido feito especialmente para ele.

Fiquei olhando para o chão por um tempo, prestando atenção para não tropeçar novamente. Então olhei para cima e ele estava olhando para mim. Meus peitos na verdade. Dentro deles. Dentro do top. Legal! O gato caiu na armadilha. Estava gostando do que viu. Ele estava com aquele sorriso de aprovação e nem sabia. Ele olhou para o chão, ficando vermelho, e eu olhei para frente, sorrindo feliz. Continuamos andando. Chegamos em frente à minha casa.

– Você devia limpar isso e fazer um curativo. – ele falou, bem calma e docemente, mas senti que se eu não fizesse, ele saberia e eu não queria decepcioná-lo. Ele tirou o braço de mim e eu notei que estava me sentindo segura e confortável enquanto ele estava ali. Fui meio mancando, meio andando até o portãozinho e o abri.
– Eu vou. – disse, abrindo a porta que eu havia deixado destrancada. Logo que virei, ele já estava correndo de novo. Ele era lindo por trás e eu lembrava-me de outras visões, tinha uma ótima comissão de frente.
Ai, merda! Não acreditava que eu tinha feito isso. Merda. Merda. Merda. Merda. Merda. Merda. Esqueci de perguntar o nome dele. Ai, merdaaaaa... Por que eu fiz isso? Ou melhor, por que eu NÃO fiz isso? Eu tenho muita merda na cabeça ou eram aqueles olhos dele? Agora não adiantava mais dar uma de louca e gritar para ele “Qual é o seu nome, gostoso?”. Não valia a pena acordar a rua para isso. Na verdade, valia, mas eu não era tão cara de pau assim.

Entrei e subi a escada batendo o pé para descontar minha raiva em algo sólido que não gritasse de dor. Tirei minha roupa e tomei um banho. Estava muito tensionada e a água, dessa vez, não ajudou muito. Saí do banho e ainda puta, me vesti com um short preto, uma camiseta do Nine Inch Nails e pus um converse preto. Iria me culpar por isso o resto da vida. Agora era questão de honra descobrir o nome dele.

Prendi meu cabelo em um rabo, pus meus óculos de sol na cabeça e desci as escadas para comer algo antes de Mariah chegar. Agora vovó já tinha se acostumado com minhas roupas e nem falava mais nada.

– O que aconteceu? – vovó perguntou, logo que me viu. Merda. Esqueci do machucado. Foi logo abrindo o armário, pegando o kit de primeiros socorros e vindo fazer um curativo.
– Tropecei enquanto corria, fui de cara ao chão e aquele homem que corre, que te falei na segunda, me ajudou a voltar para casa.
– Quem é ele?
– Não sei, esqueci de perguntar o nome. – Vovó olhou minha cara de frustrada com a vida e começou a rir.
– Ah, menina, outro dia você pergunta. Mas ele não é meio velho para você não? – disse, jogando água oxigenada, abrindo duas gazes e pondo em cima do joelho ralado. Prendeu com uma fita branca, que não sei o nome, e me mandou levantar e dobrar o joelho um pouco para me acostumar. Ficou um curativo enorme cobrindo todo o meu joelho.
– Não. – Mas pensando bem, todos são velhos demais se você é jovem. - Tá ardendo. – disse, reclamando. Estava vendo hoje que meu mau humor iria acabar com a felicidade de qualquer um.
– Mas é claro. Tem água oxigenada aí. Já para. Mariah vem te pegar hoje de novo?
– Sim. – Disse, preparando um sanduiche daqueles. Marcus entrou na cozinha e fez a mesma pergunta que Johanna. Expliquei e tentei parecer não afetada. Vovô me deu mais 50 dólares e eu ainda tinha 30 da segunda. Assim eu vou ficar rica. Escutei uma buzina e olhei para a janela. Mariah já estava lá. Me despedi deles e fui comendo meu sanduiche em direção ao carro.
– O que aconteceu? – perguntou, assustada.
– Caí durante a corrida da manhã. – falei, estressada. Já estava pensando em fazer folhetos para distribuir quando me perguntassem.
– Eu estava falando do tamanho desse sanduíche, mas também serve. Dormiu amarrada, foi? – disse, enquanto entrava no carro. Hoje ela estava com um vestidinho florido curto, em preto e rosa, e sapatilha estilo bailarina. Um coque no cabelo e uma flor preta ao lado dele. E aquele decote e o apertadinho na cintura super ressaltavam as curvas dela.
– Sem gracinha hoje. Estou azeda e você ainda não me conhece bem o suficiente para saber quando correr. – disse, enfiando o resto do sanduíche na boca.
– Ui, que mau humor, gata. Isso é falta de sexo. – alguém que entende a parada. Olhei para ela com uma cara de “não me diga” e ela começou a rir. Essa risada de manhã cedo acorda qualquer um.

Ela foi até a escola me contando sobre como ela iria ao jogo hoje à noite e estava feliz que não teríamos aula pela tarde para a escola ser organizada para o jogo.

– Vou te pegar às 17h00 e pegue a bolsa preta no banco de trás. Trouxe umas coisinhas para você.
– Não é rosa, é? – disse, me esticando para alcançar.
– Olhe primeiro. – disse, animada.

Quando abri, fiquei surpresa ao ver o que ela tinha me trazido. Era uma camiseta preta, baby look, escrita “Vai Aston!” em rosa choque e dois pompons pretos muito cheios, igual aos de líderes de torcida.

– Para que isso? Eu vou ser líder de torcida?
– Para você usar hoje à noite no jogo. Eu e Brenda também temos uma. Líderes de torcida foram proibidas pelo conselho religioso alguns anos atrás. Só para dar animação ao time. Agora você também é da equipe.
– Legal. E o que é o conselho religioso?
– Alguns anos atrás, o conselho religioso era umas pessoas velhas que se reuniam, faziam baixos assinados para proibir livros e faziam toques de recolher, então o governador viu que zona era essa cidade e conseguiu eleger um prefeito que não fosse religioso e mandou um diretor para a escola, que também não fazia parte da comunidade católica por aqui. E vá de saia se você puder.
– Hum. Mais alguma coisa que eu deva saber?
– O conselho ainda existe, mas só pode mexer nas coisas da Igreja agora e sua vó faz parte dele. – Pelo jeito, só fico sabendo as coisas da minha família pela boca dos outros por aqui.
– E os meninos?
– O Sam joga, como você já sabe – ela olhou para mim com aquele olhar todo derretido. – E o Dean vai fotografar para o jornal da escola.
– Aham... Vai muita gente ao jogo?
– Quase a cidade inteira e ainda tem o pessoal de fora que vem com o outro time. É o último jogo. Se ganharmos essa, vamos para as nacionais.
– Quase a cidade inteira é muita gente?
– São até os ministros da igreja e o padre que vem. Não é só o time da escola, é o time da cidade. – Talvez o gostoso venha ao jogo. Yeah!
– Perfeito – disse, ficando super animada.
– Notei uma mudança nesse seu timbre.
– É o jogo. Animação. – disse, balançando a mão com os pompons.

Ela estacionou ao lado do SUV dos meninos e entramos na escola. Fomos até o armário, pegamos alguns livros e seguimos para a sala.

– Bom dia, gorda. – Era um dia bom demais para Samantha incomodar hoje. Meu dia de responder, já tinha aprendido como era a parada. Antes queMariah falasse algo, disse
– Bom dia, vadia. – Samantha me olhou como se eu tivesse lhe enfiado uma faca no coração. Tadinha, ela devia ter achado que eu era muda.
– Que orgulho da minha garota – disse Mariah. – Está aprendendo com a melhor! Que orgulho. – E começamos a rir juntas pelo corredor.

Quando o professor de biologia entrou na sala, fiquei muito surpresa. Parece que até os professores entravam no clima. Ele estava com uma camisa do time e uma cabeça do Leão Aston, o mascote da High School Aston. Todo mundo assobiou e gritou. Ouvi até um “Tá gato, hein!” vindo lá do fundo da sala. Entrei na brincadeira também, dei gritos iguais à Mariah, do meu lado.

Teitge continuou dando aula sobre os reinos animais e mostrando como o Leão de Aston é superior a águia de Holiday em vários aspectos. O resto da manhã foi igualmente animado. Todos os professores estavam com, no mínimo, uma camiseta do time e os mais animados estavam com objetos estilo leão e até seus rostos pintados. Na maior parte da manhã, meus pensamentos estavam longe. Estavam em olhos verdes e em corpos suados. Eu iria descobrir quem era ele hoje. Eu iria dar um jeito de descobrir quem era o gostoso.

No fim da última aula, eu e Mariah pulamos para fora da mesa e fomos correndo encontrar os meninos e Bre. Eles estavam na concentração do estacionamento. O revoltado hoje estava com uma camiseta da escola. Brenda estava com o rosto pintado de Leão e um arquinho de cabelo com orelhas de gato. Sam estava com o uniforme do jogo já. Conseguimos chegar até eles com muito esforço, pedindo licença ou simplesmente atropelando quando não nos deixavam passar. Sam estava muito ocupado, falando com o pessoal e Dean tirava fotos, então foi Brenda quem nos recepcionou.

– O que aconteceu com seu joelho?
– Caí hoje de manhã enquanto corria, mas está tudo bem. Consigo pular e gritar.
– Ok. Usem hoje à noite. – Disse, passando duas orelhinhas pretas iguais às dela. Vamos enlouquecer esse time pelo jeito. – E venha de saia, Diana.
– Já falei isso para ela. – disse Mariah.
– Tudo bem. Nos vemos mais tarde, então. Tenho que ir para casa ajudar minha mãe com algumas coisas. Dean vai me dar uma carona e Sam vai ficar por aqui. O treinador quer falar alguma coisa com os meninos.
– Tudo bem. – dissemos eu e Mariah, muito animadamente, nos despedimos deles, já entrando no carro e buzinando para as pessoas saírem da frente.

Peguei minhas coisas, recém ganhas, e Mariah me deixou em casa gritando um “Fique gostosa para a noite!” e eu entrei encontrando minha vó na mesa comendo lasanha. Larguei minha bolsa e a sacola perto da porta e fui lavar minhas mãos na pia para ir comer. Não tinha reparado que estava faminta até sentir aquele cheiro maravilhoso.

– Olá, querida. – Lavei minha mão na pia mesmo e sentei à mesa.
– Onde está o vovô? – perguntei, estranhando. Vovô nunca deixava de almoçar em casa.
– Ele teve que ficar trabalhando no almoço hoje para poder ir ao jogo à noite. Ninguém perde esse jogo por nada aqui na cidade. Você vai, não é, querida? – Perguntou vovó, animada.
– Mas é claro. Agora estou enturmada, então vamos animar aquele jogo um pouco. – disse, enfiando um pedaço enorme de lasanha na minha boca. Estava deliciosa. Lasanha era impossível de ficar ruim. E ainda era quatro queijos, minha preferida.

Contei para vovó sobre a animação da escola e ela me disse que sempre foi assim desde seu tempo de menina. Já que a cidade é pequena, todos são muito unidos e adoram futebol. Terminei de comer. Tirei da mesa e lavei os pratos enquanto vovó foi para a sala e assistia um pouco de tv. Descobri que ela adorava novelas mexicanas e ficava bordando cachecóis para as crianças pobres no inverno enquanto assistia.

– To subindo, vó. Vou estudar antes de me arrumar para o jogo. Mariah vem me buscar às cinco.
– Tudo bem.

Subi as escadas e fui para o meu quarto. Liguei o computador e enquanto abria o facebook e o e-mail, fiz uma lista mental do que tinha que fazer: ler o livro de literatura, tarefa de história, física e inglês. Não tinha nenhum e-mail novo, mas no facebook tinha uma mensagem de Mariah.

Maria: você já está em casa, obviamente. Olhe seu celular, nos vemos às 17h.
Peguei meu celular na bolsa e abri uma mensagem que Mariah havia me enviado. Era uma foto dela com uma roupa para lá de sensual com a seguinte legenda: Essa noite tem. O que você achou?
Respondi: se hoje não rola nada com ninguém, se mate.
Mariah: Não é ninguém que eu quero. É o Sam.
Eu: Mas vai, hoje vai. Nos vemos depois, vou estudar, bjos.
Ela estava mesmo gostosa. Entendi como era para me vestir agora. Peguei uma antiga saia de colegial que usei para ir numa festa a fantasia. Uma saia com sete pregas e toda xadrez em preto e rosa. Peguei um short curto de lycra para por baixo, a camiseta recém ganha e os pompons e, por fim, uma sapatilha preta. Eu era, oficialmente, uma líder de torcida, e eu ia ficar gostosa. E se eu não descobrisse quem era o gostoso hoje, eu ia mandar todo mundo se foder. Eu já estava quase morrendo com vontade de transar com alguém e eu queria demais que fosse ele. O cara da corrida.

Até às três e meia, consegui fazer a tarefa de inglês, física e história. Aliás, a tarefa de física estava um delícia de fazer. Estávamos revendo atrito e eu tinha muitas ideias de onde podia haver atrito, que tipo de movimento e em que posição o atrito era maior. Liguei o som num volume muito alto para ouvir ACDC enquanto tomava banho. Lavei meu cabelo e aliviei um pouco o meu estresse cantando alto. Tirei o curativo e examinei o local. Não estava tão feio, estava só ralado mesmo e não sangrava mais, mas era grande, então seria necessário fazer outro curativo. Terminei o banho, sequei o cabelo. Como já era liso, não tive muito trabalho. Dividi meu cabelo em dois e prendi meu cabelo estilo Dorothy naquele Mágico de Oz. Com duas chuquinhas, só que baixas. Vesti a roupa e fui passar uma maquiagem básica. Um pouco de base, corretivo, pó, blush e rímel. Devo admitir que em matéria de rímel, eu sempre passo bastante. Fiz outro curativo na perna, coloquei as sapatilhas, o arco na minha cabeça e peguei os pompons.

Logo ouvi a buzina. Desci a escada rápido, na ponta dos pés. O que minha vó ia falar quando ela me visse? Ia deixar a discussão para depois. Quando fechei a porta, gritei:

– Tchau, vó, nos vemos no jogo!
– Uau, que gata é essa? O que aconteceu com minha amiga que reprime os peitos? – disse, logo que entrei em seu campo de visão.
– Eu não os reprimo. E eu é que devia falar isso para você. – disse, olhando para ela. Ela estava igual à foto.

O cabelo loiro com as pontas rosa estava preso num perfeito rabo de cavalo bem apertado e estava com o arco. Ela estava com a camiseta, um short curto preto, todo rasgado, meia arrastão e sapatos de salto pretos bem baixinhos, estilo bonequinha. Uau! Se nos chamassem de gatas, a gente até miava.

– Nunca pensei que fosse te ver com alguma coisa rosa. Adorei a sua saia, mas ela não vai mostrar muito quando você pular, não?!

Levantei um pouquinho da saia já curta e ela pode ver que eu estava com short de lycra por baixo.

– Inteligente. – disse, acelerando em direção à escola.
– Eu sei que eu sou.

Quando chegamos ao estacionamento, Brenda já veio de algum lugar para cima de mim me dando um abraço. Ela estava muito linda. Estava com o cabelo loiro solto e somente o arco o segurava para não ir para o rosto da menina. Ela estava com um short e suspensórios, a nossa camiseta, uma meia calça toda preta e sapatilhas rosa.

– Vocês estão muito lindas. – disse, animada.
– Você também tá. A gente vai arrasar. – disse Mariah.
– Que horas é o jogo? - Perguntei.
– Às seis, mas temos que pegar os melhores lugares.

Peguei os pompons dentro do carro e então reparei que eram diferentes. Os meus e os de Brenda eram completamente pretos. Os de Mariah eram completamente rosas. Mas nós praticamente combinamos também. Estava me sentindo uma líder de torcida. Chamem-nos de meninas super poderosas.

Seguimos em direção à arquibancada. Enquanto andávamos pelo corredor do prédio de línguas, muitos meninos assobiaram para nós. Ouvi até um “Ai, se eu pego essa loirinha” e “Se quiser me usar de banco, eu deixo, hein. Pode sentar em mim”. Mas todos que falaram alguma coisa eram feios e mesmo que fossem bonitos não ia rolar. Já tínhamos em mente o que queríamos. O meu futuro seria uma pegada nervosa com o cara da corrida.

Já tinha várias pessoas sentadas dos dois lados da arquibancada. A esquerda estava o pessoal da escola e a direita ficava os torcedores da Águia de Holiday. O time se aquecia no campo e Dean estava sentado no último banco da arquibancada ao lado de um menino que, na terça, descobri ser Nick Treviso, editor do jornal da escola. Dean tinha uma relação muito estranha com o jornal. Tirava fotos ocasionalmente e só cobria os jogos de futebol. O resto ele achava desnecessário.

Demos oi para os meninos e só vi Dean dando um apertão na bunda de Brenda. Ai! Bem que eu queria que alguém fizesse isso comigo.

– Olhem isso. O que vocês acharam? – Disse Nick, nos passando uma folha de papel com a seguinte manchete: “Leão come Águia de Holiday” a matéria tratava de como tinha sido o jogo e tinha uma foto do time comemorando vitória.
– Como assim? – perguntou Brenda, confusa.
– Já fiz um molde hoje à tarde para a matéria de amanhã. Vamos acabar com eles. Esse jogo já é nosso. – Então rimos.

Esse jogo já estava no papo, às águias só estavam aqui, porque outro time havia desistido de jogar antes das férias então a gente ia ganhar. Deixamos os meninos conversando sobre futebol e fomos para os nossos lugares. A arquibancada tinha 12 fileiras e cabia muita gente sentada em cada uma. Sentamos na décima fileira, bem no meio. Conseguíamos ver tudo dali. O placar, os jogadores, o técnico gritando. Tudo. Inclusive as pessoas que estavam sentadas do nosso lado ou no começo da nossa arquibancada. Nada do gostoso ainda, mas eu estava crente de que ele viria. Se todo mundo vem, ele também teria que vir.

Ficamos conversando enquanto isso, na verdade, as duas ficaram conversando do meu lado, porque eu estava mais é prestando atenção no pessoal que chegava sem parar. Famílias inteiras estavam lá. Pais com crianças e até pais dos mais velhos chegavam juntos. As famílias eram muito unidas, eu gostava disso, só que nunca, realmente, tive uma. Em 15 minutos, nosso lado da arquibancada estava lotado. Tinham até aberto os portões laterais para as pessoas entrarem. Reparei que a maioria das mulheres adultas estava de saia. Quem usava vestido realmente eram adolescentes e mulheres mais velhas. Alguns homens estavam com calças esportivas ou jeans. Os pais de família de calça social e sapatos. Eu não poderia procurar meu gato por roupa, porque isso era uma mistura horrível. Ia ter que procurar pelo cabelo singular.

Só podia ser uniforme. Mulheres mais velhas com coques e as mais novas com cabelos compridos, intencionalmente armados e com arcos. Homens com gel e penteado para o lado ou para trás. Aquilo estava me dando enjoo. Mas tudo bem, eu ia achar o gato hoje, conseguir o nome, possivelmente telefone, e ele iria ao meu culto de sábado à noite. Já não estava nem me importando mais. Podia ser casado e ter filhos, mas hoje eu ia saber quem era ele e sábado à noite iríamos à minha igreja. Vi Johanna e Marcus sentando na borda da arquibancada, o único lugar em que ainda cabiam pessoas. Dei um sinal com a mão e eles responderam acenando. Ainda bem que eles não viram com que roupa eu estava. Nunca fiquei tão feliz por ter tantas cabeças num lugar.

A arquibancada da frente estava tão cheia quanto a que estávamos. As mascotes corriam pelo campo animando as crianças e logo o hino nacional começou a tocar, então todos ficamos de pé e colocamos a mão no peito. Depois, disso só ouvi muito barulho da torcida gritando e vários “Vai, Aston!”, “Come esse periquito, Aston!” e “Vamos, Leão!”. Sam sempre lançava os sinais no início do jogo. Ele estava incrível jogando. Gritamos muito a cada down. Nosso time estava na frente, mas o outro sempre conseguia empatar de algum jeito. Não era para as Águias serem uma merda? Todos já estávamos ficando tensos com o resultado, então pulamos, dançamos e rebolamos e eu ficava surpresa com a quantidade de gente que assoviava quando fazíamos isso. Todos estavam muito animados e davam força para os Leões. Já tinha entrado no espírito esportivo escolar, mas ainda dava umas olhadas atrás do cara da corrida.

Até que o achei. Ele estava de calça social, sapato e uma camisa de botão, fechada até o penúltimo botão. Qualquer um ficaria horrível com aquela roupa, mas ele, de algum jeito, não ficava. Aquilo caía muito bem nele. Pensei que ele não fosse que nem os caipiras dali. Nem me importava com isso, só queria saber o nome dele e ver ele sem roupa nenhuma em cima de mim. Ele estava lá em cima, entre algumas senhoras que conversavam com ele. Ele estava sentando e prestava muita atenção ao jogo. Estava com uma cara de quem queria mandar aquelas velhas se danarem. Ele me viu olhando para ele, reconheceu-me e mexeu a boca formando algumas palavras. Não entendi nada que ele falou então falei um “o quê?” e ele repetiu o que disse antes, ainda não entendi nada, então ele repetiu novamente. “Como está o seu joelho? ”, eram essas as palavras gloriosas. “Bem. Qual é o seu nome?”. Um “o quê?” se formou em seus lábios. “Seu nome”. “Não entendi”. “Me fala o seu nome, cacete”. “Não estou te entendendo”.

Que merda!

Bem quando eu levantei, o que na verdade eu não queria fazer, porque todos berrariam para sentar-me, para lhe gritar minha resposta, a merda do nosso time fez um down então gritaram e começaram a pular e o perdi de vista. O time que perdesse, não pulei de felicidade dessa vez. Só fiquei o procurando no meio da multidão. Nada dele. Ele tinha desaparecido. E de novo eu queria me matar ou falar num microfone que eu precisava dele.

Todo mundo se acalmou e eu sentei novamente, olhando para o jogo, mas sem realmente prestar atenção. Procurei ele entre os torcedores e nada. Eu queria chorar de raiva, espernear até que alguém fizesse esse cara voltar. Eu nunca quis tanto alguém como eu queria esse cara. Eu precisava dele. Precisava saber como ele era. Como ele fazia suas coisas. Como ele levantava pela manhã e como ele ia dormir pela noite. Eu precisava dele.

Quem era ele?

No final do último quarto de tempo, prestei atenção no jogo e parei de lamentar tudo. Merda! E estávamos empatados. O locutor narrava o jogo animadamente, mas o estádio inteiro estava tenso e olhava para os jogadores no campo.

– Aqui vamos! Sobram dez segundos e uma possibilidade de quatro pontos. É hora de rezar. – Sam saiu correndo com a bola em direção ao down.Iríamos ganhar. – E o leão perde a bola. A bola é recolhida por Carlos Furtes, camisa 22 do águia. Ele está indo em direção ao ataque! E as águias ganham o jogo! Que vitória! Incrível! A vitória é da águia! A vitória é da águia!

Não acredito. Podia ser um dia pior? O cara que fez o down tirou o capacete e o jogou no chão. Os outros do time foram para cima dele e o levantaram. Os torcedores entraram no campo e comemoraram junto. É, podia ser pior. Minha vó se aproximava, já que todo mundo saía pela frente.

– O que é isso? – disse ela, olhando para mim e apontando para eu toda. Já azeda com toda a merda que tinha acontecido hoje, fui bem grossa com ela.
– Sou eu, vó. Gostou? Acho que tenho uma que cabe em você.
– O quê? – falou ela, incrédula com o que tinha acontecido. – Já para o carro. Agora! – despedi-me das meninas, que me olhavam surpresas, já que nunca tinha sido grossa com elas nem com ninguém perto delas.
– Venha me buscar 20 minutos mais cedo amanhã que vamos comer juntas no Café Chanel. – disse, enquanto abraçava Mariah.
– Tudo bem. Qualquer coisa, me ligue. – disse, preocupada comigo.

Fomos em direção ao estacionamento aberto em que os visitantes deixavam seus carros. Ela nem esperou eu chegar ao carro para começar a falar. Meu vô não falou nada. Apenas ficou de cabeça baixa. Acho que ele nunca concordou com vovó, mas porque ama ela, prefere ficar quieto a brigar.

– Quem você pensa que é? – Pergunta retórica.
– A neta da coroa do padre. – disse, alto o suficiente para ouvir-me, olhando firme para ela. Ela, que estava na minha frente, parou e olhou para trás, me lançou um olhar de quem tem dó. E isso era a coisa que eu mais odiava no mundo. Que tivessem dó de mim.
– Eu nunca devia ter deixado aquela mulher te criar. – Ela falava assim da própria filha. - Ela te criou como uma menina desmerecedora das graças do senhor. Pensei que aqui, você fosse ficar tranquila. Não tinha arranjado nenhum problema e estava indo tão bem com seu avô e comigo. Você não sabe ser uma menina de família por mais que tente, sabe por quê? Porque você não tem e nunca teve uma. Aguentei suas roupas essa semana, porque sei que na cidade as coisas são diferentes, mas o que vi hoje tem em todo lugar. Chama-se falta de vergonha ou vagabunda, se você preferir.

Ela continuou andando em direção ao carro e falando como era igual a minha tia e como tínhamos abandonado todas as virtudes e a ética moral com que fomos criadas. Primeiro, eu não fui criada por ela. Segundo, eu fui criada com virtudes morais, só que não as dela. Terceiro, eu era mesmo igual a minha tia, mas não éramos putas como ela achava. E por último, ela que fosse se foder, porque já não devia fazer isso há muito tempo para ser tão mal comida assim. Entramos no carro e eu continuava ouvindo. Não ia dar o presente de falar com ela outra vez. Não ia chorar. Não ia berrar. Não ia falar de como ninguém aguentava ela e de como papai odiava esse lugar e Vivian também. Não ia reclamar de nada. Quando chegamos em casa, ela continuou falando e me mandou para o meu quarto. Peguei uma barra de chocolate na geladeira e subi.

Fui tomar outro banho para tirar de mim toda a merda que ela tinha dito. Eu não era aquilo, mas odiava a ouvir falando isso. E a única coisa que eu tinha feito era ter colocado uma saia curta. Não desejava o mal dela. Só queria que ela visse que estava errada e pedisse desculpas a mim e a minha tia. Que, aliás, ela tinha expulsado de casa no último ano de escola, porque não “aguentou tudo o que ela fazia”. Vivian me falou que aprontava bastante e que era realmente festeira, mas isso não é motivo suficiente para tirar um filho de casa. Vivian foi morar com meu pai, que tinha recém terminado a faculdade, e conhecido minha mãe.

Quando minha tia terminou a escola, foi para a faculdade e fez línguas e então já conseguiu trabalho na empresa de turismo e sempre ganhou bem por ser poliglota. Meu pai se casou e então aconteceu tudo aquilo e minha tia ficou comigo. Vivian falou que voltou a falar com vovó alguns anos atrás e que tinham se reconciliado, mas que minha vó não tinha pedido desculpas. Talvez o mesmo acontecesse comigo, só que a única diferença é que eu não tinha para onde ir.

Saí do banho e me sequei. Apaguei a luz do quarto e acendi uma vela que ficava em cima do criado mudo. Deitei sem roupa mesmo e com o cabelo molhado e sem pentear. Chorei, mas não pelo fato do que minha vó tinha dito, mas porque era verdade e eu sabia que era. Sentia falta dos meus pais mesmo não lembrando quase nada deles. Sentia falta de minha tia, que era minha melhor amiga e a coisa mais perto de uma família que eu tinha. Sentia falta de ser abraçada e coberta por alguém à noite. De ter alguém se preocupando comigo. Sentia raiva de minha vó por me julgar por eu ser quem eu era.

Depois de muito tempo, a parafina toda queimou e a luz terminou ao mesmo tempo em que meus olhos se fecharam.

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Acordei às sete e meia. Arrumei minha bolsa, que não havia arrumado na noite anterior. Pus a barra de chocolate dentro dela, porque quando estou puta da cara a única coisa que consigo comer é chocolate, então esse seria meu almoço.

Tomei banho e resolvi que não daria um gostinho de vitória para minha vó, então me vesti com um short jeans curto de lavagem clara e coloquei um suéter bem quente de lã, listrado em preto e branco. Coloquei meu converse preto. Fiz uma trança lateral larga e deixei alguns fios caírem no meu rosto. Passei base, corretivo e rímel para dar uma disfarçada nos olhos que estavam um pouco inchados do pouco sono e de tanto chorar. Peguei a chave reserva de baixo da flor que minha vó mantinha no corredor e desci até a cozinha. Abri a porta, com cuidado para não fazer barulho, e fui para frente no jardim.

Esperei 10 minutos até a Loira aparecer. Entrei no carro em silêncio e fomos até o Café Chanel que ficava na esquina da rua da escola. Era uma casa reformada e tudo dentro dele era de madeira e era bem quentinho. Eu estava vindo aqui todo fim de semana desde que eu tinha chegado à cidade. Entramos no Café, que só tinha casais do lado de fora, e reparei que Mariah estava me olhando com um pouco de receio em falar algo.

– Pode falar, Mariah.
– Você está bem? – ela estava muito preocupada.
– Estou bem. A minha vó só falou umas porcarias ontem, mas nada que chocolate quente não resolva. – dei um abraço nela e senti-a relaxar.
– Fiquei preocupada ontem. De uma hora para outra você estava super animada e então você meio que sumiu do seu corpo. Ficou bem deprê.
– Foi porque o time perdeu.
– Eu sei que não é. Eu também estou triste porque o time perdeu, mas você está com uma cara de sofrida de verdade. De quem não está sendo correspondida por alguém, talvez?

Arrastei Mariah até os últimos cômodos e sentei numa mesa com dois lugares. Resumi para ela o que minha vó tinha falado e porque eu estava frustrada com tudo. Ela me perguntou quem era ele e eu expliquei a história do porquê eu estava puta da vida, o que eu sentia quando pensava nocara da corrida e o que tinha acontecido ontem pela manhã quando fui correr. Logo o garçom chegou e pedimos dois chocolates quentes e dois croissants de queijo.

Mariah me fez descrever o cara minuciosamente para ver se ela não o conhecia e resultado: NÃO. Eu já estava achando que esse cara era mesmo produto da minha imaginação. E ele me deixava muito excitada. Ele me fazia pensar coisas absurdas. Coisas que eu pensava, mas por causa dele pensava com muito mais frequência. E eu só o via fazia quatro dias. Hoje não fui nem correr para não embaçar mais minha mente.

– Qualquer coisa você pode ir para a minha casa. Minha mãe não se importaria.
– Obrigada, Mariah. – disse, realmente agradecida. Eu tinha para aonde ir se algo desse errado.

Comemos e fomos para a escola correndo, porque o sinal já havia batido. O estacionamento dos alunos estava lotado, então deixamos no dos visitantes. Fomos para os armários, pegamos os livros e fomos para a sala. Batemos na porta e estava um silêncio desgraçado nela. O professor nos deixou entrar e mandou nos sentarmos e começarmos a copiar. Todo mundo parecia meio morto. Era olhar para frente, ler, abaixar a cabeça, copiar e fazer tudo de novo. O professor não falou nada nem explicou a matéria e isso aconteceu à manhã inteira com todos os professores e alunos.

Se levar em conta o jeito em que eu me encontrava, não sei como que notei a diferença. A manhã passou muito lentamente, parecia que tinha ocorrido um massacre quando a única coisa que perdemos foram míseros quatro pontos num jogo de futebol, ficando com um placar: 35 visitantes X 31 da casa. Ninguém falou, se mexeu, tossiu, espirrou, nem pediu para ir ao banheiro. Esse povo tinha uma bexiga muito boa ou o banheiro estava interditado.

Fomos para o refeitório quando as aulas terminaram e ele estava do mesmo jeito. Sentamos à mesa de sempre na ordem de sempre. Demos oi para o pessoal e eles já foram pegar comida enquanto fiquei na mesa com minha barra de chocolate.

– Por que você está comendo chocolate? – Mariah perguntava demais sobre tudo, em minha opinião.
– Porque eu quero. – respondi, enquanto olhava para o chão, entediada.
– Me dá um pedaço?
– Não. – ela me olhou com cara feia e voltou a comer seu sanduíche. Fiquei com dó da coitadinha e dei um dois quadradinhos para ela. Ela me viu por na bandeja e me deu um abraço apertado que fiquei até sem ar.
– Eu acho que você devia chamar o Sam para sair, Loira.
– Ele não vai querer ir e já tive essa conversa com você outro dia.

A Loira não ia fazer nada que eu falasse, então fui falar com Brenda, que estava dando comida na boca do namorado.

– O que vocês fazem aqui no sábado?
– A gente vai para o shopping em Porte Alegre, meus pais têm uma casa lá. Andamos por aí. – isso me lembrou de que já não andava por aí fazia um tempo. - E amanhã, por acaso, tem a rave no Barracão dos Mason.
– Já ouvi falar dela. Ela existe há muito tempo. Quando minha tia morava aqui, ela já existia. Isso faz uns 25 anos.
– Mas tem. Foi o filho mais novo do falecido Sr. Mason que assumiu ela, já que o mais velho teve que ir cuidar da fábrica de Madeira. Meu pai comprou a empresa depois que o velho morreu. Ele sempre dá um desconto para a gente lá. Quer ir, amor? – disse, já falando com Dean.
– Vamos. Ei, Sam, quer ir lá ao Mason amanhã à noite?
– Vamos – disse, com uma voz não muito animada, mas o suficiente para constatar que o superman queria ir mesmo.
– Eu também vou, então – disse Mariah, pondo um sorriso de orelha a orelha. Ficando super alegre com o que poderia conseguir.
– É muito cheio por lá?
– Bastante. É a única coisa que tem aqui na cidade mesmo. Vem gente de outros lugares para a festa. Mas falo para o Mason segurar uns lugares lá no Vip.
– Tem todo fim de semana?
– Não. Só a cada duas semanas.
– E lá é legal? Tem uns caras por lá?
– É o que mais tem. Ele até fez um bar lá. Tem de tudo. Vamos dizer que até o barman e a garçonete brilham.
– Legal. É longe?
– Um pouquinho, mas a gente pode ir no carro dos meninos. Né, amor? – Já vi que Brenda usava um pouquinho seu namorado. Pagando por esse uso mais tarde, problema nenhum ocorre.
– Aham. A gente passa para te pegar em casa lá pelas nove, pode ser?
– Pode. – falei, já ficando animada com o que eu podia conseguir lá. – Posso me arrumar na sua casa e dormir por lá, Mariah?
– Pode. Minha mãe não vai estar mesmo, então temos a casa toda para nós.
– Legal.
– Como foi com a sua vó ontem? – Pelo menos agora sei que tem mais de uma pessoa que se importa comigo.
– Uma merda. Ela falou coisas que eu sei que são verdade, mas não significa que ela tenha que jogar na minha cara. – falei, pensando em tudo que ela tinha me dito. Aquilo estava me deixando mal de novo. – Ela falou que o que ela viu lá: “Chama-se falta de vergonha ou vagabunda, se você preferir”. Eu não me ofendo tão fácil assim, até porque eu sei que isso não é verdade. Mas não significa que eu queira ouvi-la falando.
– Lamento por você brigar com ela, mas saiba que qualquer coisa, estamos aqui. Se você precisar de um lugar para ficar, minha casa está de portas abertas.

Quando ela falou isso, senti que eu tinha mesmo para onde ir. Que igual a minha tia, eu tinha opções. Elas gostavam de mim e ninguém nuncTodos os dias foram normais até quinta. Todas as aulas foram normais, com exceção a de literatura na quarta, quando a professora tirou uma menina que se negou a ler o livro, porque aquilo desrespeitava a sua crença em Deus. Por sorte, a menina era Samantha, então eu e Mariah rimos muito dela depois, já que a mesma saiu resmungando sobre como o mundo era injusto com ela. E reparei que, quando ela foi tirada de sala, Sam deu um sorrisinho de alegria. Acho que nem ele aguentava mais aquela menina. Todo dia, quando passávamos no corredor perto dela, era sempre um apelido diferente.

Na terça:

– Bom dia, mundiça. – isso foi a Samantha que disse.
– Bom dia, fedida. – isso foi a Mariah. Juro que vi Samantha cheirando seu cabelo depois que passou por nós. Que orgulho da minha loira.

Na quarta:

– Dormiu bem, porca?
– Com o seu pai, quem não dorme? – Juro que ela ficou boquiaberta com Mariah.

Depois disso, todo dia ficava ansiosa com a resposta que Mariah daria. Mah sempre me pegava às 08h40min da manhã em casa. Corríamos para a escola, pegávamos os livros no armário e íamos para a sala. Sempre almoçávamos com os meninos e Brenda. Todo dia os pombinhos ficavam se pegando e na quarta à noite mandei uma mensagem para Brenda depois de tanto desconfiar de Sam e Mariah. Preferi ser bem direta a ficar enrolando.

Eu: Posso te perguntar uma coisa? Só não fala nada para o Dean.
Brenda: Fale. Ele nunca saberá.
Eu: O Sam gosta da Mariah ou é só impressão minha?
Brenda: Ele gosta dela desde que eles se conheceram, todos nós sabemos, menos a Mariah. E com ela é a mesma coisa. Sam tem medo de chegar nela, então só fica apreciando por fora.
Eu: Uau! E a Samantha?
Brenda: Para fazer ciúmes na Mariah, mas ele teve a infelicidade de escolher uma nojentinha, como você já sabe.
Eu: Por que ninguém fala isso para a Mariah?
Brenda: Porque o Sam falou que se alguém falar para ela, vai levar uma na fuça. Palavras dele.
Eu: Mau negócio.
Brenda: Nem me diga. Estou vendo esse triângulo amoroso já faz três anos.
Eu: Então por que o Dean não fala nada para ele?
Brenda: Porque Mariah jurou que nos atropelaria se alguém falasse alguma coisa.
Eu: Que merda!
Brenda: Você já pensou em fazer alguma coisa, né?
Eu: Estou com medo de ser atropelada ou levar uma na fuça. Esqueça meu plano. Acabou de ser inexistente.
Brenda: A gente está planejando fazer alguma coisa no meu aniversário para eles. Topa?
Eu: Estou dentro. A gente se fala amanhã. Tomando banho. Xx.
Brenda: Nos vemos. Xx.

Depois disso, ficou evidente que algo deveria ser feito e eu, como pastora da Santa Igreja do Sexo do Sábado à Noite, sentia-me na obrigação de ser a mediadora, juntamente a Brenda, para fazer esse namoro dar certo e surgir.

Continuei levantando todo dia pela manhã para correr e todo dia via o cara da corrida, apelido que acabou virando o nome dele. Pensei em perguntar o nome dele, mas toda vez que tentava fazer algum som sair de minha boca as palavras travavam e eu quase caía no chão. Sentia-me inútil, e sinceramente, virgem. Na terça, ele estava com uma calça preta larga, tênis de corrida e uma camiseta branca e reparei que ele tinha uma corrente prateada, no pescoço, com um pingente de cruz. Mas, bem de verdade, aquilo não me repugnava. Ele não aparentava nem um pouco ser como os caras daqui. Ele era lindo. Na quarta, ele estava de calça preta novamente e estava ficando mais frio, então estava com uma camiseta de manga comprida. O que eu não daria para tirar aquela camiseta? E aquela calça? Apertava tudo, e quando eu digo tudo, é sem exceção. Todo dia ele falava “bom dia”, eu dava um sorrisinho, porque a voz não saía, e continuava correndo. Todo dia ele parava um pouco para frente do meu trajeto e descansava. Passava a mão direita no cabelo, apoiava as mãos na coxa, curvando as costas, então passava a mão no rosto para limpar o suor e virava na direção de onde tinha vindo para voltar para algum lugar.

E todo dia eu evitava babar. Continuava correndo, e sorrindo, e pensando nele. Era o momento do dia em que eu me permitia pensar como ele seria sem roupa, como seriam os músculos dele se contraindo em cima de mim. Como seria ele se exercitando em cima de mim e, por fim, ele gemendo e me abençoando. Isso me dava um gás para correr que eu terminava meu trajeto em 35 minutos. E até podia enrolar no banho e comer um pouco mais antes de Mariah chegar.

Nossos almoços sempre eram engraçados. Os gêmeos ficavam a maior parte do tempo atentando e estavam sempre com as mesmas roupas, só a cor mudava. Brenda sempre usava minissaias ou shorts. Descobri que ela adorava fazer raiva na mãe. Mariah e Sam sempre ficavam com um jogo de olhares. Quando Mariah olhava, Sam não olhava. Quando Sam olhava, Mariah não olhava. Quando o olhar se encontrava, desviavam rapidamente. E na outra parte do almoço ficavam discutindo sobre o tempo, a aula de espanhol e futebol. Mariah torcia pelo time oposto de Sam, então sempre ficavam com: “meu carro é melhor que o seu”, “eu sou mais bonito que você”, uma coisinha realmente irritante, mas engraçada.

Sempre, antes de dormir, trocava mensagens com Mariah. Ela me explicou o porquê gostava tanto de Sam e eu, finalmente, entendi o que era amar uma pessoa do sexo oposto. Era uma loucura. E pensar que eu entendi o que é amor vendo uma amiga apaixonada é mais ainda. Pelas palavras dela o amor é “ser louco e amar um louco e só querer esse louco, porque você está cansada de ser louca assim sozinha. Porque a loucura do outro parece a loucura do um” . Foi a coisa mais louca que eu já ouvi e que mais bem descreve o amor. Não que eu ache que essa é a única definição de amor, mas para ela e Sam, tenho certeza que essa é a definição possível.

Não dormi até altas horas depois que ela me falou isso na quarta à noite. Fiquei pensando em como seria a minha definição de amor com alguém. Tinha uma música que descrevia meu amor completamente. Take It Off do Kiss. Não era exatamente uma descrição, era o que mostrava a descrição. O meu amor é descrito em uma simples palavra. Sexo. Eu queria isso. A cada dia, mas eu tinha que me conter. Faz bem para a saúde e tudo, porém em grande escala provoca assaduras, vício e, como sempre, orgasmos de fazer a cidade explodir. E não queremos que todo mundo saia voando por aí, não é mesmo? Afinal, eu sou daquelas que se deixa comer silenciosamente.

Dormi maravilhosamente de quarta para quinta. Foi a primeira vez que sonhei com o cara da corrida e digamos que o sonho foi muito atlético e suado. Só me lembro de alguns Ah’s e Oh’s. Acordei às 6 horas. Fui até o banheiro, lavei meu rosto e escovei os dentes. Prendi meu cabelo em um rabo apertado e coloquei uma leg preta, meus tênis de corrida e um top rosa neon. Hoje eu queria que ele visse meus peitos e que se foda a porcaria do frio. Ele que me esquente se achar que eu vou ficar com hipotermia.

Saí e, para minha sorte, não estava tão frio. Comecei meu trajeto em direção ao morro Sant’Anna, como sempre. Cadê ele? Hoje ele estava atrasado. Quando estava quase no fim do meu trajeto de volta, lá estava ele, vindo da direção oposta. Hoje ele estava de calça azul marinho, os tênis de corrida de sempre e uma camiseta branca, a barba por fazer, o cabelo todo amassado do sono e molhado do suor e com o rosto para cima. Ele olhava fixamente para mim, me analisando. E o que acontece? Você tropeça numa pedra mal fixada da calçada e vai de cara para o chão.

Pow. Fácil assim.

E todo um trabalho de ser gostosa e seduzir o cara da corrida foi por água abaixo.

Que merda!

Agora, sim, ele estava vindo em minha direção. Estava correndo mais rápido e atravessando a rua. Merda, ele estava vindo mesmo. Calma, Diana, respira, respira, porra.

– Você está bem? – Se abaixou para ficar mais perto de mim.
– Aham - Aham? Você tem algum problema? Fala direito. – Estou bem.
– Você está sangrando. Seu joelho. Você caiu feio, hein?
– É, mas nem está doendo – Sua visão foi meu remedinho para a dor.
– Você mora muito longe daqui? Quer ajuda para voltar para casa? – disse, com aquela voz meio rouca. Passou um braço pelas minhas costas e um formigamento começou em mim, bem onde ele havia tocado. Uma coisa muito profunda e aposto que ele sentiu também. Era como se tivesse muita energia passando por ali. Como se tivesse fogo, e eu admito, eu estava quase entrando em combustão espontânea. Os olhos dele eram verdes claros, mas tinham pintinhas marrons e os cílios eram grandes. Ele olhou nos meus olhos e, nesse momento, senti como se ele soubesse tudo sobre mim. Cada pedaço de informação guardada e escondida do mundo. Que eu não falava para ninguém.
– É naquela outra esquina ali. Acho que eu consigo ir sozinha. – Sua anta, você tinha que falar que queria que ele fosse junto sim.
– Melhor eu ir com você. Se seu joelho vacilar de novo, alguma coisa vai quebrar. – Tipo o meu coração? Só pode.
– Tudo bem. – Ainda bem que ele era um cavalheiro. Levantou-me e passou um braço pelas minhas costas, apoiando metade do meu peso.
– Você não mora por aqui há muito tempo, mora?
– Não, vim para morar com meus avós. Minha tia resolveu ir ajudar as criancinhas na África.
– Você fala como se isso fosse ruim. Sua tia é uma boa pessoa de querer ajudar o próximo que necessita mais do que você. – Como assim? Você está me dando um sermão?
– Não é ruim. Acho bom que ela foi. Só falei brincando. Ironia, sabe?
– Ironia é uma forma elegante de ser mau.
Eu ri, mas na verdade queria beijar ele. Ali na rua. Jogar ele no asfalto, pular em cima dele, tira a roupa e brincar de dança do acasalamento. Ele tinha um cheiro maravilhoso. Era um perfume forte, amadeirado e parecia que tinha sido feito especialmente para ele.

Fiquei olhando para o chão por um tempo, prestando atenção para não tropeçar novamente. Então olhei para cima e ele estava olhando para mim. Meus peitos na verdade. Dentro deles. Dentro do top. Legal! O gato caiu na armadilha. Estava gostando do que viu. Ele estava com aquele sorriso de aprovação e nem sabia. Ele olhou para o chão, ficando vermelho, e eu olhei para frente, sorrindo feliz. Continuamos andando. Chegamos em frente à minha casa.

– Você devia limpar isso e fazer um curativo. – ele falou, bem calma e docemente, mas senti que se eu não fizesse, ele saberia e eu não queria decepcioná-lo. Ele tirou o braço de mim e eu notei que estava me sentindo segura e confortável enquanto ele estava ali. Fui meio mancando, meio andando até o portãozinho e o abri.
– Eu vou. – disse, abrindo a porta que eu havia deixado destrancada. Logo que virei, ele já estava correndo de novo. Ele era lindo por trás e eu lembrava-me de outras visões, tinha uma ótima comissão de frente.
Ai, merda! Não acreditava que eu tinha feito isso. Merda. Merda. Merda. Merda. Merda. Merda. Esqueci de perguntar o nome dele. Ai, merdaaaaa... Por que eu fiz isso? Ou melhor, por que eu NÃO fiz isso? Eu tenho muita merda na cabeça ou eram aqueles olhos dele? Agora não adiantava mais dar uma de louca e gritar para ele “Qual é o seu nome, gostoso?”. Não valia a pena acordar a rua para isso. Na verdade, valia, mas eu não era tão cara de pau assim.

Entrei e subi a escada batendo o pé para descontar minha raiva em algo sólido que não gritasse de dor. Tirei minha roupa e tomei um banho. Estava muito tensionada e a água, dessa vez, não ajudou muito. Saí do banho e ainda puta, me vesti com um short preto, uma camiseta do Nine Inch Nails e pus um converse preto. Iria me culpar por isso o resto da vida. Agora era questão de honra descobrir o nome dele.

Prendi meu cabelo em um rabo, pus meus óculos de sol na cabeça e desci as escadas para comer algo antes de Mariah chegar. Agora vovó já tinha se acostumado com minhas roupas e nem falava mais nada.

– O que aconteceu? – vovó perguntou, logo que me viu. Merda. Esqueci do machucado. Foi logo abrindo o armário, pegando o kit de primeiros socorros e vindo fazer um curativo.
– Tropecei enquanto corria, fui de cara ao chão e aquele homem que corre, que te falei na segunda, me ajudou a voltar para casa.
– Quem é ele?
– Não sei, esqueci de perguntar o nome. – Vovó olhou minha cara de frustrada com a vida e começou a rir.
– Ah, menina, outro dia você pergunta. Mas ele não é meio velho para você não? – disse, jogando água oxigenada, abrindo duas gazes e pondo em cima do joelho ralado. Prendeu com uma fita branca, que não sei o nome, e me mandou levantar e dobrar o joelho um pouco para me acostumar. Ficou um curativo enorme cobrindo todo o meu joelho.
– Não. – Mas pensando bem, todos são velhos demais se você é jovem. - Tá ardendo. – disse, reclamando. Estava vendo hoje que meu mau humor iria acabar com a felicidade de qualquer um.
– Mas é claro. Tem água oxigenada aí. Já para. Mariah vem te pegar hoje de novo?
– Sim. – Disse, preparando um sanduiche daqueles. Marcus entrou na cozinha e fez a mesma pergunta que Johanna. Expliquei e tentei parecer não afetada. Vovô me deu mais 50 dólares e eu ainda tinha 30 da segunda. Assim eu vou ficar rica. Escutei uma buzina e olhei para a janela. Mariah já estava lá. Me despedi deles e fui comendo meu sanduiche em direção ao carro.
– O que aconteceu? – perguntou, assustada.
– Caí durante a corrida da manhã. – falei, estressada. Já estava pensando em fazer folhetos para distribuir quando me perguntassem.
– Eu estava falando do tamanho desse sanduíche, mas também serve. Dormiu amarrada, foi? – disse, enquanto entrava no carro. Hoje ela estava com um vestidinho florido curto, em preto e rosa, e sapatilha estilo bailarina. Um coque no cabelo e uma flor preta ao lado dele. E aquele decote e o apertadinho na cintura super ressaltavam as curvas dela.
– Sem gracinha hoje. Estou azeda e você ainda não me conhece bem o suficiente para saber quando correr. – disse, enfiando o resto do sanduíche na boca.
– Ui, que mau humor, gata. Isso é falta de sexo. – alguém que entende a parada. Olhei para ela com uma cara de “não me diga” e ela começou a rir. Essa risada de manhã cedo acorda qualquer um.

Ela foi até a escola me contando sobre como ela iria ao jogo hoje à noite e estava feliz que não teríamos aula pela tarde para a escola ser organizada para o jogo.

– Vou te pegar às 17h00 e pegue a bolsa preta no banco de trás. Trouxe umas coisinhas para você.
– Não é rosa, é? – disse, me esticando para alcançar.
– Olhe primeiro. – disse, animada.

Quando abri, fiquei surpresa ao ver o que ela tinha me trazido. Era uma camiseta preta, baby look, escrita “Vai Aston!” em rosa choque e dois pompons pretos muito cheios, igual aos de líderes de torcida.

– Para que isso? Eu vou ser líder de torcida?
– Para você usar hoje à noite no jogo. Eu e Brenda também temos uma. Líderes de torcida foram proibidas pelo conselho religioso alguns anos atrás. Só para dar animação ao time. Agora você também é da equipe.
– Legal. E o que é o conselho religioso?
– Alguns anos atrás, o conselho religioso era umas pessoas velhas que se reuniam, faziam baixos assinados para proibir livros e faziam toques de recolher, então o governador viu que zona era essa cidade e conseguiu eleger um prefeito que não fosse religioso e mandou um diretor para a escola, que também não fazia parte da comunidade católica por aqui. E vá de saia se você puder.
– Hum. Mais alguma coisa que eu deva saber?
– O conselho ainda existe, mas só pode mexer nas coisas da Igreja agora e sua vó faz parte dele. – Pelo jeito, só fico sabendo as coisas da minha família pela boca dos outros por aqui.
– E os meninos?
– O Sam joga, como você já sabe – ela olhou para mim com aquele olhar todo derretido. – E o Dean vai fotografar para o jornal da escola.
– Aham... Vai muita gente ao jogo?
– Quase a cidade inteira e ainda tem o pessoal de fora que vem com o outro time. É o último jogo. Se ganharmos essa, vamos para as nacionais.
– Quase a cidade inteira é muita gente?
– São até os ministros da igreja e o padre que vem. Não é só o time da escola, é o time da cidade. – Talvez o gostoso venha ao jogo. Yeah!
– Perfeito – disse, ficando super animada.
– Notei uma mudança nesse seu timbre.
– É o jogo. Animação. – disse, balançando a mão com os pompons.

Ela estacionou ao lado do SUV dos meninos e entramos na escola. Fomos até o armário, pegamos alguns livros e seguimos para a sala.

– Bom dia, gorda. – Era um dia bom demais para Samantha incomodar hoje. Meu dia de responder, já tinha aprendido como era a parada. Antes queMariah falasse algo, disse
– Bom dia, vadia. – Samantha me olhou como se eu tivesse lhe enfiado uma faca no coração. Tadinha, ela devia ter achado que eu era muda.
– Que orgulho da minha garota – disse Mariah. – Está aprendendo com a melhor! Que orgulho. – E começamos a rir juntas pelo corredor.

Quando o professor de biologia entrou na sala, fiquei muito surpresa. Parece que até os professores entravam no clima. Ele estava com uma camisa do time e uma cabeça do Leão Aston, o mascote da High School Aston. Todo mundo assobiou e gritou. Ouvi até um “Tá gato, hein!” vindo lá do fundo da sala. Entrei na brincadeira também, dei gritos iguais à Mariah, do meu lado.

Teitge continuou dando aula sobre os reinos animais e mostrando como o Leão de Aston é superior a águia de Holiday em vários aspectos. O resto da manhã foi igualmente animado. Todos os professores estavam com, no mínimo, uma camiseta do time e os mais animados estavam com objetos estilo leão e até seus rostos pintados. Na maior parte da manhã, meus pensamentos estavam longe. Estavam em olhos verdes e em corpos suados. Eu iria descobrir quem era ele hoje. Eu iria dar um jeito de descobrir quem era o gostoso.

No fim da última aula, eu e Mariah pulamos para fora da mesa e fomos correndo encontrar os meninos e Bre. Eles estavam na concentração do estacionamento. O revoltado hoje estava com uma camiseta da escola. Brenda estava com o rosto pintado de Leão e um arquinho de cabelo com orelhas de gato. Sam estava com o uniforme do jogo já. Conseguimos chegar até eles com muito esforço, pedindo licença ou simplesmente atropelando quando não nos deixavam passar. Sam estava muito ocupado, falando com o pessoal e Dean tirava fotos, então foi Brenda quem nos recepcionou.

– O que aconteceu com seu joelho?
– Caí hoje de manhã enquanto corria, mas está tudo bem. Consigo pular e gritar.
– Ok. Usem hoje à noite. – Disse, passando duas orelhinhas pretas iguais às dela. Vamos enlouquecer esse time pelo jeito. – E venha de saia, Diana.
– Já falei isso para ela. – disse Mariah.
– Tudo bem. Nos vemos mais tarde, então. Tenho que ir para casa ajudar minha mãe com algumas coisas. Dean vai me dar uma carona e Sam vai ficar por aqui. O treinador quer falar alguma coisa com os meninos.
– Tudo bem. – dissemos eu e Mariah, muito animadamente, nos despedimos deles, já entrando no carro e buzinando para as pessoas saírem da frente.

Peguei minhas coisas, recém ganhas, e Mariah me deixou em casa gritando um “Fique gostosa para a noite!” e eu entrei encontrando minha vó na mesa comendo lasanha. Larguei minha bolsa e a sacola perto da porta e fui lavar minhas mãos na pia para ir comer. Não tinha reparado que estava faminta até sentir aquele cheiro maravilhoso.

– Olá, querida. – Lavei minha mão na pia mesmo e sentei à mesa.
– Onde está o vovô? – perguntei, estranhando. Vovô nunca deixava de almoçar em casa.
– Ele teve que ficar trabalhando no almoço hoje para poder ir ao jogo à noite. Ninguém perde esse jogo por nada aqui na cidade. Você vai, não é, querida? – Perguntou vovó, animada.
– Mas é claro. Agora estou enturmada, então vamos animar aquele jogo um pouco. – disse, enfiando um pedaço enorme de lasanha na minha boca. Estava deliciosa. Lasanha era impossível de ficar ruim. E ainda era quatro queijos, minha preferida.

Contei para vovó sobre a animação da escola e ela me disse que sempre foi assim desde seu tempo de menina. Já que a cidade é pequena, todos são muito unidos e adoram futebol. Terminei de comer. Tirei da mesa e lavei os pratos enquanto vovó foi para a sala e assistia um pouco de tv. Descobri que ela adorava novelas mexicanas e ficava bordando cachecóis para as crianças pobres no inverno enquanto assistia.

– To subindo, vó. Vou estudar antes de me arrumar para o jogo. Mariah vem me buscar às cinco.
– Tudo bem.

Subi as escadas e fui para o meu quarto. Liguei o computador e enquanto abria o facebook e o e-mail, fiz uma lista mental do que tinha que fazer: ler o livro de literatura, tarefa de história, física e inglês. Não tinha nenhum e-mail novo, mas no facebook tinha uma mensagem de Mariah.

Maria: você já está em casa, obviamente. Olhe seu celular, nos vemos às 17h.
Peguei meu celular na bolsa e abri uma mensagem que Mariah havia me enviado. Era uma foto dela com uma roupa para lá de sensual com a seguinte legenda: Essa noite tem. O que você achou?
Respondi: se hoje não rola nada com ninguém, se mate.
Mariah: Não é ninguém que eu quero. É o Sam.
Eu: Mas vai, hoje vai. Nos vemos depois, vou estudar, bjos.
Ela estava mesmo gostosa. Entendi como era para me vestir agora. Peguei uma antiga saia de colegial que usei para ir numa festa a fantasia. Uma saia com sete pregas e toda xadrez em preto e rosa. Peguei um short curto de lycra para por baixo, a camiseta recém ganha e os pompons e, por fim, uma sapatilha preta. Eu era, oficialmente, uma líder de torcida, e eu ia ficar gostosa. E se eu não descobrisse quem era o gostoso hoje, eu ia mandar todo mundo se foder. Eu já estava quase morrendo com vontade de transar com alguém e eu queria demais que fosse ele. O cara da corrida.

Até às três e meia, consegui fazer a tarefa de inglês, física e história. Aliás, a tarefa de física estava um delícia de fazer. Estávamos revendo atrito e eu tinha muitas ideias de onde podia haver atrito, que tipo de movimento e em que posição o atrito era maior. Liguei o som num volume muito alto para ouvir ACDC enquanto tomava banho. Lavei meu cabelo e aliviei um pouco o meu estresse cantando alto. Tirei o curativo e examinei o local. Não estava tão feio, estava só ralado mesmo e não sangrava mais, mas era grande, então seria necessário fazer outro curativo. Terminei o banho, sequei o cabelo. Como já era liso, não tive muito trabalho. Dividi meu cabelo em dois e prendi meu cabelo estilo Dorothy naquele Mágico de Oz. Com duas chuquinhas, só que baixas. Vesti a roupa e fui passar uma maquiagem básica. Um pouco de base, corretivo, pó, blush e rímel. Devo admitir que em matéria de rímel, eu sempre passo bastante. Fiz outro curativo na perna, coloquei as sapatilhas, o arco na minha cabeça e peguei os pompons.

Logo ouvi a buzina. Desci a escada rápido, na ponta dos pés. O que minha vó ia falar quando ela me visse? Ia deixar a discussão para depois. Quando fechei a porta, gritei:

– Tchau, vó, nos vemos no jogo!
– Uau, que gata é essa? O que aconteceu com minha amiga que reprime os peitos? – disse, logo que entrei em seu campo de visão.
– Eu não os reprimo. E eu é que devia falar isso para você. – disse, olhando para ela. Ela estava igual à foto.

O cabelo loiro com as pontas rosa estava preso num perfeito rabo de cavalo bem apertado e estava com o arco. Ela estava com a camiseta, um short curto preto, todo rasgado, meia arrastão e sapatos de salto pretos bem baixinhos, estilo bonequinha. Uau! Se nos chamassem de gatas, a gente até miava.

– Nunca pensei que fosse te ver com alguma coisa rosa. Adorei a sua saia, mas ela não vai mostrar muito quando você pular, não?!

Levantei um pouquinho da saia já curta e ela pode ver que eu estava com short de lycra por baixo.

– Inteligente. – disse, acelerando em direção à escola.
– Eu sei que eu sou.

Quando chegamos ao estacionamento, Brenda já veio de algum lugar para cima de mim me dando um abraço. Ela estava muito linda. Estava com o cabelo loiro solto e somente o arco o segurava para não ir para o rosto da menina. Ela estava com um short e suspensórios, a nossa camiseta, uma meia calça toda preta e sapatilhas rosa.

– Vocês estão muito lindas. – disse, animada.
– Você também tá. A gente vai arrasar. – disse Mariah.
– Que horas é o jogo? - Perguntei.
– Às seis, mas temos que pegar os melhores lugares.

Peguei os pompons dentro do carro e então reparei que eram diferentes. Os meus e os de Brenda eram completamente pretos. Os de Mariah eram completamente rosas. Mas nós praticamente combinamos também. Estava me sentindo uma líder de torcida. Chamem-nos de meninas super poderosas.

Seguimos em direção à arquibancada. Enquanto andávamos pelo corredor do prédio de línguas, muitos meninos assobiaram para nós. Ouvi até um “Ai, se eu pego essa loirinha” e “Se quiser me usar de banco, eu deixo, hein. Pode sentar em mim”. Mas todos que falaram alguma coisa eram feios e mesmo que fossem bonitos não ia rolar. Já tínhamos em mente o que queríamos. O meu futuro seria uma pegada nervosa com o cara da corrida.

Já tinha várias pessoas sentadas dos dois lados da arquibancada. A esquerda estava o pessoal da escola e a direita ficava os torcedores da Águia de Holiday. O time se aquecia no campo e Dean estava sentado no último banco da arquibancada ao lado de um menino que, na terça, descobri ser Nick Treviso, editor do jornal da escola. Dean tinha uma relação muito estranha com o jornal. Tirava fotos ocasionalmente e só cobria os jogos de futebol. O resto ele achava desnecessário.

Demos oi para os meninos e só vi Dean dando um apertão na bunda de Brenda. Ai! Bem que eu queria que alguém fizesse isso comigo.

– Olhem isso. O que vocês acharam? – Disse Nick, nos passando uma folha de papel com a seguinte manchete: “Leão come Águia de Holiday” a matéria tratava de como tinha sido o jogo e tinha uma foto do time comemorando vitória.
– Como assim? – perguntou Brenda, confusa.
– Já fiz um molde hoje à tarde para a matéria de amanhã. Vamos acabar com eles. Esse jogo já é nosso. – Então rimos.

Esse jogo já estava no papo, às águias só estavam aqui, porque outro time havia desistido de jogar antes das férias então a gente ia ganhar. Deixamos os meninos conversando sobre futebol e fomos para os nossos lugares. A arquibancada tinha 12 fileiras e cabia muita gente sentada em cada uma. Sentamos na décima fileira, bem no meio. Conseguíamos ver tudo dali. O placar, os jogadores, o técnico gritando. Tudo. Inclusive as pessoas que estavam sentadas do nosso lado ou no começo da nossa arquibancada. Nada do gostoso ainda, mas eu estava crente de que ele viria. Se todo mundo vem, ele também teria que vir.

Ficamos conversando enquanto isso, na verdade, as duas ficaram conversando do meu lado, porque eu estava mais é prestando atenção no pessoal que chegava sem parar. Famílias inteiras estavam lá. Pais com crianças e até pais dos mais velhos chegavam juntos. As famílias eram muito unidas, eu gostava disso, só que nunca, realmente, tive uma. Em 15 minutos, nosso lado da arquibancada estava lotado. Tinham até aberto os portões laterais para as pessoas entrarem. Reparei que a maioria das mulheres adultas estava de saia. Quem usava vestido realmente eram adolescentes e mulheres mais velhas. Alguns homens estavam com calças esportivas ou jeans. Os pais de família de calça social e sapatos. Eu não poderia procurar meu gato por roupa, porque isso era uma mistura horrível. Ia ter que procurar pelo cabelo singular.

Só podia ser uniforme. Mulheres mais velhas com coques e as mais novas com cabelos compridos, intencionalmente armados e com arcos. Homens com gel e penteado para o lado ou para trás. Aquilo estava me dando enjoo. Mas tudo bem, eu ia achar o gato hoje, conseguir o nome, possivelmente telefone, e ele iria ao meu culto de sábado à noite. Já não estava nem me importando mais. Podia ser casado e ter filhos, mas hoje eu ia saber quem era ele e sábado à noite iríamos à minha igreja. Vi Johanna e Marcus sentando na borda da arquibancada, o único lugar em que ainda cabiam pessoas. Dei um sinal com a mão e eles responderam acenando. Ainda bem que eles não viram com que roupa eu estava. Nunca fiquei tão feliz por ter tantas cabeças num lugar.

A arquibancada da frente estava tão cheia quanto a que estávamos. As mascotes corriam pelo campo animando as crianças e logo o hino nacional começou a tocar, então todos ficamos de pé e colocamos a mão no peito. Depois, disso só ouvi muito barulho da torcida gritando e vários “Vai, Aston!”, “Come esse periquito, Aston!” e “Vamos, Leão!”. Sam sempre lançava os sinais no início do jogo. Ele estava incrível jogando. Gritamos muito a cada down. Nosso time estava na frente, mas o outro sempre conseguia empatar de algum jeito. Não era para as Águias serem uma merda? Todos já estávamos ficando tensos com o resultado, então pulamos, dançamos e rebolamos e eu ficava surpresa com a quantidade de gente que assoviava quando fazíamos isso. Todos estavam muito animados e davam força para os Leões. Já tinha entrado no espírito esportivo escolar, mas ainda dava umas olhadas atrás do cara da corrida.

Até que o achei. Ele estava de calça social, sapato e uma camisa de botão, fechada até o penúltimo botão. Qualquer um ficaria horrível com aquela roupa, mas ele, de algum jeito, não ficava. Aquilo caía muito bem nele. Pensei que ele não fosse que nem os caipiras dali. Nem me importava com isso, só queria saber o nome dele e ver ele sem roupa nenhuma em cima de mim. Ele estava lá em cima, entre algumas senhoras que conversavam com ele. Ele estava sentando e prestava muita atenção ao jogo. Estava com uma cara de quem queria mandar aquelas velhas se danarem. Ele me viu olhando para ele, reconheceu-me e mexeu a boca formando algumas palavras. Não entendi nada que ele falou então falei um “o quê?” e ele repetiu o que disse antes, ainda não entendi nada, então ele repetiu novamente. “Como está o seu joelho? ”, eram essas as palavras gloriosas. “Bem. Qual é o seu nome?”. Um “o quê?” se formou em seus lábios. “Seu nome”. “Não entendi”. “Me fala o seu nome, cacete”. “Não estou te entendendo”.

Que merda!

Bem quando eu levantei, o que na verdade eu não queria fazer, porque todos berrariam para sentar-me, para lhe gritar minha resposta, a merda do nosso time fez um down então gritaram e começaram a pular e o perdi de vista. O time que perdesse, não pulei de felicidade dessa vez. Só fiquei o procurando no meio da multidão. Nada dele. Ele tinha desaparecido. E de novo eu queria me matar ou falar num microfone que eu precisava dele.

Todo mundo se acalmou e eu sentei novamente, olhando para o jogo, mas sem realmente prestar atenção. Procurei ele entre os torcedores e nada. Eu queria chorar de raiva, espernear até que alguém fizesse esse cara voltar. Eu nunca quis tanto alguém como eu queria esse cara. Eu precisava dele. Precisava saber como ele era. Como ele fazia suas coisas. Como ele levantava pela manhã e como ele ia dormir pela noite. Eu precisava dele.

Quem era ele?

No final do último quarto de tempo, prestei atenção no jogo e parei de lamentar tudo. Merda! E estávamos empatados. O locutor narrava o jogo animadamente, mas o estádio inteiro estava tenso e olhava para os jogadores no campo.

– Aqui vamos! Sobram dez segundos e uma possibilidade de quatro pontos. É hora de rezar. – Sam saiu correndo com a bola em direção ao down.Iríamos ganhar. – E o leão perde a bola. A bola é recolhida por Carlos Furtes, camisa 22 do águia. Ele está indo em direção ao ataque! E as águias ganham o jogo! Que vitória! Incrível! A vitória é da águia! A vitória é da águia!

Não acredito. Podia ser um dia pior? O cara que fez o down tirou o capacete e o jogou no chão. Os outros do time foram para cima dele e o levantaram. Os torcedores entraram no campo e comemoraram junto. É, podia ser pior. Minha vó se aproximava, já que todo mundo saía pela frente.

– O que é isso? – disse ela, olhando para mim e apontando para eu toda. Já azeda com toda a merda que tinha acontecido hoje, fui bem grossa com ela.
– Sou eu, vó. Gostou? Acho que tenho uma que cabe em você.
– O quê? – falou ela, incrédula com o que tinha acontecido. – Já para o carro. Agora! – despedi-me das meninas, que me olhavam surpresas, já que nunca tinha sido grossa com elas nem com ninguém perto delas.
– Venha me buscar 20 minutos mais cedo amanhã que vamos comer juntas no Café Chanel. – disse, enquanto abraçava Mariah.
– Tudo bem. Qualquer coisa, me ligue. – disse, preocupada comigo.

Fomos em direção ao estacionamento aberto em que os visitantes deixavam seus carros. Ela nem esperou eu chegar ao carro para começar a falar. Meu vô não falou nada. Apenas ficou de cabeça baixa. Acho que ele nunca concordou com vovó, mas porque ama ela, prefere ficar quieto a brigar.

– Quem você pensa que é? – Pergunta retórica.
– A neta da coroa do padre. – disse, alto o suficiente para ouvir-me, olhando firme para ela. Ela, que estava na minha frente, parou e olhou para trás, me lançou um olhar de quem tem dó. E isso era a coisa que eu mais odiava no mundo. Que tivessem dó de mim.
– Eu nunca devia ter deixado aquela mulher te criar. – Ela falava assim da própria filha. - Ela te criou como uma menina desmerecedora das graças do senhor. Pensei que aqui, você fosse ficar tranquila. Não tinha arranjado nenhum problema e estava indo tão bem com seu avô e comigo. Você não sabe ser uma menina de família por mais que tente, sabe por quê? Porque você não tem e nunca teve uma. Aguentei suas roupas essa semana, porque sei que na cidade as coisas são diferentes, mas o que vi hoje tem em todo lugar. Chama-se falta de vergonha ou vagabunda, se você preferir.

Ela continuou andando em direção ao carro e falando como era igual a minha tia e como tínhamos abandonado todas as virtudes e a ética moral com que fomos criadas. Primeiro, eu não fui criada por ela. Segundo, eu fui criada com virtudes morais, só que não as dela. Terceiro, eu era mesmo igual a minha tia, mas não éramos putas como ela achava. E por último, ela que fosse se foder, porque já não devia fazer isso há muito tempo para ser tão mal comida assim. Entramos no carro e eu continuava ouvindo. Não ia dar o presente de falar com ela outra vez. Não ia chorar. Não ia berrar. Não ia falar de como ninguém aguentava ela e de como papai odiava esse lugar e Vivian também. Não ia reclamar de nada. Quando chegamos em casa, ela continuou falando e me mandou para o meu quarto. Peguei uma barra de chocolate na geladeira e subi.

Fui tomar outro banho para tirar de mim toda a merda que ela tinha dito. Eu não era aquilo, mas odiava a ouvir falando isso. E a única coisa que eu tinha feito era ter colocado uma saia curta. Não desejava o mal dela. Só queria que ela visse que estava errada e pedisse desculpas a mim e a minha tia. Que, aliás, ela tinha expulsado de casa no último ano de escola, porque não “aguentou tudo o que ela fazia”. Vivian me falou que aprontava bastante e que era realmente festeira, mas isso não é motivo suficiente para tirar um filho de casa. Vivian foi morar com meu pai, que tinha recém terminado a faculdade, e conhecido minha mãe.

Quando minha tia terminou a escola, foi para a faculdade e fez línguas e então já conseguiu trabalho na empresa de turismo e sempre ganhou bem por ser poliglota. Meu pai se casou e então aconteceu tudo aquilo e minha tia ficou comigo. Vivian falou que voltou a falar com vovó alguns anos atrás e que tinham se reconciliado, mas que minha vó não tinha pedido desculpas. Talvez o mesmo acontecesse comigo, só que a única diferença é que eu não tinha para onde ir.

Saí do banho e me sequei. Apaguei a luz do quarto e acendi uma vela que ficava em cima do criado mudo. Deitei sem roupa mesmo e com o cabelo molhado e sem pentear. Chorei, mas não pelo fato do que minha vó tinha dito, mas porque era verdade e eu sabia que era. Sentia falta dos meus pais mesmo não lembrando quase nada deles. Sentia falta de minha tia, que era minha melhor amiga e a coisa mais perto de uma família que eu tinha. Sentia falta de ser abraçada e coberta por alguém à noite. De ter alguém se preocupando comigo. Sentia raiva de minha vó por me julgar por eu ser quem eu era.

Depois de muito tempo, a parafina toda queimou e a luz terminou ao mesmo tempo em que meus olhos se fecharam.

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Acordei às sete e meia. Arrumei minha bolsa, que não havia arrumado na noite anterior. Pus a barra de chocolate dentro dela, porque quando estou puta da cara a única coisa que consigo comer é chocolate, então esse seria meu almoço.

Tomei banho e resolvi que não daria um gostinho de vitória para minha vó, então me vesti com um short jeans curto de lavagem clara e coloquei um suéter bem quente de lã, listrado em preto e branco. Coloquei meu converse preto. Fiz uma trança lateral larga e deixei alguns fios caírem no meu rosto. Passei base, corretivo e rímel para dar uma disfarçada nos olhos que estavam um pouco inchados do pouco sono e de tanto chorar. Peguei a chave reserva de baixo da flor que minha vó mantinha no corredor e desci até a cozinha. Abri a porta, com cuidado para não fazer barulho, e fui para frente no jardim.

Esperei 10 minutos até a Loira aparecer. Entrei no carro em silêncio e fomos até o Café Chanel que ficava na esquina da rua da escola. Era uma casa reformada e tudo dentro dele era de madeira e era bem quentinho. Eu estava vindo aqui todo fim de semana desde que eu tinha chegado à cidade. Entramos no Café, que só tinha casais do lado de fora, e reparei que Mariah estava me olhando com um pouco de receio em falar algo.

– Pode falar, Mariah.
– Você está bem? – ela estava muito preocupada.
– Estou bem. A minha vó só falou umas porcarias ontem, mas nada que chocolate quente não resolva. – dei um abraço nela e senti-a relaxar.
– Fiquei preocupada ontem. De uma hora para outra você estava super animada e então você meio que sumiu do seu corpo. Ficou bem deprê.
– Foi porque o time perdeu.
– Eu sei que não é. Eu também estou triste porque o time perdeu, mas você está com uma cara de sofrida de verdade. De quem não está sendo correspondida por alguém, talvez?

Arrastei Mariah até os últimos cômodos e sentei numa mesa com dois lugares. Resumi para ela o que minha vó tinha falado e porque eu estava frustrada com tudo. Ela me perguntou quem era ele e eu expliquei a história do porquê eu estava puta da vida, o que eu sentia quando pensava nocara da corrida e o que tinha acontecido ontem pela manhã quando fui correr. Logo o garçom chegou e pedimos dois chocolates quentes e dois croissants de queijo.

Mariah me fez descrever o cara minuciosamente para ver se ela não o conhecia e resultado: NÃO. Eu já estava achando que esse cara era mesmo produto da minha imaginação. E ele me deixava muito excitada. Ele me fazia pensar coisas absurdas. Coisas que eu pensava, mas por causa dele pensava com muito mais frequência. E eu só o via fazia quatro dias. Hoje não fui nem correr para não embaçar mais minha mente.

– Qualquer coisa você pode ir para a minha casa. Minha mãe não se importaria.
– Obrigada, Mariah. – disse, realmente agradecida. Eu tinha para aonde ir se algo desse errado.

Comemos e fomos para a escola correndo, porque o sinal já havia batido. O estacionamento dos alunos estava lotado, então deixamos no dos visitantes. Fomos para os armários, pegamos os livros e fomos para a sala. Batemos na porta e estava um silêncio desgraçado nela. O professor nos deixou entrar e mandou nos sentarmos e começarmos a copiar. Todo mundo parecia meio morto. Era olhar para frente, ler, abaixar a cabeça, copiar e fazer tudo de novo. O professor não falou nada nem explicou a matéria e isso aconteceu à manhã inteira com todos os professores e alunos.

Se levar em conta o jeito em que eu me encontrava, não sei como que notei a diferença. A manhã passou muito lentamente, parecia que tinha ocorrido um massacre quando a única coisa que perdemos foram míseros quatro pontos num jogo de futebol, ficando com um placar: 35 visitantes X 31 da casa. Ninguém falou, se mexeu, tossiu, espirrou, nem pediu para ir ao banheiro. Esse povo tinha uma bexiga muito boa ou o banheiro estava interditado.

Fomos para o refeitório quando as aulas terminaram e ele estava do mesmo jeito. Sentamos à mesa de sempre na ordem de sempre. Demos oi para o pessoal e eles já foram pegar comida enquanto fiquei na mesa com minha barra de chocolate.

– Por que você está comendo chocolate? – Mariah perguntava demais sobre tudo, em minha opinião.
– Porque eu quero. – respondi, enquanto olhava para o chão, entediada.
– Me dá um pedaço?
– Não. – ela me olhou com cara feia e voltou a comer seu sanduíche. Fiquei com dó da coitadinha e dei um dois quadradinhos para ela. Ela me viu por na bandeja e me deu um abraço apertado que fiquei até sem ar.
– Eu acho que você devia chamar o Sam para sair, Loira.
– Ele não vai querer ir e já tive essa conversa com você outro dia.

A Loira não ia fazer nada que eu falasse, então fui falar com Brenda, que estava dando comida na boca do namorado.

– O que vocês fazem aqui no sábado?
– A gente vai para o shopping em Porte Alegre, meus pais têm uma casa lá. Andamos por aí. – isso me lembrou de que já não andava por aí fazia um tempo. - E amanhã, por acaso, tem a rave no Barracão dos Mason.
– Já ouvi falar dela. Ela existe há muito tempo. Quando minha tia morava aqui, ela já existia. Isso faz uns 25 anos.
– Mas tem. Foi o filho mais novo do falecido Sr. Mason que assumiu ela, já que o mais velho teve que ir cuidar da fábrica de Madeira. Meu pai comprou a empresa depois que o velho morreu. Ele sempre dá um desconto para a gente lá. Quer ir, amor? – disse, já falando com Dean.
– Vamos. Ei, Sam, quer ir lá ao Mason amanhã à noite?
– Vamos – disse, com uma voz não muito animada, mas o suficiente para constatar que o superman queria ir mesmo.
– Eu também vou, então – disse Mariah, pondo um sorriso de orelha a orelha. Ficando super alegre com o que poderia conseguir.
– É muito cheio por lá?
– Bastante. É a única coisa que tem aqui na cidade mesmo. Vem gente de outros lugares para a festa. Mas falo para o Mason segurar uns lugares lá no Vip.
– Tem todo fim de semana?
– Não. Só a cada duas semanas.
– E lá é legal? Tem uns caras por lá?
– É o que mais tem. Ele até fez um bar lá. Tem de tudo. Vamos dizer que até o barman e a garçonete brilham.
– Legal. É longe?
– Um pouquinho, mas a gente pode ir no carro dos meninos. Né, amor? – Já vi que Brenda usava um pouquinho seu namorado. Pagando por esse uso mais tarde, problema nenhum ocorre.
– Aham. A gente passa para te pegar em casa lá pelas nove, pode ser?
– Pode. – falei, já ficando animada com o que eu podia conseguir lá. – Posso me arrumar na sua casa e dormir por lá, Mariah?
– Pode. Minha mãe não vai estar mesmo, então temos a casa toda para nós.
– Legal.
– Como foi com a sua vó ontem? – Pelo menos agora sei que tem mais de uma pessoa que se importa comigo.
– Uma merda. Ela falou coisas que eu sei que são verdade, mas não significa que ela tenha que jogar na minha cara. – falei, pensando em tudo que ela tinha me dito. Aquilo estava me deixando mal de novo. – Ela falou que o que ela viu lá: “Chama-se falta de vergonha ou vagabunda, se você preferir”. Eu não me ofendo tão fácil assim, até porque eu sei que isso não é verdade. Mas não significa que eu queira ouvi-la falando.
– Lamento por você brigar com ela, mas saiba que qualquer coisa, estamos aqui. Se você precisar de um lugar para ficar, minha casa está de portas abertas.

Quando ela falou isso, senti que eu tinha mesmo para onde ir. Que igual a minha tia, eu tinha opções. Elas gostavam de mim e ninguém nunca me ofereceu sua casa como elas. Elas sabiam como era e alguns podres meus que eu já tinha contado para elas. Elas eram pessoas especiais, ou foi o lugar que as criou assim, ou simplesmente eram minhas amigas. Eu nunca tinha me identificado tanto assim com alguém.

Pelo jeito. Nós éramos amigas e por outro motivo mais absurdo ainda, eu sabia que podia contar com elas para qualquer coisa.


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Notas finais do capítulo

Pois é gente, é isso. Quem estiver lendo por favor deixem comentários. Também posto a fic no fanfic obsession. Espalhem ela por ai entre amigas e amigos. A parte boa e gostosa e empolgante começa agora. Prometo! Chega de enrolação. O próximo capítulo tem muita coisa boa. Meu email: sofiabrunoro@yahoo.com.br. Divirtam-se!!!



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