Holy Sex escrita por Sofia Brunoro


Capítulo 2
Capítulo 2 – delícias




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O refeitório era grande e bem iluminado. Todas as paredes tinham janelas de vidro por inteiro. No fundo ficava o restaurante as mesas eram todas de uma madeira branca, acho que o nome é compensado. Fomos andando em direção a uma das extremidades do salão. Mariah pegou minha mão e foi me puxando por entre as mesas. Estávamos indo na direção de uma mesa com uma menina e dois meninos gêmeos.

– Oi gente, essa é a Diana. Ela é a nossa nova integrante. – Mariah falou com uma voz agudinha. A menina estava empolgada. Até parecia que eu era novidade por ali.

– Finalmente uma quinta. Vocês estão precisando renovar o vocabulário para as novas gírias da cidade grande. – falou, obviamente com as meninas. – Meu nome é Sam, prazer.

Levantou para me dar um abraço. E ele era alto, muito alto. Ele tinha um cabelo despenteado que ia até um pouco acima do ombro. Rosto quadrado e olhos profundos como se não dormisse muito. Ele estava com um jeans, uma camiseta azul e uma espécie de bota por baixo da calça. Ele era gato pra caramba, estilo Clark Kent do seriado Smallville. Ombros largos, cabelos e olhos castanhos escuros.Uau! Dei o abraço nele e olhei para o lado. Mariah me deu uma piscadinha com o olho esquerdo e senti um “Aproveita aí, hein!”. E quando virou de costas dei uma espiada na bunda e ela era deliciosa, mas me contive para não pegar nela. Era falta de educação fazer isso na primeira vez em que eu o via. Ficava para segunda vez. Ele abraçou Mah e ela ficou toda vermelha. Ela gostava dele, certeza. Esqueça a segunda vez, Diana, não aproveitou e agora vai ficar sem bunda.

Logo um menino igual levantou. A única diferença é que esse estava todo de preto e o cabelo era curto. Esse era um pouco mais sério.

Gêmeos. Que sorte. Vai ter uma segunda vez.

– Meu nome é Dean. Seja bem vinda ao inferno. – e ele falou sério, até me arrepiei. Ui.

– Dean, pare de assustar a menina. Meu nome é Brenda, seja bem vinda. – Falou, pegando na mão do menino. Namorados. E essa era loira de verdade. Parece que toda garota por aqui era loira. Já estava começando a me sentir diferente.

Que merda!

“Esqueça a segunda vez agora Diana”.
Subconsciente filho da mãe.

Uma menina miudinha. Voz meiga. Cabelo loiro escuro. Olhos castanhos escuros. Bochechas rosadas e uma boca bonita. E olha, estava de saia. Minissaia. Uma blusa de malha branca justa e uma sapatilha branca e o moletom, provavelmente do namorado. Um casal muito contraditório, mas lindos juntos. Dei um abraço nela e todos nos sentamos.

– Mas então. Gostou da cidade? – Sam perguntou.

– Já tinha vindo aqui antes. Meus avós moram aqui. Morava com minha tia na capital e ela resolveu ir pra África ajudar as criancinhas, então tive que ficar com meus avós.

– Quem são seus avós? – perguntou Brenda.

– Johanna e Marcus Sterling. Conhece?

– Claro, minha mãe frequenta a igreja. Acho que todo mundo por aqui sabe quem são eles. – ela disse com um tom de ironia.

– Sua avó coordena aquela igreja. Ela praticamente mandava naquele padre. Até que alguns meses atrás, uns seis acho, chegou esse novo padre. Ele é um cara legal. Está mudando as coisas por aqui. Só que o tradicional é meio cravado aqui, se você não percebeu – foi Dean quem falou agora. Fiquei meio encucada sobre como é esse novo padre. Provavelmente deveria ser velho, mas devia saber que algumas coisas por aqui precisavam mudar.

– É, minha mãe sempre foi tranquila com isso. Ela sempre me deixou seguir o que eu quisesse, eu até ia à igreja de vez enquanto, mas quando eu percebi que não era pra mim isso e que eu não acreditava muito, eu parei de ir. Nunca segui mesmo o que falavam, então não foi um choque tão grande assim para ela, mas ela ficou nervosa...

– Dai o padre meio que foi conversar com a mãe da Brenda e explicou que cada um tinha um caminho destinado e que não era necessário ficar estressada e que as pessoas sempre voltam para o que realmente pertencem. - Mariah continuou.

– Não que eu pertencesse, é claro. – Brenda completou, revirando os olhos.

– Nossos pais são tranquilos, né, Dean? – Sam perguntou.

– Bem tranquilos. Eles são budistas. – Dean falou com um tom engraçado, como se fossem palhaços. Nossa, que família louca. Quer dizer, diferente. Como um revoltado, um superman e dois budas se encaixavam juntos? Juro que fiquei com uma cara de surpresa.

– Nossos pais não moram conosco. Moram no interior. Diziam que ficar aqui muito tempo afetava o karma deles. – disse, fazendo sinal de meditação e sintonizando um “Hummmm”.

Todos rimos, então Brenda começou a falar sobre o que ia fazer à noite. Uma aparente prova de vestido para sua festa de 18 anos.

– O que você vai fazer à noite, Diana? – Sam perguntou. Olhei para Mariah, que estava olhando para Sam, meio assustada. Tadinha. Acho que ela estava com medo que ele me convidasse para sair e eu aceitasse. Eu não faria isso com ela.

– Eu sempre fico estudando. Faço as tarefas. Toco violão. Qualquer coisa assim. – respondi, meio desinteressada.

– Você toca violão? – Mariah sussurrou para mim.

– Toco. – sussurrei de volta.

– Eu também.

– Viu, Dean, essa menina sabe que é melhor estudar do que ficar andando por ai até de madrugada. – Sam olhou para Dean com reprovação.

– Você falou para ele que estava andando por aí? – ouvi Brenda com um tom divertido, que estava do meu lado, sussurrar para o namorado.

– Acho que ele nunca mais iria querer entrar naquele carro se eu realmente falasse o que eu estava fazendo. – Agora eu que não entrava naquele carro de jeito nenhum. Com isso Brenda começou a rir baixinho e eu também.

Eles eram um casal fofo. Olhei para Mariah e Sam, que discutiam sobre alguma coisa da aula de espanhol. Pelo jeito íamos ter aula de espanhol com Sam também.

– Você terá aula do que agora à tarde, Diana? – perguntou Brenda.

– Espanhol, física, filosofia, literatura e educação física. – lembrei com muito esforço.

– Vamos ter espanhol e Ed. Física juntas, então.

– Você vai comer alguma coisa, Mah?

– Vou, Bre.

– Quer que eu pegue alguma coisa pra você, Sam?

– Não, obrigado, cara.

– E você, Diana?

– Também não. – não estava com fome.

Com isso, Brenda, Mariah e Dean levantaram, deixando-me sozinha com Sam. Observando-o melhor, os olhos dele não eram exatamente fundos, eram tristes.

– Está tudo bem com você? – perguntei.

– Está. – disse, rapidamente, pondo um sorriso feliz no rosto. – Você vem no jogo da quinta?

– Jogo?

– É, jogo futebol americano pela escola. Sou o quarterbeck. – O quarterbeck, não UM quarterbeck.

– Hum, talvez eu venha. Mas só se Mariah vier para me dar uma carona. – disse, animadamente, plantando a sementinha sobre Mariah na cabeça do superman. Levantei-me. – Mudei de ideia, acho que vou comer alguma coisa. - E fui em direção às meninas na fila, dando uma furadinha básica.

– O que foi? – Mariah perguntou quando me aproximei.

– Você vai vir no jogo na quinta?

– Vou, é claro... É o jogo do Sam. – então ela olhou para mim animada, notando o que tinha dito e eu dei um sorrisinho daqueles que diz “te peguei”. – Não conte para ele, por favor.

– Não vou, fica tranquila. – disse com um sorriso de orelha a orelha. – Já tentou chamá-lo para sair?

– Não. Claro que não. Ele não vai querer nada comigo.

– Você não sabe se ele não quer. Nunca perguntou. Ele tem namorada?

– Não. Só tem uma ex. – falou com raiva, obviamente da menina.

– Quem é? – agora perguntei mais de curiosa do que realmente de preocupação por minha amiga. Eu não tinha culpa de ser intrometida.

– Samantha. – respondeu com aquela vozinha aguda, obviamente irritada de ser a nojentinha e não ela.

– Nããããão... Tá brincando? – perguntei, quase tendo um daqueles ataques de riso na hora errada.

Ela olhou pra mim séria e com olhar mortífero, o mesmo que ela demonstrou no banheiro quando viu Samantha, e fiquei quieta na hora. Agora entendi tudo. Aquele olhar era por causa de um menino. É, agora eu estava decidida. Eu ia ajudá-la de um jeito ou de outro. Ela querendo ou não.

– O que você vai fazer? – ela me perguntou, preocupada.

– Nada. – ainda. – Pega uma maçã para mim?

– Pego. – falou, ainda não convencida.

Voltei para a mesa já pensando no que fazer. Primeiro, descobrir o que ele achava dela. Segundo, ir ao jogo. Terceiro, fazer eles se pegarem de algum jeito. Coisa fácil.

– Não pegou nada?

– Pedi para Mariah pegar uma maçã para mim. – e ela também me serviu de uma confissão do tipo “curto o superman” para viagem – E eu virei no jogo sim.

– Hum, legal... E a Mariah? – Rá-rá, “te peguei”.

– É ela que vai me dar uma carona. Por quê?

– Eu... É... Só queria saber. Só isso. – Gaguejando. Que meigo. E os olhinhos ficaram felizes.

– Contra quem é o jogo?

– Contra as Águias de Holiday. É o último jogo da temporada. Se a gente ganhar, é tudo nosso. - Ele estava ficando animado, porque até estufou o peito de ar, orgulhoso de si mesmo.

– Legal. – Eles voltaram e começamos a comer. Os pombinhos, Brenda e Dean, do meu lado, estavam obviamente empolgados para dar uma andada por aí e Mariah não parava de se mexer.

– Tá querendo ir ao banheiro de novo, é? – perguntei baixinho, debochando.

– Não, só estou animada com quinta. Culpa sua.

– Calminha aí, Loira. – peguei meu celular da bolsa e vi uma chamada não atendida da minha tia. À noite eu ligaria para ela. E continuamos conversando ainda por meia hora.

Consegui capitar que Dean e Sam, ambos com 18 anos e bem engraçadinhos, sempre moraram aqui, assim como Brenda. Aliás, os dois pombinhos namoravam já fazia três anos, se para mim duas semanas eram muito tempo, três anos era uma vida. O aniversário de Brenda seria daqui um mês, e pelo jeito a família de Brenda era muito rica, então seria uma grande festa de 18 anos. Os pais dos gêmeos eram arquitetos e eram budistas mesmo, mas eram bem normais. Mostraram-me uma foto dos seus pais e devo admitir que mamãe era muito bonita e papai era um gato, uma cópia fiel dos meninos.

Essa cidade não era tão ruim mesmo. Pena que a minoria que prestava já tinha dono.

Os pais de Brenda eram donos de uma madeireira local muito famosa no estado, então entendi como eram tão ricos numa cidade que, aparentemente, não oferecia muita coisa para diversão e entretenimento. Pelo menos não o que eu tinha em mente.

Já trocamos nossos números de celular e para a sorte divina, éramos todos da mesma operadora.

– A aula já vai começar, gente, é melhor irmos. - disse Dean.

– Claro, tchau, amor, nos vemos mais tarde. – disse Brenda, dando um beijo daqueles em Dean. Todos nos despedimos de Dean, que agora teria aula de matemática, e fomos para espanhol.

Enquanto seguíamos para o pavilhão de línguas, Mariah me puxou para um lado enquanto Sam e Brenda seguiam a frente conversando e me disse para sentar ao lado dela na aula de espanhol porque não queria que Sam sentasse a seu lado. Ela aparentemente tinha muita vergonha de ficar igual a mim, de manhã, como com o cara da corrida. Eu não a culpava nem falei nada, só fiz que sim, eu entendia a insegurança dela. Ele era mesmo bonito.

Chegamos quando a professora estava entrando na sala e já dei a caderneta para a mesma assinar. Sentamo-nos rápido e a aula começou.

– ¡Buenas tardes, mis amores! – falou animadamente até demais já escrevendo no quadro.

O resto da tarde foi normal, tranquilo, e descobri que a professora de espanhol era muito animada e gostava de se chamada de Babi. Ela usava saia como as outras, mas acho que saia estampada de onça não é normal por aqui. Eu gostei dela. A professora de literatura era uma mulher um pouco mais velha e usava calça. E com certeza era feminista. O primeiro livro que leríamos seria “A Letra Escarlate” e ela o defendeu bravamente quando uma menina, uma das amigas de Samantha, falou que sua mãe não aprovaria o romance. Resultado: a professora respondeu que a mãe da menina não tinha autoridade dentro da escola para interferir na grade curricular e ela ficou quietinha o resto da aula. Era um ótimo livro, contava a história de uma mulher que foi completamente julgada por ter um relacionamento extraconjugal. Não que ela não fosse culpada, mas as pessoas eram muitos piores do que realmente deveriam ser com ela.

Quando o sinal bateu, eu e Mariah fomos para o campo e logo encontramos Brenda no corredor nos esperando. Mariah sentou na arquibancada e começou a fazer a tarefa de casa e Brenda foi para o vestiário se trocar enquanto fui falar com o professor, um barbudo de meia idade com cara de poucos amigos. Ele assinou a caderneta, foi até a assistência comigo, que por sinal ficava do outro lado do campo, e pegou um uniforme de tamanho médio para mim. O uniforme era uma leg azul marinha com uma listra branca do lado, uma camiseta branca com Aston escrito em azul marinho bem na frente do meu peito. Ainda bem que eu estava de tênis. A moda santa permitia o uso de legs por aqui? Talvez fosse aquela questão da professora de literatura, a religião não podia afetar a escola.

Fui até o vestiário rápido. Peguei um armário para usar. Troquei de roupa e fiquei feliz ao perceber que a camiseta não ficara grande em mim e até mostrava os peitos grandes que eu tinha e a leg ficava um pouco acima do joelho. Ainda bem. Achei um elástico em minha bolsa e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo apertado. Fui até a quadra indicada e fiquei feliz ao perceber que a professora ainda estava na chamada. A quadra estava dividida em duas menores, com metade do espaço e redes no meio delas. Vôlei. Só havia meninas no vôlei. Os meninos estavam todos no futebol ou handebol.

Não que eu fosse boa jogando. Mas sabia fazer uns arremessos. Enquanto a professora, Sra. Clayton, explicava as regras básicas, observei alguns meninos na turma do professor com poucos amigos eSam estava entre eles. Provavelmente era o time da escola. Ele ficava lindo com o cabelo todo molhado de suor e correndo de um lado para outro. Não era muita coisa comparado ao cara da corrida, mas dava um caldo bem grosso.

Quando faltavam dez minutos para acabar a aula, ela nos separou em quatro times, dois para cada parte de quadra e nos fez jogar. Ela não era legal. Brenda estava no meu time, o que foi bom, porque não conhecia muita gente por ali, então me apresentou as meninas do nosso time, fui simpática com todas e elas comigo. Nem todo mundo era ruim por aqui.

A aula terminou e corremos para o vestiário novamente para nos trocarmos. Mariah foi até lá nos encontrar.

– Você o viu correndo? – praticamente gritou para mim e Brenda enquanto colocávamos nossas roupas. Brenda devia saber sobre Sam e ela.

– Acho meio difícil não ver, Mariah. – falei.

– Prefiro o irmão dele se excitando. – disse Brenda, lembrando de algo.

– Ele estava lindo, todo suado, aquele cabelo e aquelas pernas e aqueles braços...

– Acho que já entendemos aquele todo, Mariah. – disse rindo.

– Você não tá entendo. Aquele todo devia ser meu. Meu.

– Vai ser, nem que seja no meu aniversário, Mariah. – Brenda estava crente que algo iria acontecer. Nota mental: falar com ela para confirmar minha suspeitas sobre Sam.

Terminamos de nos vestir e fomos até a secretária para entregar a caderneta. As secretárias não estavam, então deixei em cima do balcão com um obrigado escrito a caneta, num papel de propaganda que tinha ali por perto. Seguimos para o estacionamento. Os meninos estavam nos esperando encostados num SUV preto. Será que era aquele o carro do andando por aí? Dean entrou no carro e deu uma acelerada para nós. É, aquele era o carro do andando por aí.

– Ficaram nos esperando, que fofos. – disse Brenda, pulando no colo de Dean dentro do carro.

– Esse é o nosso dever, senhorita. – respondeu Dean, tirando o cabelo da frente do rosto de Brenda e a apertando contra si. Eles deviam, definitivamente, ir para um motel.

Eu e Mariah nos despedimos deles. Brenda sempre pegava uma carona com os meninos, que não moravam muito longe dela. Segui para o carro juntamente de Mariah e por um momento eu não acreditei no que via. Ai. Minha. Santa. Afrodite. Aquilo era um New Beatles rosa, conversível, com banco de couro branco e rodas cromadas? Era. Uau! Aquilo era uma nova descrição para a Loira.

– Mamãe me deu de presente de 16 anos. – respondeu, toda empolgada, vendo minha cara de assustada.

– Uau. Que presente rosa. E generoso.

– Ela sabe qual é a minha cor preferida. – fazendo uma ironia entre o rosa e a cor do dinheiro.

– Não duvido que ela saiba. – respondi ironicamente. Mas na verdade, aquele rosa todo já estava passando familiaridade. Aquele rosa era parte da Loira.

Entramos no carro e saímos acelerando pelo estacionamento quase inteiramente vazio, brinde dos minutos a mais falando com os gêmeos. Passamos por ruas e observei que a cidade tinha muitos condomínios, como o Sunshine e House of God. Entramos na principal, que tinha duas pistas divididas em duas ruas com um canteiro no meio. Várias árvores com flores estavam no meio, era melhor aproveitar os dias quentes, porque eles já estavam contados. Com os cabelos ao vento, fui deixada na porta de casa em 10 minutos. Despedi-me da minha nova amiga com um abraço e um “obrigado pelo ótimo dia” e sai do carro. Bati na porta e Johanna abriu.

– Olá, querida, como foi seu dia? – disse vovó, dando-me um abraço.

– Divertido. A cidade não é tão ruim assim. – disse, pensando nas delicias que eu tinha visto hoje.

– Por que seria ruim? É um ótimo lugar para se morar. Aqui é muito tranquilo.

– Verdade – Mas só porque aqui não tem nada. – Que horas fica pronto o jantar, vó?

– Às 19 horas meu bem. Você prefere carne com batatas ao forno ou Rosbife?

– Batatas. – gritei, já subindo as escadas.

– Ok. – ela estava com um tom tão jovial, estava alegre - Pode ir tomar um banho e fazer suas coisas. Quando estiver pronto lhe chamarei.

Fui para meu quarto e joguei minha bolsa na cama. Já fui ligando o notebook em cima da escrivaninha. Tirei minhas roupas e joguei-as num cesto perto da porta para depois lavá-las e fui tomar um banho.

Entrei na água quente e notei que fiquei o dia inteira tensa. Produto da ansiedade da nova escola. Como era o pessoal. Se eu ia arranjar problema com alguém já no primeiro dia. Como eram os meninos. Como era o material dos meninos. Como eram as meninas. E os professores também. Fazendo uma retrospectiva até aqui, a cidade não era realmente tão ruim. Podia não ter tanto entretenimento quanto eu queria, mas com amigos sempre é fácil arranjar coisas legais para fazer. A cidade tinha suas peculiaridades, mas nada que não fosse possível esquecer para passar dias alegres. As meninas eram um amor e me aceitaram como se eu fosse amiga delas desde sempre. Os meninos eram gatos pra cacete e tinham uma bunda que aumentava em 10 minha boa opinião sobre a cidade.

Lavei meu cabelo com calma pensando no que ia fazer depois e a resposta foi: estudar e comer. Fui passando o sabonete no meu corpo e olhando o mesmo. Eu era magra, mas não de um jeito ruim. Tinha peitos, bunda e coxas grandes, mas proporcionais ao meu corpo. Meu rosto era bonito, mas eu achava meu nariz muito grande. Achava-me pálida também. Tinha muitas pintas pelo meu corpo e uma cicatriz enorme na panturrilha esquerda graças ao cachorro da vizinha da minha antiga cidade, que me mordeu quando eu era pequena. Lembro-me que dei o maior trabalho para minha tia quando aquele cachorro me mordeu. Ela ficou com medo que eu ficasse com raiva. E eu já era muito esquentadinha, então seria um inferno cuidar de mim.

Sai do chuveiro, me sequei e enrolei a toalha no meu cabelo e fui para o quarto. Coloquei uma calça de moletom preto que ficava larga em mim e uma camiseta branca. Abri meu facebook e adicionei os novos amigos da escola e respondi a uma colega da antiga. Tinha um e-mail de minha tia.

“Diana, por que você não atendeu minha ligação hoje? Como foi o primeiro dia? O pessoal é legal? Já viu as roupas por ai? Mande-me a foto do primeiro vestidinho, amor. Essa cidade era um inferno quando eu morava com seu pai. Era a última vez que eu iria poder falar com você em muito tempo. Para onde eu vou não terá rede então me mande e-mails e quando for à cidade os responderei. Fique bem. Te amo. Respeite a vovó e o vovô e vá à igreja, sua demônia. Igreja Católica, não do Santo Sexo do Sábado à Noite. Xx, Tia Vivian.”

Com certeza era o e-mail da minha tia. Só ela que repetia minha frase da Santa Igreja do Sexo do Sábado à Noite. E ela sabia das roupas e nem para me avisar. Que amor de tia eu tinha, hein. Só em sonhos que eu iria comprar um vestido de boneca daqui. Vivian era assim, muito brincalhona e extravagante. Igual a mim.

“Cara Tia Vivian, você deveria ter me avisado a moda divinamente santa afetada deste lugar. Quando vovó perguntou se eu iria de calça à escola, fiquei com vontade ir de calcinha só. Meu primeiro dia foi divertido. Achei um pessoalzinho bem legal lá. Tenho uma colega chamada Mariah e sinto que esta pode ser a minha primeira amiga em muito tempo, mas pode chamá-la de Loira, digamos que ela é muito rosa. Outra colega é a Brenda, um amor de menina e é loira que nem a Loira, só que o loiro dessa loira é mais escuro. Ela tem um namorado que também é meu colega, assim como seu irmão e os dois são muito lindos e tem um material absurdamente delicioso. Mas os dois já têm donas. Essa cidade não é tão ruim, tem até caras gostosos de manhã correndo, ele é uma gostosura. Ainda vou descobrir quem ele é e levá-lo para a minha Santa Igreja. Fique bem. Também te amo e cuide das criancinhas, já que a que você tinha aqui, você resolveu abandonar. Xx, A deliciosa da sua sobrinha.”

Olhei pela janela e vi que pingos de chuva começavam a dançar no vidro. Eu realmente adorava o frio. Calor não era muito a minha praia, não, melhor, suar não era muito a minha praia. Peguei meu caderno e comecei a fazer as tarefas. Não era muita, todos os professores já tinham passado as tarefas da semana, mas o suficiente para me fazer ficar ocupada por umas boas horas. Logo vovó gritou para eu descer que o jantar já estava pronto.

Quando cheguei à cozinha, Johanna e Marcus já estavam sentados comendo e conversando. Sentei-me e me servi de muitas batatas também, só ouvindo a conversa deles.

– Como foi seu dia, querido?

– Bom. O escritório estava cheio. Foi à igreja hoje? O que o padre disse sobre seu cargo? - Cargo?

– Ele disse que posso continuar como coordenadora e que posso cuidar das finanças. Ele falou que toda terça tem de viajar para uma cidade vizinha para cuidar de uma igreja lá também, então eu fico responsável pelo Grupo de Oração.

– Bom. E como foi o seu dia, Diana?

– Legal – e ficaram me olhando. Queriam que eu complementasse. – Fiz vários amigos. Almocei com eles hoje e peguei uma carona com um deles para voltar para casa hoje, por isso não te liguei, vô.

– Quem são seus amigos?

– Mariah, Brenda, Dean e Sam. Conhece? – Minha vó engoliu em seco e olhou para mim.

– Pode-se dizer que sim. Brenda é uma boa menina. Conheço sua mãe, tenho grupo de oração com ela. Os gêmeos gostam de farra, assim como a menina Mariah. Gostaria só que se cuidasse quanto a eles, querida. Podem te julgar mal por andar com eles. Mas tenho certeza que se você não se envolver com nada ruim, nada acontecerá. – Essa última parte ela disse mais para si mesma do que para mim.

– Tá – disse, descrente do que eu tinha acabado de ouvir. Minha avó não gostava das únicas pessoas que tinham alguma coisa, e isso inclui uma bunda e senso do que vestir, da escola.

– Então perfeito.

Minha vó era uma mulher à moda antiga ainda. Pensava que lugar da mulher era em casa cuidando dos filhos ou na igreja ajudando com as coisas. Eu não a culpava por isso. Ela tinha sido criada assim e a cidade reforçava essa coisa toda ainda. Johanna nunca foi fã de minha mãe, segundo Vivian. Aliás, vovó achava que Vivian me criara mal. Mas agora era hora que começar minha investigação do cara gostoso da corrida. Arrumei-me na cadeira e tentei ser o mais natural possível.

– Hoje de manhã eu fui correr e vi um homem correndo. - Homem? Não, era mais fácil descrever como gostoso, bundudo e com grande banana. - Você não saberia quem ele é, vó? – disse, com uma voz tentando demonstrar desinteresse, mas foi impossível.

– Homem? Como ele era? – descrevi-o para minha vó e ela disse não saber quem era. Que aqui era um bairro altamente residencial e não há muita gente que saia correr por aí cedo.

Tive a sensação de que eu era a única pessoa que sai correr por aqui de manhã. Será que aquele homem era coisa da minha imaginação? Talvez fosse produto do meu subconsciente para me fazer acreditar que essa cidade tinha alguma coisa interessante. Eu já tinha lido sobre isso antes. Seu subconsciente criar algo para fazer você acreditar que aquilo era uma coisa boa e agradável. Não, aquele cara existia, eu tenho certeza. Ele era muito lindo para eu tê-lo criado de algum jeito. Sua perfeição era tamanha que era possível poder chamá-lo milagre. São nessas horas que eu acredito em Deus.

Terminei de comer. Tirei os pratos da mesa e lavei a louça. Subi para o meu quarto e continuei a estudar. Pelo menos tentei, mas meu pensamento sempre escorregava para o cara da corrida. Não era possível que minha vó não o conhecesse. Minha vó conhecia todo mundo desse lugar.

Cansada de tentar estudar, peguei meu violão, sentei em cima da cama e comecei a tocar algumas notas com um ritmo qualquer que eu lembrava. Quando percebi já estava tocando a música há alguns minutos e tinha feito uma letra na minha cabeça para ela. Peguei um papel rápido e rabisquei a canção. Já havia composto outras musicas, mas nunca uma que se adaptasse tão bem a situação.

“I didn't have to turn a around I can feel him in back of my brain When I step into the crowd Something told me that I'd meet you today Your energy when you touch me Lifted me over ground Your words to me are like music.

I don't know (I don't know) Who you are (who you are) All I really know is there's something your heart That makes me feel (me feel) It's a new start (it's a new start) All I really know is there's something your heart.

Are you from another world? I never seen someone who looks like you Beautiful stranger how do you do? Tell me is there something I can do for you Your energy when you touch me Lifted me off the ground Your words to me are like music.” ¹

Já estava na hora de ir dormir. O barulho das gotas de água já estava longe e abafadas na janela. Amanhã era outro dia de aula e eu tinha que estar bem.


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Notas finais do capítulo

É o segundo capítulo e finalmente as pessoas começam a sentir e ver sobre o que será e como será a fic. Novos amigos na área e pessoalzinho se enturmando. Espero que estejam gostando e não deixem de comentar o que acharam da atualização. Tenham uma ótima semana e não se esqueçam de ir à missa (hahaha ). Amém.

¹ - Música: “Perfect Strange” da Marina and The Diamonds.