— Lily! – berrei, abrindo as janelas. – Precisamos conversar.

Eu estava um caco.

Depois do momento mais constrangedor da minha vida, eu retornara para minha casa. Escondi-me no quarto e chorei copiosamente por longas duas horas. É claro que eu colocaria toda a culpa do ocorrido no excesso de bebida, mas eu sabia que o buraco era mais fundo. Fazia um tempo que Black vinha me torturando e provocando. A noite do baile de inverno foi apenas um gatilho para iniciar toda a confusão que eu estava sentindo agora.

Sentei-me na borda da cama da ruiva.

— O que aconteceu? – sua voz rouca sussurrou.

— Sirius aconteceu.

— O que ele fez?

— A pergunta deveria ser o que ele não fez. – bufei, frustrada. – Ontem, na praia... Damn, Lily, eu disse que queria transar com ele.

— Como é? – seu corpo se ergueu rapidamente, o que provavelmente lhe causou uma enorme dor, já que ela massageou as têmporas. – Lethícia, você perdeu o juízo? Eu apoio vocês dois juntos, mas não é assim que se começa!

Balancei a cabeça, negando.

— Não faço a mínima ideia do que eu tinha na cabeça quando fiz essa proposta! – exclamei, choramingando. – Ainda bem que tenho a bebida para jogar toda a culpa e depois simplesmente esquecer isso.

Ela deu uma risadinha e se levantou da cama.

— Já pensou que essa ânsia de estar com o Sirius seja porque você realmente tem sentimentos por ele?

— O quê? – gargalhei alto. – Não, definitivamente não. Quero dizer, ele é uma delícia e eu com certeza ficaria com ele. Mas sentimentos? Claro que não. Não sou burra.

— Não fale assim, talvez você esteja o julgando de forma errada.

— Ok, o que é que você sabe?

Enquanto catava algumas das milhares de roupas espalhadas no chão e enfiava de qualquer jeito na mala que trouxera, minha melhor amiga riu. A filha da mãe sabia de alguma coisa sobre esse assunto e não queria me contar. Oh, isso não ficaria por isso. De jeito nenhum.

— Vamos, desembuche, Lily!

— Você tem que descobrir sozinha. – respondeu. – Não teria graça jogar um jogo em que já se sabe as respostas.

Sai do quarto batendo a porta, com raiva.

Odiava ser a única pessoa que não sabia de alguma coisa. Lily sabia pois estava cultivando uma amizade com Sirius, James era melhor amigo do mesmo então também deveria estar por dentro do assunto e Remus igualmente. Ok, talvez Dorcas não soubesse, pois não conseguia guardar um segredo nem que sua vida dependesse disso. De qualquer forma, eu daria um jeito de descobrir. Usaria todas as minhas armas e aquele maldito Black deveria se preparar, porque eu estava no jogo.

Entrei no chuveiro ainda xingando aqueles meus malditos amigos. Após toda a areia e o sal estarem bem distante do meu corpo e ele estar completamente seco, comecei a procurar uma roupa que me ajudasse a passar aquele dia primaveril sem morrer de calor. Um curto short jeans e uma blusa de mangas curtas branca foi o melhor que consegui achar. Dei um jeito no meu cabelo e desci para a sala de jantar, onde meus pais almoçavam tranquilamente.

— Boa tarde, preguiçosa. – ouvi o crítico comentário de mamãe me alfinetar.

— Boa, mamãe. – repliquei, me servindo. – E papai.

— Certo, quando você irá anunciar oficialmente?

— Anunciar o quê? Se for sobre as detenções que eu levei, já está tudo resolvido.

— Detenções? – franziu a testa. – Eu me referia ao seu relacionamento com o Sirius!

— Meu relacionamento com quem?

— Ah, mocinha, não tente escapar. – rolou os olhos. – Você não me comunicou dessas detenções!

— Certo, mamãe! Eu desobedeci alguns regulamentos, recebi detenções e foi apenas isso. Tudo resolvido! Agora me diga quem foi que lhe passou tão errada informação?

— Não pense que isso vai ficar assim e seu irmão.

— James?

— Ele comentou que você estava com vergonha de contar para nós. Então eu pensei em te poupar a vergonha e tocar no assunto.

Oh Dorea, sutil como um coice de cavalo.

— Mamãe, nós não estamos namorando.

— Não precisa mentir mais querida. – tocou minha mão. – Já vi os olhares que vocês trocam, está escrito em vossas testas que estão apaixonados.

Apaixonados, até parece.

— Pelo amor de Merlin, mamãe! – ergui os braços, soltando o garfo. – Nunca namoraria o Sirius, ele é um canalha.

— Teu pai também era, antes de me conhecer.

Suspirei, desistindo da argumentação.

Terminei o meu almoço e fui para a parte dos fundos da minha casa. Precisava de alguns minutos de paz, onde eu me balançaria em uma rede e observaria os passarinhos voando no céu. Enquanto me deitava, pensei em quanto James havia sido sacana em contar aquilo para a mamãe. But wait a sec, será que isso estava relacionado com o segredo que todos estavam tentando manter de mim?

Demorou, no entanto todos acabaram vindo para aproveitar a enorme piscina que compunha a bela cena a qual eu observava. Heck, enterrei as mãos no meu cabelo e busquei a coragem que precisava.

— Sirius, será que podemos conversar?

Ele assentiu, me acompanhando para um cantinho.

— O que aconteceu, Lethícia?

— Eu queria pedir desculpas por ontem. – sussurrei. – Agi como uma completa idiota.

— Você estava bêbada, é normal. – riu. – Eu também fico tarado quando bebo uísque.

— E é, Sr. Black? – mordi o lábio. – Então providenciaremos esse uísque.

Ele ficou sério.

— Eu estou brincando, bobo!

Gargalhei, dando uma tapinha no seu braço.

Seria completamente brega dizer que senti um arrepio quando ele envolveu o braço na minha cintura e abraçou-me? Porque foi exatamente o que aconteceu. Maldito, Black! Ficava me atiçando daquele jeito e depois fugia como um lobo do tiro. O momento foi totalmente quebrado quando a campainha tocou estridente. Xinguei profundamente as pessoas que estavam apertando o botão.

Quando vi o par de pessoas que caminhavam como se estivessem em uma passarela para perto dos fundos, quis bater em minha mãe. Eu a amava, mas não conseguia acreditar que ela convidara minhas primas Regina e Emilly para fazer uma visita surpresa. Acreditei que “não as chame aqui novamente enquanto eu estiver nessa casa” tinha sido taxativo o suficiente. Agora sei que não foi.

As garotas deram gritinhos animados e me abraçaram.

Bleh.

— Lethícia, há quanto tempo! – murmuram em uníssono.

— Regina, Emilly que surpresa! – sorri forçadamente. – O que as trazem aqui?

— Tia Dorea ligou para mamãe, disse que vocês estavam em casa e, bem, estamos aqui.

— Que ótimo!

— Viemos preparadas para tomar um bom banho de piscina, se não se importarem.

— Claro que não! – empurrei o ombro da ruiva. – Sintam-se a vontade. Ah, e creio que já conheçam Sirius.

— Ah, sim. – Regina sorriu maliciosa. – Olá, Sirius!

Urgh.

Terminei de as apresentar para os demais e meu irmãozinho fez o favor de as enturmar perfeitamente. O clima em que eu me encontrava antes fora completamente aniquilado e destruído. Logo agora que eu estava quase lá na minha investigação... Ok, não, no entanto eu iria conseguir eventualmente.

A tarde decorreu incrivelmente lenta. Minhas doces primas passaram a tarde inteira se insinuando para os três marotos e fazendo comentários nada agradáveis para mim e minhas amigas. Dorcas sumiu com Remus um pouco antes das seis. Lily tentou me puxar para confidenciar algo algumas vezes, mas foi impedida em todas. Quando finalmente conseguiu, já estava escurecendo.

— Oh my God! – ela sussurrou, apontando para Jim saindo lentamente da água.

— O que foi?

— Seu irmão está muito gostoso! SOS! – exclamou, gargalhando.

— Pirou? – ri.

— Claro que não. – suspirou. – Estou expandindo meus horizontes.

— Foi isso que você passou a tarde inteira tentando me falar? - Ela assentiu. – Lily Evans, você por acaso está pensando em...?

— Não estou prometendo nada. – cortou meu pensamento. – Estou dizendo que irei passar um pouco mais de tempo com Jim.

— Isso é ótimo! – sorri radiante. – Quando vocês tiverem o primeiro filho, quero ser a madrinha.

— Não sonhe tão alto, Lely! – berrou, enquanto eu entrei em casa.

No mundo inteiro existe aquela pessoa a qual você está destinado a ficar junto. Mesmo que demore anos, um dia irão se encontrar e cumprir o que lhe foi predisposto. Parece besteira, no entanto James e Lily são exatamente esse tipo de casal. Com todas as brigas, ciúmes e desavenças, eles ainda irão acabar juntos. Posso apostar minha vida nisso.

Ri, andando até a cozinha.

Servi-me com um pouco de suco de morango e pensei em como tudo estava mudando rapidamente. Os sentimentos paradoxais me atormentavam incansavelmente. Nunca vira Black agir assim por uma garota, todavia não conseguia prever suas ações e isso me assustava muito.

— Srta. Potter? – ouvi duas batidinhas na porta da cozinha.

— Sirius, não me chame assim. – sorri, baixando a cabeça.

— Podemos conversar melhor? Suas primas chegaram e sei que atrapalhou seus planos comigo...

— Ah, você é tão presunçoso! – exclamei. – Por que acha que eu planejei algo com você?

— Sua carinha desolada quando Regina me cumprimentou te entregou totalmente.

Ele riu, tomando meu copo e bebendo um gole do suco. Fez uma careta quando sentiu o gosto do morango puro em sua boca e me devolveu o objeto. Sabia que tinha estranhado a falta do álcool.

— Urgh! Beber suco de morango com nenhum pouquinho de vodka?

— Vejo que você está andando muito com a Lily e, não, eu não sou uma alcóolatra.

Após uma risada compartilhada, Sirius se aproximou de mim, tocando meu rosto suavemente com os polegares.

— Droga, Sirius! – toquei seu peito, o afastando. – É isso que está me deixando louca!

Ele me olhou confuso.

— O quê?

— Isso. – apontei para a situação. – Você se aproximando de mim, me tocando e depois indo embora. Se decida, homem!

Eu não estava querendo lhe dar um ultimato, no entanto foi exatamente o que aconteceu. Black não respondeu imediatamente, simplesmente me deu as costas e tentou deixar o cômodo. Ah, não! Eu já havia esperado demais para aquilo e precisava de respostas. Segurei seu braço com força e o encostei na parede.

— Vamos lá, me diga.

— Não há nada a ser dito, Lethícia. – suspirou.

— “Não há nada a ser dito”? – surtei. – Primeiro Sirius: você está me provocando desde o dia daquele maldito baile onde nós beijamos. O que diabos está acontecendo? Você precisa me explicar ou eu irei ficar louca!

— Preste atenção. – ele me puxou para um canto escondido, a fim de que ninguém nos visse. – O que aconteceu aquela noite foi um erro. Você mesma admitiu quando ficou uma semana inteira sem falar comigo! Agora eu não posso impedir de...

— De o quê?

— Nada.

E voltamos à estaca zero.

Segurei o colarinho de sua camiseta; mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, meu pai apareceu. Ele e Sirius tinham uma relação muito próxima, então simplesmente sorri e acariciei o peito do moreno. What the hell, ele já acha que namoramos mesmo.

— Sirius, você poderia me acompanhar ao meu escritório?

— Sim, senhor.

E assim a conversa estava encerrada. Não conseguia acreditar que a solução para aquele enorme mistério esteve em minhas mãos e apenas escorregou, como se tivesse manteiga de amendoim. Eu não desistiria, porém. Sirius eventualmente me contaria aquela história tim-tim por tim-tim.

Entrei no meu quarto.

— Lethícia!

Senti meu coração bater mais rápido, do susto.

— Fuck, James! – berrei. – Você quer me matar?

— O que exatamente tu e Lily conversaram?

— Depende, conversamos muito. – franzi as sobrancelhas. – O que aconteceu?

— Bom, não faço a mínima ideia do que está se passando pela cabeça da ruiva. – sorriu. – Mas boas novas: ela estava dando em cima de mim!

— Estava?

— Sim, tocando o meu braço e rindo de tudo que eu dizia. Maninha, você finalmente operou o milagre da ruiva.

— I’m awesome, i know.— estufei o peito. – Agora não desperdice a oportunidade e a agarre com todas as suas forças.

— Pode deixar. – piscou e saiu correndo do meu quarto.

Finalmente me deitei na cama, sentindo o cansaço me dominar e não me dando o trabalho de tirar a camada de roupa que me cobria, colocando um pijama após. Aquele dia exaurira todas as minhas forças e ainda assim não dormiria tranquila sabendo que algo de muito errado estava acontecendo com Sirius. Pensei, pensei e nada de óbvio passou por minha cabeça.

A não ser que... Não, aquilo não era possível. O feitio do cachorro não era esse e principalmente, ele jamais esconderia isso de mim. Todavia, é verdade que ele estava distante e tudo o mais. Era algo que deveria ser considerado. Levantei da cama preparada para discutir o assunto com o moreno, mas desistir antes de alcançar a maçaneta da porta. Refleti que não era da minha conta.

Ele podia se apaixonar por quem quisesse.

A pulga, porém, permaneceu.

Estaria Black apaixonado por alguma pessoa próxima a mim e com medo que eu ficasse machucada?