Série Auror - Primeira Temporada escrita por Van Vet


Capítulo 4
Capítulo 4




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Terras Altas da Escócia, Stirling...

Harry abriu o celular e discou o número de casa. O telefone chamou uma, duas, três vezes, mas foi apenas no quarto toque que a secretária eletrônica atendeu.

Olá! Aqui é o Harry e a Gina. No momento não podemos atender, mas deixe seu recado após o sinal que retornaremos a ligação.”

Harry suspirou frustrado. Era a terceira vez que tentava ligar para Gina. Desde que ele e Ron chegaram à Escócia havia mandado um patrono, mas não obtivera resposta. Agora estava à noite, no escuro, com frio, e, além de não conseguir dar uma satisfação a sua mulher, do sumiço para outro país, ainda tinha que aguentar Ron resmungando ao lado.

– Eu ainda não entendo porque vocês insistem em se comunicar por meio disso aí. – e apontou o celular na mão de Harry.

–São mais rápidos que as corujas e mais dinâmicos que os patronos. Também cansam menos que uma aparatação, e claro, não fazem sujeira como pó de Flu.

–Foi o que a Hermione disse quando me deu um desses.

Ron costumava chamar-la pelo nome inteiro sempre que brigavam.

–E cadê?

–Eu acabei quebrando sem querer. Essas bugigangas trouxas são muito delicadas e nem todo o feitiço de reparação as conserta como deveria.

–A Hermione também deve estar preocupada.

–Duvido! –exclamou Ron com convicção.

Harry revirou os olhos. Não estava nem um pouco disposto a saber o motivo da briga. Provavelmente tinha haver com algo de Ron fez, ou que, no ponto de vista de Hermione, deixou de fazer.

–Precisamos encontrar algum lugar para dormir. Não conheço nenhuma aldeia bruxa na Escócia. Acho que teremos que nos instalar num hotel trouxa de beira de estrada.

–E você tem algum dinheiro trouxa?

–Eu ando precavido, caro amigo.

**

As Terras Altas da Escócia eram marcadas por montanhas íngremes de vegetação rasteira e clima ameno... No verão. No inverno os picos rochosos eram salpicados pela geada rala e a campina dava lugar à tundra indomada. Qualquer ser humano que passasse muito tempo aventurando-se pelo ar livre, naquele clima selvagem, era facilmente engolido pelas ciladas da natureza.

Harry e Ron não sabiam ao certo onde as estalagens trouxas ficavam e não tinham como aparatar em um lugar que não conheciam. Então, enquanto caminhavam pesarosamente por uma estradinha mal iluminada e deserta, e viam carros surgirem esporadicamente, Harry comentou.

–Anotação mental: alugar um carro assim que surgir a primeira oportunidade.

–Nesse fim de mundo é meio difícil – ofegou Ron – O que nós podemos fazer é trazer as vassouras da próxima vez.

–Ah é, vassouras nesse frio. Eu tô a fim de congelar de vez mesmo – ironizou - Ahh, Graças a Merlin! – exclamou aliviado. Muitos metros diante deles havia um casebre rústico com uma placa mal iluminada – Estalagem Stirling.

A pitoresca estalagem Stirling carregava o nome do famoso Castelo Escocês. Sua decoração também tinha muito do ambiente medieval. As paredes eram de pedra bruta, as pinturas antigas e os móveis da recepção, vitorianos. O estandarte real escocês, amarelo ouro com um leão vermelho de garras e língua azuis, se ostentava na parede atrás do balcão. Ron fitava a imagem no pano, enquanto Harry acertava os detalhes da estadia com um atendente trouxa.

Ron possuía um superficial conhecimento teórico das coisas do mundo, ainda mais das que diziam respeito ao mundo e a história dos trouxas, mas os fatos por de trás daquela flâmula, ele surpreendentemente conhecia bem, e isso fora graças a Hermione. Mais especificamente no sexto ano de Hogwarts, numa das poucas conversas amigáveis que eles travaram naquele turbulento ano.

Eram vésperas das provas e ele e Harry se isentaram de muitas matérias depois dos N.O.Ms. - História da Magia era uma delas -, mas Hermione não. Ela estava apreensiva e ansiosa, sem motivo, claro, com seu recente desempenho na avaliação do professor Binns, e numa forma de amenizar os ânimos da, ainda amiga, Ron pediu para que ela dissesse as perguntas do teste e as respostas que ela colocou.

–Ele perguntou também sobre o Estandarte Real Escocês. –lembrou Hermione

–Ah é, e qual foi à pergunta exatamente? – disse Ron evitando encarar-la diretamente nos olhos. Olho no olho estava se tornando uma ação difícil de travar com a amiga nos últimos anos.

–Hmmm... Uma pergunta bem simples. O Professor Binns queria saber qual era o animal originalmente pintado no Estandarte, antes do Leão.

Simplíssimo!

–E qual era?

–Um Meteoro Chinês! –respondeu Hermione com convicção.

–E porque trocaram? Um Dragão é bem mais maneiro que um leãozinho.

– Ron, o Estandarte Escocês é um símbolo trouxa. Seria um tanto estranho ter um dragão pintado na flâmula real. Tudo bem que, desde os primórdios, os Dragões representam virilidade e força para eles, mas ainda assim, não passam de uma lenda nas crenças trouxas.


Ron ficou confuso.

–Então porque vocês estão estudando um estandarte trouxa? E como eles conheciam Meteoros Chineses se tudo nunca passou de mito na cabeça deles?

–Faça-me o favor, Ronald! –irritou-se Hermione – Nosso segundo ano, aquela redação de oitenta e sete centímetros sobre os nobres e Reis da idade média que eram bruxos...

Ron fez cara de paisagem. Segundo ano, até parece que ele ia lembrar. Já tinha esquecido o que comeu no café da manhã daquele dia.

–Esclareça minha memória. – pediu fazendo beicinho e encontrando os olhos dela pela segunda vez na noite. Hermione suspirou, revirou os olhos e, claro, desatou a falar.

–Naquela redação o Professor Binns pediu que detalhássemos sobre a existência dos Reis e nobres bruxos da idade média que viviam entre os trouxas, e escrevêssemos sobre seus feitos mais importantes.

“Rei Guilherme I, Escocês do Século XII, era famoso por caçar dragões e expô-los como troféus nas masmorras de seu castelo. Um dia Guilherme saiu em caça a um temido Meteoro Chinês que, distante de seu país de origem, morava nos Alpes da Áustria. Dominado pela ambição indômita de ter aquele exemplar que diziam ser o mais colossal dos Meteoros já viventes na Terra, Guillherme foi sozinho de encontro à fera. Voltou cinco semanas depois, agonizando sem o braço esquerdo, mas com a cabeça de dragão mais pesada que já caçara, num saco de couro de bezerro.

“No mesmo instante, seus filhos, numa forma de homenagear a bravura do pai, criaram o Estandarte Escocês com um Meteoro Chinês adornado ao centro. Entretanto, antes que tal flâmula fosse apresentada ao povo, sua família e o clero, compostos tanto por trouxas como bruxos, acharam que um símbolo ‘mitológico’ desacreditaria a imagem católica de Guilherme.

“Então, dizem que desgostoso, o Rei acabou por ceder e o Leão foi substituído pelo Dragão, assim como a verdade sobre o animal que deixara Guilherme sem o braço.

–Eles disseram para o povo que foi um Leão que arrancou o braço do Rei?

–Sim. Eles não poderiam dizer que fora o Meteoro. O povo era trouxa, Ron! –enfatizou Hermione.

–Coitado... –penalizou-se o ruivo – Matar um Dragão e nem ganhar o devido mérito.

–Pois é. Guillherme também se sentiu impotente e desvalorizado depois disso. Dizem que semanas após...

–Ai não! A Lilá! – interrompeu Ron, afobado. Lilá Brown, sua ex-namorada, acabava de aparecer pelo buraco do retrato da mulher gorda, do salão comunal.

Ron deu um salto da poltrona, como se tivesse visto um fantasma. Um fantasma loiro, macilento, grudento, rancoroso. Hermione não podia dizer que se sentia desconfortável perante as reações de Ron quando se tratava se fugir de Lilá.

–Mione, amanhã você me conta o resto dessa história, ok?! – disse ele a meio caminho das escadas para o dormitório masculino.

–Tá. – respondeu Hermione, escondendo um risinho – Boa Noite!

...O dia seguinte após aquela conversa chegou, mas Ron nunca lembrou Hermione de lhe contar o desfecho da história. E era engraçado, porque agora, observando aquele Estandarte que venho atravessando séculos para estar ali - numa estalagem simplória de beira de estrada -, ele tinha mesmo, a curiosidade de saber o que Guilherme fez semanas após. Ele poderia ligar para a noiva e perguntar, se ainda tivesse um celular. Ele poderia fazer qualquer coisa, aliás, se tivesse pedido desculpas pelas grosserias da noite passada.

–Ron? Ron?

Ron desligou-se das memórias e voltou à realidade.

–O que houve? Tá dormindo de pé?! –insistiu Harry.

–Não é nada. Pronto?

Harry fitou-o, desconfiado.

–Pronto. – disse, sacudindo a chave do dormitório na mão. –Tem um telefone perto da porta, ali. A bateria do meu celular acabou. Vou tentar ligar pra Gina outra vez. Você não quer aproveitar e ligar para Mione?

Pra quê?

–Não. Eu vou subir e tomar um banho. - e puxou a chave da mão de Harry.

Harry aproximou-se dele e cochichou para que o recepcionista trouxa não escutasse.

–Não esqueça que tudo no quarto é objeto trouxa, viu. Se não souber como algo funciona nem...

–Ah, pára Harry. Meus sogros são trouxas. Acho que posso me virar neste mundo já. – respondeu irritado.

***

Harry trouxe o fone o mais perto possível da orelha e cobriu a boca com a mão, para ganhar um pouco mais de privacidade no telefonema. O recepcionista, ele já tinha percebido, era um bisbilhoteiro de plantão; afinal quantos hóspedes eles recebiam naquele fim de mundo?

–Gina! –disse quando a voz macia de sua esposa saudou um “alô” do outro lado da linha.

–Harry! Onde você está? – a voz já não era mais tão macia assim.

–Advinha? Nosso primeiro caso no Mistério e o Willard joga um explosivim no nosso colo! Viemos parar na Escócia.

–Como assim? E porque nosso caso? Quem está ai com você? –inquiria ela, enciumada.

–Nossa! Aconteceu tanta coisa num dia só, que eu nem lembro que você não está a par de nada. Eu e o Ron somos parceiros, dá para acreditar?

–Sorte para ele então. –disse num tom frio.

–Não desmereça seu irmão, Gina. – pediu.

–Você sabia que ele brigou com a Mione?

Ressentimento feminino coletivo. Explicado.

–É, tô sabendo.

–E você sabe o motivo que levou o legume insensível do meu irmão a brigar com ela?

Ele não estava nem um pouco interessado.

–Gina, não liguei para falar desses dois. Eles são um caso perdido como você bem sabe.

Gina riu do outro lado da linha.

–Certo. Mas então, vocês voltam a que horas daí?

–... Não voltamos hoje.

–Por quê?

–Porque o caso não está nem perto de ser resolvido. Longa história.

–E não dá para se falar no telefone? – perguntou a ruiva, num tom se exasperação.

Na recepção, o atendente continuava a olhar para Harry, só que torto.

–Agora não. Mas porque você não atendeu ao telefone há uns minutos atrás?

–Acabei de chegar, mas vi seu patrono, ia responder em breve. Eu estava na Toca. Meus pais estão aqui, agora.

Harry teve uma ideia.

–Me passa pro seu pai rapidinho?

–Por quê?

–Querida, eu te explico tudo que você quiser depois, mas meu tempo está curto nesse momento. –disse com sinceridade.

–Eu vou querer todas as respostas mesmo. – respondeu ela, compreensiva – Beijos.

–Beijos.

Harry acenou para o recepcionista, anunciando que a conversa já iria acabar.

–Alô? Harry? – clamou a voz, sempre solícita, de seu sogro do outro lado da linha.

–Olá Sr. Weasley. Eu estou sem muito tempo, então vou ser breve.

–Claro.

–O senhor conhece alguma comunidade bruxa nas Terras Altas da Escócia? -perguntou num sussurro. Arthur ficou um tempo mudo, puxando essa informação de algum lugar bem oculto nas memórias.

–Tem uma sim. Uma comunidade, descendente dos celtas que mora até hoje em Arlyll e Bute. Se não me falha a memória, é o vilarejo de Ormsary.

Ok. Diversas anotações mentais. Harry iria precisar mais do que magia. Ia precisar de um mapa.

–Obrigado Sr. Weasley!

***

Harry entrou no quarto que iria dividir com Ron e quase não acreditou no que seus olhos viram - o chão de carpete, cor de vinho, estava tomado de água. Aliás, o aposento todo era uma piscina. No cômodo que deveria ser o banheiro, ele podia ouvir o cunhado proferindo feitiços e xingando ao mesmo tempo.

Acho que eu posso me virar nesse mundo, já! Sei...

Harry contornou as poças e chegou ao banheiro. A visão era engraçada - Ron de toalha no corpo e outra na cabeça, com a varinha na mão, lançando todos os feitiços imagináveis para duas torneiras desvairadas que esguichavam água da banheira.

Harry encostou-se no batente da porta para apreciar a cena.

–O que é? Vai ficar rindo, parado aí? – rosnou Ron, assim que notou o outro.

–Tô vendo você se virar! – disse com extrema dose de sarcasmo.

–Harry, por favor, me ajude! Essas torneiras endoidaram. Daqui a pouco essa aguaceira toda vai para o andar debaixo e vamos nos complicar. –implorou.

Nisso ele estava certo.

Ainda rindo das trapalhadas de Ron, Harry foi até o registro, fixado a parede e o fechou parcialmente. No mesmo instante, as torneiras acalmaram.

–Obrigado, Harry.

–Toma esse banho logo. Ainda temos que pensar na decisão que tomaremos pelo amanhecer, no caso. E me empresta sua varinha.

–Pra quê?

–Quanto tempo você acha que vou demorar pra aspirar esse quarto todo com apenas a minha varinha?

***

Tergeo! Tergeo!

–Harry, procurar alguma pista sobre esse Alfred e os outros vai ser como procurar uma agulha no palheiro. Quero dizer, o país é enorme.

–Tergeo... – proferia Harry, fazendo as ultimas gotas d’água desgrudar do carpete para a ponta da varinha - Se o único vilarejo bruxo que existir por aqui for o de Ormsary, como seu pai disse, as possibilidades crescem.

–Ou não. O tal Teddy vivia entre os trouxas, o Daniels já não confiava em bruxo algum e o esse Alfred pelo visto era um pau mandado. Não acredito que vamos conseguir alguma informação decente.

–Pode ser. Mas temos que tentar. Talvez exista uma biblioteca por lá onde possamos extrair alguma informação sobre o suposto Monstro do Ness. Uma versão bruxa para história e não a trouxa que nos habituamos a escutar.

–Certo... –Ron se aninhou na cama de solteiro, dando um grande bocejo. – Amanhã não é? – balbuciou ele, cobrindo-se nas cochas de lã e fechando os olhos.

–É, Ron.

Ao contrário de Ron, Harry estava sem sono algum. Seus pensamentos vagavam nas peculiaridades daquele caso, e ele já não acreditava na banalidade dele. Havia também, junto com a perseverança, o desejo de ser bem sucedido no seu primeiro trabalho no ministério.

–Ron? – perguntou.

–Hmmm...? –resmungou o ruivo abrindo lentamente os olhos.

–O que leva três bruxos com nada em comum a caçar uma lenda trouxa?

–Não sei. Talvez não seja uma lenda... – disse, voltando a fechar os olhos – Amanhã nós conversamos mais sobre isso, tá legal?!

–Boa Noite, então.

–Noite...


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