Série Auror - Primeira Temporada escrita por Van Vet


Capítulo 3
Capítulo 3




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– Daniels Carlyle. Inglês, cinquenta e um anos, auror aposentado. Fugiu para as ilhas Fuji durante a Segunda Grande Guerra. Sempre muito habilidoso com feitiços de confusão e um exímio executor do Imperius. Voldemort o perseguiu durante algum tempo, mas pelo visto desistiu. Naquela época lhe importava mais caçar fabricantes de varinhas do que ex-aurores - finalizou Harry.

Estavam ele e Ron no salão de treinamento dos aurores. A nova turma que se formaria no fim do ano que vem, entrava com o instrutor-auror, Thomas Jones. Sujeito alto, ombros largos, cabelos louros. Ron não ia muito com a cara dele.

Egocêntrico.

–Ainda acho tudo isso uma babaquice – bufou o ruivo –Todo mundo sabe que Daniels era tão maluco quanto Olho-Tonto. Quê Merlin o tenha!

Harry também não estava muito confiante.

–Não importa. Temos que investigar de qualquer forma.

–Por onde começamos? – e num cochicho continuou – O otário do Jones nos ensinou a se esquivar de um Impedimenta, controlar sete bruxos ao mesmo tempo num Petrificus Totalus, até como paquerar a mulher dos outros ele ensinou, mas nunca disse nada de como conduzir uma investigação sem precedentes.

–Qual é o seu problema? Andou brigando com a Mione outra vez? – inquiriu Harry, impaciente.

–Por quê? –questionou Ron, rabugento.

–Porque sempre quando vocês brigam você começa a implicar com a amizade que ela tem com o Thomas...

Ron bufou e resmungou qualquer coisa indecifrável. Harry, acostumado aquilo, permaneceu atento ao rumo da investigação.

–Vamos falar com a Sra. Flood. Ela pode saber muito mais do que acredita saber para essa investigação.

***

Condado de Hillside Village, Londres...

O Condado de Hillside Village ficava a muitos quilômetros do Beco Diagonal e era famoso por possuir residências elegantes e pitorescas ao mesmo tempo. Seus moradores adoravam adornar as fachadas em cores berrantes e flores dirigíveis. Havia muito bom gosto na decoração dos pomares, mas também muita excentricidade.

Harry e Ron passaram por uma casinha verde de janelas roxas. No jardim, um menino atiçava uma planta gigante que escancarava a boca raivosa quando ele jogava gnomos na direção dela.

–Desgnomização? – sugeriu Ron ironicamente.

–É. Pode ser! – concordou Harry.

À medida que os aurores caminhavam na direção do endereço da Sra. Flood, as esperanças de entrarem em uma daquelas moradas coloridas iam se extinguindo. O Condado de Hillside Village possuía uma rua silenciosa e mal habitada, onde casas velhas, de paredes descascadas, se erguiam.

Foi com muito pesar que os dois postarem-se num casebre de telhado torto e aspecto funesto. O jardim estava dominado por ervas daninhas da noite e aos pés de duas árvores nodosas de galhos retorcidos - aparentemente já sem vida -, visgos do diabo, sadios e brilhantes, repousavam.

–Porque sempre temos que ficar com o pior...? –chiou Ron, olhando desconfiado para os visgos.

–Eu sempre me pergunto isso. – disse Harry, avançando para o patamar através de escadas podres e rangentes.

Harry bateu de leve na porta enquanto Ron permanecia com a varinha em punho, fitando a planta traiçoeira a metros dele. Após o quarto toque as dobradiças desgastadas da porta velha uivaram, e uma mulher idosa, de rosto ossudo, coberta num xale verde, surgiu.

–Sim? –resmungou, desconfiada.

–Er... Olá, Sra. Flood? – arriscou Harry, nervoso. Tudo aquilo era extremamente novo para ele.

–O que querem?

A velha, aparentemente, não reconhecera Harry, o que o deixou mais aliviado. Porém, logo ela saberia. Eles tinham que se apresentar.

–Sra. Flood, eu sou Harry Potter e este é meu parceiro Ronald Weasley – a velha nem se abalou – Somos aurores do Ministério da Magia e viemos aqui para falar sobre Alfred...

–Entrem! – interrompeu ela, bruscamente.

Harry e Ron obedeceram.

De imediato, assim que entraram, foi impossível não notar o cheiro de mofo misturado com aulas de poções. O assoalho estava esverdeado e lascado em muitos pontos, denunciando a umidade do recinto.

O primeiro cômodo da casa era a sala, um gatil ambulante, impregnada de amassos enrolados pelos dois sofás rasgados e encardidos, que, um dia, foram floridos e limpos.

–Sentem-se! –indicou a Sra. Flood, caminhando para outro cômodo da casa, aparentemente a cozinha. –Chá? –perguntou num tom mais de ameaça do que gentileza.

–Não! Obrigado. – responderam os aurores, em uníssono.

–Pois eu quero. – esbravejou a mulher, sumindo pelo umbral rachado da cozinha. Assim que sua figura idosa e carrancuda desapareceu, Ron cochichou.

–Oh Harry, meia dúzia de perguntas e vamos embora, certo?! Agora eu sei por que o tal Alfred deu no pé. Lugarzinho macabro...

–E você espera ir para onde no nosso trabalho? Fábrica do Willy Wonka?

–Hã... – Ron não entendeu. Harry não teve tempo de explicar - a Sra. Flood estava voltando.

Rapidamente, Harry buscou um lugar no assento vago e sem amassos, no sofá perto da escada. Ron ameaçou sentar perto de um gato rajado de olhos cor de fogo, mas sofreu retaliações quando o animal eriçou os pêlos para cima dele. Irritado, ele olhou de esgueira para ter certeza que a Sra. Flood não o fitava e com um movimento de varinha jogou o animal do sofá. Rapidamente sentou no assento, agora vago.

O gato chiou e ainda o fitou duramente. Aquela mesma expressão que o Bichento direcionava para ele.

–Inferno... –resmungou Ron.

A Sra. Flood finalmente despontou na sala e buscou seu lugar numa poltrona, de frente para os dois. O amasso irado pulou imediatamente no colo de sua dona, enquanto não tirava os olhos rancorosos de Ron.

–Então Sra. Flood, pode nos explicar com detalhes como seu filho desapareceu? –começou Harry.

–De novo? Eu já disse isso para o Ministério... Achei que vocês já estivessem trazendo Alf.

Harry respirou calmamente e tentou outra abordagem.

– Senhora, nós somos os aurores responsáveis pela investigação e faremos o possível para trazer seu filho são e salvo para o aconchego... – Harry fitou a mobília velha e as paredes escuras... – do lar. E, seria de grande valia ouvir seu depoimento pessoalmente.

–Certo. O que querem saber exatamente? –perguntou ela, contrariada.

–Hmmm... A senhora afirma ter visto seu filho pela última vez...

–Sexta feira. Ele saiu com sua mochila de equipamentos de caça nos ombros, prometendo voltar no sábado.

–Mas ele já saiu outras vezes e ficou vários dias fora, sem dar notícias?

–Nunca! – disse com sagacidade.

Ron continuava quieto. Provavelmente travando uma batalha silenciosa com o amasso no colo da mulher.

–E sobre esses amigos dele...

–Não eram amigos!

–Não?

– Não. Você nunca trabalhou com quem não gostasse? Meu Alf é muito talentoso. Bom em diversos feitiços, mas tem um espírito livre como do pai. Nunca quis se prender em nenhum trabalho fixo... – Vagabundo -... E poucos serviços restam para quem escolhe essa vida. Alf teve que se misturar com aqueles dois grifos traiçoeiros se quisesse ter alguma chance no ramo da caça.

–A senhora se refere à Daniels Carlyle e...

–Teddy Scotfield! Um porco arrogante que bebe o dia todo seja lá o que for... Um dia venho aqui, em casa, e tomou a garrafa toda de uma safra valiosa de hidromel do meu falecido. Eu disse para Alf “Nunca mais traga esse verme na nossa casa!”

–Entendo... A Senhora tem alguma ideia de onde mora o Sr. Scotfield ou o Sr. Carlyle? Ao que parece ambos não possuem nenhum endereço fixo...

–Daniels é uma raposa ambulante. Nunca diz para onde vai ou de onde vem. Já o Scotfield, Alf diz que mora entre os trouxas, nas Docas de Londres. Nunca vi um bruxo gostar tanto de se misturar com aquela gentinha sem magia.

–Não tem ideia de onde eles foram caçar, não?

–Nenhuma.

–Mais uma pergunta senhora, seu filho disse que eles iriam atrás de grindylows correto?

–Ele disse. Mas Alf sempre mente sobre suas caças, para não me preocupar. Ele foi caçar qualquer coisa, exceto grindylows.

***

– A gente ficava mais elegante naquelas roupas de auror, Harry. – comentou Ron.

Os dois se encaminhavam em passos largos, na direção das Docas emporcalhada de Londres. Um lugar imenso, repleto de cargueiros e trabalhadores das mais diversas nacionalidades e estilos, porém, com algo em comum, todos trouxas.

–O que você acha que os trouxas iriam pensar se nos vissem vestidos como auror? –retorquiu Harry, apressando o passo.

–Mas poderiam ser roupas mais elegantes. Eu sei que os trouxas tem vários modelos bacanas...

Os dois vestiam macacão metalúrgico, encardido e desbotado, que Harry conseguira usando o feitiço Geminio em dois funcionários das Docas, que dormiam a sombra de um contêiner e sequer perceberam seus uniformes sendo duplicados pelo bruxo.

–Ron, faça-me o favor! Estamos disfarçados. Mas me diga, que conclusão você tirou daquela conversa com a Sra. Flood?

–Ela é pirada! A casa dela fede como a sala de aula de Poções de Hogwarts e aquele gato só pode ser um sinistro.

–Tá! Fora isso...

–Bem, o tal Alfred era meio inconsequente de se misturar com bruxos como Daniels. E ela está certa, duvido que eles fossem caçar grindylows. A Hermione lhe dá com esse tipo de coisa o tempo todo no Departamento de Controle de Criaturas Mágicas, e caça de grindylows não está exatamente no topo da lista dos problemas de caça. São difíceis e chatinhos de caçar, além de não valerem quase nada no mercado bruxo, tanto no legal quanto no clandestino.

–É... Foi o que imaginei.

***

Harry e Ron aproximaram-se de um galpão na entrada das Docas, abarrotado de homens preenchendo documentos e depositando pequenas mercadorias em balanças de metal. Em meio aquela baderna natural para uma manhã de segunda-feira, Ron e Harry identificaram um balcão modesto onde um homem barbudo e obeso postava-se. Numa plaquinha quase apagada lia-se informações.

–Bom dia senhor! – saudou Harry.

–A sessão de pesagens é daquele lado! –apontou o sujeito com um rugido.

O mundo todo acordou de mau humor?

–Obrigado, mas não viemos pesar nada. Queremos uma informação. É sobre um homem que frequenta aqui.

–Teddy Scotfield. –disse Ron.

–E vocês quem são? – os olhos cinzentos no rosto gorducho, perfuraram os parceiros como agulhas na espuma.

–Er... Amigos. – arriscou Harry.

–É. Muito amigos do Ted! –reforçou Ron.

–Então falem para o TED que assim que ele resolver aparecer aqui, não se esquecer de uma dívida generosa que deixou para eu cobrir, do carregamento de Black Walker da semana passada.

–Philip, o Scotfield não vai voltar aqui tão cedo. Eu já te disse isso. – informou uma quarta voz entrando na conversa. Um velhinho frágil, de sorriso maroto, que eles não haviam reparado estar escorado ao balcão, escutando a conversa toda. - Ele ficou a semana passada inteira se gabando que iria sair do país, talvez para nunca mais voltar.

–Um cretino é o que ele é! – bufou o tal Philip.

Harry tinha que dar um jeito de se inserir na conversa.

–E ele disse para onde ia? –perguntou.

–Ah, disse. Scotfield tem o hábito de contar tudo para quem quiser ouvir, independente de você querer escutar ou não. Desta vez ele estava se gabando que iria para Escócia.

–Escócia? O que tem para se fazer na escócia? –Ron pensou alto. O velho, prontamente, entendeu como uma pergunta e já tinha a resposta pipocando na ponta da língua.

–Caçar o Monstro do Lago Ness. Foi o que o lunático disse!


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