Além do Sangue escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 9
Regresso


Notas iniciais do capítulo

Ah, cá estou! Que saudades de postar essa fic!
Vocês leram a mensagem que deixei no meu perfil? Ah, por favor, digam que leram. Disse que agora tem uma intercambista da Alemanha na minha casa, e que então ficou difícil escrever por um tempo, mas agora estou de volta. Tudo bem?
E tenho um capítulo saindo do forno para vocês! Espero que gostem!



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A mesa de jantar dos Black tinha sido feita para acomodar vinte pessoas. Contudo, geralmente apenas Cygnus, Druella e as três garotas comiam lá, de modo que todos os outros lugares costumavam ficar vazios. Mas não naquela noite.

Era a última noite de Andrômeda e Narcisa em casa antes de tornarem para Hogwarts, então, como de praxe, todos os Black foram chamados para um último jantar em família.

A diferença foi que os convidados não foram apenas os Black. Daquela vez, a família de Druella – os Rosier – também fora chamada, o que deixava Andrômeda um pouco apreensiva. Ela não tinha muito contato com seus avós e tios maternos, e fazia anos desde que os vira pela última vez.

Também foram convidados o Sr. e a Sra. Lestrange com seus dois filhos – Rodolfo, noivo de Belatriz e Rabastan, seu irmão. E por isso, ficava claro que se despedir de Andrômeda e Narcisa havia sido apenas um pretexto para Cygnus, Druella e os Lestrange discutirem sobre o casamento de Belatriz e Rodolfo, que ocorria em breve.

– Há de ser um evento grandioso! Algo totalmente digno de nossas famílias. – Não parava de falar Sra. Lestrange.

E enquanto isso, Andrômeda concentrava-se em comer seu rosbife, olhando fixamente para seu prato.

Já fazia dez dias que seu pai havia enviado a carta para os Parkinson, procurando confirmar a história do relacionamento de Andrômeda com Norman, e o desconforto daquele dia ainda estava presente, sufocando-a. E ainda por cima havia o medo, a chance da carta chegar a qualquer hora.

Porque os Parkinson simplesmente não haviam enviado uma resposta. Durante três dias Andrômeda havia esperado em seu quarto, sem falar com ninguém e tampouco conseguido estudar. Seus pais, que sempre exigiram a presença das filhas nas refeições, não faziam mais questão da dela, e então ela só se alimentava pela madrugada, quando tinha certeza de que todos estavam dormindo e ia até a cozinha pedir para um elfo preparar-lhe algo para comer.

No quarto dia, ela arriscou comparecer ao café-da-manhã, e todos a ignoraram. Não podiam gritar com Andrômeda, pois seu relacionamento com Ted não havia sido comprovado, e não podiam tratá-la bem porque era evidente que a estavam repudiando depois do que Belatriz falara.

A última semana, então, correra silenciosa demais para ser considerada “normal”, mas mesmo assim, com nenhuma surpresa. Até aquele dia, em que Druella fora para Andrômeda e dissera, friamente e sem olhar para ela:

– Minha família e os Lestrange irão se unir a nós no banquete de hoje à noite. Vista-se apropriadamente. Quem sabe com as vestes lilás que lhe demos de presente de natal?

E ela as vestira, combinando com um longo colar de pérolas e os cabelos encaracolados soltos lhe emoldurando a face. Estava tão elegante como uma Black deveria ser, mas ainda assim, sentia-se muito longe do resto da família.

E como era de se esperar, os pais e as irmãs a estavam tratando durante o banquete como se nada errado houvesse acontecido, para não alertar aos outros sobre o escândalo que se passava na parte deles da família.

– Nós temos uma lista de convidados muito extensa para o casamento. – Disse Sr. Lestrange. – Os Crabbe, os Mulciber, Marshall, Goyle, Malfoy, Bulstrode, Parkinson...

– Ah, os Parkinson! – Exclamou Cygnus, como se o relembrassem de um nome que ele há muito não ouvia. – Faz tempo que não ouço notícia de um deles.

– Se não me engano – disse tio Alfardo – eles estão aproveitando as férias dos filhos deles para uma viagem para a Polônia.

Eles estavam viajando. Não viram a carta porque estavam viajando. Andrômeda, que tinha acabado de terminar seu rosbife, conteve um suspiro.

– Polônia. Ótimo lugar. – Cygnus resmungou, embora nunca tivesse estado lá. Mas antes que alguém questionasse seu súbito interesse pelos Parkinson, Druella mudou de assunto, voltando-se para os pais:

– O que acharam do rosbife?

– Excelente. – Respondeu a avó de Andrômeda. – Eu e seu pai fizemos muito bem em casá-la com um Black, Druella. Ótimos até nos dotes culinários de seus elfos-domésticos.

Ela evidentemente só dissera aquilo para valorizar os Black para os Lestrange ainda mais. Não que fosse preciso – os Black já eram uma das famílias mais tradicionais do mundo bruxo, e qualquer um daria tudo para se casar com algum Black. E assim, avô Pólux, pai de Cygnus, tia Walburga e tio Alfardo, retrucou:

– Até os nossos elfos-domésticos vêm de uma linhagem antiga. Naturalmente, são de primeira qualidade.

– Por falar em elfos – Rabastan Lestrange interveio pela primeira vez, e o irmão Rodolfo o olhou feio. Os dois, assim como as três irmãs Black e Régulo, não estavam interrompendo a conversa dos mais velhos. Mas Rabastan continuou mesmo assim: - ouvi dizer que é costume dos Black decapitarem seus elfos quando ficam muito velhos, e deixar a cabeça em exposição em um corredor. É verdade?

– A mais pura verdade. – Disse Pólux. Se Andrômeda estivesse em um humor melhor, provavelmente teria achado engraçada a leve careta que Rabastan fez por um segundo. Ela já tinha contado para Ted sobre a tradição de decapitar elfos domésticos, e ele tivera uma reação ainda pior do que a dele, e ela simplesmente não entendia o que era tão errado naquilo. Para ela, simplesmente era... natural. Crescera vendo aquilo acontecer.

– Então, onde estão estas cabeças? – Foi Rodolfo quem perguntou. Qualquer um Black poderia ter respondido àquela pergunta, mas todos ficaram quietos para que Belatriz respondesse.

– Não ficam aqui, e sim na casa de meus tios. – E como sempre, não houve nenhum afeto na voz dela. Não sentia nada por seu futuro marido. E isso é o que é considerado certo, pensou Andrômeda amargamente, enquanto casar-se por amor é errado.

Druella estivera olhando para o relógio da parede de dois em dois minutos desde o início do jantar, mas quando fez isso naquela hora, tratou de fazer uma expressão bem surpresa:

– Pelas barbas de Merlin, já são nove horas? Andrômeda, Narcisa, vocês têm uma longa viagem por fazer amanhã, portanto, se já terminaram seus jantares, vão para seus quartos para dormir. Quanto aos outros, nos acompanhem para a sobremesa.

Parte dos castigos que Cygnus e Druella impunham às filhas quando elas faziam algo errado era ir para a cama sem sobremesa, e nos casos mais graves, até sem jantar. Mas em situações comuns, as garotas ficavam até o final das refeições, e Narcisa olhou com choque para a mãe quando ela ordenou que ela e Andrômeda se retirassem.

O que realmente tinha acontecido, no entanto, evidentemente era que Druella não queria que Andrômeda ficasse, mas a única desculpa que arranjara para mandá-la para o quarto incluía que Narcisa fosse também.

As duas se levantaram e começaram a andar ao redor da mesa, se despedindo polidamente da família e dos convidados. Narcisa abraçou o pai, a mãe e a irmã mais velha, mas Andrômeda se limitou a desejar um “boa noite” sem olhar nos olhos deles. Quando estava se despedindo dos Lestrange, ansiosa para se retirar logo na sala, ficou tremendamente surpresa quando Sr. Lestrange agarrou suas mãos.

– É uma linda garota, Andrômeda. – Elogiou, mas havia algo em sua voz que não era simpático. Ela não conseguiu agradecer, apenas olhando para o homem, e ele se virou para Cygnus. – Talvez, Cygnus, assim como Belatriz está para se casar com Rodolfo, possamos conversar sobre Andrômeda se casar com Rabastan?

– De fato, uma interessante proposta. – Cygnus deu um sorriso duro. – Mas deixemos essa conversa para uma próxima vez. Andrômeda está no último ano, muito ocupada com os estudos para os N.I.E.M.s. Vamos esperar ela se formar para focarmos no assunto de casamento.

– Bobagem. – Resmungou Irma. – Não vê como os Lestrange são uma boa família? Se não só uma, mas duas de suas filhas fossem casadas com filhos deles...

Enquanto Sr. Lestrange ouvia o tagarelar dela assim como os outros na mesa, soltou as mãos de Andrômeda, que tratou de ir apressada para fora da sala no mesmo instante, Narcisa ao seu lado.

Ele não ter querido acertar meu casamento aqui e agora deve querer dizer que está acreditando na história com o Norman, pelo menos um pouco, pensou Andrômeda – e apenas pensou, porque no fundo, não fazia ideia do que aquilo realmente queria dizer.

Embora tivesse saído da sala com a irmã em perfeita paz, assim que a porta se fechou atrás delas, Narcisa fez cara feia. Andrômeda achou que ela fosse reclamar sobre ter perdido a sobremesa, mas ela só foi para as escadas, entrou no seu quarto e bateu a porta – não o suficiente para os pais precisarem sair para brigar com ela, mas apenas para que Andrômeda sentisse sua raiva.

A outra subiu depois, devagar. Lembrou-se do dia anterior à sua primeira ida à Hogwarts, quando ela andou por toda a casa, se despedindo de lá mesmo que fosse voltar no final de poucos meses. Naquela vez, apesar de a carta de Norman não ter chegado e seus pais não terem podido deserdá-la por causa disso, sabia que os Parkinson voltariam da Polônia – naquele dia ou no seguinte, para que os garotos, Norman e Kevin, pudessem ir para a escola – e então responderiam a carta, o que dava à Andrômeda a sensação de que não voltaria a ver sua casa, mas não vontade de se despedir. Queria apenas que aquelas férias aparentemente eternas acabassem logo.

Entrou em seu quarto. Sobre a cama, ela tinha deixado duas mudas de roupa: uma camisola para que dormisse, e vestes para usar no dia seguinte quando fosse para a Estação King’s Cross. O resto de suas coisas estava dentro de suas malas, que ela passara o dia inteiro fazendo. Podia ter feito aquilo com magia em um segundo, mas estava impossibilitada – seu pai tinha-lhe confiscado a varinha, dez dias antes, assim como a de Belatriz, mas diferentemente de Belatriz que tivera a dela de volta no mesmo dia, Andrômeda não recebera a sua de volta. E não achava que o pai tivesse esquecido.

Pretendia pedir-lhe a varinha no dia seguinte, se ele não a devolvesse por vontade própria. Não podia voltar para a escola sem ela, e mesmo as férias foram muito mais dolorosas sem poder usar magia. Ela não entendia como os trouxas podiam simplesmente viver felizes sem ela.

Colocou sua camisola e entrou debaixo dos lençóis. Queria dormir, mas como não tinha sono algum, ficou observando as estrelas através da pequena fresta entre as cortinas de sua janela. Seus pais haviam-na lacrado com magia alguns dias antes, para que Andrômeda não pudesse receber cartas, mas felizmente, Ted não escrevera mais nada depois de ter sua carta do Natal sem resposta.

E ela esperava que ele tivesse interpretado isso como se alguma coisa tivesse dado errado, como realmente havia acontecido, e não que ela o estivesse ignorando. Não poderia suportar estragar as coisas com ele também.

*********

Sempre tinha sido responsabilidade de Druella levar e buscar as filhas na estação King’s Cross. No entanto, como ela não parecia muito bem desde o natal – especialmente na companhia de Andrômeda – Cygnus assumira a tarefa daquela vez.

Quando eles adentraram a Plataforma 9 ¾ eram dez e meia da manhã, e o Expresso de Hogwarts já aguardava os alunos. Andrômeda sentia seu estômago revirar – estava enfim voltando para a escola, o que durante as férias fora tudo o que quisera, mas estando tão perto de realizar o seu desejo, conseguiu uma nova preocupação: ter de falar com Norman. Porque seria o único jeito de conseguir um acordo para que o garoto dissesse para os pais que eles estavam novamente namorando, e tudo entrar nos eixos novamente.

– Vocês devem ir agora. – Disse Cygnus para as filhas, secamente. – Mas antes, me ouçam. Narcisa, seus N.O.M.s serão daqui há poucos meses, e não a vi estudando nem uma vez durante as férias inteiras. É melhor que não me decepcione. E quanto a você, Andrômeda Rosier Black – quando era chamada pelo pai de “Andrômeda Black”, ela já sabia o quão encrencada estava, mas tinham sido muito raras as situações em que ele também dissera o nome do meio. O som dele a fez estremecer – se eu souber de mais uma história estranha sobre você, pode apostar que não seremos tão tolerantes como dessa última vez. E ainda estamos à espera da carta dos Parkinson. – E como se a ameaça não tivesse sido o suficiente, ele ainda voltou a se dirigir à filha mais nova: - Fique de olho na sua irmã, e escreva para mim caso qualquer coisa.

Andrômeda não pode evitar sentir um peso no coração, se lembrando de quando elas eram menores e seu pai pedia para que ela ficasse de olho em Narcisa.

– Sim, papai. – Disse Narcisa. Andrômeda se limitou a encarar o trem.

Cygnus não parecia estar no humor de se despedir propriamente, então apenas assentiu antes de tirar a varinha de Andrômeda das vestes e enfim entregá-la para ela (o que quase a fez suspirar de alívio, pois já estava com receio de que ele não fosse o fazer), para em seguida se retirar da plataforma, desinteressado em esperar o trem sair como fazia a maioria dos outros pais. As garotas seguiram juntas para o Expresso de Hogwarts, mas se separaram quando Narcisa foi para um vagão onde estava os outros alunos do quinto ano da Sonserina e também alguns do sexto, e Andrômeda seguiu para um cheio de alunos da Corvinal, como tinha feito na última viagem.

Mas diferentemente da última viagem, que ela passara lendo um livro, apenas sentou-se e ficou repassando em sua cabeça o que diria para Norman – e sua preocupação deveria estar bem evidente em seu rosto, porque tão logo o trem começou a andar, uma menina baixinha de cabelos negros e lisos com quem Andrômeda não se lembrava de ter conversado antes se voltou à ela e perguntou:

– Ei, Black, você está bem?

Perdida em pensamentos, ela piscou e perguntou sem pensar duas vezes:

– Falou comigo?

A garota trocou um olhar com uma amiga sentada ao seu lado, e ambas deram uma risadinha. Andrômeda não levou mais de uma fração de segundo para perceber que é óbvio que era com ela que a garota tinha falado, quem mais atenderia por “Black” naquele vagão?

– Sim, estou bem. – Respondeu, por fim, a voz perdendo alguns tons da simpatia por causa das risadas delas.

Virou-se para a janela a seu lado e fingiu interesse na paisagem exterior, para não ser mais incomodada com perguntas e nem ter como os outros repararem no seu rosto.

Cada segundo perdido aqui é um segundo a mais que os Parkinson têm para escrever para os meus pais, ela pensava, aflita, mas não conseguia se mover sem que tivesse imaginado todas as reações que Norman poderia ter quando o chamasse para conversar, tudo o que poderia acontecer.

Era óbvio que ele não faria escreveria aos pais dizendo que eles estavam namorando novamente por pura gentileza. Ele sequer gostava de Andrômeda. E também não ia dar certo se ela lhe oferecesse ouro, sendo Norman também de uma família rica. O que um garoto como ele poderia querer? Nada agradável, ela já podia imaginar.

Pensou nos meses em que eles tinham namorado, tentando encontrar alguma coisa, e demorou para reparar que sua solução era mais simples do que pensava.

Tudo aquilo tinha começado quando Norman fora pedir para ela ajuda para estudar. Naquela época, a maior preocupação de todos era os N.O.M.s do quinto ano, mas os N.I.E.M.s do sétimo eram muito mais importantes do que eles – tanto que o significado de “N.O.M.” era “Níveis Ordinários de Magia”, e o de “N.I.E.M.”, “Níveis Incrivelmente Exaustivos de Magia”. E Norman nunca fora um bom aluno. Se Andrômeda lhe oferecesse ajuda...

A bruxa que vendia doces no trem entrou no vagão, trazendo um carrinho cheio de guloseimas. Andrômeda estava começando a ficar com fome, e sabia que sua próxima oportunidade de comer seria apenas à noite, em Hogwarts, mas não tinha tempo a perder – já tinha desperdiçado pelo menos duas horas sentada lá, sem nada fazer.

Levantando-se, ela seguiu para fora do vagão sem dar explicações, deixando sua mala para trás, e se dirigiu decididamente ao vagão onde estavam os outros alunos do sétimo ano da Sonserina.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Deixem um comentário ou uma recomendação! Ajudaria muito a história ;)
Até o próximo capítulo!



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