Além do Sangue escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 7
Descoberta


Notas iniciais do capítulo

Gente, no último capítulo, dei a entender que não havia casa alguma em torno da casa dos Black, no Largo Grimmauld. Agora, relendo Harry Potter e a Ordem da Fênix, vi que o livro diz que, sim, havia outras casas na área. Mas quero lembrar que o Além do Sangue se passa vinte e cinco anos antes do HP5, e o Largo Grimmauld pode ter mudado muito neste meio-tempo - especialmente depois que Walburga Black morreu, dez anos antes da história do livro. Então, simplesmente, a região era diferente na época da minha história ;)
Espero que gostem!



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Repentinamente, tudo pareceu tão surreal que Andrômeda poderia muito bem estar apenas sonhando.

Ela estivera com toda a família no Largo Grimmauld pouco antes, e não acreditava que algum deles pudesse ter ido até sua casa enquanto ela voava com Régulo. A única pessoa que não estava lá era Belatriz, que tinha dito que tinha outro compromisso, e se ela estivesse no compromisso, não poderia estar invadindo o quarto de Andrômeda enquanto ela não estava.

Mas pelo menos duas horas tinham se passado desde que Belatriz declarara que sairia. E se tivesse sido algo rápido e ela já estivesse de volta?

Andrômeda engoliu em seco e pegou sua varinha. Uma coisa que ela aprendera desde bem criancinha era que, se houvesse mesmo que a menor chance de alguma coisa acabar se relacionando com a irmã mais velha, ela tinha de se garantir o máximo possível.

Terminou de subir as escadas com cautela, e atravessou o longo trecho do corredor até seu quarto, que era uma das últimas portas – depois do quarto dos pais e do de Narcisa, mas antes do de Belatriz. Antes mesmo de alcançar a porta, já tinha reparado que não havia movimento dentro do quarto, logo, quem estivera lá não estava mais. Mas ela ainda esperava chegar lá e encontrar tudo revirado e bagunçado, e soltou um enorme suspiro de alívio ao ver que tudo estava tão impecável e organizado quanto Andrômeda sempre deixava. Devia ser um bom sinal.

Um pouco mais relaxada, ela entrou no cômodo. Examinou de perto seus móveis, e estava começando a estranhar o fato de não haver nada de errado quando reparou que a janela também estava inteiramente aberta – Andrômeda também sempre a fechava, como a porta.

Ela foi até a janela e olhou do lado de fora, tentando achar alguma pista do que estava acontecendo, quando uma voz irritantemente fina e familiar soou atrás dela:

– Não esperava que você fosse voltar tão cedo, Dromedinha.

Andrômeda se virou imediatamente, para encontrar Belatriz parada na porta, com a expressão sinistramente séria, girando a própria varinha nos dedos. Uma de suas sobrancelhas estava erguida, e Andrômeda encarou-a com surpresa por um milésimo de segundo – antes de ela mesma assumir uma expressão irritadiça, e segurar a varinha com mais força.

– Acho que posso dizer o mesmo sobre você.

– Eu disse que tinha um compromisso, não que ia demorar. Mas eu sei que o seu compromisso, tecnicamente, ainda não devia ter acabado. Você deveria estar no Largo Grimmauld com todos.

– Ah, eu surpreendi você? – Andrômeda não revirou os olhos, para poder mantê-los firmes na irmã. – O que você estava fazendo no meu quarto? Você não tinha o direito de... – A voz dela minguou até sumir ao ver que Belatriz enfim tinha sorrido. O tipo de sorriso cruel que parecia ser o único que ela sabia dar, e que sumiu um segundo depois para dar lugar à uma seriedade ainda mais assustadora. Aquilo não era um bom sinal.

– Não venha falar de direitos comigo, sua traidora nojenta. – Ela parou de girar a varinha. – Eu entrei no seu quarto porque reparei que havia uma maldita coruja do lado de fora, esperando que alguém deixasse ela entrar. Ela tinha uma carta. – Belatriz levou a mãe à um bolso, de onde tirou um pergaminho bem dobrado.

Naquele momento, Andrômeda não pensou. Uma urgência tão grande a invadiu que antes que pudesse se controlar tinha corrido na direção de Belatriz, a mão que não segurava a varinha estendida para arrancar-lhe a carta das mãos.

Mas a irmã foi ainda mais rápida para lhe apontar a varinha.

Locomotor mortis! – Disse, num fôlego só, e Andrômeda mal teve tempo de processar as palavras antes do feitiço fazer efeito, grudando suas duas pernas e fazendo-a cair no chão com força. Por reflexo, abriu as mãos para impedir que batesse a cabeça no chão, e consequentemente sua varinha caiu e rolou para fora do alcance dela. – Não precisa ficar ansiosa assim, Andrômeda. Eu que vou ler a carta para você.

A sensação de impotência que ela sentiu enquanto Belatriz desdobrava o pergaminho foi terrível. Poderia se arrastar até sua varinha, mas sabia que não chegaria a pegá-la – a irmã perceberia o que estava tentando fazer e a pegaria primeiro. E era melhor ter sua varinha no chão do que com Belatriz. Então, ela começou a ler – para o mínimo consolo de Andrômeda, sem fazer voz de falsete:

– “Querida Andrômeda. Feliz natal! Nem parece que fazem apenas cinco dias desde que nos vimos, não é? Cada dia sem você parece um ano para mim. Até alguns anos atrás, eu não poderia me imaginar escrevendo algo do tipo, mas hoje, digo francamente que mal posso esperar para que as aulas voltem. Aliás, como está indo com seus estudos? Estou tentando estudar nessas férias também, mas o clima de folga é tão contagiante... Acho que progredi muito pouco. Espero que você esteja se saindo melhor. Afetuosamente, Eu.” – Andrômeda ouviu a mensagem, pela primeira vez na vida desejando que Ted não tivesse escrito para ela, até esquecido de sua existência por um tempo. Sabia que estava pálida e parecendo culpada, e Belatriz pareceu triunfante por isso. – Que cara é essa, Dromedinha? Você esqueceu de falar para o Tonks que estaria fora hoje e agora está arrependida?

– Tonks? – Ela perguntou. Não entregaria o jogo, ainda não tinha sido o suficiente para tal ato.

Belatriz bateu um pé no chão e levantou as mãos para o alto como se pedisse paciência, antes de começar a gritar:

– Sim, sim, o Tonks! Ted Tonks! E não me venha com essa de fingir não saber quem ele é, porque você não vai conseguir me enganar como engana papai e mamãe! Ciça me contou tudo o que está acontecendo em Hogwarts, todos os boatos, tudo! E quando papai e mamãe chegarem em casa, acredite, você também não poderá mais enganá-los. A brincadeira acaba hoje, Andrômeda Black.

– Ei! – Uma voz de criança veio do corredor, para logo depois Régulo também aparecer na porta do quarto. Olhou de uma prima para a outra com confusão e aborrecimento. – O que está acontecendo? Estava esperando a Drômeda no andar debaixo e ouvi gritos! Andrômeda, por que você está no chão?

– Eu não sabia que você estava aqui, Régulo. – Disse Belatriz, ignorando as perguntas dele.

– Eu e ela íamos voltar para a minha casa por Pó de Flu, aí ela disse que ia trocar de roupa primeiro, mas não voltava. – Resmungou ele.

– A Andrômeda não vai mais a lugar algum. Mas venha, vou enviar você de volta para a sua casa. E lá, você vai direto para os meus pais e vai dizer a eles que eles têm de voltar para casa imediatamente.

– E por que eu faria isso?

– Porque eu estou mandando. – Belatriz falou, colocando uma mão na nuca do primo e guiando-o para fora do quarto com indelicadeza.

Enquanto isso, o desespero dentro de Andrômeda apenas crescia. Ela tinha de alcançá-los, não podia permitir que Régulo fosse até o Largo Grimmauld e avisasse os pais dela que deveriam ir para casa, para Belatriz contar-lhes sobre Ted. No fundo, sabia que cedo ou tarde eles chegariam de qualquer jeito – mas isso não lhe parecia importante naquele momento.

Uma vez sozinha, ela se arrastou em direção à sua varinha, tentando se lembrar de um feitiço para desfazer o que a estava prendendo. A situação era ridícula – ela se lembrava de milhares de magias complicadas de sétimo ano, mas aquele, que tinha aprendido no primeiro ou no segundo, não vinha à sua mente.

Felizmente, outra coisa sobre o locomotor mortis que Andrômeda não tinha se lembrado (e tinha certeza de que Belatriz também não) era que aquele era um feitiço temporário. O efeito passou antes mesmo de que ela alcançasse a varinha, suas pernas se desprendendo e deixando-a apta para pegar o objeto e se levantar.

Ela se preparou para correr para o andar de baixo, mas então teve uma ideia melhor. Tão acostumada à ideia de menoridade que era Andrômeda, ela às vezes se esquecia de que já fazia alguns meses que tinha dezessete anos – a idade da maioridade bruxa –, o que significava não só que podia fazer magia fora da escola (com isso ela tinha se acostumado rápido), mas também que podia aparatar. E sem perder tempo, desaparatou para a sala de estar.

Ela tinha sido rápida, mas pelo visto, não o suficiente. Chegou na sala no momento exato em que Régulo entrava nas chamas verdes da lareira, desaparecendo sem que Andrômeda pudesse impedi-lo.

Belatriz, ainda assim, não pareceu feliz ao ver a irmã lá. Apontou-lhe a varinha pela segunda vez naquele dia, mas daquela vez Andrômeda estava preparada, e teve a mesma iniciativa.

Expelliarmus! – As duas gritaram, simultaneamente, e como consequência ambas as varinhas voaram de suas mãos, bateram em paredes opostas e foram ao chão.

Andrômeda ainda tentava imaginar o que poderia fazer em seguida quando Belatriz avançou com violência em sua direção, empurrou-a contra a parede mais próxima e pressionou um braço contra seu pescoço, fazendo Andrômeda arquejar. Seus olhos brilhavam com ódio.

– Você bem sabe, Andrômeda, que quando éramos crianças e não podíamos usar magia eu conseguia te machucar mesmo assim. Posso fazer isso de novo, então, se eu fosse você, ficaria esperando nossos pais quietinha.

Andrômeda estava com receio de se mexer ou falar algo. Belatriz não estava blefando – nunca estava – e ela tinha medo que ela pudesse apertar seu pescoço a ponto de enforcá-la se reagisse. Desse modo, o máximo que pôde fazer for olhar firmemente nos olhos de Belatriz, para mostrar que não estava intimidada.

Alguns momentos se passaram. Se elas ainda fossem crianças, Andrômeda teria torcido para que os pais chegassem logo e fizessem Belatriz parar de machucá-la, mas ela já não sabia mais o que era pior – com eles ou sem. Ela se lembrou de uma véspera de prova de História da Magia em que tinha se encontrado com Ted, e perguntara se ele estava preparado para fazer ao teste, obtendo como resposta: “Claro que não. Não entendo uma palavra do que aquele professor fala! Mas não faz diferença. Preparado ou não, vou ter de fazer a prova.”

Preparada ou não, ela teria de passar por aquilo.

O som de alguém aparatando soou em algum ponto da casa. Em seguida, a voz do pai delas soou alta e clara, perguntando onde elas estavam. Parecia furioso, mas Belatriz não se abalou:

– Na sala de estar! – Gritou de volta, soltando Andrômeda, que massageou o pescoço.

E logo ele chegou ao lado da esposa, que também parecia genuinamente irritada. Narcisa evidentemente tinha ficado na casa dos tios, o que indicava que Cygnus e Druella tinham intenção de voltar para lá.

– Belatriz, espero que tenha um motivo muito bom para nos ter feito voltar. Se for algo que possa esperar... – A mãe deixou a ameaça no ar, mas todos já sabiam o que aquilo queria dizer. Por ora, não era com Andrômeda que os pais estavam irritados.

– Esperar? – Belatriz olhou de relance para a irmã antes de se voltar aos pais. – Bem, talvez pudesse esperar, mas isso certamente tornaria as coisas ainda piores do que já são. Esse assunto já esperou tanto, e vocês nem fazem ideia...

– Mãe, pai, eu não sei do que a Belatriz está falando... – Tentou Andrômeda.

– Cale-se! Não ouse me interromper com as suas mentiras!

– Você é louca?! – E isso iniciou uma discussão feita com as duas falando juntas com a voz muito alta, o que estava na lista de coisas que Cygnus não tolerava e o fez berrar um “Chega!”, parecendo até mais estressado do que já estava. Elas obedeceram imediatamente, parando de falar no meio de suas frases.

– Eu tenho dois irmãos. – Falou ele, cada palavra carregada de irritação. – Sei como às vezes pode ser difícil não brigar, mas não vou admitir ter de separar brigas infantis entre minhas filhas de dezenove e dezessete anos! Vocês duas tratem de se acalmar, ou vão para os quartos de vocês imediatamente e conversamos quando estiverem dispostas a agir como a idade de vocês.

– Aliás, onde estão suas varinhas? – Perguntou Druella. Elas olharam cada uma para a respectiva varinha, e Cygnus pegou a própria para usar o feitiço accio para fazê-las voar até suas mãos.

– Não as terão de volta até entendermos o que está acontecendo. – Declarou, guardando-as nas vestes. – Belatriz, foi você quem mandou Régulo nos chamar. Pode falar primeiro.

– Acho melhor – ela tirou novamente o pergaminho dobrado que era a carta de Ted do bolso, e dessa vez estendeu-o com convicção para os pais – que vocês leiam isto primeiro.

Druella pegou e desdobrou o pergaminho. Leu-o rapidamente, sua expressão passando de irritada para perplexa a cada segundo. No final, parecia bem mais pálida do que quando começara. Cygnus franziu o cenho.

– Deixe-me ver isso. – E pegou a carta também, lendo em seguida. Se também ficou assustado, não demonstrou, mas sua voz estava alterada ao olhar para Andrômeda no final. – Explique-se.

E ela ia explicar – não sabia o que, mas definitivamente não a verdade – mas acabou sendo interrompida por um espirro que veio naquele momento. Ela sabia que ficar com aquelas vestes molhadas e geladas não era uma boa ideia. Belatriz aproveitou:

– Eu explico! Essa carta foi enviada para a Andrômeda pelo querido namorado sangue-ruim dela, Ted Tonks. É uma pena que a Bela malvada tenha pego primeiro...

– Namorado sangue-ruim? – Cygnus perguntou, descrente. Druella, ainda mais pálida, foi até uma poltrona e se sentou, colocando uma mão no rosto.

– Pai. – Andrômeda disse, avançando um passo na direção dele. – Ted Tonks é um garoto da Lufa-Lufa, que faz algumas aulas comigo. Mas eu nunca falei com ele, sequer somos amigos, eu não sei quem foi a pessoa que inventou esses boatos que estão correndo pela a escola, mas Narcisa acreditou neles e contou para Belatriz, e...

– E por que nós não ficamos sabendo de boato nenhum?! Se fosse calúnia, Andrômeda, poderíamos ter ido falar com o diretor! – E ela percebeu, com uma pontada de vertigem, que Cygnus estava acreditando em Belatriz. O pai já tinha gritado com ela antes, mas nunca a olhado daquela forma. Com nojo.

– M-Mas, pai...

– Tudo bem, Andrômeda, digamos que não tenha sido... esse sujeitinho. – Disse Druella, tirando a mão do rosto para olhar para a filha. Aquilo estava no olhar dela: ela não queria acreditar em Belatriz. – Quem foi que escreveu?

– Norman Parkinson. – Respondeu o primeiro nome que lhe ocorreu, porque se hesitasse para responder, seria óbvio que estava mentindo. Mas se arrependeu.

Tinha dito que fora seu ex-namorado.

– Isso é ridículo! – Belatriz exclamou. – Vocês não namoram há um ano, e agora você quer que acreditemos que ele está te escrevendo cartinhas românticas?

– Eu tinha achado melhor não contar por enquanto. – Andrômeda prosseguiu com a mentira, mas pela primeira vez, concordava com a irmã mais velha: aquilo estava sendo ridículo. – Mas estamos nos reconciliando.

O olhar de Cygnus continuava de nojo e descrença, e o de Druella também começara a ficar daquele jeito. Talvez fosse mesmo o fim. Ela seria deserdada ali, e não adiantava inventar mentiras estúpidas.

– Bem, acho que vamos ficar aqui até amanhã se formos decidir em quem acreditar. – Druella falou. Sua voz tremia. Seria de raiva? Choro reprimido? – Temos métodos mais eficazes para vermos se essa história é ou não verdade.

Andrômeda também se sentia como se precisasse se sentar. Já sabia o que a mãe ia falar, e não tinha pensado naquilo até aquele momento. Druella continuou:

– Temos um pouco de Veritaserum guardada, não temos, Cygnus? Uma poção da verdade seria apropriada para essa situação.


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Notas finais do capítulo

É, parece que a casa caiu XD. Agora, uma imagem que vi em uma página que curto no facebook que me lembrou este capítulo: https://www.facebook.com/SnapeConformado/photos/a.601605186540988.1073741828.589136034454570/744075662293939/?type=1&theater
Rsrs, até o próximo!



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