Além do Sangue escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 5
Tapeçaria


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Querido “Eu”,

Fiquei feliz ao receber a sua carta. Meus pais confiam em mim, vão acreditar se eu disser que estou me correspondendo com Madeleine ao invés de com você. De qualquer forma, não pretendo passar muito tempo fora de meu quarto nestas férias, e vou pegar as cartas assim que chegarem. Então, acho que está tudo bem.

Está tudo certo por aqui, ou pelo menos tão certo quanto as coisas podem estar ao se morar com Belatriz. Mas eu já aguento ela há dezessete anos, então suponho que quinze dias não sejam problema. E como estão as coisas aí em Hogwarts?

Também queria poder vê-lo. Termos de passar tanto tempo afastados é tão injusto!

Sua Andrômeda.

P.S. Pretendo estudar bastante durante as férias. Talvez assim o tempo passe mais rápido.

P.S.S. Amo você também.

*********

No seu quinto dia em casa, Andrômeda acordou com a impressão de estar se esquecendo de algo importante, mas sem conseguir imaginar o quê.

Conferiu se tinha escondido propriamente a carta que tinha recebido de Ted no dia anterior junto com as outras duas. Não tinha tido coragem de jogá-las fora, mas percebera o quanto as irmãs pareciam andar olhando-a de maneira mais estranha que o habitual, e supôs que Narcisa já tinha contado tudo sobre Ted para Belatriz, e que elas já deviam imaginar quem era o verdadeiro remetente das corujas que chegavam para ela. Todo cuidado era pouco naquelas condições, e por isso Andrômeda tinha guardado todas as cartas que recebia (até aquele momento, três), no fundo de uma das gavetas de sua escrivaninha.

Ao ver que tudo estava no lugar certo, ela resolveu ignorar aquela impressão e foi se arrumar – qualquer outra coisa que ela estivesse se esquecendo e não fosse relacionada à chance de sua família descobrir sobre seu relacionamento não podia ser muito importante.

Escolheu pôr vestes de uma cor que parecia estar em algum ponto entre o rosa e o vermelho, e eram bastante quentes. E enquanto se vestia, repassou em sua mente os planos de estudo daquele dia – pretendia reservá-lo inteiro para revisar exercícios de Aritmância, já que como aquela era, assim como História da Magia, uma aula que a Sonserina fazia com a Lufa-Lufa, Andrômeda não prestava a devida atenção nas aulas e tinha de correr atrás da matéria depois.

Mas não podia estudar se estivesse com fome, então desceu para a sala de jantar para tomar café da manhã. Seus pais e irmãs já estavam lá, comendo – inclusive Belatriz, que sempre costumou acordar mais tarde que Andrômeda. O pai delas parecia estar dizendo alguma coisa, mas se interrompeu com a chegada da filha do meio. Todos a olharam.

– Bom dia. – Disse Andrômeda bem baixo, desejando ser ignorada para não ter de ouvir bronca do pai, que odiava ser interrompido. Mas foi alto o suficiente para a mãe ouvir, e erguer as sobrancelhas:

– “Bom dia”? Feliz natal, Andrômeda.

Andrômeda se sentiu subitamente estúpida. Era daquilo que ela não estava se lembrando, afinal. Como podia se esquecer do Natal?

– Claro. Eu quis dizer “feliz natal”. – Consertou, indo se sentar entre as irmãs. Belatriz, com uma leve careta, fez menção à ter a atitude infantil de arrastar a cadeira um pouco mais para longe da irmã, mas continuou onde estava.

– Como eu ia dizendo antes de você chegar – Cygnus retomou a palavra. Encarou Andrômeda com um olhar repreensivo, mas felizmente sua irritação terminou por isso mesmo, provavelmente como um desconto em virtude à data –, como ano passado seus tios vieram para cá passar o natal, neste ano, estaremos indo para a casa deles. Sairemos depois do café, e vamos voltar à noite.

– Eu não vou. – Disse Belatriz. – Vou ter sair para resolver algumas coisas hoje.

– Também não vou. – Aproveitou-se Andrômeda. – Hoje eu planejei estudar Arit...

– Ah, você vai, Andrômeda. – Falou Druella. – Você está trancada naquele quarto desde que chegou em casa. Pelo menos hoje você vai tirar uma folga.

– Sim. E seria mal-educado se você não fosse. – Completou Cygnus.

Andrômeda sentiu vontade de observar que nenhum deles parecia ter objeções quanto ao fato de Belatriz não ir, mas ela sabia que eles responderiam que era “diferente”. Ela não sabia exatamente o que a irmã mais velha andava fazendo, mas tinha suas teorias – e também, não era como se fizesse questão de saber. Então, ficou quieta.

Ao final da refeição, Cygnus e Druella deram licença às filhas para irem à sala de estar, onde sempre deixavam os presentes de natal delas. Uma década antes, aquilo significaria que as três garotas teriam se levantado e corrido para o aposento em questão, ansiosas e se empurrando pelo caminho, mas que atualmente apenas queria dizer que se levantaram e foram para lá sem sequer trocar olhares.

A árvore de natal deles tinha sido montada ao lado de uma mesa de canto da sala de estar, e os presentes estavam lá, já divididos em três pilhas. Andrômeda abriu os dela, encontrando vestes novas e bonitas, livros, e mais uma caixa de sapos de chocolate – o que a deixou feliz, já que tinha mandado a que os pais tinham lhe dado quando ela chegou em casa para Sirius, como presente de natal, por ter quase certeza de que ninguém mais da família daria presentes ao garoto como castigo por ter ido para a Grifinória e não ter voltado para casa nas férias.

Ela agradeceu aos pais e foi deixar os novos pertences no quarto. Ponderou se não poderia levar o livro de Aritmância consigo para a casa dos tios, mas ao ouvir a voz já impaciente de seu pai lhe chamando no andar de baixo, decidiu que não.

Tornou a descer para a sala de estar. Belatriz não estava mais lá – talvez já tivesse saído para o compromisso dela – e no momento em que ela chegou, Narcisa jogava um punhado de Pó de Flu nas chamas da lareira, fazendo-as ficar verdes brilhantes, antes de exclamar “Largo Grimmauld, nº 12!”, e entrar no fogo, sumindo logo em seguida.

– Vá você agora. – Disse Druella, pegando outro punhado do pó prateado do saquinho que segurava e dando-o para Andrômeda. A garota jogou o dela no fogo e disse o endereço da casa dos tios como Narcisa havia feito, antes de entrar na lareira.

A sensação de viajar com Pó de Flu era algo com que ela estava acostumada, mas que não podia ser chamado de agradável. Ela não era o tipo de pessoa que achava divertido ver como, após entrar na lareira, tudo à sua volta era consumido pelo fogo verde, até ela ser sugada para um lugar que poderia ser comparado à outra dimensão, embora fosse apenas magia, onde ela giraria descontroladamente, vendo enquanto passava em alta-velocidade por várias outras lareiras de várias outras casas, até ser cuspida para fora da lareira da casa de seus tios. Inclusive, aquilo a deixava meio nauseada.

Mas o Largo Grimmauld, nº 12, não era muito longe de sua casa, então a jornada não era ruim o suficiente para deixá-la mal depois – sem falar viajar com Pó de Flu era sempre mais seguro que aparatar, já que ela não corria o risco de estrunchar. Depois de sair da lareira, Andrômeda respirou fundo, ajeitou suas vestes, e já tinha superado.

A sala em que ficava a lareira estava vazia, mas dava para ouvir vozes vindas de um aposento próximo, e ela as seguiu. Acabou parando na sala de jantar, onde tia Walburga e tio Orion cumprimentavam Narcisa, que também tinha acabado de chegar. Régulo estava sentado no chão, em um canto da sala, ainda abrindo presentes, e sentado à mesa – além dos avós de Andrômeda, Pólux e Irma – estava o único consolo que ela tinha ao ter de passar o dia na casa dos tios: tio Alfardo, irmão de Cygnus e Walburga, que também tinha sido convidado para o natal.

Embora tio Alfardo seguisse todas as “regras sociais” impostas pela família Black, ele tinha o toque de gentileza e compreensão que os outros não tinham. Junto com Sirius, ele era um dos parentes preferidos de Andrômeda – mas diferentemente de Sirius, que ela tinha certeza de que daria um jeito de continuar em contato com ela se ela se casasse com Ted e fosse deserdada, Andrômeda não tinha certeza se seu tio se arriscaria. Mas tudo que importava naquele momento era que ela gostava dele, e que era bom vê-lo.

– Tio! – Disse, sorrindo. Ele se levantou para abraçá-la.

– Passei na sua casa anteontem, e seus pais disseram que você estava estudando. Foi uma pena não vê-la. – Falou. – Cuidado com os N.I.E.M.’s, Drômeda, eles vão acabar por deixá-la com cabelos brancos muito antes da hora.

– Se quiser saber, aprendi uma poção para prevenir isso, durante meus estudos. – Ela brincou.

– Você me lembra de mim mesmo. – Contou tio Alfardo. – Eu também era assim nos tempos da escola.

Andrômeda não lhe fez a pergunta irônica que veio à sua mente, sobre se ele estudava tanto para sufocar a culpa que sentia por estar saindo com uma nascida-trouxa. Claro, ela já estudava muito antes de conhecer Ted, mas desde aquilo as motivações dela passaram a ser diferentes.

Nisso, Cygnus e Druella já haviam chegado, e com uma última piscadela para a sobrinha, Alfardo foi falar com o irmão e a cunhada, enquanto Andrômeda se apressou a ir cumprimentar tia Walburga e tio Orion, que ainda não pareciam estar em seu humor perfeito, porém já estavam melhor do que na última vez que ela tinha os visto. Teria Sirius escrito para eles a carta que prometera para Andrômeda que escreveria?

– Parece que Régulo ganhou muitos presentes, neste ano. – Comentou, imaginando que eles responderiam algo que se relacionasse a Sirius. Adivinhou certo, mas não gostou da resposta de tio Orion:

– Claro que sim. Ele está recebendo presentes por duas pessoas.

– Entendo. – Ela falou, e nunca se sentiu tão contente por ter mandado sapos de chocolate para alguém em toda sua vida.

Depois daquilo, ela foi falar com a avó, que para desgosto de Andrômeda perguntou sobre “o namorado dela, Norman Parkinson”. A garota olhou para os lados, desconfortável, e foi Druella – que tinha escutado – quem respondeu:

– Faz mais de um ano que eles não estão mais juntos.

– Mas ele é de uma família sangue-puro importante! – Exclamou a avó, indignada. – E quem você está namorando agora?

– Ninguém. – Andrômeda queria sumir.

– Você já vai se formar na escola! Precisa de um pretendente!

– A Andrômeda vai achar alguém. – Assegurou Druella. – Estamos em 1970, Irma, as garotas estão preferindo não se casar exatamente quando se formam. Por exemplo, Belatriz está noiva de Rodolfo Lestrange, mas...

Preferindo não ouvir a conversa da mãe e da avó sobre o noivado de Belatriz, Andrômeda foi cumprimentar o avô e então resolveu-se por sair da sala. Todos conversavam, e ninguém lhe deu atenção.

Ela andou pelo primeiro andar do casarão por um tempo, pensando em quanto tempo demoraria aquela “reunião de Natal” até que seus pais resolvessem que eles deveriam voltar para casa – mesmo sabendo que isso seria após a ceia natalina, à noite. Até que, ao passar pela porta de uma sala, se lembrou de algo que gostaria ver: a tapeçaria onde a árvore genealógica de sua família estava registrada. Ela, então, entrou na sala.

A tapeçaria era uma peça bela até nos mínimos detalhes, e se estendia por toda uma parede. Todos os nomes dos Black, de Sirius I à Sirius III, Fineus Nigellus aos tataranetos Belatriz, Andrômeda, Narcisa, Sirius e Régulo, estavam registrado lá, assim como suas imagens.

E também havia os que haviam sido expulsos da família, por diversos motivos que Andrômeda havia decorado: sua eterna tia-tataravó Isla, que se casara com Bob Hitchens. Seu tio-bisavô Fineus, que apoiara os direitos dos trouxas. Seu tio-avô Marius, que fora um aborto, e sua tia-avó Cedrella, que havia se casado com um traidor de sangue Weasley.

Vou acabar me juntando a vocês?, pensou. Estendeu uma mão para tocar sua imagem na tapeçaria. Ela não achava que a palavra “Andrômeda” era a coisa mais importante sobre ela – não dava para saber a história de alguém apenas por seu nome –, mas aquilo, que era tudo que estava escrito na árvore, ainda dizia mais do que uma mancha desforme escondendo-a para sempre das outras gerações.

Ela teve um sobressalto quando ouviu uma voz chamando-a, da porta:

– Drômeda?

– Ah! – Se virou rapidamente para ver tio Alfardo, parado ao lado de Régulo, que por sua vez tinha uma vassoura que parecia nova em folha nas mãos. – Você me assustou!

– Desculpe por isso. – Ele assentiu. Abandonando Régulo na porta, ele andou até seu lado. – Vendo a árvore?

Andrômeda assentiu, seus olhos correndo para a imagem do tio, entre a de tia Walburga e de seu pai antes de se voltarem para o homem em carne e osso.

– Estava entediada.

– Eu perguntaria o porquê de você não ficar, então, conversando conosco da sala de jantar, mas vou lhe propor outra coisa. Veja, seus pais não pararam de reclamar sobre o quanto você anda reclusa desde que eles chegaram aqui. E agora, Rég veio me perguntar se eu não posso levá-lo para dar um passeio, já que ele quer testar a nova vassoura que ganhou. Então, fiquei pensando se você não gostaria de ir, mesmo se for para fazer seus pais se sentirem melhor.

Andrômeda teve vontade de negar, mas então olhou para o rosto de seu primo. Ele era tão sério e racional para um menino de nove anos – não poderia negar-lhe diversão em um dos raros momentos em que ele solicitava. Tentando disfarçar a chateação, assentiu.

– Tudo bem. Eu vou, sem problemas.


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Notas finais do capítulo

Teve uma parte em que a Andrômeda ficou meio "você sabe meu nome, mas não sabe a minha história".... OPAKSPOA, tudo bem, ela não tem um facebook. E falando eu facebook, essa capítulo fez eu me lembrar de quando eu tinha tentado colocar "Largo Grimmauld, 12" como lugar onde eu moro, mas não dava =/ Chateada por isso até hoje rsrs.
Certo, chega de enrolar vocês com meus relatos pessoais. Uma coisa séria que eu queria falar:
Esse Norman que eu citei não seria pai da Pansy Parkinson, porque o pai dela se chama Kevin. Eu imaginei um irmão ou primo dele... E é isso ;)
Até o próximo capítulo!



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