Além do Sangue escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 4
Familiares


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Andrômeda passou toda a viagem de trem até a estação King’s Cross lendo um livro, mas sua mente estava tão presa em outros assuntos que ela não estava conseguindo absorver nenhuma informação.

Ela, obviamente, ainda pensava em Ted e em Sirius, mas desde o momento em que tinha acordado no dia de seu regresso para casa, ficou claro que era Narcisa quem realmente a estava preocupando. A impressão de que ela contaria à família tudo o que diziam sobre ela e Ted era muito forte.

Sabia também que mais cedo ou mais tarde a família iria descobrir sobre o seu relacionamento, quando os dois se casassem ou até antes disso, mas isso não tornava as coisas mais fáceis. Andrômeda se perguntava se tinha sido tão difícil assim para Isla, irmã de seu tataravô, se casar com um nascido-trouxa, ou se as coisas tinham sido diferentes para ela. E teria Bob, seu marido, um sorriso tão cativante quanto o de Ted? Teria sido ele da Lufa-Lufa, também? Seria bom se ela pudesse conversar com Isla, mas ela muito provavelmente já tinha morrido, e mesmo se estivesse viva, ninguém contaria para Andrômeda onde ela morava.

Ao se aproximarem da estação, ela fechou seu livro e o guardou com suas coisas. Ficou assistindo pela janela enquanto o trem entrava na plataforma 9 ¾, e procurou qualquer parente no meio da multidão de famílias que esperavam os alunos. Não tardou a localizar Druella, sua mãe, e a sua tia Walburga. Ela suspirou, lembrando-se de que precisava ser forte. Não adiantava ficar pensando o quanto queria ter ficado na escola, como Sirius havia sugerido.

Os alunos da Corvinal que estavam no mesmo vagão que Andrômeda – ela não quisera sentar-se com os colegas da Sonserina, e não seria bom se ela fosse vista com gente da Grifinória ou da Lufa-Lufa – pareciam bem mais animados que ela ao pegarem as malas e se prepararem para descer do trem. Eles se abraçaram, despedindo-se, e mesmo que não tivesse falado com Andrômeda durante o trajeto inteiro, um dos garotos virou-se para ela e disse:

– Feliz natal, Black.

Ela lhe respondeu, também apenas por educação, e saiu logo depois deles.

Assim que pisou fora do Expresso de Hogwarts, viu Narcisa há poucos metros dela. A garota dava risadinhas enquanto Lúcio Malfoy, aluno do sexto ano da Sonserina, lhe contava alguma coisa, e Andrômeda esperou-a. Não demorou para Narcisa vê-la, todavia, e então se apressou a dizer alguma coisa para Lúcio, subitamente séria. Ele sorriu, inclinou o corpo e deu um beijo em sua bochecha esquerda, deixando-a mais vermelha do que Andrômeda jamais a tinha visto. Por sua vez, Lúcio não pareceu nem um pouco embaraçado quando se afastou, acenando com a cabeça para Andrômeda no caminho.

– Fique quieta. – Narcisa lhe disse, quase como uma ameaça, ao que as duas começaram a andar em direção à onde ela tinha visto a mãe e a tia. A garota olhava para a frente como se se recusasse a olhar para a irmã, enquanto Andrômeda examinava o rosto dela com atenção. Era sua chance.

– Não vou falar nada sobre isso, porque não é da minha conta. – Disse, e soube que Narcisa entendera a indireta pois esta enfim olhou para ela, com desprezo estampado no rosto. Se aquilo significava que elas tinham, então, um acordo (que embora fosse o que Andrômeda queria acreditar, ela duvidava muito, pois o acordo seria muito mais favorável à ela do que à Narcisa), ou que a Narcisa estava prestes a dar-lhe uma resposta maldosa, ou que absolutamente nada havia mudado, Andrômeda não saberia, pois naquele momento tia Walburga surgiu na frente delas. Provavelmente também tinha andado ao encontro das garotas quando as vira.

– Onde ele está? – Perguntou, sem cumprimentá-las de jeito algum antes. Andrômeda mordeu o lábio inferior. Sirius havia lhe prometido que iria escrever aos pais, mas pelo visto, não havia feito. – Andrômeda! – Esbravejou ela, diante à sua falta de resposta. Algumas pessoas próximas pararam para olhá-las.

– Não grite com a minha filha na frente de todas essas pessoas, Walburga. – Ralhou Druella, que as alcançava naquele instante. As duas se davam bem na maior parte do tempo, ou no mínimo se toleravam, então o olhar nada amável que elas trocaram foi estranho para as garotas.

– Eu não vim até a estação para descobrir que Sirius não está aqui.

– Não é culpa de Andrômeda que seu filho não tenha senso algum. E eu disse que poderia buscá-lo na estação também, quando viesse buscar as minhas meninas, então você realmente não precisava ter vindo junto. Mas, pelo visto, ele ficou na escola.

– Ah, Sirius... – Narcisa sacudiu a cabeça com frustação.

Druella sorriu para as filhas – um sorriso estranho, como o de alguém que se orgulhasse de seus bens, não de suas crianças.

– Bem. Acho que, de qualquer forma, deve ser difícil para todos terem filhos tão excelentes quanto minha Narcisa, minha Andrômeda e minha Belatriz. Aliás – ela se voltou para Andrômeda –, fiquei sabendo que você continua sendo a melhor aluna de seu ano em Defesa Contra as Artes das Trevas e em Feitiços, Andrômeda. Eu e seu pai realmente ficamos muito orgulhosos. Como andam os estudos para os N.I.E.M.’s?

– Bem. – Ela respondeu. Não era surpreendente que seu tom de voz parecesse artificial: ela se sentia como se a mãe tivesse acabado de lhe acertar um chute no estômago, com o comentário sobre Andrômeda ser excelente. Se ela soubesse de Ted, nunca mais diria nada parecido com aquilo.

Contudo, Druella sequer reparou em seu tom, pois Narcisa fora abraçá-la naquele momento, obrigando-a a lhe dar atenção.

– E os estudos para os N.O.M.’s, Ciça? – Perguntou.

– Ainda não comecei a estudar, na verdade.

– Espero que aquele garoto dos Malfoy não esteja tirando a sua concentração.

Narcisa tornou a ficar vermelha. Druella sorriu e enrolou uma mecha dos cabelos louros da filha no dedo, afetuosamente.

– Querida, não tem problema. Você pode ter um namorado. Apenas não se esqueça de estudar.

Andrômeda sentiu vontade de vomitar. Tudo parecia uma deixa para Narcisa contar sobre Ted. E tia Walburga reparou em sua expressão estranha, porque em seguida disse:

– Oras, por que estamos aqui paradas conversando neste lugar cheio de sangues-ruins? Andrômeda já está até ficando enjoada, vejam. – O jeito como ela parecia continuar falando com amargura deixou claro, entretanto, que ela continuava nada feliz com os comentários de Druella e a ausência de Sirius. – Por isso eu não a culpo.

– Vamos logo para casa, então. – Druella olhou em volta, franzindo o nariz como se algo fedesse perto dela. Soltou Narcisa, que copiou sua expressão solenemente. – Teremos mais tempo para conversar lá.

As quatro Black fizeram o caminho para fora da Estação King’s Cross, e diferentemente das outras, Andrômeda não se sentiu melhor ao sair de perto dos trouxas. Sua mala não estava particularmente pesada – tinha deixado boa parte de suas coisas no colégio, já que estaria voltando em quinze dias – mas era como se sua aliança, enrolada em um par de meias no fundo da mala, pesasse duas toneladas.

Ela não participou de nenhuma das conversas até chegarem em casa. Seria fácil se pudessem aparatar, mas Narcisa ainda não tinha idade para executar tal atividade, de modo que todas foram forçadas a fazer o longo caminho até a casa de Druella, Cygnus e as três garotas. Andrômeda não expressou em voz alta sua dúvida sobre o porquê de a tia estar indo junto, ao invés de para a própria casa, já que os tios iam muito à casa deles, e vice-versa.

– É tão bom estar em casa. – Narcisa falou, com felicidade contida, quando elas adentraram o casarão. Os olhos de Andrômeda correram pelos móveis de madeira antigos do hall, os tapetes caros, a fotografia com moldura dourada onde ela, aos seis anos de idade, estava parada próxima de uma Belatriz de oito e uma Narcisa de quatro. Às vezes elas piscavam ou transferiam o peso do corpo de uma perna para a outra, mas o tédio que estavam sentindo no dia era bem mostrado no fato de a foto ser tão parada.

Aquela era a casa de Andrômeda, onde ela nascera e crescera. Por que não se sentia em casa, então?

Enquanto elas tiravam os agasalhos e os deixavam no chão junto com as malas para que um elfo-doméstico viesse recolher, ouviram passos se aproximando do hall, e logo um garoto de nove anos e cabelos escuros apareceu no corredor. Régulo, o outro primo de Andrômeda, e o membro mais novo da família.

– Mamãe – disse, olhando para tia Walburga. –, o Sirius não veio?

– Não, Régulo. O seu irmão ficou na escola para as férias. – Respondeu ela, sem sequer olhar para ele quando também ia até o corredor e exclamava, para ser ouvida nos outros cômodos do casarão: - Orion! Venha, vamos embora!

– Vocês não vão ficar para o jantar? Mandamos os elfos prepararem mais comida hoje. – Falou Druella, mas seu tom era indiferente.

– Vamos deixar para a próxima. – Disse tia Walburga, e tio Orion apareceu no corredor logo em seguida, vindo da sala de estar.

– Ah, Sirius... – Já foi dizendo, possivelmente tendo ouvido a esposa falar para Régulo que ele não estava. Narcisa, quando elas tinham chegado à estação, tinha dito a mesma coisa, mas o jeito que tio Orion falou foi bem mais assustador.

Ele foi abraçar rapidamente as sobrinhas, e Régulo, que até então continuava no mesmo lugar em que tinha parado, imitou-o. As despedidas deles foram breves antes de saírem pela porta frente, e não era necessário ser muito inteligente para entender o quanto tia Walburga e tio Orion estavam irritados com Sirius, para irem embora daquele jeito.

– Certo, menos três pessoas para o jantar. – Druella disse. – Quatro, na verdade, já que também estávamos esperando Sirius. Acho melhor eu ir avisar aos elfos.

– Quer que eu avise, mãe? – Ofereceu Andrômeda, já que achava que lidar com elfos-domésticos era mais simples do que com sua família, mas a mulher negou.

– Não se preocupe, você acabou de chegar. Por que você e Narcisa não vão cumprimentar o pai de vocês? Ele deve estar na sala de estar.

Sem esperar resposta, Druella saiu em direção à cozinha, e as garotas seguiram obedientemente pelo corredor. Ao chegarem na sala de estar, realmente encontraram o pai, sentado em uma poltrona perto da lareira, observando as chamas com uma expressão amarga, como se estivesse pensando algo de que não gostasse. As duas pararam na soleira da porta.

– Pai? – Chamou Narcisa, e Cygnus olhou para elas. Seu olhar ficou razoavelmente mais gentil, mas ele não sorriu.

– Eu ouvi vocês chegando e a conversa no hall. Meninas, vocês não sabem o quanto estou orgulhoso de ter filhas como vocês, e não como Sirius. – Depois de dizer isso, foi como se algo o tranquilizasse, o suficiente para sorrir brevemente. – Como vocês estão?

– Bem. – Mentiu Andrômeda, novamente temerosa com o rumo que a conversa estava seguindo.

– Com frio. – Narcisa falou. Cygnus assentiu em compreensão.

– Foi uma longa viagem de Hogwarts até aqui, não? Vocês devem querer descansar um pouco antes do jantar. Deixamos um presente nos quartos de vocês, mas não o comam ainda, a mãe de vocês iria detestar que estragassem seus apetites antes do jantar. Pelo visto, vamos ter muita comida extra esta noite.

Era tradição de Druella e Cygnus presentearem as filhas com algum tipo de doce todas as vezes em que elas voltavam para casa nas férias. Andrômeda só queria ir para o seu quarto e ver qual tinha sido o doce da vez, mas Narcisa ainda disse:

– Mas sequer vimos a Bela ainda! Eu queria conversar com ela antes.

Dentre tudo que irritava Andrômeda e dentre todas as pessoas que ela desgostava, a irmã mais velha era o principal. Ela não se sentia empolgada para vê-la, muito pelo contrário. Cruzou os braços, tentando se preparar para o que estava por vir.

– Belatriz! – Gritou o pai. – Suas irmãs estão aqui, você não vem cumprimentá-las?

Foi questão de um segundo para Belatriz se materializar bem ao lado de Andrômeda, tendo desaparatado de qualquer que fosse o lugar da casa onde estivesse antes, fazendo a irmã ter um sobressalto.

– Pelas barbas de Merlin!

– Surpresa. – Falou Belatriz, irônica. Seu olhar era duro; não gostava mais de Andrômeda do que Andrômeda gostava dela. Também cruzou os braços, e Andrômeda se perguntou mais uma vez qual seria o porquê de dizerem tanto que as duas eram tão parecidas. Em sua visão, elas tinham personalidades tão diferentes que as semelhanças físicas não tinham relevância.

– Qual é a necessidade de ficar aparatando dentro de casa, Belatriz? – Indagou Cygnus. Ela encarou o pai com uma leve careta, sem saber o que responder, e foi Narcisa quem lhe salvou:

– Bela só queria chegar rápido.

– Evidentemente, Ciça. – Belatriz sorriu para ela, mas mesmo um sorrisos pareciam cruéis no rosto da jovem. Andrômeda desviou o olhar.

– Vou para o meu quarto. – Declarou. Teve vontade de desaparatar para o cômodo, mas não ousaria fazer aquilo depois do pai ter repreendido Belatriz, que voltou a olhá-la com escárnio.

– Você realmente não gosta de socializar com sua própria família, não é, Dromedinha? – Disse, mas nisso Andrômeda já estava na escada que ficava no final do corredor e levava ao primeiro andar do casarão, onde ficavam os quartos.

Foi um grande alívio entrar em seu quarto, com sua cama, seu armário, suas cortinas rendadas e sua escrivaninha, onde além da coleção de penas coloridas que Andrômeda mantinha havia anos, estava uma grande caixa de sapos de chocolate: o presente de seus pais. Diferente do resto da casa, o seu quarto ainda a fazia sentir bem-vinda, e aquilo era o que ela mais precisava naquele momento. Sentir que estava em algum lugar a que pertencesse – embora parecesse impossível que este lugar fosse tão longe de Ted Tonks.

Sua janela estava fechada, mas ela reparou que um vulto se movia em círculos pelos ares do lado de fora. Foi até lá e a abriu, para uma coruja que nunca tinha visto na vida entrar. Mesmo desconfiando que ela devia pertencer a algum dos amigos das irmãs ou dos pais e que devia ter errado de janela, Andrômeda pegou a carta que ela trazia. Se não fosse para ela, pensou, era só parar de ler. Contudo, logo reconheceu a letra – era uma que reconheceria há quilômetros de distância.

Querida Andrômeda,

Estou enviando esta carta para você por uma coruja da escola, porque tenho certeza de que você surtaria se eu mandasse a minha própria. Foi o mais inteligente (por assim dizer) que pude fazer para lhe mandar a carta, mesmo que o mais inteligente de verdade fosse simplesmente, bem, não mandar carta alguma. Mas não consigo mais ficar sem ao menos sentir que posso entrar em contato com você.

Como estão as coisas aí, com seus pais e as suas irmãs? Nesse momento em que estou escrevendo faz apenas uma hora que você e os outros foram embora, mas se você está lendo isso, suponho que já tenha chegado em casa. Está tão ruim como você sempre me conta?

Quero vê-la logo. Fico aborrecido por nem ao menos ter uma foto sua, e mal posso esperar pelo dia em que terei várias delas. E também, teremos muitas fotos juntos.

Por favor, me escreva de volta. Não se preocupe com sua família, você pode dizer para eles que está apenas trocando cartas com alguma amiga da Sonserina (como aquela Marshall, com quem você anda falando), e para o caso de eles acabarem por pegar alguma delas, sequer vou assinar as mensagens. Bem, acho que nessa eu já teria entregado o jogo, mas farei isso a partir da próxima, prometo.

Eu te amo.

Afetuosamente,

Eu.

De repente, veio-lhe a incômoda sensação de que todos os Black estavam logo atrás dela, lendo a carta por sobre seu ombro, e Andrômeda olhou em volta várias vezes, para ver o seu quarto ainda vazio. Então, se permitiu sorrir sozinha.


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Notas finais do capítulo

Galera, eu queria avisar que provavelmente estarei postando uma fic interativa de Harry Potter amanhã - se algum de vocês tiver interesse em participar ;)
Não esqueçam de, se puderem, deixarem suas opiniões sobre este capítulo! E até o próximo!



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