Além do Sangue escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 3
Insônia


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/459044/chapter/3

Mesmo não sendo o lugar mais apropriado para se guardar um anel de noivado, Andrômeda não viu opção a não ser esconder o dela dentro de um par de meias, bem escondido no meio de suas coisas. Era o lugar mais seguro que podia imaginar naquele momento, de volta ao seu dormitório, sem querer acordar as quatro colegas de quarto.

Ela vestiu a camisola novamente, entrou debaixo das cobertas quentes de sua cama e tentou fechar os olhos e adormecer, mas ficou logo claro que não seria simples assim. Nunca antes tantas coisas estiveram passando por sua cabeça ao mesmo tempo.

Andrômeda ficava pensando na expressão de Ted, suas palavras ao pedi-la em casamento, sem querer esquecê-las nunca mais. Então, seu lado mais responsável lembrava, pela enésima vez, o seu lado profundamente apaixonado do que casar-se com Ted significava: Ser deserdada. Tachada de traidora. Não ter absolutamente ninguém senão ele. Ela sentiu um aperto no coração. Lembrou-se, também, que naqueles tempos não seria fácil para ele conseguir um emprego, por ter nascido trouxa.

Aquele realmente não era o futuro que ela esperava ter. Todas as vezes que imaginara sua vida como adulta, era casada com um sangue-puro riquinho da Sonserina, com uma filha também sangue-puro – sempre achara que teria uma filha menina, talvez por seus pais terem tido três, mas de qualquer maneira, tinha se decidido ainda quando pequena que só teria uma única criança, por causa de sua péssima experiência com irmãs. – E nunca se imaginara casada com um nascido trouxa. Era surreal.

Mas eles podiam fazer dar certo. Ela se sentia, de certa forma, mais empolgada com a ideia de seu noivado com ele do que com seu suposto casamento com um garoto da Sonserina, que frequentemente assumia o rosto de seu ex-namorado em sua imaginação – o que a fazia quase detestá-lo. Andrômeda não seria feliz se casasse com ele, começasse uma família com ele. Mas seria feliz com Ted. Tendo um filho com ele? Ela sentiu o rosto ficando pateticamente vermelho. Costumava ser mais madura do que isso.

Andrômeda se revirou na cama várias vezes, querendo afastar esses pensamentos e pegar no sono, sem sucesso – logo o sol estava nascendo e ela não tinha descansado um único segundo, e já imaginava as enfadonhas perguntas de Madeleine Marshall sobre possíveis olheiras que estariam marcando seu rosto naquele dia. Mesmo assim, não se levantou até as outras garotas acordarem, como se quisesse garantir que realmente estivera lá a noite inteira.

No café da manhã, todos pareciam muito agitados por ser o último dia da maioria dos alunos antes de voltarem para suas casas e por ser sábado, sem aulas. Todos estavam rindo e falando tão alto que Andrômeda ficou com dor de cabeça – uma das consequências de ter passado a noite em claro. E ela não conseguiu evitar, certa hora, de olhar para a mesa da Lufa-Lufa, para ver Ted também com manchas escuras embaixo dos olhos, mas parecendo irradiar felicidade enquanto conversava com alguns amigos. Era outra coisa que Andrômeda gostaria de guardar em sua mente para sempre.

– Ai! – Exclamou, mais por susto do que por dor, quando uma coruja bicou seu dedo com força. Olhou em volta, mas ninguém parecia ter reparado que ela estava olhando para Ted mais do que ela tinha reparado quando as corujas entraram no Salão Principal com a correspondência dos alunos. Voltou a dar atenção para a ave, que reconheceu como sendo a coruja de seus tios. O que ela estaria fazendo lá? Andrômeda não recebia cartas dos tios com frequência, e aquilo parecia ainda mais estranho considerando que ela os veria no dia seguinte. Pegou a carta que ela trazia consigo e a deixou de lado, por mais curiosa que estivesse, para terminar de comer antes de ler, como dizia a boa educação.

A coruja se retirou sem mais delongas, e Andrômeda procurou acabar de comer logo. Aí, finalmente pôde abrir o envelope e tirar de dentro a carta onde estava escrito, com a letra elegante de sua tia:

Andrômeda,

Não me agrada estar tendo de escrever esta carta para você, mas Sirius não respondeu nenhuma das que eu e seu tio mandamos para ele desde o primeiro dia de aula dele em Hogwarts (desconfio que ele sequer as esteja lendo), então esse era o único jeito.

Inicialmente, eu tinha mandado cartas para professores perguntando sobre ele, e acabei descobrindo que ele assinou a lista de alunos que estarão ficando na escola para as férias. Visto que você e suas irmãs não passaram um único natal sem voltar para casa, eu queria que Sirius viesse também. Sem falar que preciso ter uma conversa séria sobre isso de ir para a Grifinória. Não esperava algo tão ruim assim do meu filho mais velho, e eu e seu tio sentimos ímpeto, inclusive, de tirá-lo da escola – Será o que vai acontecer se continuarmos sem, no mínimo, ter notícias dele.

Sei que ele não iria ouvir Narcisa se eu pedisse para ela conversar com ele, mas você sempre foi mais próxima de seu primo. Assim, Andrômeda, peço que por obséquio transmita essa mensagem para Sirius, enfatizando que é para ele voltar para casa para o natal.

Nos vemos amanhã.

Sua tia,

W. Black.

Ela suspirou. Tia Walburga achava que ela poderia convencer Sirius? Ele era um bom garoto, e realmente mais próximo de Andrômeda do que de qualquer outra pessoa na família, mas era teimoso. Se queria mesmo passar o natal no colégio, não ia ser a prima quem iria conseguir impedi-lo. Porém, Andrômeda conhecia o temperamento de sua tia, e sabia que ela ficaria muito irritada com ela se não convencesse Sirius. Então, não custava tentar.

Olhou para a mesa da Grifinória. A maioria dos alunos ainda estava comendo, mas justamente Sirius não estava à vista, assim como nenhum dos garotos que ela via onde quer que o primo estivesse. Segurando a carta, se levantou e foi até lá – podia sentir os olhares de alguns alunos de sua casa lhe seguindo e a sensação de hostilidade quando chegou à mesa da Grifinória e muitos pararam para fuzilá-la com o olhar. Eles sempre reclamavam tanto da Sonserina, mas eles também destratavam Andrômeda mesmo que esta nunca lhes tivesse feito nada.

– Com licença? – Chamou, tocando levemente o ombro de uma menina ruiva que aparentava ter onze anos, não só por esta não ter parecido impaciente com sua presença, mas também por provavelmente ser do mesmo ano de Sirius.

Ela se virou. Parecia confusa, e até um pouco assustada por uma garota mais velha da Sonserina, com quem ela tinha falado na vida, a estar chamando.

– Pois não?

– Eu estava procurando meu primo, Sirius. Imaginei se você não o teria visto.

– Sirius Black? – Ela revirou os olhos verdes. – Acho que ele e os amigos saíram para os jardins. Mas não sei o que eles foram fazer lá.

– Ah, certo. Muito obrigada... – Andrômeda deixou a frase no ar, sem saber o nome da menina. Esta lhe sorriu.

– Lílian Evans.

– Muito obrigada, Lílian. – Completou, sorrindo de volta, antes de se virar e deixar o Salão Principal, amaldiçoando mentalmente o primo e os amigos por estarem no meio da neve gelada ao invés de no castelo, forçando-a a sair também.

Andou pelos jardins por um tempo, procurando por qualquer vestígio de que meninos estariam por ali, mas sem achar ninguém. Estava quase dando meia-volta e tornando para o castelo quando uma bola de neve bateu com força na parte de trás de sua cabeça, o que não era a melhor maneira de fazê-la parar de doer.

Seu olhar correu para a direção de onde o projétil tinha vindo, vendo um garoto de cabelos castanhos vestido com roupas da Grifinória, que correu até Andrômeda parecendo profundamente sem-graça.

– Sinto muito! Eu não queria te acertar! – Dizia.

– Não se preocupe. Não tem problema algum. – Garantiu ela, para fazê-lo se sentir melhor, mesmo que no fundo tivesse se irritado.

– Caramba, Remo! Dessa vez você conseguiu errar feio! – Essa voz era mais conhecida. Sirius saiu de detrás de uma árvore e foi até os dois, um sorriso travesso nos lábios. – Estávamos fazendo uma guerra de bolas de neve. – Explicou para Andrômeda, antes de gritar: – Tiago! Pedro! Vamos fazer uma pausa!

Dois garotos, um de óculos e um baixinho, logo também saíram de seus esconderijos improvisados e se juntaram à Sirius e Remo. Ao verem Andrômeda, eles pareceram fazer um esforço sobre-humano para não caírem na gargalhada, e ela reparou que Sirius também parecia muito estranho quando apresentou:

– Gente, essa daí é a minha prima que está no sétimo ano, a Andrômeda...

– A que namora aquele garoto da Lufa-Lufa? – Perguntou o menino mais baixo. O de óculos lhe deu uma cotovelada no estômago, mas lágrimas já lhe vinham aos olhos por conta do riso reprimido.

– São só boatos. – Mentiu Andrômeda. Ou talvez até tenha dito a verdade, pois não namorava um garoto da Lufa-Lufa. Estava noiva de um.

– Ah, é. Nós vimos. – Respondeu ele. Daquela vez, todos os quatro começaram a rir, e Andrômeda se lembrou de quando tinha saído para se encontrar com Ted e ouviu a voz de Sirius e mais algum garoto no térreo. Sua expressão assumiu certa desconfiança.

– Vocês estão sabendo de algo que não sei?

– Não estamos sabendo de absolutamente nada. – Disse Sirius, recuperando a postura. – Ignore Pedro, ele é idiota. – E lançou um olhar de aviso para os outros três.

– Claro que não estamos sabendo de nada. – O de óculos, que só podia ser Tiago, falou. – De nada realmente não estamos sabendo.

Ele, Remo e Pedro riram de novo. Deu para ver nos olhos de Sirius o quanto ele estava lutando para não rir também.

– Bem – falou Remo –, acho que a Andrômeda quer conversar com o Sirius, não é? Vamos dar licença para eles. – E os três saíram correndo e rindo compulsivamente antes que qualquer um dos dois pudesse dizer alguma coisa.

– Sirius. – Disse Andrômeda, ainda desconfiada, quando eles desapareceram de vista. – Você e seus amigos estavam fazendo o que ontem à noite?

– Dormindo. – Respondeu ele, depressa – Sobre o que você quer falar comigo, mesmo?

– Recebi isso da sua mãe hoje. – Ela lhe estendeu a carta. Sirius não a pegou, mas pareceu saber perfeitamente do que se tratava.

– Eu não vou voltar para casa amanhã.

– Ah, então você leu as cartas que ela te mandou, afinal de contas.

– Claro que li. Só não quis responder. – Sirius deu de ombros, parecendo subitamente irritado.

– Sirius, você sabe que na nossa família não é bem assim que as coisas são. – Andrômeda cruzou os braços. Já não tinha uma expressão desconfiada, e sim uma preocupada.

– Eu sei como as coisas são na nossa família. A questão é que não gosto.

– Sei como se sente. Mas temos de aguentar isso tudo.

– Não. – Ele respondeu, com firmeza. – Mas vou estar escrevendo uma carta para os meus pais hoje mesmo. Aí eu falo que não quis voltar para casa para o natal, mas que você foi ótima ao tentar me persuadir e que não é para eles ficarem bravos com você.

Aquilo talvez livrasse Andrômeda, mas Sirius continuaria em apuros. Ela nunca gostara de encrenca, especialmente com seus familiares, e queria ajudar o primo, por mais que ele não ligasse para aquilo tanto quanto ela.

– Então, você vai me deixar sozinha com eles? – Tentou.

– Você que quis isso! Poderia ficar na escola, também! Se você não se importasse tanto para o que eles pensam, seria bem mais feliz.

– Tudo parece fácil quando se tem onze anos, não é? – Ela rebateu, mas não se sentia disposta a discutir sua felicidade com Sirius, sendo que nem ela conseguia chegar à uma opinião sobre aquele assunto. – Prometa para mim que não vai deixar de escrever a eles.

– Eu prometo. – Ele revirou os olhos.

Andrômeda o abraçou. Estava precisando disso. Ele pareceu surpreso.

– Certo. – Disse. – Drômeda, vou procurar meus amigos. Depois a gente se fala. – E saiu correndo, na direção em que Remo, Tiago e Pedro tinham seguido. No meio do caminho, gritou: – Eu só vou te perdoar por estar voltando para casa porque é minha prima favorita!

Foi então que Andrômeda se deu conta de que nem toda sua vida como conhecia estaria perdida se se casasse com Ted – Sirius certamente ainda estaria lá. E muito satisfeito com ela.

Ela fez o caminho de volta para o castelo e foi para as masmorras. Estava cansada e queria poder ir dormir, mas os outros estranhariam, tendo ela supostamente dormido a noite inteira. Por fim, resolveu passar o resto de seu dia fazendo a mala para voltar para casa, propositalmente muito devagar – podia muito bem fazer um feitiço para arrumar a mala, ao invés daquilo – e aproveitou para dar uma (ou talvez mais) olhada no anel que Ted havia lhe dado.

Conseguiu evitar o sono até após o jantar, mas ainda foi para a cama bem mais cedo do que qualquer outro.

Felizmente, conseguiu dormir bem naquela noite. Se ia mesmo lidar com sua família, tinha de pelo menos estar bem descansada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Hey! Se quiserem alguma sugestão de fic de Harry Potter, acho que gostariam bastante desta daqui:
http://fanfiction.com.br/historia/447503/A_Linhagem/
Também há outra fic de Harry Potter de que quero falar, mas vou deixar para um capítulo mais adiante, por motivos que irei, então, explicar ;) Até o próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Além do Sangue" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.