Além do Sangue escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 2
Encontro Secreto


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada pelos comentários deixados no primeiro capítulo! Me fizeram muito feliz!
Espero que também gostem deste daqui :D.



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Naquela noite, todos os estudantes da Sonserina foram testemunhas de quando Andrômeda acabou os deveres de D.C.A.T., que fazia no Salão Comunal, e se retirou para o seu dormitório. E lá, todas as colegas de quarto dela viram quando ela vestiu sua camisola e se deitou. Os alunos tiveram, todos, de admitir para si mesmos de que Andrômeda não iria passar a noite com nada além de seu sono e de seus cobertores.

Porém, ela não dormia de fato – uma parte dela até tinha certa vontade de fazer isso, pois estava bastante cansada, mas não era a parte predominante –, e sim esperava que, à 1h30min, fosse estar se encontrando com Ted.

Por volta da meia-noite, as colegas de quarto de Andrômeda enfim apagaram as luzes e também se recolheram para dormir. A garota esperou até ter certeza de que todas estivessem adormecidas, e então saiu de sua cama o mais silenciosamente que podia, para não acordá-las. Esperou, por um momento, que alguma delas se mexesse ou fizesse qualquer coisa, mas não aconteceu.

Após se vestir novamente, no escuro, ela saiu do dormitório e deu uma boa olhada no Salão Comunal, para conferir se não havia alguém acordado até mais tarde, mas ali também estava vazio e silencioso. O verdadeiro desafio de Andrômeda começaria fora dos aposentos da Sonserina, já que tanto o inspetor de alunos quanto o poltergeist Pirraça pareciam ter resolvido que as masmorras e o porão de Hogwarts eram os lugares perfeitos para se estar durante a madrugada.

Ela pensou no quanto seria útil poder ficar invisível, mas logo voltou à realidade, respirou fundo e atravessou salão, enquanto pensava em que desculpa daria se fosse pega. Ainda não tinha tomado uma decisão quando saiu para o corredor.

Eu poderia dizer que estava me sentindo mal e ia para a Ala Hospitalar, Andrômeda ia pensando. Mas estava dando sorte – conseguiu sair das masmorras sem passar por ninguém.

O lugar onde ela e Ted costumavam se encontrar era no primeiro andar, então quando chegou ao térreo, ainda teria de subir mais um lance de escadas. Começou a caminhar até elas, até que algo a fez parar – vozes.

Não era o inspetor e tampouco Pirraça ou qualquer fantasma. Tinha sido a voz de um menino? Fora tão baixa que ela mal tinha certeza se não seria apenas seus ouvidos lhe pregando uma peça. Até que ouviu outro som, outro sussurro muito baixo, que por um instante, Andrômeda assimilou a seu primo Sirius, que estava no primeiro ano da Grifinória. Ela olhou para os lados várias vezes, mas definitivamente estava sozinha lá. O som também se silenciou.

Afinal, se convenceu que tinha sido apenas impressão. O que Sirius e alguma outra pessoa estariam fazendo àquela hora fora de suas camas, no térreo? Tinha sido uma tremenda bobagem achar aquilo. Balançando a cabeça, como que para esquecer, ela continuou seu caminho.

Subiu as escadas para o primeiro andar. Já tinha uma sensação de vitória antes mesmo de chegar à sala de aula onde se encontraria com Ted, e seus planos para se as coisas dessem errado foram substituídos de sua mente pelo incômodo que ela sempre sentia por estar em uma sala de aula à noite – já não era permitido que os alunos estivessem fora de seus Salões Comunais, quem diria dentro de uma sala de aula. Iria falar sobre aquilo com Ted – que por acaso, já estava na sala escura quando Andrômeda entrou, sentado no peitoril baixo e de pedra de uma das grandes janelas da sala. A luz da lua fazia os cabelos claros do garoto quase parecerem azuis, e ele mal pareceu reparar quando a namorada entrou na classe, distraído olhando para fora da janela.

– Se eu fosse Filch, meu caro Ted, você já teria sido pego. – Comentou ela, fechando a porta e indo se sentar ao lado dele no peitoril. Um sorrisinho tinha lhe surgido nos lábios.

– Se você fosse Filch, eu teria sido pego de qualquer jeito, estando eu prestando atenção na porta ou não. – Retrucou Ted, desviando o olhar para Andrômeda. Ele também sorria, mas não era um sorriso contente por finalmente poder parar de fingir que não a conhecia, como o dela. Era um sorriso nervoso.

– O que foi? – Ela perguntou.

– Como assim?

– Você parece tenso.

– Muito tempo sem poder te encontrar? – Ted deu de ombros, mas ainda havia algo de artificial naquilo. Uma de suas mãos não parava de ir ao bolso, como se conferisse o tempo inteiro se algo ainda estava lá. Mesmo não gostando daquela sensação de que algo estava sendo escondido dela, Andrômeda deixou passar para poder falar sobre o assunto que estivera pensando:

– Sabe, Ted, será que não deveríamos voltar a nos encontrar no banheiro da Murta-Que-Geme, como no começo? Lá parecia... não sei, quase menos errado.

– Absolutamente não. Eu tinha a impressão de que ela ficava nos observando ou alguma coisa do tipo, mesmo que ela sempre fosse para um dos cubículos enquanto estávamos lá.

– Tem razão. Não tinha me lembrado deste detalhe. – E pensando naquele momento, era constrangedor imaginar que Murta, mesmo sendo um fantasma, os estava assistindo. Mas era o banheiro dela, afinal de contas. Os dois que teriam de mudar de lugar, e não ela, como tinham realmente feito.

Eles ficaram um instante em silêncio. Ted tinha novamente começado a olhar para fora da janela, e com a mão que ele não estava mantendo no bolso, segurou uma das mãos de Andrômeda. Seus dedos se entrelaçaram, e ele corou. Como eles já tinham ido muito além de segurar as mãos, ela estranhou o fato de ele enrubescer por causa daquilo. Já ia perguntar de novo se não havia algo que ele queria dizer para ela quando ele falou:

– Falando sobre isso... Drômeda, veja, eu não quero ficar me encontrando em segredo com você por muito mais tempo.

– Eu também não quero. Mas o que podemos fazer? Se namorássemos de outra forma, minha família descobriria, e eu... – A voz dela falhou só de pensar no que aconteceria.

– Você seria deserdada por estar namorando um nascido trouxa. – Ted completou. Algo no tom dele fez Andrômeda se sentir culpada.

– Ted, eu amo você. Amo você muito mais do que isso. – Assegurou-lhe. Agora ela também não conseguia mais olhar para ele. – Mas estou com medo de quando meus pais descobrirem. Sou uma medrosa, e queria não ser.

Ele não respondeu. Andrômeda reparou que a respiração dele parecia desregulada, também, e aquilo já a estava deixando imensamente preocupada. Por que ele estava tão nervoso? E onde queria chegar com aquele assunto?

“Eu não quero ficar me encontrando em segredo com você por muito mais tempo”.

Demorou para ela entender que aquilo podia significar não que ele queria assumir o namoro dos dois, e sim que ele não queria mais vê-la. Não encontrá-la mais, de jeito algum. Ela sentiu como se tivesse acabado de levar um soco no estômago.

– Espere. Você não está terminando comigo, está? – Perguntou. Tudo o que dissera tinha sido verdade, e ela amava Ted acima de qualquer outra coisa. Achava que ele também se sentia assim, e não podia acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo.

Foi um grande alívio que ele tenha enfim olhado para ela, parecendo profundamente espantado com suas palavras. Não, ele aparentemente não iria terminar com ela. Era outra coisa. O garoto mordeu o lábio inferior, olhou em volta algumas vezes e então para o próprio colo.

– Andrômeda. O ponto a que estou querendo chegar... – E se calou.

– Sim? – Pediu, na expectativa. Estava curiosa, também.

– Eu pensei... Vou entender se você não quiser...

– Diga.

– Você é uma sangue-puro e eu sou só uma garoto da Lufa-Lufa...

– Você é bem mais que isso para mim.

Ted respirou fundo algumas vezes. Andrômeda afagou a mão dele, começando novamente a desconfiar do que estava acontecendo. Mas as palavras dela pareceram lhe dar certa força para finalmente enfiar a mão no bolso mais uma vez e dessa vez puxar uma caixinha de lá dentro. Andrômeda tinha, então, quase certeza do que estava acontecendo. Ele soltou a mão dela para abrir a caixa, onde estava um anel de ouro, simples, mas bem mais do que um garoto de dezessete anos como Ted parecia poder comprar.

Andrômeda teve certeza absoluta do que estava acontecendo, e sentiu seu rosto ficando muito quente.

– Eu estava me perguntando... Sabe, se você não... gostaria de se casar comigo... Quando nos formássemos, é claro... Mas achei que poderia pedir agora, para pelo menos poder ter certeza de alguma coisa sobre nós dois... Não sei se estou sendo muito precipitado... Mas... – Ele foi interrompido quando a garota aproximou seu rosto do dele e o beijou. O mundo, por um instante, deixou de existir. Era só os dois, o beijo, e o coração de Andrômeda batendo tão forte que ela sabia que Ted podia senti-lo também.

O momento de êxtase, no entanto, durou pouco. A seriedade logo tomava conta de Andrômeda: iria ter de abrir mão de tudo que conhecia para ficar com Ted, se aceitasse o pedido. Mesmo assim, queria aceitar. Queria dizer que Ted Tonks era seu noivo, e queria parar de mentir para todo o mundo. Queria, como ele dissera, ter “certeza de alguma coisa sobre eles”. Aí, havia a maneira como a família dela lidaria com aquilo. E tinha o fato de que eles eram jovens e, depois que ela fosse deserdada, não teria dinheiro algum. Talvez Ted tivesse – afinal, ele tinha lhe comprado um anel de ouro – mas graças à criação de Andrômeda, que sempre tinha envolvido tanto preconceito, ela tinha a impressão de que nascidos trouxas não tinham dinheiro, também.

O beijo dos dois pareceu incentivar Ted, quase como se já fosse uma resposta positiva, porque sua voz já estava firme quando disse:

– Eu tenho certeza de que iríamos ser muito felizes juntos.

“Andrômeda Tonks”. Seria assim que ela se chamaria. Iriam pular da etapa dos encontros secretos diretamente para o matrimônio. Sua família. Ela pensou no rosto retorcido de raiva de seus pais, os gritos, a reação enojada de suas irmãs, seus tios decepcionados. A maior decisão que ela tomaria na vida. E ela mal tinha completado dezoito ainda.

Algo dentro de Andrômeda se quebrou. Ela não conseguiu localizar o que era antes de, como reação à dor, lágrimas começarem a escorrer por seu rosto.

– Ted, você sabe que as coisas não são fáceis assim. Por ora, isso não vai mudar nossa relação. E eu não posso simplesmente chegar a minha casa amanhã e dizer...

– Chegar a sua casa amanhã? Você está indo passar as férias em casa?

– Qual é a surpresa? Eu sempre passo as férias de natal em casa. Meus pais exigem que eu passe. E você também nunca ficou na escola, que eu saiba.

– Vou ficar dessa vez. Tenho de estudar para os N.I.E.M.’s, e seria complicado fazer isso estando com minha família trouxa, sem nada mágico por perto. – Explicou ele. – Mas não vem ao caso. – O garoto balançou a cabeça lentamente. – Você está recusando, então.

– Eu estou aceitando. – Até ela se surpreendeu com as próprias palavras. – Mas, já lhe disse, tenho medo. Eu não sei... não sei... – Andrômeda parou. O que ela não sabia?

Ted pareceu compreender mesmo sem que ela dissesse, e inclinou a cabeça para beijá-la novamente. As lágrimas dela cessaram.

– Fique com o anel. – Ele declarou, quando terminaram. Fechou a caixinha novamente e a colocou nas mãos de Andrômeda, fechando ele mesmo os dedos dela em torno do objeto. – Assim, pelo menos uma parte minha ficará com você. Até quando pudermos ficar juntos de verdade.

Ela não sabia, até então, que era possível se sentir tão insegura e tão certa de alguma coisa, como naquele momento. Sempre achara que eram coisas opostas.

Por um lado, algo lhe dizia que aquilo não era errado, que o resto de sua vida seria ao lado de Ted Tonks, e que não havia mal algum em arcar com as consequências de algo que seria tão bom para ela.

Mas embora ela não tivesse herdado o preconceito da família, ainda era indiscutivelmente uma Black em outras características. E como uma Black, não pôde deixar de sentir que as coisas não deveriam seguir aquele rumo.


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Notas finais do capítulo

Por favor, se puderem, comentem ^_^
Até o próximo capítulo!



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