Além do Sangue escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 15
Percebimento


Notas iniciais do capítulo

Olá! Feliz Potter Day para todos!
Esse capítulo é dedicado à Andrômeda, porque algo legal tem de acontecer na vida dela... Se não é na história, que seja fora. PAKSPOA
Espero que gostem do capítulo!



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Andrômeda imediatamente desviou o olhar para Madeleine, com os olhos arregalados e assustados. Como ela pôde ter reparado que ela estava olhando para Ted no Três Vassouras? Ela estivera olhando pelo reflexo na janela, não podia ter ficado tão evidente.

Já estava pensando em todas as justificativas possíveis para dizer para ela quando reparou que, realmente, era muito estranho que ela tivesse reparado aquilo. Devia estar falando de alguma outra coisa, e Andrômeda queria muito que estivesse. E, como Madeleine parecia esperar uma resposta, ela decidiu não se arriscar e confirmar sobre o que estavam falando antes que se entregasse sem querer:

– Reparou no quê?

– Ah, não se faça de surpresa. – A outra a repreendeu. – É óbvio que eu reparei que você não tentou se divertir hoje o dia inteiro, apesar de Madame Pomfrey ter dito que você precisava relaxar. Na verdade, você anda muito estranha desde que terminou com o Norman há mais de um ano atrás. Eu esperava que, agora que vocês voltaram e as pessoas pararam de falar que você namora aquele sangue-ruim, você também fosse voltar ao normal, mas você está mais estranha do que nunca! Você não gosta do Norman, não é? O que exatamente está acontecendo?

Então, não era sobre Ted que ela estava falando, mas era sobre um assunto quase tão desconfortável quanto aquele. Andrômeda tornou a olhar para o chão, pensando agora sobre o que poderia responder. Não podia falar que não gostava de Norman, mas ela não iria acreditar se dissesse que gostava. Não podia contar o que estava acontecendo também, porque mesmo que Madeleine tivesse se dito amiga dela, ambas sabiam que aquilo não era verdade.

– Eu e Norman só... ainda não devemos ter superado totalmente aquela nossa última briga. Não é nada demais, já vamos nos acostumar. – Disse, por fim, escolhendo cada palavra cuidadosamente. Mas pelo olhar que Madeleine lhe lançou em seguida (que ela viu pelo canto do olho, já que ainda não tinha coragem para olhar para algum lugar que não o chão) lhe mostrou que ela não estava convencida com aquilo

– Bem, acho que eu devia contar isso para Madame Pomfrey. Sabe, que o seu problema de estresse na verdade é um problema de não ter superado uma briga de mais de um ano atrás com o namorado. Aí talvez ela tenha outra cura para você, como ir a mais uns três passeios para Hogsmeade ou algo assim.

Apesar de ela ter dito aquilo ironicamente, não era uma mentira absoluta. O problema de Andrômeda era sim uma briga com um namorado – mesmo que o tal namorado não fosse Norman e a briga fosse mais recente que um ano antes.

Andrômeda estava arrependida de ter contado para Madeleine sobre o que acontecera na Ala Hospitalar. Seria bom se ela não tivesse ficado insistindo para ela lhe contasse o que tinha acontecido lá, deixando-a sem opção a não ser narrar tudo o que a Professora McGonagall e Madame Pomfrey tinha dito e feito.

– Acho que a cura que ela me daria dessa vez seria mais algo como não me deixar encostar em um livro pelo resto do ano. Então, por favor, não fale com ela. – Ela respondeu, focando nesta parte da conversa para não ser obrigada a continuar a falar de Norman. Felizmente, Madeleine não percebeu que ela tinha mudado o assunto e disse:

– Não encostaria em um livro pelo resto do ano, e ainda assim aposto que se sairia melhor do que eu nos N.I.E.M.s. Como a vida é injusta. – Com aquilo, elas passaram um tempo sem nada dizer, e Andrômeda quase já tinha dado o assunto por acabado quando ela continuou: – Ei, pensando bem, acho que poderíamos fazer um acordo. Esta conversa permanece apenas entre nós duas, e em troca, você dá algumas aulas de reforço para os N.I.E.M.s para mim e para os outros. O que acha?

Aquela era a centésima vez nos últimos dias que algum de seus colegas lhe pedia aulas, mas Andrômeda não estava mais disposta a ceder do que em qualquer uma das outras vezes. Antes, estivera disposta a dar aulas para Norman em troca de ele contar para os pais que eles tinham voltado a namorar, mas o preço que ela tivera de pagar fora muito mais salgado – agora, não estava mais interessada.

– Não sou boa o suficiente para dar aulas para ninguém. Especialmente, pessoas do meu ano que estão aprendendo as mesmas coisas que eu. – Falou.

– Mas você nos deu aulas para os N.O.M.s no quinto ano, e não estava tentando se fazer de modesta como está agora.

Aquilo era verdade, mas tantas coisas tinham acontecido com Andrômeda desde o quinto ano que ela se sentia praticamente uma pessoa diferente. Não estava tentando se fazer de modesta, como Madeleine alegava – apenas não queria se envolver mais ainda com os colegas de casa, coisa que ela não se importava de ter de fazer no quinto ano.

Precisava de um argumento novo para fazê-la parar de insistir naquilo, e por falta de um melhor, acabou falando:

– Eu dormi em uma aula de Transfiguração. No quinto ano eu não dormia em aulas. Eu sinto muito, mas se um dia eu fui qualificada para isso, não o sou mais.

– Oh, isso é péssimo. – Madeleine replicou, usando a ironia mais uma vez. – Quer que eu te console contando em quantas aulas eu não dormi?

– Madeleine! – Exclamou, já começando a se exasperar com a insistência dela.

Ela ergueu as mãos, como quem se rendia.

– Só me prometa que vai pensar no assunto. Pode ser?

– Sim, isso eu posso fazer. – Disse, e mesmo que ela tenha parecido satisfeita, Andrômeda sabia que pensar no assunto só seria o suficiente em curto prazo. Logo estariam exigindo as aulas novamente.

Elas enfim alcançaram a loja de penas. Andrômeda achava que seria mais fácil fingir desinteresse na conversa estando vendo as penas do que vendo a neve como estava, então apressou-se para entrar no estabelecimento – o que não esperava era que, mais uma vez, Madeleine tivesse outros planos, e parou antes de entrar na loja, fazendo Andrômeda parar também.

– A verdade é que as penas não me interessam mais do que pegadinhas, Andrômeda, mas eu adoraria ir até Trapobelo para ver novas roupas para a primavera. – Disse, indicando com a mão a loja de moda, que ficava perto da Loja de Penas Escribas. – Não importa o que Norman pense, acho que você consegue ver suas penas sozinha, não é? Vamos nos encontrar daqui a pouco, e então voltamos juntas.

Andrômeda concordou prontamente e entrou sozinha na loja. Tirando por uma vendedora, o local estava vazio, exatamente como ela desejava – seria apenas ela, o silêncio e várias prateleiras cheias de penas de todos os tipos, cores, tamanhos e preços.

Não tardou para a maior desvantagem de se ter uma coleção de penas se fazer notar: depois de certo tempo, nenhuma pena mais parecia diferente ou especialmente bonita. Mas ainda assim, depois de passar alguns minutos vagando por entre as prateleiras e examinando as penas, escolheu uma que era inteiramente branca e decidiu comprá-la. Já tinha outra assim, mas era melhor comprar outra vez do que ter de explicar para os outros porque tinha saído da loja de mãos abanando.

Às vezes tudo o que ela queria era não ter de se provar nada para ninguém.

Ela pagou a pena e saiu da loja com ela dentro de uma sacola. Pretendia ir até a loja onde estava Madeleine, chamá-la para que elas pudessem voltar juntas para se encontrarem com os outros, mas logo que passou pela porta uma mão agarrou seu braço com violência e a empurrou contra a parede, ao lado da porta.

Foi o segundo grande susto que levava nos últimos minutos, e daquela vez a situação não pareceu melhor quando ela viu que o responsável pelo ato era Norman. Ele a segurou com firmeza, e ainda bloqueou o caminho com o corpo para que ela não conseguisse fugir de modo algum. A sacola com a pena caiu no chão, e Andrômeda começou a sentir a sensibilidade deixando as pontas de seus dedos.

– Olhe só quem eu encontrei sozinha. – Ele disse. Parecia mais do que simplesmente irritado; estava quase fora de si. – Onde está Madeleine?

– Norman, você está machucando meu braço! – Reclamou ela, com uma careta de dor.

Ao ouvir estas palavras, ele não hesitou antes de apertar ainda mais o braço de Andrômeda, fazendo-a arfar.

Onde está Madeleine? – Repetiu.

– Na Trapobelo! Solte-me!

Norman finalmente soltou o braço dela, e ela o segurou com sua outra mão. Estava profundamente dolorido, e Andrômeda tinha certeza de que encontraria marcas roxas no formato dos dedos dele naquela parte do braço se não fosse pelas diversas camadas de roupa que ela estava usando.

– Estou vendo que não posso confiar mais nela do que em você. – Disse ele. Virou-se para ir para a loja indicada por Andrômeda, provavelmente para tirar satisfação com Madeleine, mas parou quando ela disse:

– Achava que você tinha concordado em escrever aquela carta porque queria ter um relacionamento com uma garota de uma família respeitável, Norman. – Sua voz ainda estava esganiçada por causa da dor no braço. – Mas como pode fazer isso agindo desse jeito? Realmente quer começar boatos negativos sobre nós dois?

Suas próprias palavras a enojavam. Estava fingindo mais uma vez, mas não foi tão convincente, pois quando Norman voltou a se virar, sorria com uma ironia assustadora.

– Lindo discurso, Black. Quer que eu te trate como namorada, então? Muito bem. Mas você mesma não faz a mesma cortesia, não é? – Mesmo antes de ele terminar de falar, Andrômeda já tinha se arrependido do que tinha dito. Aquele humor irônico dele conseguia ser ainda pior do que o irritado. No entanto, ele não durou muito; depois daquilo, ele ficou terrivelmente sério outra vez. – Eu reparei, Andrômeda.

Ela já sabia que ele não estava falando sobre ter reparado que ela não tentara se divertir durante o dia inteiro. Via que teria de se esforçar mais do que nunca para continuar seu fingimento e, naquele momento, agir como se não soubesse do que ele estava falando.

– Reparou no quê? – Perguntou, inocentemente.

– Que você estava olhando para o Tonks no Três Vassouras, talvez? – Ele respondeu, trazendo seu rosto para perto do dela. O gesto incomodou Andrômeda tanto quanto o que ele tinha dito. Ela se virou de costas para ele e se esforçou para sair do espaço entre o garoto e a parede, deixando de estar encurralada. Então, um tanto mais aliviada, cruzou os braços.

– Essa história de novo? Eu mal sabia que o Tonks estava no Três Vassouras até agora!

– Eu devia imaginar que diria isso. Mas embora diga isso, não creio que consiga explicar o porquê de você ter estado tão distraída lá, não é?

Para isso, ela precisou pensar antes de arranjar a resposta, e amaldiçoou o fato de precisar dizê-la:

– Estava pensando sobre dar aulas de reforço para o N.I.E.M.s. Como eu iria me organizar e tudo o mais.

– Você quer parar de me fazer de idiota? – Ele falou as últimas palavras da frase gritando, visivelmente tendo perdido totalmente sua já curta paciência. Ia continuar a falar se a porta da loja de penas não tivesse se aberto naquele momento e a vendedora tivesse saído com uma careta.

– Vocês dois estão com algum problema? – Perguntou. Certamente tinha podido ouvir a conversa deles do lado de dentro.

– Não sei. Estamos, Norman? – Andrômeda direcionou a pergunta para ele. Eles se encararam significativamente por um longo momento, numa guerra sem palavras.

– Não. – Ele disse, por fim, olhando para a vendedora. – Sentimos muito.

A bruxa voltou para o lado de dentro da loja resmungando e Andrômeda abaixou-se para pegar a sacola com a pena do chão, usando o seu braço bom.

E ao voltar a se levantar, Norman segurou-a outra vez, dessa vez pelos dois braços, e a empurrou novamente contra a parede da loja. Ela chegou a abrir a boca para perguntar qual era o motivo daquilo, daquela vez, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa ele abaixou a cabeça e a beijou.

Foi tão súbito que ela não se lembrou de fechar a boca, ou de tentar escapar. Quando se deu conta, Norman já tinha começado, e mesmo naquele momento ela sabia que empurrá-lo para longe só pioraria a situação. Segurou a alça da sacola com tanta força que suas unhas feriram a palma de sua mão.

Quando ele se separou dela, parecia mais calmo – ou no mínimo, vingado –, e Andrômeda estava completamente sem palavras. Tinha conseguido evitar beijá-lo ao longo de todo o mês, mesmo com aquela história de eles terem voltado a namorar, e agora ele tinha feito aquilo. Ela se sentiu como quando tinha quatro anos e comido terra, porque Belatriz tinha lhe dado um punhado e mentido dizendo que era chocolate. Parecia que aquela sensação e aquele gosto repugnante não sairiam de sua boca nunca.

– Não me olhe assim. – Pediu Norman, com um sorriso cínico. – Qual é o grande problema em um garoto beijar sua namorada?

Madeleine poupou-a de dar uma resposta, saindo da Trapobelo correndo e segurando duas sacolas, cada uma bem mais cheia do que a única que Andrômeda levava. Antes mesmo de estar próxima, já começou a falar, alto:

– Desculpe ter demorado, mas havia vestes demais, então eu... – Ela levou um segundo para realmente compreender que Norman estava junto, e isso a fez desacelerar o passo e parar de falar. Esperou estar perto para abrir a boca outra vez. – Hm, estou interrompendo alguma coisa?

– Não. – Norman respondeu, e ver que ele não estava furioso com ela por ela ter deixado Andrômeda sozinha (pelo menos, não mais) a deixou mais relaxada o suficiente para se permitir sorrir, examinando a proximidade dos dois. Percebendo aquilo, Norman se afastou um pouco de Andrômeda, para o alívio dela. – Aliás, Madeleine, Andrômeda estava me contando que tinha decido que iria nos dar as aulas de reforço para os N.I.E.M.s. Não é ótimo?

Andrômeda estava pronta para retrucar, no mesmo tom, que ele devia ter entendido errado e que na verdade ela não tinha dito nada disso, e dessa forma impedi-lo de colocá-la em uma situação ainda pior do que a em que já estava. Porém, Madeleine não lhe deu tempo, dizendo, animada:

– É verdade? Que bom! Já estava com medo de não conseguir ir bem naquelas provas, mas agora...

Eles começaram a andar em direção ao Três Vassouras, onde tinham combinado de se encontrar com os outros, enquanto Norman e Madeleine discutiam sobre o reforço sem a participação de Andrômeda. Pelo visto, ela não teria mais como fugir daquilo.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo!



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