Além do Sangue escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 11
Preocupação


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Havia apenas duas aulas que a Sonserina fazia com a Lufa-Lufa: História da Magia e Aritmância. E, no primeiro dia de aula após o regresso de Andrômeda à escola, eles não tinham nenhuma dessas duas aulas. Em outras palavras, também, ela não teria nenhuma oportunidade de falar com Ted.

Foi um dia difícil. Ela pôde olhar para ele de relance algumas vezes durante as refeições, mas não era o bastante. Também, tinha agora de andar com os colegas da Sonserina, o que tornava tudo mais complicado – tinha, inclusive, flagrado o olhar de Ted uma ou duas vezes, e ele olhava para ela completamente confuso. Se pudesse puxá-lo para um canto e explicar o que estava acontecendo...

Assim, pareceu que aquele primeiro dia não acabava nunca. Andrômeda, sempre uma aluna tão dedicada e atenta às aulas, não estava conseguindo se concentrar em mais nada, pensando em seus problemas durante todo o tempo em classe. E nos intervalos ela tentava repor o que estava perdendo por causa de sua falta de atenção indo para a biblioteca para estudar, mas também não estava se saindo muito bem nisso. Pelo menos, enquanto estivesse na biblioteca tentando estudar, nenhum sonserino ia atrás dela – eles geralmente preferiam ficar no Salão Comunal ou nos jardins, apenas conversando e por vezes atormentando quem passava.

No segundo dia, felizmente, Andrômeda tinha uma aula de Aritmância após o almoço, mas a expectativa de estar perto de Ted em breve não ajudou-a a se concentrar nas aulas da manhã daquele dia – na verdade, isso provavelmente distraiu-a mais ainda, pois deixou-a pensando no que faria. Tentaria explicar para Ted o que tinha acontecido por papel? Ou pediria para ele se encontrar com ela de madrugada? Seu pai tinha dito à Narcisa para ficar de olho nela, não seria arriscado demais sair do Salão Comunal no meio da noite?

Diferentemente do dia anterior, a manhã do daquele dia passou muito rápido, sem que ela se decidisse sobre o que era melhor fazer. Mas viu que teria de acabar agindo de improviso – só para variar – quando estava andando a caminho da sala de aula de Aritmância e percebeu que não tinha conseguido pensar em nada a manhã inteira. E desconfiava que não ia adiantar andar lentamente para a classe, então decidiu que iria com passos firmes e cabeça erguida como sempre tentava fazer.

Quando adentrou a sala de aula, viu que fora uma das primeiras a chegar – Ted, por exemplo, não estava lá –, e escolheu um lugar no fundo da sala, onde fosse difícil para os outros vê-la e ver a cadeira ao lado dela, então vaga, mas que ela sabia que seria onde Ted viria se sentar quando chegasse.

Nos minutos seguintes, os outros alunos foram chegando e escolhendo seus lugares. Andrômeda sabia que parecia tão ansiosa quanto realmente estava, olhando para a porta enquanto esperava Ted entrar, e sabia que esta era uma ansiedade suspeita, já que todos os alunos da Sonserina que faziam aula de Aritmância já tinham chegado – e ela ficava aliviada que todos eles tivessem, daquela vez, optado por sentar há algumas cadeiras de distância dela, e estivessem entretidos conversando sobre qualquer coisa.

Para disfarçar a ansiedade, então, ela resolveu se ocupar com outra coisa, e tirou a carta que a coruja de seus pais lhe trouxera naquela manhã de dentro da bolsa, para então abri-la e começar a lê-la mais uma vez.

Andrômeda,

Parece que você estava dizendo a verdade. Acabamos de receber uma carta dos pais de Norman dizendo que ele tinha contado, sim, que vocês dois tinham voltado a namorar.

No entanto, eles também deixaram explícito na carta o quanto tinham estranhado a situação. Norman não tinha lhes contado nada a respeito de namoro durante as férias inteiras, e de súbito, eles chegam em casa pela primeira vez depois de voltarem da viagem da Polônia, já depois de deixar os filhos na Estação King’s Cross, e encontraram duas cartas: Uma nossa, perguntando se vocês estavam namorando, e uma de Norman, dizendo que estavam sim.

Compartilhamos da opinião dos Parkinson: Isso é de fato uma situação estranha. Belatriz insiste que Norman está, assim como você, mentindo por algum motivo. No entanto, sabemos que Belatriz nunca poupou esforços para fazer você ficar mal, enquanto você sempre foi uma filha de que nos orgulhamos, então decidimos que vamos acreditar em você.

Mas não é porque vamos acreditar que não estaremos com um pé atrás. Ainda estamos atentos ao o que está acontecendo em Hogwarts, e por meio desta deixamos avisado que se algo estranho acontecer ou descobrirmos que você estava mentindo, as consequências serão sérias.

Seus pais,

C. e D. Black

Era tão típico de Cygnus e Druella agir daquele jeito que Andrômeda decidiu que não se importaria com o “confiamos em você, mas não confiamos em você” deles, e julgou o conteúdo da carta como positivo. No entanto, ela teve de admitir que foi estranho que Norman só tivesse escrito a carta para os pais depois de ter falado com ela, e se amaldiçoou por não ter pensado nisso antes, mesmo que não achasse que conseguiria imaginar algo melhor, se tivesse pensado.

Estava há dois dias com aquela sensação de que o melhor, afinal, seria não ter feito nada, apenas deixado que as coisas acontecessem.

Ela guardou a carta de novo na bolsa, e quanto tornou a olhar para a porta da sala de aula, viu que enfim Ted tinha chegado.

Seu coração deu um salto. Ela quis poder correr até ele, no mínimo apontar o lugar que tinha reservado para ele, mas só pôde observá-lo discretamente enquanto ele olhava em torno da sala, procurando um lugar.

Por que estava procurando um lugar? Ele já devia tê-la visto e estar indo se sentar perto dela...

Andrômeda já estava começando a se preocupar quando enfim ele olhou em sua direção e seus olhares se cruzaram. Ela não esperava que ele lhe sorrisse ou acenasse – ela mesma iria dar-lhe uma bronca depois se ele fizesse algo do tipo – mas ver que havia hesitação e indecisão em seus olhos ao invés do amor habitual foi doloroso. Ele já devia ter ouvido sobre Norman e ela.

No final, ele veio sentar-se na cadeira perto da dela, e Andrômeda preferiu acreditar que era por causa dela do que porque quase todos os outros assentos da sala já tinham sido ocupados.

Como Ted tinha sido o último aluno a entrar na classe, a professora só esperou que ele se sentasse antes de começar a aula, dizendo que sinceramente esperava que os alunos tivessem feito os exercícios que ela passara para as férias, pois podia haver alguns parecidos na prova do N.I.E.M. de Aritmância. Andrômeda fizera os dela, mas não os tinha revisado como gostaria e nem feito uma cópia de segurança, como era seu hábito, de modo que estava insatisfeita com o trabalho quando o tirou da bolsa e foi entregá-lo para a professora junto com os outros alunos. E, quando a bruxa anunciou que usaria toda a aula daquele dia para a correção dos exercícios, Andrômeda suspirou desanimada antes de pegar um novo rolo de pergaminho de dentro da bolsa e sua pena para poder anotar a correção.

Mas, é claro, anotar a correção não era sua prioridade no momento.

Ela balançou a pena pensativamente, encarando o pergaminho e pensando no que poderia escrever para Ted. Não poderia ser uma mensagem reveladora e nem comprida, para o caso de alguém mais ver, mas também não poderia ser qualquer coisa...

“Está tudo bem?”, escreveu, por fim, na ponta do pergaminho, e começou a copiar os exercícios que a professora fazia aparecer batendo a varinha na lousa no topo.

“Não sei”, Ted lhe escreveu de volta depois de também usar alguns segundos pensando. Andrômeda já estava pensando em perguntar-lhe por que não sabia, até onde ele sabia, se estava bravo com ela, se a entendia, quando ele continuou: “O que está acontecendo?”

“Longa história”. Andrômeda também não pretendia escrever muito mais do que isso, mas ao ver a expressão estranha dele ao ler a mensagem, tratou de prolongá-la: “Mas posso explicar. Por favor, precisamos nos ver”.

Mais uma vez, ele hesitou. Andrômeda estivera até então encarando o papel, com todo o cuidado para não olhar Ted diretamente, mas daquela vez precisou fazê-lo. Permitiu que por uma vez seus olhares se cruzassem, e os olhos dela imploravam por confiança.

Isso o desmontou. O amor brilhou nos olhos dele novamente, tão forte como a confusão que ainda transparecia. Ted assentiu tão minimamente que Andrômeda duvidou que qualquer pessoa além dela tivesse reparado. Ambos voltaram a desviar os olhares para seus pergaminhos, e Ted escreveu:

“Tudo bem. Que tal 1:00 A.M.?”

Andrômeda já ia escrever que sim, claro, mas parou no momento em que encostou a pena no pergaminho, lembrando-se de que a Sonserina teria uma aula de Astronomia naquela madrugada, e seria impossível para ela sair naquele horário.

“Não vai dar, a nossa aula de Astronomia acaba à 00:45. 1h é quando estamos chegando no Salão Comunal, não dá para sair.”, escreveu, ao invés daquilo.

“Que horas você acha que dá?”

“Nessa madrugada? Qualquer horário antes das 3h é muito arriscado.”

“E na próxima?”

Andrômeda pensou. Não tinha aula de Astronomia na próxima madrugada, e que soubesse, a Lufa-Lufa também não. Claro, ela não queria de nenhuma maneira ter de esperar mais um dia inteiro para poder se encontrar com Ted, mas tinha de admitir que a próxima noite seria o mais seguro.

“Pode ser. Próxima madrugada, 1h30?”, escreveu.

“Combinado”.

Andrômeda perguntou se valia a pena arriscar escrever um “eu te amo”, mas achou que era melhor guardar aquilo para quando se encontrassem no dia seguinte. Então, tentando convencer sua mente que não havia mais com o que se preocupar até lá, forçou-se a voltar a prestar a atenção na correção dos exercícios.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo!



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