Sexta-feira. Me desliguei da humanidade de um modo dramático. Não estava nenhum pouco a fim de encontrar com ninguém, nem manter contato visual. Passei o dia inteiro trancafiada, nem toquei no celular, muito menos no computador. Fiz uma divertida maratona de Harry Potter, com guloseimas e sem ninguém em casa. Papai havia passado o dia inteiro com Jenny em algum lugar, já que era sua folga.

Não falei com David desde o beijo. Não fizemos nada, por incrível que pareça. Só nos beijamos e ele foi embora. Era algo tão diferente para nós dois, nunca vi David agir assim e não entendo, realmente! Ele não poderia gostar de mim, nunca lhe dei motivos para isso. E Lola está apaixonada, isto defitivamente não poderia acontecer. Jean era meu namorado. Lola sua namorada. Isto não poderia mudar. Causaria muita confusão.

Sábado. Acordei em uma ressaca terrível de chocolate, se é que isso existe. Fiz meu café e sentei no sofá, fiquei assistindo desenho animado despreocupada, na verdade, desligada do mundo. Essa semana inteira sem aula estava me deixando entediada, já não tinha mais o que fazer.

E então a campainha tocou, duas, três vezes. Me levantei atordoada com o susto e fui abrir a porta. Lá estava Lola, com os olhos vermelhos e cara de choro.

– Bom dia? – Perguntei meio insegura.

– Mau dia, péssimo dia! – Explodiu ela ao entrar. – Isso é café?

– Pode tomar… - Disse atrasada, ela já estava dando um longo gole. – Depois me explica o que houve…

– David tem outra! – Exclamou ela.– Ele está apaixonado por alguma vadia, Cher!

– O-o que? – Paralisei. Gelei. Me deu um frio na barriga. Fiquei vermelha. Tava suando frio.

– Por que você não atende a porcaria do celular? Desde ontem eu tento ligar para você! Meu carro quebrou e eu tive que pegar o da mamãe, que eu mal sei dirigir. Por que você está parada aí? Fala alguma coisa! Há quanto tempo não toma um banho? Você está péssima. – Por incrível que pareça, Lola falou sem sequer respirar um segundo.

– L, respira, ok? – Me recompus. – Vamos do começo… Como aconteceu tudo isso? Explique pausadamente.

– David foi na minha casa ontem, na verdade, desde que não transamos ele está assim…

– Não o que? – Engasguei com a própria saliva.

– É, Cher. Não transamos. – Falou agora mais calma. – Nós começamos a tirar a roupa e tudo, mas aí, na hora… Ele disse que era melhor esperar um pouco, talvez não fosse o que eu realmente queria. Não queria que eu agisse por impulso e blábláblá. Eu até fiquei satisfeita na hora, pois isso demonstrou que ele realmente gostava de mim, não queria me magoar se eu me arrependesse. E cá entre nós, eu não iria me arrepender, mas ele quis assim. Realmente, foi o melhor, já que ele estava pretendendo terminar comigo! – Parou para respirar.

– É verdade… - Foi só o que eu consegui reproduzir.

– E então, ontem, ele foi na minha casa, sentamos perto da piscina e David conversou sério comigo. – Falou cabisbaixa. – Disse que ele não me merecia, que eu era uma garota incrível, mas não para ele. Que eu era demais e blábláblá.

– Nossa… – Eu realmente não tinha o que dizer, estava atordoada.

– Por um lado ele estava certo, talvez eu nem goste dele realmente… –Murmurou. – Enfim, depois que ele disse que era melhor dar um tempo meio que saiu que talvez ele estivesse gostando de outra pessoa… Você consegue acreditar, Cher? Quem será a vadia?

– E-eu não sei, L… – Pigarreei. – Talvez seja alguma garota de Londres.

– É. – Deitou-se no sofá. – Eu até estava triste, mas depois percebi que foi o certo a se fazer. Não tinha feito nenhum mês, mas o que interessa?

– Sim… – Eu não conseguia falar, estava totalmente desbaratinada.

– Estou me sentindo bem melhor agora que conversamos. – Ela deu um sorriso e seu rosto relaxou.

– Que bom. – Forcei um sorriso, estava sentada na poltrona, paralisada, não estava nenhum pouco confortável com a situação.

– Você está tão fria, Cher. Cadê o “eu te avisei”? – Ela riu. – Ou o “ele é um idiota”.

– Eu ainda estou me acostumando com a ideia. – Ri.

– E Jean? Está tudo bem com vocês? – Perguntou ainda sorrindo. – A noite foi boa ou ótima? Doeu muito? Me conta tudo.

– Ah, nem lembrava mais disso! – Disse. – Aconteceram tantas coisas por esses dias.

– Ah, é verdade. E a vadia do seu pai? Eles já terminaram? – Lola riu como se já estivesse esquecido de tudo.