Eu estava começando a me acostumar sem acordar com pesadelos. Faz uma semana desde que tudo aconteceu, alguns pesadelos me atormentam pela noite, mas nos últimos dias as coisas ficaram bem razoáveis. O conselho, principalmente Carol, decidiu comunicar que a morte de Jaimes foi causada pelo excesso de bebida.

Decidi não contar nada a Patrick, tenho bastante medo de contar a ele o que aconteceu e ele me largar, acho melhor ficarmos como estamos ótimos e apaixonados. Essa semana foi um tempo péssimo, quase sem sol, os grupos que buscam mantimentos não podiam sair, portanto, tínhamos que economizar na comida.

A pior coisa do mundo é perceber o olhar de Daryl, ainda não estamos nos falando normalmente, mas ele me olha de um jeito que me faça lembrar tudo que aconteceu. Nossa última briga de ontem, ele acabou dando uma tapa na minha cara e as coisas só pioraram, sinto-me que estou ficando afastada de Daryl cada vez mais, deixando-o de lado.

– Vai participar do campeonato? – Patrick perguntou separando seus lábios dos meus.

Estávamos na praça central, observando as crianças, junto a Beth, brincarem. O tempo estava nublado, mas não parecia querer chover, eu estava esperando Carol e Mika voltarem de uma consulta. Mika acabou pegando gripe e agora ela estava no centro medico.

O campeonato foi organizado pelo pai de Lauren, Jase, que queria de qualquer forma alguma coisa que entretece as crianças e deu certo, as crianças – que contando com todas dava umas 15 pessoas – ficaram loucas pelos campeonatos de futebol e queimada.

– Não sei. Não comecei a participar desde o principio e chegar agora é péssimo. – O avisei pegando em suas mãos frias. – E você? Como está seu time?

– Ótimo, tirando a idiotice de Carl. Sério, seu ex-namorado é patético. – Patrick chamando Carl de patético me fez sentir incomodo.

– Ele é idiota mesmo, mas você trate de assumir, sem ele o grupo estaria no chão.

– É... Tenho que assumir, mas... Ele é patético.

– Vamos mudar de assunto? – Dei um simples beijo nele. – Pelas minhas contas estamos fazendo quase dois meses de namoro, e aí? O que irei ganhar de presente?

– Deixe-me se você merece... – Ele ficou me encarando por alguns segundos ate que me beijou. – Arrumei alguma coisa a você.

– Não sou de aceitar qualquer coisa, você sabe...

– Você vai gostar, pelo menos é o que eu espero. Agora me deixe ir, tenho que ter algumas aulas de armas.

Depois que Patrick foi embora, Carol e Mika saíram do posto. Mika não estava nada animada e contou que levará uma injeção que está doendo muito. Não pude deixar de rir deixando-a muito mais revoltada, ela é engraçada fazendo cara de dor, Carol me deu algumas balinhas de caramelo que receberam no posto e decidiu nos levar ate Maggie.

– Ela não está cuidando da parte administrativa? – Eu perguntei, saltitando ao lado de Mika.

– Ela está de folga, está sentindo algumas dores e preferiu ficar em casa. Alex é quem está cuidando das coisas dela. – Carol respondeu colocando o casaco na doente, ela riu assim que me viu bufar revirando os olhos. - Qual é o problema com Alex?

– O problema com Alex é nenhum, o problema é com a filha dela. Não gosto de Isabelle.

Maggie, na última semana, teve que mudar de casa para algumas casas abaixo da minha. Era um pouco maior que a outra, ela teve que ceder a outra para Alex e Isabelle e agora, me estressava ter Isabelle como vizinha.

– Está melhor? – Carol perguntou assim que entramos em sua casa. Maggie estava sentada na cozinha, como os pés apoiados na cadeira e tomava uma xícara de chá, pelo cheiro.

– A cólica está passando aos poucos. – Ela respondeu, então descobri o problema. Ela está naqueles dias. – Mas eu continuo cansada demais.

– Maggie, onde estão os marchimelos? – Interrompi, mexendo nos armários de Maggie, como éramos uma das únicas crianças que ela gostava, ela adora de nos agradar.

– No armário de baixo. – Ela respondeu rápido retomando novamente uma conversa com Carol.

Eu e Mika achamos o saquinho cheio de marchimelos e começamos a devora-los. Eram ótimos, caseiros simples, mas ótimos. Enquanto Carol e Maggie conversam, eu e Mika aprontamos um pouco. Visitamos os quartos de Maggie, pulamos nas camas e ‘’pegamos’’ alguns livros emprestados do quarto de Beth.

– Emma, Mika! – Carol gritou e nós descemos correndo. Lauren estava na sala, junto com mais algumas meninas.

– Precisamos treinar! – Ela avisou. – Estamos quase perdendo e o grupo de Isabelle está com grande chance de ganhar.

– Pode ir. – Falei ao lado de Mika.

– Então... – Mika fez uma pausa e eu senti que a coisa ficaria ruim pro meu lado. Ela deu alguns passos parando ao lado de Lauren e pude observar Carol e Maggie acabarem com a conversa e ficarem em olhando. – Nós queremos você no time, você é ótima e teremos chances de vencer.

– Mas garotas... Eu... Eu não estou no time desde o principio.

– Não existe nenhuma regra diante disso. – Mika falou ficando ao meu lado. – Vamos, participe, por favor, por favor.

– Participe! – Carol falou da cozinha. – Vai te distrair um pouco e bom; você é boa mesmo.

– Tudo bem, eu participo. – O grupo todo veio comemorar pulando ao meu lado.

– Ah, preciso vomitar... – Maggie murmurou antes de correr para o banheiro.

. . .

Eu estava numa área bastante livre onde todas as crianças treinavam. Estávamos torcendo para que não chuva, as nuvens estavam ficando cada vez mais carregadas e já estamos treinando há mais de 15 minutos. Lauren e eu tentávamos comandar o time de alguma forma que fosse pratica e rápida para ataque e defesa.

– Precisamos colocar um nome. Estávamos na semifinal e ainda não temos um nome... – Nathi, a garota morena e um pouco alta, comentou.

– Mas qual? Eu sou péssima em criatividade. – Eu avisei pegando a bola.

– Podíamos colocar um nome de música, ou de alguma atriz. – Lauren falou. – Bom, deixamos isso com Kath que sabe cuidar disso. – Kath, a garota magrela, assentiu com a cabeça.

– Ótimo, o grupo de Isabelle está chegando. – Mika resmungou ao meu lado.

Também continham oito garotas e Isabelle era quem se exibia mais. Não dei muita importância e continuei a jogar bola com Lauren.

– Sabe meninas, precisamos tomar cuidado, temos uma maníaca aqui. – Isabelle falou alto, tentando me atingir.

– O que você falou? – Saí do meio de todas e fiquei frente a frente com Isabelle. – Repete!

– Que temos uma maníaca aqui. – Ela me confrontou, se aproximando.

– Você é uma vadia... – Serrei meus punhos e acertei com tudo a face de Isabelle.

Ela deu alguns passos para trás, colocou a mão onde o soco acertou e veio para cima de mim dando-me um empurrão. Dei outro soco nela, ela pegou meu cabelo e começamos a rolar pelo chão. Deixei Isabelle imobilizada e comecei a encher sua cara de socos, o sangue de seu nariz manchou minha mão, mas eu continuei ate sentir alguém me puxar, era Daryl e Alex puxava Isabelle.

– Deixe-me acabar com ela. – Gritei, mas Daryl me segurou ainda mais forte e Alex deu alguns passos para trás com Isabelle.

– Vocês precisam acabar com essa marra entre vocês. – Alex gritou, aquietando a situação. – Vocês não são mais crianças.

– Fale isso para ela. – Eu retruquei apontando para Isabelle que limpava o sangue.

– Eu estou falando com as duas... Quere respeito entre vocês... Sabia que vocês podem ser punidas pelo fato de estarem brigando? – Alex virou-se para mim.

– Quem é você para estar tomando satisfações minha? Não é ninguém. – Eu própria respondi aos gritos.

– Emma... Vá agora para casa. – Daryl me soltou e gritou.

As garotas olharam com pouco de medo e foram todas para sua casa, Alex puxou Isabelle pelo braço e Daryl foi me arrastando ate nossa casa. Chegando lá, ele trancou a porta com tão força e me encarou enfurecido.

– Por que está brigando com ela? Por que está agindo feito criança? – Ele perguntou exaltado.

– Não lhe interessa. Você nem soube cuidar da sua filha, por que agora está resolvendo fazer isso? – Eu gritei de volta.

– Porque eu sou seu pai. – Ele levantou o dedo. – Porque eu tenho que cuidar de você, e não estou aqui para cuidar de criançinhas que briga no meio da rua.

– Ah, e você não fazia isso antigamente? Você tem que dar exemplo para exigir dos outros.

– Eu estou tentando dar o melhor a você, eu sou seu pai! Me respeite!

– Você não é um bom pai, aliás, você não é meu pai. – Eu gritei.

Daryl levantou a mão e acertou em cheio meu rosto. Lagrimas encheram meus olhos, mas eu não me permitir chorar, é claro que eu não choraria na frente dele. Logo após a tapa, pude ver sua frustração diante daquilo.

– Eu odeio você! – Falei antes de subir correndo as escadas e me trancar no meu quarto.

Minha relação com Daryl está de vez arruinada, eu e ele falamos coisas que não queríamos e isso deixou cada um machucado de um jeito diferente, eu não retiro absolutamente nada do que falo, eu realmente o odeio.