Paper Women escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 29
Linha Tênue


Notas iniciais do capítulo

não sei o que falar sobre isso mas se estiver uma droga não me odeiem srsly



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Vincent não demora muito para ir embora depois da sua história, mas ele nos conta outras coisas. Não precisei que ele falasse para saber que o próximo nome era Helen. Não sei como reagir à isso, então não falo nada, me apoio nos outros para saber o que fazer em seguida. Chegou um momento que Vincent olhou para mim e disse "Não vai se intrometer, não?" e eu fiz que não, porque qualquer decisão que eu tomasse seria grande demais. Deveríamos ver Helen? Vincent disse que ela passa as manhãs no hospital psiquiátrico e as tardes em casa, com uma enfermeira. Milhares de perguntas viajam pela minha mente. Cadê o Richard? Quem paga a comida? A enfermeira? Ela ainda é louca? Eu não sei. Eu não sei, eu não sei, eu não sei. Eric diz que deveríamos "ir hoje e ver o que dá", mas Ian o interrompe. Vincent diz que só veio para nos contar de uma vez mas que prefere esperar até o dia seguinte. Então não precisamos pensar nisso, entretanto ele nos deu milhares de outras coisas para pensarmos. Especialmente Ian.

Quanto todos vão embora, ele me pede para dormir lá. Eu digo que não, porque eu nunca dormi na casa de um garoto antes e mesmo que Ian seja mais que "um garoto" eu ainda fico nervosa. Ele entende isso, e no final, acabo entendendo seu pedido, porque ele senta no sofá e olha para o nada, e com uma expressão vazia, demora cinco segundos para começar a chorar.

E lembro que eu não tenho mais nada, então o que eu poderia dar à ele?

Sei que é isso que passa na sua cabeça. Por mais que eu tente mostrar o contrário, palavras de encorajamento, são essas palavras que entram no seu coração e essas mesmas palavras que o destroem. As pessoas não deveriam acolher dentro delas aquilo que acaba com suas estruturas, mas sei que quando se trata de sentimentos, emoções como essa, é incontrolável. Não importa o quanto eu lute contra isso por ele. Eu sento do seu lado e não digo uma palavra. Não sei o que dizer. Gostaria de poder desligar nossas mentes, e desligar o interruptor do mundo, uma pausa para respirarmos. E se Ian não estivesse tão cansado da viagem e eu não precisasse ver minhas coisas sobre a escola segunda feira, eu pegaria o carro e fugiria com ele para St. Mara, onde não há morte, não há conflito, só pessoas a espera da claridade. Mas não dá, e o máximo que consigo fazer é segurá-lo. Meninos parecem tão frágeis quando eles choram, que parece que Ian não é mais o garoto de dezenove anos que eu conheço mas sim só uma criança de nove anos, perdida. Eu quero tanto odiar Vivian por isso, dizer era você que tinha que estar aqui mas depois de tudo que eu ouvi, não consigo mais. Ela sofreu mais que eu. Ela só queria o pai dela de volta, talvez a sanidade da melhor amiga de volta, então passo a odiar Helen, que destruiu tudo isso. Talvez aquilo tenha sido o começo do suicídio. Talvez por causa do que aconteceu, Vivian escondeu seu pior lado e só o expôs quando descobri que tinha se matado. Talvez ela fosse igual a mim, escondendo sua tristeza para não incomodar ninguém. Talvez. E talvez ela deveria ter feito o contrário. E talvez eu deva fazer a mesma coisa agora.

Mesmo assim, eu não choro com Ian, porque ele precisa de alguém para ser forte para ele. Lembro que quando eu chorei na frente de Vivian naquele dia em que ela me disse que eu deveria "chorar para fora", ela apenas me garantia que tudo ia ficar bem tantas vezes que eu acreditei. Então eu digo para Ian que tudo vai ficar bem porque é verdade, desde que ele saiba que tem pessoas que amam ele, talvez não da maneira que Vivian amou —e não posso dizer com que intensidade ela o fez —mas que o amam de todo o coração, também. Seu choro é quieto e me atinge tão profundamente, que preciso de tudo em mim para não o espelhar. Quando se acalma e tudo que ouço é sua respiração dificultada, como sempre acontece depois que alguém chora, eu sussurro como se falasse um segredo.

—Eu te amo.

—Eu sei. —ele responde, depois de alguns segundos. Fecha os olhos e nossas testas se tocam.

—Às vezes eu penso que é mentira, tipo uma quedinha ou paixonite, mas então eu olho para você e não tem como alguém te conhecer e não se apaixonar, sabe? É assim que eu me sinto. —confesso. Ele não diz nada, não que isso importe. Meu único desejo é que ele saiba disso e nunca mais esqueça, não que diga algo para me agradar. Ao invés disso, ele se inclina e me beija, lentamente, para que eu sinta tudo que ele não diz. Milhares de borboletas surgem no meu corpo, vindas de algum lugar, fazendo meu coração acelerar. Eu me sinto amada. E uso essa sensação para tentar fazê-lo se sentir amado também. Não recompensando a falta de amor da mãe dele —parece errado —mas envolvê-lo até um certo ponto onde ele consiga se libertar disso.

O espírito livre cujo espírito está livre, lembro de Gordon, dizendo isso sobre Vivian. Eu só quero libertá-lo. Uma onda passa por nós —algo como adrenalina —e seguro ele com mais força ainda, mas nós paramos. Continuamos nos encarando, respirando forte. Com nossas testas tocando, seus olhos contém sobriedade e seriedade, algo que me assusta e me anima, uma combinação que eu nunca vi ninguém usando para olhar para mim. Sinto a intensidade. Sinto sua gratidão, e por um breve momento, todos nós somos feitos de amor. Ele olha para minha boca novamente, sei me beijar, e sussurra:

—Vou te levar para casa.

Quando passo pela porta, não há ninguém e todas as luzes estão apagadas, como achei que estariam. Mesmo assim, vou até meu quarto e pego uma cópia da minha matrícula da faculdade e deixo em cima da mesa, me sentindo aliviada e nervosa ao mesmo tempo, sabendo que isso muda tudo. Não sou tão corajosa a ponto de mostrar cara-a-cara —Deus sabe o que poderia acontecer —mas é um começo. Alguma coisa. Vou para baixo das cobertas, pegando o telefone do corredor no caminho e espero meia hora para ligar para Ian, garantindo que ele já chegou em casa. Dessa vez, eu converso com ele até ele dormir, para ter certeza que ele não vai adormecer triste por tudo que aconteceu, pelo menos por uma única noite.

Pela manhã, quando saio para entrar no carro de Becker, que veio me buscar, vejo um documento em cima da mesa. Não é minha matrícula —é uma confirmação do congelamento da minha conta no banco. Meus olhos piscam, ardendo. Eu não preciso assinar nada que permita esse tipo de coisa?

Vejo meu pai atravessar o corredor, com seu terno, já falando com algum sócio, e volto ao documento. É óbvio que não, meu pai é o meu pai.

Pausa.

O que eu vou fazer agora?

Eu tenho o dinheiro da antiga conta de Gwen, que transferi para mim, mas agora torna tudo oficial. Sei o que está nas entrelinhas, um hostil se você for, não volta mais. Fico tão atordoada que assim que chego no carro de Becker, peço seu celular emprestado e ligo para Gwen, na esperança de conseguir me acalmar. Ela consegue por um tempo. Me diz que se ela conseguiu, também vou conseguir e que alguma hora isso ia acontecer e "poderia parecer o fim do mundo, mas não é". Ela pergunta se eu entendi repetidas vezes e eu digo que sim, sim, sim, mas por algum motivo está todo mundo nervoso hoje e eu só absorvo isso cada vez mais. Becker me conta que Robbie tem um teste em uma faculdade em outro estado, e eu tento acalmá-la também, mas não sei se ajuda muito. Eu digo que Ian vai estudar em outro estado também, mas ainda vamos conseguir nos ver e como ela e Robbie namoram há muito tempo, o amor deles é forte para aguentar a distância. Ela me ajuda, também, pois no final da aula, liga para a mãe dela e pede, com todas essas palavras, para que ela "me convença de que ser expulsa de casa e ter a conta congelada não vai me fazer ser expulsa da faculdade nem morar embaixo da ponte", e a mãe dela diz que é verdade, o único problema é que tenho que achar um emprego mais urgentemente. Então assim que eu desligo a ligação da mãe dela, eu ligo para Ariel, pedindo ajuda porque ela parece profissional o bastante.

—Não sei se vou conseguir um trabalho aqui, se é isso que está me pedindo. —ela comenta, delicadamente.

—Não, é só que... —Becker me passa meu pedido do McDonalds, e eu coloco no meu colo. Ela dirige mais um pouco até estarmos na frente daquele campo onde ela me trouxe. —Qualquer coisa. Eu só preciso de ajuda. Eu nunca fiz isso antes.

—Vou ver o que eu posso fazer. Vocês vêm para o karaokê quinta feira?

Me afasto do celular para sussurrar a pergunta para Becker. Ela assente, de boca cheia.

—Sim.

—Ótimo, garotas. Dessa vez, vai ser noite do Grease.

—Mal posso esperar.

—Ah, mentirosa. Mas vejo vocês quinta.

A próxima ligação é Ian, só que dessa vez ele nos liga.

—Minha conta do celular vai fazer meu pai ter um ataque do coração! —Becker exclama, mas atende do mesmo jeito. Ele nos diz que Vincent está com ele e nos passa um endereço misterioso. Minha fome some na hora, e Becker e eu ficamos em silêncio a viagem toda, mas nos olhamos, cúmplices do medo. Ela diminui a velocidade quando chega na rua certa e uma nuvem de hesitação nos cobre.

—Só eu estou com medo?

—Eu também.

—Você consegue ver eles?

Rastreio o carro de Ian pela rua mas não o encontro, até que Vincent sai de uma BMW preta.

Quanto ele ganha por mês?

Ian sai do outro lado do carro e meu coração faz uma coisa estranha, acelerando. Olho para Becker, para ver se ela percebeu, mas ela continua olhando para frente, alheia. Talvez só eu consiga escutá-lo batendo nos meus ouvidos. Se acalme, Diana. É só um garoto. Ela estaciona, nós saímos do carro e eu sinto um medo como não sentia há semanas, um medo aterrorizante de estar prestes a destruir tudo. É aquele medo que você tem antes de começar uma coisa, onde tudo é desconhecido e pode acabar com você sem que nem saiba, Eu não quero me sentir assim. Eu só quero acabar com isso de uma vez. A diferença dessa mulher para todos os outros mistérios que Vivian nos mostrou é que eu sei que nada vai se transformar em algo bom. Não como Ariel ou o padre Jonah. Muito pior do que Vincent. Eu quase quero voltar para o carro e me esconder, mas nós voltamos para ver Vincent e agora ele está aqui e nos contou tanta coisa que eu sinto que precisamos terminar isso. Não só por mim, mas por Vincent, também. Ian vê o nervosismo no meu rosto e pergunta com o olhar se está tudo bem. Eu faço que sim, tentando sorrir, olhando para Vincent, que nos encara com uma sobrancelha erguida.

—Eu não sei se o que eu vejo é tensão sexual, raiva ou medo. —reviro os olhos, mas eu lembro de uma coisa.

—Visia disse que você disse que brigas sempre acabam em sexo ou casamento. —e sei que foi uma boa ideia, porque ele fica um pouco mais real para mim quando tira a máscara de durão por baixo da maquiagem forte e as roupas estranhas. Acabei me acostumando com tudo isso, mas estou cansada de ele fingir que não tem coração.

—Ela falou?

—Sim. —ele assente, procurando cigarros na sua bolsa, o que nos deixa com espaço para olharmos todas as casas da rua.

—Qual delas? —pergunta Becker, quietamente, puxando as mangas do suéter fino dela. Consigo ver seu medo, então a puxo para o meu lado e aperto sua mão. A sobrancelha de Vincent voa.

—É um triângulo amoroso?

Eu quero bater nele.

—Por que você fica dizendo as coisas mais inconvenientes? —Ian pergunta, frustrado, na mesma hora que Becker diz:

—Você devia ver quando o meu namorado e Eric estão junto com a gente. É como uma sopa cheia de corações felizes.

Eu amo os dois. Desarmam Vincent completamente e ele acende seu cigarro, desviando os olhos.

—Cadê o Eric? —o rosto de Ian fica um pouco mais sério e seus olhos se enchem de uma emoção perceptível.

—Ele quer passar o máximo de tempo possível com a mãe dele... e Sarah.

—Ele vai morrer?

Chega. —Explodo, me soltando dos dois e apontando para Vincent. —Pare de dizer coisas assim só pra tentar nos ofender e mostre um pouco de respeito.

—O que eu falei? Você não parecia ofendida com meus outros comentários.

—Você não pergunta se as pessoas vão morrer.

—Você está fodendo aquele outro garoto, também?

O braço de Ian voa em sua direção, mas eu o seguro pela camiseta, olhando fundo nos seus olhos. Atrás de mim, consigo ouvir Vincent exclamando alguma coisa e Becker suspirando, mas eu me conecto com Ian porque digo com o olhar que eu preciso lidar com ele. Vincent. E Ian entende, então solto-o e me viro para Vincent.

Mate ele com amor, Diana.

Acho que você está lendo os sinais errado, Vincent. Não acho que ela te odiasse, nem que fosse uma vaca egoísta. E eu não acredito por um segundo que você odiava ela, também. A verdade era que ela te amava muito mesmo, por isso está fazendo isso, você só não vê ainda. E ela era a sua melhor amiga, por isso está sendo um pouco difícil pra você. Eu entendo. Todos nós a amávamos, então está tudo bem em admitir que você a ama. Mas honestamente? Que se foda a sua grosseria e essa pose de durão. Não vamos nem tentar entender o que você está fazendo, porque é ridículo.

—E a gente sabe que você chamou a gente porque está com medo de ir sozinho. E nós vamos com você, mas você tem que admitir que amava ela.

—Vocês são um bando de adolescentes otários.

—Que seja. —replica Becker, cruzando os braços e se posicionando ao meu lado. Ian vem por trás de mim, com os braços ao meu redor, me abraçando como um escuto. De repente, com os dois, eu me sinto poderosa. Invencível. Adicione Eric, e isso seria o quarteto fantástico. E por esse breve momento, o que eu sinto é pura euforia, uma ilusão temporária de que talvez tudo dê certo com eles por perto. Mesmo a euforia se dissipando, Becker ainda está do meu lado e Ian ainda me envolve nos seus braços, pressionando-me contra o seu corpo, e é isso que me faz segurar o olhar de Vincent, decidindo o que fazer em seguida. Nós esperamos.

—Eu amo ela. Verbo no presente. —sua voz ainda é feminina, mas é o tom mais sério que adquiriu. É o suficiente. Pressiono minha bochecha contra os lábios de Ian, que beijam minha bochecha, e quando Becker aplaude Vincent, subitamente animada com a declaração, ele fica distraído o suficiente para Ian sussurrar no meu ouvido sem provocações. Ele diz:

—Estou orgulhoso de você, ex-não-falante.

E eu digo, obrigada, cara desconhecido da boate. Mas na minha cabeça, eu só penso eu te amo, eu te amo, eu te amo. Para Ian, Becker, Vivian, Eric, Gwen e Claire. Até Gordon. Ariel e Bobby. O padre Jonah. Eu te amo e eu te amo, e amo você, também. Não tenho porquê nem hora, só fico repetindo, como um mantra para me deixar calma, mesmo depois de olhar para a casa que Vincent indica ser a de Helen, eu uso isso para me manter com o estado de espírito que eu gostaria de estar sempre. É como observar uma situação fora do seu próprio corpo, sem sentir a ansiedade que eu sentiria.

—Podemos voltar ao assunto sério, agora?

—Manda ver.

—Ela está com uma enfermeira. Elas trocam de dia, às vezes. Essa aí é meio nova, o que é uma merda.

Concordamos. Ele sopra a fumaça pela boca, olhando para cima, depois se volta para nós.

—Vou lá, vocês fiquem aqui.

—O quê? Claro que não. —diz Becker.

—E se alguma coisa ruim acontecer?

—Eu sei me defender.

—Nós também.

—Estou falando sério. —ele olha para nós, mas seus olhos focam em Ian. —Ela pode te reconhecer, talvez Vivian mandava fotos suas para ela também. E vocês são estranhas.

—Você acha que ela vai te reconhecer?

—Não sei. Mas não vou mentir para ela, e preciso saber qual será a sua reação, então fiquem aqui.

—Se você demorar, vamos entrar. —comenta Ian, mas dessa vez Vincent assente. Fumando uma última vez, joga o cigarro no chão.

—Parem de me encher a paciência e entrem no carro. —joga a chave para mim e se vira. Reprimo a vontade de chamá-lo, me contentando a observar enquanto faz seu caminho até uma porta amarela, na casa em frente. Ian abre a porta do carro para mim, quase me obrigando a entrar, e a porta da casa se abre quando estamos todos dentro do carro, nos escondendo. De lá, uma enfermeira sai, com a testa franzida, perguntando algo à Vincent. Não a culpo, porque ele está com roupas de Lucille e seria estranho para qualquer um receber visitas de uma pessoa assim, até mesmo alguém louco como Helen. Eles conversam por alguns segundos, e ela deixa-o entrar, lançando um olhar para o carro sem conseguir nos enxergar. Do seu lado, então, surge uma mulher com cabelos desbotados, magra. Treme quando vai apertar a mão de Vincent, sorrindo sem saber de nada.

Um frio percorre meu corpo todo.

—Essa aí é a Helen? —Becker nos pergunta.

—Acho que sim. —voltamos a encarar. Essa é a Helen que matou seu bebê, Harry Sallinger, a amizade de Vivian, o amor de Richard, e a felicidade de todos eles pelo resto de suas vidas. Essa Helen.

A enfermeira fecha a porta, e rápido assim, estamos no escuro. Não sei o que Vincent está falando, o que eles estão fazendo, qual as reações dela. Odeio não saber nada. A curiosidade me consome viva e nós esperamos. Fico contando eu te amos na minha cabeça para o tempo passar, na esperança de me manter calma sem pensar em Vivian nem nada disso. Pensamentos positivos. Saudáveis. Calma. Aperto a mão de Ian.

Cinco minutos se passam de puro silêncio. Não escuto nem a respiração deles.

Dez.

Não consigo mais ficar parada.

Quinze.

—Já chega. —abro a porta do carro, mas Ian me segura pela camiseta.

—Espere! Eles podem estar tendo algum progresso.

—Você disse para ele que se demorasse, nós entraríamos. E se ela estiver fazendo alguma coisa? Mexendo com a cabeça dele ou sei lá? Vamos entrar?

—Não, Diana. Espere.

Ele só está com medo.

—Diana, talvez seja verdade. —complementa Becker, e eu começo a ficar desesperada. É pior brigar com os dois do que apenas um. E eles não entendem minha necessidade de estar lá, mas nem eu entendo. Só preciso ir.

—Por favor, vamos. Vai ser inofensivo. —Becker suspira, derrotada e sai do carro. Ian também. Evito o olhar dos dois, sabendo que estão furiosos.

—Estou com um pressentimento ruim. —minha amiga sussurra, irritada. Quase digo que eles podem voltar para o carro se quiserem, mas tenho certeza que ficariam mais bravos ainda comigo. Não gosto disso, mas vamos até a porta. Me sinto pesada.

Após o terceiro toque, a enfermeira abre a porta.

Eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo...

—Sim?

Thump, thump, thump, thump...

—Oi. —diz Becker.

—O Vincent ainda está aí? —pergunta idiota, mas não consigo pensar de tão nervosa.

—Quem é Vincent? —a moça pergunta. Ela é nova, no máximo vinte e poucos anos. Genuinamente confusa.

—Lucille. A mulher que entrou aqui alguns minutos atrás?

—Ah, Lucille. Vocês são filhos dela ou algo assim? —realmente?

—Eu sou... sobrinho... dela. Podemos entrar?

—Posso chamar ele para vocês. —ela começa a se afastar, mas falamos rápido o suficiente.

—Não! Precisamos falar com Helen, também.

—Não é uma boa ideia. Ela não recebe visitas com tanta frequência.

Não escuto vozes, mas eu vejo um corpo passar atrás da enfermeira, indo para um quarto. Helen.

A enfermeira está insistindo sobre não ser uma boa ideia quando escutamos um grito. Masculino. É o meu pior pesadelo, e ela grita "fiquem aqui!" mas ninguém escuta e nós três corremos, seguindo a moça. A proximidade nos faz escutar gemidos masculinos, uma voz feminina também. Gritando. A enfermeira abre a porta em um rompante e eu estou pronta para ajudar a acalmar Helen, porque é a única coisa que tinha passado na minha cabeça, mas encontramos algo muito pior.

Há sangue em Vincent, caído no chão. E há uma faca na mão de Helen.

—Senhorita Gluck!

Helen grita, jogando a faca de cozinha no chão e coloca as mãos com o rosto, num choro horrível que congela meus ossos. A enfermeira vai contra ela, segurando suas mãos para trás e ela faz uma carreta horrível. Quero chorar e sair daqui, vomitar, desaparecer, desmaiar. Não sei fazer nada. Olho para Vincent, mas já não o vejo, porque Becker e Ian tapam minha visão, se colocando sobre ele. Eu escuto choros e vozes mas não sei diferenciar de quem é quem e vou até Vincent e me ajoelho e Helen continua gritando e tentando sair dos braços da mulher, mas a enfermeira consegue tirar uma seringa no bolso e injeta na hora no braço de Helen, seus olhos se tornando névoa.

—Chame uma ambulância! —grita Ian, e Becker tira o celular do bolso, tremendo. Eu olho para Vincent e começo a chorar, porque ele está pálido, mesmo com a maquiagem. Pisca com mais frequência, respirando fundo e não ouso olhar para o corte, mas as mãos de Becker estão ensanguentadas quando liga para a emergência e vejo a mulher controlando Helen. Ela não olha para nós e Ian sussurra para Vincent falar com ele, desesperado e toco em sua mão e está fria e Helen começa a chorar, também, mas é estranho e assustador que eu estremeço e coloco uma mão na minha boca, para não vomitar.

—Pare com isso. —diz Vincent, em uma voz tão fraca que piora tudo. Ele tosse, e o sangue se espalha no seu vestido. —É só sangue.

—Vincent, —diz Helen. —Vincent, está doendo?

Eu quero matá-la. Ela ainda chora. É tão doente. Vincent olha para mim, e eu olho para seus olhos e vejo os mesmos olhos de Vivian Winter. Mas eu vejo sua vida, e eu toco o seu peito, fechando meus olhos, rezando para Deus, para que por favor, por favor, por favor, que dessa vez seja diferente.

Deus? Está me ouvindo? Meu Deus, não deixe ele morrer.

Não deixe ela morrer.


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Notas finais do capítulo

SE ACHAREM ERROS ME AVISEM E SE ESTIVER UMA DROGA TAMBÉM ME AVISEM E ATÉ O PRÓXIMO BYE *hearts*