Paper Women escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 2
A Ponte


Notas iniciais do capítulo

não sei o que dizer enfim



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Uma menina está sentada no canto de uma boate.
Uma menina está sentada no canto de uma boate, chorando.
No verão passado.
Essa menina está se sentindo um completo lixo, desesperada porque não consegue entender nada do que está acontecendo a sua volta.
Essa menina, então, vê um garoto atravessar a multidão e se sentar ao seu lado, e se sente idiota por estar chorando enquanto todos os outros estão se divertindo. Isso a faz chorar ainda mais, então o garoto pergunta o que há de errado, mas é óbvio que ela não vai contar. Talvez porque nem ela sabe, talvez porque ele a abandonaria se soubesse, então tudo que restou foi balançar a cabeça, limpando os olhos. Não olhou para o garoto, mas sabia que ele era bonito, tinha uma voz bonita, e cheirava bem, apesar do horrível cheiro de bebida e suor da boate.
Então algo mágico aconteceu. Algo que mudou a vida daquela menina, de um jeito totalmente diferente das outras mudanças que já aconteceram. Daquele tipo de mudança que não cria multidões, nem muda o mundo, mas mudou aquela menina, pelo menos por um tempo, deu uma luz para que ela pudesse dar mais alguns passos em direção ao resto da sua vida, caminhando ao seu ritmo, retirando as pedras do caminho, dando esperança. Não foi algo que resolveu todos os problemas da sua vida. Eles ainda estavam lá —ele só deu forças para ela batalhar contra seus demônios por mais algum tempo. Tempo o suficiente para sobreviver.
O garoto a beijou. Eles estavam em uma boate, havia álcool por toda parte, mas ele a beijou como se soubesse que por trás do rosto bonito — ainda que manchado de preto por causa do rímel e delineador — ela só estava triste. Como se ele enxergasse todos os pensamentos dela caindo com uma cascata, caindo como um prédio antigo, e sabendo que ela não era rápida o suficiente, forte o suficiente para conseguir segurar todos eles no lugar, e resolveu correr ao seu socorro, trazendo as peças do quebra cabeça da sua mente, aqueles pedaços de pensamento que fugiam junto com as suas lágrimas, segurando-os com a mão firme, entregando para ela com aquela forma de afeto — por mais banal que fosse — dando um pouco de clareza em meio as luzes piscantes do lugar em que ambos se encontravam. Pela primeira vez, ela não se sentiu em uma montanha russa, ela se sentiu flutuando. Flutuando como uma flor na água, delicada como uma flor na água, flutuando, flutuando, flutuando guiada, regada, manejada pelas mãos daquele garoto em suas bochechas. E toda aquela tristeza, aquela aura triste começou a se tornar algo lindo. Ainda era triste, era ainda trágico e romantizado — porém, era lindo. E o que não é mais amável que algo triste E lindo?
Entretanto, aquilo era só na mente da garota. Era só na minha mente. Era só a minha história, não necessariamente a do garoto, também. Porque é assim que garotos funcionam, tudo é 50% mais impessoal para eles do que é para nós, garotas. Talvez não para todas, mas para mim, sim. Sou uma romântica, dramática irreversível, apesar das provas da vida de que ambos são inexistentes e desnecessários. Poderia significar o mundo para mim, mas para ele, poderia ter sido só um beijo. Menos ainda, poderia ter sido a interação de uma parte do seu corpo com a mesma parte do corpo de outra pessoa. Ele não sabia meu nome. Não conversamos. Não significou nada para ele.
Apesar de ter significado o mundo para mim.
Agora, eu sinto como se O Deus Do Bom Humor Em Boates veio me castigar, me botando frente a frente com o garoto que me viu chorando. Porque é ali que ele está, olhando para mim como se tivesse visto um fantasma — talvez eu seja mesmo um fantasma em suas memórias, alguém a uma conversa de distância de se tornar alguém real — totalmente incrédulo.
— O que você está fazendo aqui? — seu tom é acusatório, e eu preciso de um segundo para me recompor, relembrar que aquilo não significou nada para ele. Só que está tudo bem, porque não precisou ter significado algo para ele para ter significado para mim. Tem pessoas que mudam sua vida e nem sabem. — Você é stalker?
— Não! Eu... nem sabia que você morava aqui.
— O que você está procurando, então? — ele fica um pouco mais inofensivo, mas não deixo de notar que suas feições são selvagens, quase raivosas. Não que ele esteja com raiva, mas as linhas de expressão deixam suas reações cruas.
— Alguém da família Winter. — A expressão acusatória volta, como se eu estivesse deixando passar algo plenamente óbvio.
— Eu sou a família Winter. — dou um passo para trás, confusa. Não entendo o quebra cabeça, a peça dele que se estende na minha frente. — Você está mentindo?
Então me atinge.
— Ai meu Deus, você é filho dela.
Eu não consigo respirar.
— Dela quem? — fica tenso, como se soubesse a resposta que vou dar e que não vai ser boa. Porque a pessoa está morta.
— Vivian Winter.
—Por que você está aqui? — agora ele parece desesperado. E seu desespero puxa o meu desespero lá do fundo do oceano, e eu estou caindo da montanha russa, voando para fora do meu carrinho em direção ao concreto.
Mas em meio ao caos, eu encontro a clareza novamente, e me obrigado a escutar sua pergunta.
Agradecer ele parece idiota. E de qualquer forma pareceria estúpido, porque a única pessoa que eu poderia agradecer era a própria Vivian Winter. De novo: morta.
Mas sair daqui em silêncio parece um pecado.
— Escute, meu nome é Diana, e Vivian era minha professora, e...
— Por que você está aqui? — não sei dizer como ele fala, só sei dizer que me faz querer chorar. Nada foi real. A única coisa real presente em mim agora é a morte da mãe dele.
A mãe dele.
Ah, Deus.
O tom dele, ao mesmo tempo que me magoa, me distancia. Não aquela distância que faz as coisas parecerem bonitas — a que te deixa ver melhor. E a única solução aqui é ir embora, porque não há nada que eu pudesse dizer para esse garoto que alterasse o passado e que mudasse o futuro.
Uma onda de decepção quebra em cima de mim.
— Eu não sei. Me desculpe. Mas obrigada de qualquer forma. — não tenho coragem de olhar em seus olhos, então abaixo o olhar e aceno, me virando e fazendo meu caminho de volta para o carro, sentindo a vontade de chorar queimando minha garganta.
Eu beijei o filho da minha professora? — isso quase me faz rir.
—Espera. — o garoto diz, alto o suficiente para que eu escute, mas sem precisar gritar. Me viro, sem saber o que esperar. Ele parece em uma encruzilhada, lutando contra seus próprios demônios e dúvidas. Seus ombros caem, como se tivesse perdido a batalha. — Tem alguma chance de você ser Diana Novak?
— Essa sou eu. — consigo dizer controladamente, apesar dos gritos na minha mente. E agora?
Ele responde por mim quando suspira e volta a falar, quase contra a sua vontade.
— Entra aí, Diana. — a julgar pelo seu tom, não parece muito satisfeito e não sei se é por causa do que aconteceu na boate ou outra coisa relacionada a Vivian. Dando um passo de cada vez, entro em sua casa me sentindo uma ladra. Pensando era aqui que ela morava. Essa casa é a cara dela, me trazendo mais lembranças que eu queria lembrar.
Na minha casa, ela me disse uma vez, é como se nada ruim pudesse me atingir. Você tem que transformar a sua casa na mesma fortaleza, ou achar outra. Um lugar para onde você pode correr quando a situação ficar pior.
A sensação de fortaleza está em todas as paredes, então percebo que ela tinha razão: uma casa tem mesmo o poder de proteger. Só não a minha. Mas aqui, eu sinto Vivian, eu sinto uma quietude, talvez pelo silêncio e pelo tamanho da casa — enorme — só que me puxa, puxa, prende, e sair por essa porta vai ser quase tão doloroso quanto entrar. O garoto coça o pescoço, incerto, incrédulo ainda.
— Pode sentar. — aponta para o sofá, então sai. Coloco minhas mãos nas pernas — um sinal de nervosismo — e tento não ceder as minhas emoções. Me ocupo, então, me imaginar porque ele sabe meu nome e porque me chamou para entrar. Será que ela deixou alguma coisa para mim quando se matou? Ao mesmo tempo que o pensamento me enche de esperança, é tão doentio e mórbido que meu coração reza para que não seja isso, pois não sabe como irá aguentar.
O garoto volta com uma carta.
— Ela pediu para que eu entregasse isso pra você, mas não me incomodei em procurar quem era. Nem lembrei. Ela falava de você com frequência. —então sinto-me empalecer, os batimentos pararem, a respiração congelar, sinto-me praticamente morrer por um segundo ali mesmo, em resposta ao horror que me espera. Me estende a carta, cuidadosamente para que minha mão não toque a dele, então trocamos um olhar cúmplice, como se ambos soubéssemos a magnitude do que vou fazer em seguida. Trazer Vivian a vida por alguns minutos, descobrir algumas palavras novas que ela nunca disse de verdade, mas que ainda são delas.
Com mãos trêmulas, abro a carta. Digitada.
Eu o fiz de novo
Um ano em cada dez
Eu agüento—
Abruptamente, paro assim que reconheço o que é isso.
É horrível. Isso... isso é cruel. Meu estômago revira e fecho os olhos com força, tentando convencer meu corpo a não fazer algo que eu não possa fazer nesse momento, inutilmente.
— Onde é que é o banheiro? — minha voz falha — Acho... eu acho que eu vou vomitar.
—Segunda porta, seguindo por aquele corredor. — mostra-me a direção rapidamente, então me levanto em um baque, correndo ao banheiro.
Eu regurgito, sentindo não só minha garganta mas meus olhos arderem de lágrimas, porque nunca consegui vomitar sem chorar. Até mesmo quando paro, as lágrimas continuam.
Aguente isso e pare de chorar, me ordeno. Após cinco minutos o máximo de progresso que consigo fazer é parar de derramar lágrimas, entretanto a vontade de chorar continua.
Volto para a sala, apertando meu casaco como uma proteção.
Ele está lendo o poema.
— Ela escreveu uma carta para você, também? — balanço a cabeça.
— Isso não é uma carta. — Minha voz está horrível e eu soo como um homem, por causa da rouquidão. — É um poema da Sylvia Plath.
— Mas... — Sinto sua confusão, seu desespero e minha compaixão nunca foi maior, nem quando descobri que o filho de Vivian tinha perdido a mãe. Agora que é real, agora que o luto está na minha frente, consigo sentir sua dor tão forte quanto a minha.
— É um poema sobre suicídio. — fungo, sentando-me para ter apoio e não desmaiar. Me sinto doente. — Plath se matou. —O garoto senta ao meu lado, colocando uma distância considerável entre nossos corpos. — o nome do poema é Lady Lázaro, uma alusão à Lázaro... da Bíblia. O que voltou a vida.
Em menos de um segundo, eu passo de tristeza para raiva. Raiva porque mesmo depois de morta ela ainda consegue ter esse efeito nas pessoas, ainda consegue magoar com as palavras em uma folha de papel — simples assim. Sem nem poder explicar-se, explicar seus motivos, por que diabos ela fez isso? Continua fazendo?
—Morrer / É uma arte como todo o resto. /Eu o faço excepcionalmente bem.
A grande pergunta rondando minha mente como uma nuvem negra é o que ela quis dizer me dando um poema. Eu sei que Vivian era professora de literatura, então deve ter pensado bem antes de escrevê-lo para mim. Eu sei que deve significar alguma coisa — tem que significar — não pode ser tão vazio como está sendo agora, apenas para aprofundar meu sofrimento. Ela não seria tão cruel seria?
Mas então, se matou no meu aniversário. Isso significa alguma coisa também — egoísmo.
Talvez ela nem se dê conta de tudo isso, tudo que conseguia sentir era sua dor, entorpecendo qualquer outro sentimento.
Talvez. Odeio essa palavra. A incerteza de tudo.
Aos poucos, a vertigem se dissipa, e eu recobro a consciência de que o filho de Vivian Winter está sentado do meu lado. Me levanto.
— Acho que é melhor eu ir. — tento soar firme — Desculpe pela... hm, inconveniência. Eu não sabia que você era filho dela, nem imaginei...
— Tudo bem. — ele balança a cabeça, de onde está sentado. Sem olhar para mim. Eu nem sei o nome dele.
— Posso perguntar qual é o seu nome? — o garoto solta uma risada, enterrando o rosto nas mãos, apoiadas nos joelhos.
—Ian. Dorian.
—Dorian Gray? — questiono, e de alguma forma isso parece uma faca transpassando meu coração, a forma como isso é a cara de Vivian. Ele assente, e eu me sinto sem fôlego, caindo do carrinho novamente, preparada para cair no concreto, cair em direção ao caos, ao nada, a dor.
Meu celular vibra algumas vezes, provavelmente pessoas querendo me desejar feliz aniversário, mas me recuso a atender ou responder mensagens, porque não acho que vou conseguir transparecer felicidade, animação com relação a esse dia que para as outras pessoas, é meu.
Não consigo respirar. Nem a fortaleza da casa consegue me proteger — porque não é a minha casa, e nem minha casa é minha fortaleza.
Minha irmã, é.
Vivian era.
— Eu vou ir embora. Me desculpe. — murmuro, cuspindo as palavras para fora. Com passos rápidos, corro para fora, mas minha educação fala mais alto e me viro novamente, para onde ele está sentado. — Tem uma homenagem para ela na escola, se você quiser ver. Os alunos fizeram. — ele levanta os olhos surpreso mas assente.
— Eles vão fazer uma missa para ela, por causa do aniversário de morte hoje, se quiser ir.
— Na St. Thomas?
— É. Seis horas. — suspiro de alívio internamente, porque assim vai dar tempo de ir para casa e sair com Becker e Gordon e não quero decepcioná-los.
— Estarei lá. E me desculpe mesmo, eu não sabia que você era filho dela. — Ele balança a cabeça, mais descontraído.
— Nós nem conversamos, não tinha como você saber. — por fim, a única coisa que resta é constrangimento daquele dia, de ambas as partes. Uma sensação de é isso aí, acabou. O romantismo acabou-se, e a única coisa que resta é o que aconteceu, sem emoções presas à isso. — Minha mãe falava muito sobre você. — ajeito minha touca, preparando para sair, corando.
— Isso é meio esquisito, né?
—Que parte, essa garota que eu dei uns amassos aparecer na minha casa seis meses depois ou ela querer saber da minha mãe?
— Os dois. — meu celular vibra outra vez, e eu rejeito a ligação sem ao menos ver quem é. — Enfim, me desculpe. De novo. E... te vejo por aí, eu acho. Me desculpe mesmo. — anuncio uma última vez, e corro porta afora, dessa vez segurando o envelope e o poema perto do peito, encarando o frio e a neve. Sinto que Ian me encara enquanto faço meu caminho de volta, entrando no carro e eu não quero que ele veja meu momento vulnerável. Queria que ele voltasse para casa para que eu pudesse chorar a vontade, sem ter testemunhas. Mas sei que ele está na porta, e sei que — no fundo — isso é bom, porque se eu começar a chorar, não sei se vou parar tão cedo.
Quando chego em casa, estou recomposta e preparada para lidar com a minha mãe.
— Diana, é você?
— Sou eu, mãe. — quem mais seria? Gwen?
Coloco minhas coisas em cima do balcão e vou até o escritório da minha mãe, colocando a cabeça para dentro. Ela tira os óculos e olha para cima, mas não sai do lugar.
— Onde estava?
— Com Becker. Vou sair com ela daqui a pouco, também.
— Tudo bem. Feliz aniversário.
— Obrigada, mãe. — sorrio, remoendo-me internamente por ter mentido, mas sei que é melhor assim. Se ela soubesse que estava na casa de um garoto — mesmo que este fosse Dorian Winter — as coisas ficariam complicadas. Ela volta para o trabalho, e eu vou para meu quarto, trocar de roupa. Coloco meu vestido de lã preto e as minhas meias longas, junto com as botas que eu já estava usando e cubro tudo com meu casaco preto — a única coisa que eu consigo suportar usar para um evento desses.
Aviso Becker que vou encontrar ela onde quer que ela queira ir, então saio de casa a caminho da igreja St. Thomas — onde aconteceu o funeral, um ano antes. Pensando nisso, como é que eu não reconheci Ian Winter na boate? Será que eu ao menos prestei atenção no funeral? — provavelmente não, pois passei boa parte dele chorando. E como aconteceu de eu ter beijado o filho da minha professora — da Vivian — sei nem saber?
O mundo e as pessoas se conectam de modos que a gente nem percebe, posso ouvir ela responder, é bem pequeninho. O mundo.
Quando eu chego, as pessoas já estão sentadas nos bancos, então fico para trás, no último. Não ligo para isso, porque não quero chamar atenção. Quando Vivian estava viva, ela sempre me incentivava a falar mais alto, aparecer mais, "você tem mais atitude do que pessoas que sabem da existência dela," ela me disse, quando me recusei a recitar meu poema na frente dos outros alunos, "por que você não proclama sua existência? Não é como se seu poema fosse uma droga."
Agora, parece quase impossível existir mais do que essas outras pessoas, já que Vivian não está aqui. Parece tortura existir de qualquer forma. O padre começa a falar, e a rotina normal se desenrola, coisas que eu não estou habituada porque não venho na igreja, mas que sei ser os procedimentos normais — coisas de sempre. Não choro, porque parece tudo frio. Sei que estou aqui por causa dela, e não do padre ou por Jesus Cristo, é o único motivo pelo qual não saio pela porta. Outras pessoas choram. Talvez gente que conheceu ela pela vida toda ou que está triste apenas porque a morte é uma coisa triste. Então — para minha irracional surpresa — o filho dela se levanta e vai até a frente. Agradece por termos vindo, e diz que se estamos aqui, é porque sua mãe conseguiu entrar em cada um dos nossos corações, e ela não poderia ter desejo melhor resultado para depois da morte. Parte de mim acha que ele está mentindo.
—Ela amava Charles Bukowski, nunca entendi porquê. Ele disse descubra o que você ama e deixe que te mate. Eu acredito que ela amava tanto a vida que acabou morrendo por causa dela, e acho que está em um lugar feliz agora. Mesmo que tenha perdido o sentido da vida, Charles Bukowski continua a dizer, finalmente, não há mais nada aqui para a morte levar, então acho que ela foi para um lugar melhor leve, sem bagagens, a melhor forma de ir.
É isso que ele diz. A melhor forma de ir. Então acaba.
Por um segundo, ninguém fala nada. Ou talvez minha mente tenha bloqueado o som, que a desconcentra enquanto ela tenta achar sentido Na Melhor Forma De Ir. A medida que os sons voltam, minha mente não fez nenhum progresso. A melhor forma de ir? Isso não existe. Ir nunca é bom. Ir embora nunca é bom ou ruim, é pior. Ela morreu pensando que essa era a melhor forma de ir? Se matando? Me deixando um poema da Sylvia Plath? Deixando um filho para trás? Essa é a melhor forma de ir? E ir pra onde? Para o psicólogo dos céus?
—Se acalme, Diana. —sussurro para mim mesma, e uma criancinha a alguns lugares ao lado me olha, com olhos acusadores. —Me desculpe. —murmuro, virando para frente.
A cerimônia acaba um pouco depois. Eu não sinto nada. Eu não falo com ninguém. Eu não olho para ninguém. Exatamente porque não senti nada — continuo não sentindo nada. É como se tivesse uma parede de vidro que me impede de sentir fortes emoções, e ao mesmo tempo que eu gosto, porque não faz com que eu sinta dor, me desespero porque não sentir nada significa que ela está morrendo dentro do meu coração. Não quero que ela morra, mas é uma faca de dois gumes, porque se ela morresse no meu coração, essas coisas que acontecem comigo parariam de acontecer. Eu pararia de me importar.
Eu não sei se eu quero isso. Eu não sei de mais nada.
Vou para o meu carro, sumindo em meio a multidão e vou para casa, para trocar minha roupa de morte, minha personalidade triste e morta por uma que está feliz por estar mais um ano viva enquanto todas as outras pessoas, Vivian, crianças na África morrem.
Isso torna tudo mais difícil.


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Notas finais do capítulo

então?