Cinderela às Avessas escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 24
Mas esse baile cobra um preço alto




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– E agora, o que eu faço gente?
(Rafael) - Isso é nojento!
(Cassandra) - Asqueroso!
(Marlene) – Vindo desses dois, não deveria ser surpresa. O que você pretende fazer?
– Eu não quero aceitar essa proposta, mas se me mandarem embora, não terei pra onde ir!

Os três ficaram em silêncio. Era uma questão bem delicada. Marlene respondeu.

– Não gosto disso nem um pouco, acho horrível eles te forçarem a mentir. Por outro lado, sei como a vida é difícil lá fora. Não posso te pedir para recusar a proposta e ser mandada embora porque será você quem viverá nas ruas e eu não poderei te ajudar.

Cassandra e Rafael continuaram em silêncio, pois entendia muito bem o que Marlene tinha falado.

– Eu não posso arrumar emprego em outro lugar? Agora tenho mais experiência!
– Jovem desse jeito e sem carta de recomendação? Nem sei como você conseguiu esse emprego! Se eles te mandarem embora, você não terá nenhuma carta de recomendação e eles ainda poderão fazer sua caveira com outras famílias!
– Que horrível! Eles podem fazer isso mesmo?
– Conheço esses dois e sei que são vingativos. Se recusar, correrá o risco de não arrumar nenhum outro emprego nessa cidade.

Rafael respirou fundo e disse.

– Eles te colocaram entre a cruz e a espada, então o jeito é você aceitar a proposta.
– Mas...
– Não é culpa sua eles estarem fazendo essas coisas, Carmem. – Cassandra falou. – Eles são desonestos e vigaristas. Você está sendo coagida, não te deram outra opção. Também acho isso errado, mas não posso te julgar se aceitar porque sei que você não tem escolha.
– Eles vão me usar para roubar dinheiro das pessoas...
(Marlene) – Que um dia respondam por isso, mas você não tem culpa. Aceite, pelo menos é uma forma de você sair dessa vida e ser coisa melhor.
(Cassandra) – Acho que no seu lugar, também aceitaria. É desonesto, eu sei, mas tenho família para ajudar! Meu pai é doente, não pode trabalhar e minha mãe sozinha não dá conta! Meus irmãos ainda são muito novos e quero que fiquem na escola. Então eu aceitaria sim!

Por fim, Carmem acabou decidindo aceitar a proposta. Eles estavam certos, não havia nada que ela pudesse fazer.

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– Que dilema! – Berenice falou vendo tudo pela bola de cristal.
– Sim, é um dilema! Como pensei, ela vai aceitar a proposta.
– É isso ou ir para a rua. Você disse a ela que não irá mais ajudá-la, então a moça pensa que está por conta própria.
– Isso está longe de acabar.

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No dia seguinte, Carmem ainda se sentia péssima com tudo aquilo. Se por um lado a proposta era muito tentadora, por outro alguma coisa lhe incomodava lá no fundo. Felizmente ela foi convidada a passar o ano novo na casa da Cascuda e assim as duas puderam conversar.

– E foi isso o que aconteceu.
– E você pretende aceitar? Que coisa horrível, Carmem! Vai se vender desse jeito? É desonesto!
– Sei disso, mas...
– Mas nada! Integridade e honestidade são tudo! Sei que são eles quem estão roubando, mas ao mentir você estará colaborando com eles! Tantas pessoas serão enganadas, não podemos deixar isso acontecer!
– Cascuda, pára um pouco! – ela pediu interrompendo o falatório da amiga. – Eu já sei que isso é errado, tá?
– Então por que vai fazer?

Ela suspirou de tristeza e respondeu.

– Se eu não fizer, vão me mandar pra rua.
– Talvez seja preferível do que se vender desse jeito!
– Pra você é fácil falar, né? Quem vai pra rua sou eu! E depois? O que faço? Como vou arrumar outro emprego? Onde vou ficar? Seus pais vão me deixar ficar aqui? Você pode me ajudar a arrumar outro trabalho pra me sustentar? Pode fazer alguma coisa?

Cascuda olhou para Carmem admirada, pois não tinha pensado naquelas coisas. Aquele problema não era tão simples quanto parecia. Não se tratava apenas de honestidade. Tratava também de sobrevivência.

– Juro que não quero fazer isso, é sério! Mas se eu não fazer, como vou ficar depois? Eles vão fazer minha caveira pra todo mundo e não vou poder nem arrumar outro trabalho!
– Carmem eu... eu... sinto muito, não tinha pensado nisso. Que droga, é tão complicado que nem sei o que te aconselhar! Será que não dá pra entregar esses dois a polícia?
– Com que provas? Vai ser minha palavra contra a deles e adivinha quem vai ganhar?

A outra ficou desanimada. Era obvio de que se tratava de um beco sem saída.

– O que eu escolher não importa. Eles vão fazer isso do mesmo jeito. Só que se eu recusar, serei despedida! Já dormi na rua uma vez e é horrível! Não me aconteceu nada porque a Creuzodete me protegeu, só que agora eu tô sozinha! – ela começou a chorar desolada e Cascuda passou um braço ao redor do ombro dela. Tal coisa seria impensável há umas semanas atrás.
– Ah, Carmem... nem sei o que dizer! Será que a gente não pode pedir ajuda pro pessoal?
– Não sei se eles vão poder fazer alguma coisa e eu tô muito confusa agora! Tô morrendo de medo!
– Tá, calma. Não vamos pensar nisso agora. Sei que isso não é culpa sua, aqueles dois é que não valem nada! A festa é no fim de janeiro, não é?
– É.
– Até lá a gente vê se dá pra fazer alguma coisa. Se não der, paciência. Agora tenta se animar que hoje tem a festinha da turma. Eles querem te conhecer, sabia?
– E se não gostarem de mim? Já não gostavam antes.
– Só que antes você tava chata de doer, né?
– Ei!
– Ih, relaxa! Vai ser divertido! Vamos dar uma voltinha no shopping depois do almoço porque preciso comprar uma coisa antes da festa e quero ver você babando na frente das vitrines sem poder comprar nada.
– Ah, você quer me ver sofrendo, né sua desalmada?

As duas deram uma risada e Carmem acabou se sentindo melhor. Já que não dava mais para ter sua antiga vida de volta, então o jeito era se adaptar a nova vida e dentro de algum tempo, as coisas iam melhorar. Ainda assim lhe incomodava saber qual preço teria de ser pago. Algo bem lá no fundo lhe incomodava, era uma coisa que ela nunca tinha sentido em sua vida.

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O casal tinha alugado uma casa de praia que tinha uma bela vista para a queima de fogos que seria feita na passagem de ano. Apesar de não ser do mesmo nível que a de Copacabana, era muito bonita também. E eles tinham muito a comemorar.

– Esse será o nosso ano, querida!
– Mal posso esperar para colocarmos as mãos naquele dinheiro!
– E esse golpe que vamos dar nesses ricaços vai nos render milhões!
– Eu adoro essa palavra: milhões! É tão linda! E as máquinas, já estão prontas?
– Sim, embaladas dentro da caixa. Vamos guardá-las muito bem quando chegarmos em casa. Eles nem vão saber o que lhes atingiu!

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Estava difícil mostrar alegria depois do que tinha lhe acontecido na noite do dia anterior. Marlene se esforçava, mas todos tinham visto seu aborrecimento. Ela ainda se lembrava de quando a Sra. Aguiar lhe procurou com uma lista na mão.

– Marlene, por acaso você sabe preparar esses pratos aqui?

Ela passou os olhos pela lista e respondeu achando se tratar de algum jantar que eles queriam dar aos amigos.

– Sim, eu sei.
– Que ótimo! Você irá preparar o jantar para a festa beneficente!
– Aquela do fim de janeiro? Mas a senhora não ia contratar um Buffet?
– Isso custa muito caro! Por que temos que desembolsar esse dinheiro todo se temos você que faz o mesmo trabalho?
– É que... a festa é para mais de cem pessoas!
– E daí? Se for o caso, peça as outras duas empregadas para que te ajudem. Agora, se você não dá conta, então terei que te dispensar porque é um absurdo uma cozinheira que se recusa a fazer seu trabalho!

Marlene sentiu uma vontade enorme de esbofetear aquela criatura arrogante. Preparar aquela refeição ia lhe dar um trabalho monumental a troco de nada porque aqueles dois não iam lhe pagar nem um centavo extra pelo serviço.

– E saiba que se isso acontecer, você nunca mais trabalhará para ninguém nessa cidade. Então? O que me diz?
– S-sim senhora, eu farei a comida para a festa.
– É assim que eu gosto!

Ali, sentada na sala da sua casa, ela oscilava entre o arrependimento de não ter dado um tapa naquela madame e o pensamento de que se tivesse feito isso, teria perdido o emprego. Pelo visto, Carmem não era a única a estar num beco sem saída.


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