Two Moons — Fic Interativa escrita por Nim


Capítulo 2
I: Goya - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Notas iniciais: É. Eu demorei um pouquinho mais do que tinha previsto (ou até que não, já que eu prometi que levaria um mês para fechar as vagas), pois, confesso, não sei ABSOLUTAMENTE nada relacionada à Grécia e à Escócia. Por isto, precisei fazer uma pesquisa aprofundada em relação aos costumes, cultura e etc e também aos outros países. Então, caso errei algo, por favor, puxem a minha orelha e avisem-me para eu corrigir. Além de ter algo chamado extrema preguiça de escrever, sério, perdoem-me ;u;
Além disso, quero mostrar todos os personagens em três capítulos e quis separar duas mil palavras para cada um dos protagonistas, entretanto vi que não deu muito certo, no próximo capitulo darei o meu melhor para tentar alcançar essa meta!
Bem, temos Goya como nome do capítulo e dos próximos dois capítulos, pois significa na língua urdu (Paquistão) sensação de estar em outra realidade, por exemplo, ao ler um livro. Ou seja, algo que os nossos protagonistas estarão vivendo é algo fora do comum (muito mais do que essa fic é, pfv –q). Tipo: what? Sacrificar seu corpo para a salvação da Terra do encontro de duas Luas? WHAT?
Sim... Estranho, eu sei XD Nas próximas vezes farei algo mais... Normal? Que não represente algo sem noção? Tentarei! Prometo de mindinhos!
E já que estamos falando sobre palavras sem tradução queria explicar um pouquinho porque essa sociedade se chama Litost. Litost em techeco é o estado de agonia e tormento que a pessoa tem ao perceber sua própria miséria.
P: Mas por que, Nim? Esse nome tão estranho pra uma sociedade que tenta salvar o mundo?
Bem, atualmente não poderei dizer. Pois está em meus planos para a fic escrever um capítulo contando sobre a vida na sociedade Litost e como parte dela, explicarei porque escolhi esse nome sem nexo pra um lugar que quer salvar a humanidade.
P: Então por que contou?
Porque adoro contar coisas incompletas XD
P: Já que você está contando os significados por trás das palavras, por que você fez uma ilha chamada Komorebi?
A ilha de Komorebi é caracterizada por ter uma vasta área de grandes árvores que arranham o céu e quando a luz do Sol é infiltrada pelas folhas verdes e sempre tão vivas, acaba formando o símbolo dos treze poderes (que você já deve estar cansado de saber) e que brevemente estarei mostrando como são os símbolos. Portanto, Komorebi em japonês é quando a luz do sol é infiltrada pelas folhas das arvores.
Uma coisa antes de vocês começarem a ler: o tempo nesse capítulo não é cronológico, como estou apresentando os primeiros quatro personagens, teve horas em certo personagem que eu tive que voltar mesmo o anterior vivendo em um tempo mais avançando.
É. Acho que foi só isso o que quis falar. Ok. Boa leitura.



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Ariadne Aeon se encontrava em um dos palcos que a cidade de Atenas lhe servia. Era um teatro médio, abrigando os pais dos alunos que encenavam e alguns curiosos. A fala firme e convicta da jovem de dezessete anos se destacava dos demais, sua voz era serena, entretanto passava a eles uma confiança jovial e guerreira da personagem que interpretava.

O cabelo cortado acima dos ombros e ondulado por natureza estava presos em um coque, deixando algumas madeixas caírem próximas ao rosto pouco moreno, roçando levemente quando Ariadne meneava a cabeça de acordo com o texto decorado.

Mas ela ainda parecia absorta demais em seus pensamentos, algo em seu interior martelava para ser liberto imediatamente. Como deixava o profissionalismo mandar em seu corpo em momentos como aquele, Ariadne bloqueou totalmente seus pensamentos sobre aquilo que a atordoava.

Seus olhos procuraram pela plateia Corina, a sua supervisora. Ela sorriu com o olhar quando finalmente a encontrou ao se esconder na coxia, esperando a sua próxima deixa. Contudo alguém chamou sua atenção antes de colocar seu corpo nos bastidores, um homem de aparências sutis e calmas escondia-se no meio da plateia, seu cabelo em um tom de castanho claro e os olhos atentos à movimentação do palco trouxe certo desconforto junto ao pessimismo que veio à tona.

O vestido que caía com graça em seu corpo fez-se um incômodo para Ariadne naquele instante. Tentou puxar — sem sucesso — a alça do vestido que insistia em cair dos ombros descobertos e uma ânsia instalou-se no estômago.

Pela primeira vez, Ariadne queria sair correndo dos bastidores e driblar a plateia. Ela fechou seus olhos e tentou controlar-se. Afinal, o que estava acontecendo com ela? Nunca agiu daquele modo no palco e muito menos se sentiu tão nervosa.

Sua respiração, que estava descompassada, retornou ao seu estado normal. Sentia o subir e o descer do peito ao ritmo de uma canção lenta. Voltou a abrir os olhos e nenhuma pessoa fez menção em se mover.

O tempo parou.

Contudo Ariadne não tirou proveito daquilo, permaneceu imóvel e com os olhos fixados no espelho, vendo a sua imagem balançar com tranquilidade. O poder que mantinha vivo em seu interior somente se manifestava em casos extremos e aquele parecia entrar na lista. Em minutos, o movimentar ligeiro e nervoso de todos a sua volta voltou sem receio e Ariadne tropeçou em seus pés ao se aproximar do espelho, ainda encarando sua imagem.

Todos os personagens que faziam a composição da pequena peça de teatro pareciam interagir entre si de maneira tão... Natural. E mentalmente, ela imaginou-se em meio a eles participando de uma discussão sobre outras peças que poderiam participar em breve. Entretanto Corina Dicéia tentava evitar que Ariadne tivesse o contato com os demais e, em momentos como aquele, ela se sentia solitária.

No instante seguinte a imagem de sua tutora teatral favorita, que morreu fazia alguns anos em um acidente de carro, se fez nítida em suas lembranças. E, em seguida, lembrou-se que quando soube de sua morte o tempo acelerou, porém Ariadne não obteve o efeito de seu corpo se movimentar com velocidade.

Alguém tocou em seu ombro e, em um sobressalto, a jovem virou-se de forma brusca e os olhos já marejados.

— Uhm... Ariadne? — um dos responsáveis pela organização perguntou, o sobrolho estava carregado e poderia ver uma película de suor trilhar sua bochecha. — Você entra no próximo ato. Então... Esteja pronta.

Ela assentiu e limpou o canto do olho, onde uma lágrima ousara aparecer. Tentou manter a respiração impassível. Encarou seu reflexo mais uma vez, tentando arrumar os mínimos pontos que sobressaiam de seu vestido. Por ser muito detalhista, Ariadne gostava de manter tudo ao seu alcance do personagem que encenava. Nenhum detalhe deveria ser deixado de lado.

Quando se voltou aos outros, que a julgavam de longe, o semblante de Ariadne se tornou outro. A personagem havia mesclado sua personalidade com a dela e, por isto, um sorriso triunfante emergiu de seus lábios.

— Ariadne, sua deixa! — alguém postado ao fundo sussurrou em um tom penetrante. Os olhos de uma cinza se encontraram com a mulher que a chamou e correu para o palco, recitando as falas decoradas.

Durante a peça toda, Ariadne não deixou de olhar para o jovem sentado ao canto da plateia. Seus olhos se encontravam vez ou outra, porém não passava de segundos e ela desviava para o ator à sua frente. Mesmo parecendo alguém normal, aquele jovem chamava sua atenção. Não pela aparência ou muito menos seus modos durante a apresentação toda; mas, sim, algo inteligível se apoderou nos pensamentos dela. Não era algo ruim muito nem bom.

Ao finalizar a peça, Ariadne guardou suas coisas em uma mochila e saiu do camarim desfazendo o coque. O cabelo soltou-se e adornou seu rosto fino. Um sorriso devoto modelou seus lábios pintados de um rosa leve ao ver sua supervisora a esperando com um buque de flores vermelhas.

Ariadne correu ao seu encontro e a abraçou no mesmo instante. O cheiro de perfume de flores foi inalado por ela e apertou o corpo de Corina contra o seu.

— A cada peça você está melhor — a mais velha disse ao entregar o buque para Ariadne. — Está com fome?

Os olhos dela brilharam com intensidade.

— Vamos comer onde?

— Onde quiser — Corina respondeu e viu Ariadne ficar animada.

Porém, antes de partir, a mais nova pôde encontrar o jovem que atraiu sua atenção durante a peça. A postura ereta e descontraída, e o rosto com o semblante longínquo deixou uma pergunta muda instalar-se na mente de Ariadne. Quem era ele?, indagou-se mentalmente.

Ela queria falar com ele, mas uma chama em seu peito deixou as labaredas mais altas em um sinal de que seria má ideia. Portanto ela meneou sua cabeça, negando para si mesma em um movimento de que estaria discutindo em seu interior.

Deixou um sorriso aflorar de seus lábios e disse calmamente:

— Naquele restaurante?

— Onde quiser — Corina repetiu e guiou Ariadne pelo braço na direção do pequeno carro estacionado à frente do teatro.

O restaurante não era nada mais que voltado à culinária da Grécia e Ariadne sentia-se totalmente completa ao finalizar uma peça e jantar naquele estabelecimento de aparências humildes mesmo fazendo uma excelente comida.

Após um caminho curto de carro, Corina permitiu que a jovem escolhesse o que quisesse; afinal, eram os poucos momentos em que a supervisora permitia Ariadne andar pela cidade, normalmente elas sempre estavam em casa aprendendo algo ou Corina treinando os poderes de Ariadne para ter mais controle.

Em alguns minutos, Ariadne já escolhia tarhana como seu prato. Era uma sopa feita da mistura de grãos fermentados e iogurte.

Com os olhos fixados na fisionomia de Corina. Uma mãe completa de seus quarenta e sete anos com os olhos castanhos escuros que poderiam ser confundidos com o véu negro do céu e o cabelo da mesma tonalidade sempre preso a um rabo de cavalo.

— Uhm... Corina — Ariadne começou, porém a supervisora levantou uma mão.

— Alípio — o apelido dado pela supervisora significava alegre em grego. Um sorriso benevolente se abria. —, já lhe disse para me chamar de mãe. Corina parece que nem me conhece.

— Mãe — Ariadne disse em um tom provocativo e brincalhão, porém seu semblante mantinha sério. —, hoje eu parei o tempo.

O olhar de ambas se encontrou. E Corina permaneceu em silêncio, confirmando à jovem que poderia prosseguir.

— Durante a minha saída eu parei o tempo — suas mãos repousaram na mesa e ela parecia nervosa. — Por mais que tenha as minhas suspeitas... Não sei o por que parou. Simplesmente parou — ela deixou sua voz se extinguir quando o garçom trouxe o prato delas. Respirou profundamente enquanto levava uma colherada à boca. — Mas alguém na plateia chamou minha atenção... E, não, não é do jeito que você está pensando — Ariadne deixou se interromper. — Algo naquele moço parecia... Estranho. Eu... Não sei... Ele era estranho.

Corina conservou a calma de seu semblante e levantou o seu olhar escutando o relato de Ariadne. Os movimentos dela estavam tensos, tremia levemente e os músculos de seus braços retesaram a cada vez que contava sobre o seu controle do tempo.

A primeira vez que descobriu a existência de seu poder foi quando brigara com Corina por ansiar o contato humano com os demais, batia seu pé com força e chorava feito uma criança birrenta então o tempo parou. Nada além de Ariadne se movimentava. Tudo parecia uma fotografia. Os pássaros que voavam do lado de fora flutuavam no ar sem bater as asas, ela parou de ouvir o barulho da água da torneira caindo e Corina estava simplesmente parada à sua frente, com a expressão séria, mas sem dizer uma palavra. Ariadne passou um tempo esperando que sua mãe falasse algo, mas ficou simplesmente quieta. Com apenas cinco anos, Ariadne já sabia que isso não era normal, por isso começou a puxar o vestido de sua supervisora, porém quando puxou seu pulso, ela entrou em pânico. Não tinha pulso algum. Com isso, ela deu um grito e pulou para trás. O tempo voltou a correr normalmente e Corina levou apenas segundos para perceber que algo havia acontecido com Ariadne e que tinha a ver com seus poderes, mas não sabia exatamente o quê.

— Ariadne... — Corina a interrompeu no tom mais calmo e compreensivo que conseguia emitir. — Que tal nós conversamos sobre isto mais tarde? Acho que ninguém vai nos entender se souberem que alguém tem poderes para controlar o tempo.

Percebendo onde tinha chegado ao monologo que havia criado, Ariadne somente balançou a cabeça, compreendendo, e voltou a saborear sua sopa.

Deixando o silêncio conversar por elas, terminaram sua janta em longos minutos mais tarde. Corina já pagava pela comida quando Ariadne possibilitou seu sono mostrar suas evidencias no olhar caído.

Corina apertou o ombro da jovem e sussurrando em uma voz doce, disse: — Estaremos brevemente em casa, você trabalhou duro hoje e merece um descanso.

Ariadne apenas balançou a cabeça, ainda estava absorta demais naquela figura para realizar outra reação, deixou ser conduzida pela supervisora até o carro, sentando ao lado do banco do motorista.

A casa onde as duas moravam era fora da capital grega, o que custavam a elas uma viagem de aproximadamente uma hora para chegarem ao destino.

O lar era em um tamanho consideravelmente confortável para duas pessoas. Tinha um jardim como entrada, a grama aparada e num verde forte juntamente com as flores que Corina cultivava era uma das coisas que chamava mais atenção dos olhos alheios. A casa abrigava dois quartos, um banheiro e uma sala um tanto espaçosa. O teto era alto e as paredes externas da casa eram numa coloração azul.

Ariadne, quando possibilitou seus pés marcharem pela calçada, já tinha se visto deitada na cama enquanto sua respiração estava ao compasso de uma lenta caminhada. No momento em que sentiu seus olhos pesarem pôde escutar uma exclamação de surpresa vindo de Corina, que estava no andar debaixo, entretanto ela já sonhava.

☾☾

Keira Lewis Stonem estava sentada no meio da sala ampla e com os objetos pouco longe de seu alcance. Ela tinha os olhos fechados enquanto Alaric, seu supervisor, fitava-a com o olhar sério e o sobrolho carregado.

O peito dela subia e descia ao compasso de um lento amanhecer.

Keira fechou seus olhos, respirando profundamente e sentindo o ar esvaziar seus pulmões em seguida. A escuridão feita por ela limitava seus pensamentos, porém outros sentidos que mal conhecia apareceram sem ela perceber. Então, mesclando todos os seus sentidos, ela abriu olhos de um azul profundo e Alaric mexeu seus lábios devagar, falando suas instruções:

— Levite o sofá durante trinta segundos e ponha-o com cuidado em seu lugar.

Ela lançou um olhar significativo para o objeto grená e o mesmo foi suspendo no ar, como se houvesse cordas no braço do sofá, ele ficou inerte e, segundos depois, o sofá despencou bruscamente.

Keira fez uma careta de reprovação e seu supervisor sorriu.

— Era para cair como uma pluma — murmurou para si mesma e levantou-se, caminhando até o sofá grená e ajeitando de modo que aparentasse estar como antes.

— Você pensa demais no modo como deve cair e não em quanto tempo deve ficar suspenso — Alaric disse em tom baixo. — E pouco pensa no tempo. Não acha que deve pensar mais no tempo? Também não. Você não deve pensar em nenhum dos dois. Nem ficar presa no tempo muito menos no objeto. Como disse a você dias atrás, sua mente deve estar sem pensamentos. Difícil, não?

Aquilo, para ela, era apenas um monte de palavras colocadas ao acaso. Alaric sempre pronunciava essa mesma frase, entretanto — por mais que os anos se passassem — Keira somente escutava como se fosse outra língua desconhecida para ela.

Os ombros dela se relaxaram ao ver que Alaric se dirigir para a cozinha e isso significava uma pausa no treino de seus poderes. Portanto Keira se levantou e caminhou até o quarto, jogando-se na cadeira de rodinhas e impulsionando-a até a janela.

O crepúsculo já cobria o céu azul com o seu véu colorido. Era um telão de mármore acinzentado no horizonte do outro lado de sua janela. E Keira finalmente pôde contemplar aquele fenômeno. Enquanto via-se com os olhos fixados no sol que se escondia entre as nuvens, ela conseguiu se locomover para o passado, lembrando-se claramente quando soube que poderia controlar os objetos ao seu redor.

E fora uma surpresa e tanto.

Keira era uma aluna de arco e flecha nos finais de semana. O único esporte que Alaric permitiu seu aprendizado. Entretanto o torneio daquele entretenimento que acontecia anualmente ela não teve a autorização para participar, seu supervisor dizia que era muito nova e poderia machucar os outros assim como ela mesma. Sentada na bancada da plateia, Keira tinha o semblante carregado, estava totalmente enfurecida, e quando a fala dele veio à tona em sua mente, seus músculos retesaram e os batimentos cardíacos dispararam como uma flecha em direção ao alvo.

O apito soou e os alunos tiraram as flechas de suas aljavas, acomodaram o arqueamento e dispararam. Mas, quando estavam próximas de colidir o alvo, as flechas partiram-se ao meio. Todas elas. O objeto feito de madeira caiu na grama e ficou inerte.

Alaric adotou a expressão surpresa e olhou de soslaio para Keira, que pulara do banco onde estava sentada e seu semblante se encontrava da mesma forma que de seu supervisor. Keira, por algum motivo, sentia que era culpa sua pelas flechas partidas ao meio e suava frio.

Com o incidente, a cidade de Inverness — uma cidade da Escócia, capital da região de Highland — teve os jornais direcionados com a principal noticia das flechas que se partiram ao meio sem motivo algum. Não muito tempo depois, Alaric partia de Inverness para a cidade de Manchester.

No caminho para o município, seu supervisor acabou revelando o que Keira era. Uma salvadora e portadora de um poder incrível. O poder de mover fisicamente um objeto com a força psíquica, a telecinesia.

Ela piscou seus olhos de um profundo azul e levantou-se da cadeira quando percebeu que a noite já dominava o céu. Fez um movimento lento até o seu guarda roupa, separando suas peças do pijama e pegando uma toalha. Como era sábado, Keira permitia gastar uma grande parte de seu tempo para treinar seus poderes e fortalecer seu corpo.

Keira entrou no banheiro e despiu-se com pressa. Fazia frio e ela conseguia sentir seus mais invisíveis pelos do corpo se eriçarem. A água quente caindo contra a sua pele fria fez um choque e ela estremeceu por um instante, relaxando os músculos em seguida. Possibilitou um suspiro modelar seus lábios rosados enquanto ensaboava-se.

Os minutos se passaram com rapidez. A janelinha do banheiro estava embaçada quando Keira desligou o chuveiro e começava a se secar rapidamente, vestindo um pijama quente em seguida.

Ainda tinha tempo para fazer o que quisesse antes de dormir e, por isto, Keira esgueirou pelos corredores da casa e sentou-se em frente a uma escrivaninha iluminada por um abajur de cor anil. Puxou um dos cadernos empilhados em um canto e abriu em uma página qualquer, pegou uma caneta de um porta-lápis e começou a deslizar a mão sobre a folha branca com linhas cinza. Sua caligrafia era redonda e desenhada. Criar poemas era seu hobby preferido e ela adorava a sensação de juntar as palavras certas e formar um profundo verso.

O cabelo lustroso caía sobre os ombros dela e acariciava levemente sua bochecha, fazendo com que Keira tentasse de tudo para os fios não atrapalharem em seu pequeno trabalho. Mas não estava com paciência em escrever seus sentimentos muito menos imaginar uma cena para descrevê-lo no papel.

Antes de se levantar da cadeira, escutou um barulho semelhante a um grito desesperado de um homem e, diante de sua janela, viu lâminas de punhais brilharem na penumbra como línguas de prata candente. As luzes dos postes do quarteirão se apagaram e Keira sobressaltou, avançando para porta.

E, sem pensar, pegou o seu maior casaco e saiu da casa.

Keira foi recebida por uma ventania de cortar a pele e ela comprimiu seus lábios, fechando os olhos fortemente. Quando os abriu viu alguns de seus vizinhos saírem de suas casas com um olhar preocupado e dissonante. Keira trocou olhares com uma velha senhora enquanto ela pegava uma lanterna.

— Senhora Brack — Keira chamou a idosa. —, você sabe o que aconteceu?

Ela negou com a cabeça e a morena seguiu os passos da idosa sobre a neve.

Entre passos e outros, viu as pessoas saindo de suas casas com o semblante aterrorizado e com celulares em mãos enquanto iluminavam o caminho. Tudo estava tão escuro que Keira temeu que algo profundamente preocupante houvesse acontecido.

E foi o que aconteceu.

A imagem que ela enxergou deixou suas mãos trêmulas.

Um corpo de um homem — um adolescente —estava caído no meio da rua, havia um profundo corte em seu abdômen. E ao ver o cabelo castanho claro esquálido cobrir parte dos olhos verdes dele, Keira o reconheceu no mesmo instante. Ela recuou poucos passos até se encontrar com Alaric. A expressão dele era de espanto.

Keira não conseguia desviar o olhar estarrecido do conhecido e ela teve a sensação de ter café fervente correndo em suas veias. E naquele momento voltou ao seu passado, onde morava em Inverness e frequentava o colégio em que se apaixonou pela primeira vez.

Cada vez que piscava sentia lágrimas se acumularem no canto dos olhos. Estava começado a ficar desesperada.

— Você o conhece? — uma voz feminina perguntou às suas costas e Keira não respondeu.

Uma pergunta lhe veio à cabeça: aquele jovem morava em Inverness, o que ele estaria fazendo naquela cidade? Ainda mais naquele bairro?

☾☾

Galen Alexander Korais saiu do teatro com labaredas em seu pulmão e estava profundamente confuso.

Primeiramente o que ele fazia em Atenas? E, principalmente, estaria sentado em um teatro e assistindo uma peça que nem mesmo lhe interessava?

Ele balançou a cabeça, tentando decifrar sua própria pessoa. Girou seus calcanhares e adentrou na casa, uma lufada de vento quente foi ao encontro de seu rosto e Galen iniciou sua caminhada ao camarim.

Isso é uma loucura., ele pensou ao enfrentar alguns pais bloqueando seu percurso. O ar parado o deixou terrivelmente agoniado e, quando finalmente se encontrou fora dos abraços mortais dos pais, ele a viu. A jovem que interpretava a protagonista estava à sua frente, abraçando — possivelmente — sua mãe. Seus olhos se encontraram por um momento e ela desviou após desfazer o abraço, sorrindo.

Durante a peça toda, Galen sempre prestou atenção nos movimentos estudados da atriz. Ela parecia usar o tempo ao seu favor e isto lhe trouxe um mal estar. Galen procurou pelo camarim alguém para perguntar o nome da jovem, impediu a passagem de um dos personagens.

— Senhor — o menino arregalou os olhos ao ouvir o insólito tratamento e levantou o cenho. —, você poderia me dizer o nome daquela jovem? — ele apontou para a protagonista que desfazia o coque.

O mais novo deu de ombros, indiferente.

— Não a conheço, só a vi umas duas vezes — disse com a voz baixa e mansa. — Mas, se não me engano, seu nome é Ariadne... Ariadne Íon — seu sotaque o fazia lembrar-se de um recém-chegado da Inglaterra.

— Muito obrigado.

Uma vez com as costas viradas para o camarim, Galen não parou de correr até chegar ao seu carro. Deixou suas costas encostarem-se ao estofamento do banco do motorista e permitiu um suspiro aflito modelar seus lábios.

A viagem para a cidade deveria durar quase três horas, recordou Galen após calcular. Não se lembrava de como havia chegado naquele teatro muito menos quando tinha resolvido pegar seu carro e viajar para Atenas.

Eu devo estar enlouquecendo., Galen pensou e um sorriso tímido desenhou em seus lábios finos e levemente rosados. É, devo estar.

Começou a dirigir quando percebeu que a movimentação do teatro tinha cessado. Seus lábios se comprimiram ao parar em um semáforo e à sua direita um grupo de pessoas corria, todos tinha um porte musculoso e mesmo pelo frio eles usavam shorts e camisetas de algum time. Galen nunca foi de praticar esportes e isto se tornou seu maior ponto fraco, entretanto conservava um porte magro.

A estrada já estava ao seu alcance quando sentiu uma brisa leve acariciar seu rosto. Ainda estava meio encalistrado pelo o que havia passado e pensando, entretanto deixou seus pensamentos se afastarem conforme a cidade de Atenas se despedia às suas costas.

E, naquele instante, lembrou-se como tinha conseguido saber de seu poder. O poder de curar as pessoas. Foi em um verão e ele estava ajudando Helena, sua avó, a cozinhar — na verdade, somente trazia os ingredientes que a senhora lhe pedia —. Então, quando pegou o frasco que continha sal, derrubou-o em choque após assustar-se com o movimentar ligeiro do gato que Galen cuidava. Desesperado, colocou sua mão no vidro quebrado e estirado no chão, sem medir as consequências e cortou a palma da mão. O sangue começou a escorrer de forma rápida pela sua mão e ele sentou-se no chão, segurando-a com força e desejando que ela desaparecesse.

Foi, então, o que aconteceu.

Com o contato da sua mão esquerda sobre a machucada, uma chama pálida queimou mais a pele cortada e uma dor angustiante instalou-se rapidamente nela. Galen começava a gritar, entretanto, após tirar a palma esquerda da direita, viu que a ferida não existia mais. E Helena, plantada no chão com o semblante marcado pela surpresa, aproximou-se do pequeno Galen, segurando-o nos braços.

Só depois de alguns anos, quando atingiu a maturidade suficiente, ela contou o que ele era.

Galen tornou a piscar seus olhos rapidamente, desvencilhando das cordas de lembranças que o prenderam naquele momento, nunca — na grande maioria das vezes — lembrava-se do passado, pois sentia o pesar de não haver o amor de pais que precisava.

Eu estou enlouquecendo., ele reformulou sua observação e um sorriso se desenhou nos lábios, a música que tocava era grega, mas ele não prestou atenção nela, por algum motivo no qual desejava nunca saber sentia algo que algo ruim aconteceria brevemente.

Uma voz às suas costas soou em uma melodia passada, fantasmagórica.

Galen levantou para o espelho e viu um homem de cabelo e barba compridos em uma coloração castanha-clara, os olhos azuis cintilavam como uma arma pronta para dar seu primeiro disparo.

— Aglaio...? — sua se extinguiu quando o homem fez um sinal de silêncio.

— Tu escutaste? — a voz de Aglaio era grossa e conservada.

— Hum?

— Isto!

— A música?

— Não! Isto! — Aglaio desenhou com um dos dedos um círculo e apontou para o seu lado direito em uma dança decorada. — O som da bárbara natureza demonstrando que algo tocante e excepcional irá se revelar!

Aglaio era uma alma que vagava pelos arredores da casa de Galen. Este poderia ter a certeza que aquele era tão velho que vira Atlântida crescer diante de seus olhos diminutivos e vivos. Vinte e sete mil anos de idade se ele não estava enganado.

Galen sorriu com a empolgação de Aglaio, constantemente o morto apresentava uma personalidade agitada e de se dizer coisas na qual Galen nunca escutou, entretanto ele sempre sorria para Aglaio e para qualquer pessoa.

Por vezes Galen via outras pessoas que não conseguiram achar seu caminho após a morte, porém nenhuma delas era tão presente quanto o homem de barba e de sorriso travesso.

— O que a natureza irá mostrar? — Galen perguntou em um tom brincalhão.

— Por momento não tenho uma ideia absoluta... Todavia será profundo! Como dois sóis ou duas luas! E... — ele apontou para Galen em um tom sério, quase assustando-o. — Tu estarás envolvido! — disse, soturno.

O jovem de dezoito anos empalideceu e sentiu seus pulmões em brasa. Aquilo foi uma brincadeira?, ele indagou nos pensamentos.

— Certo... — Galen murmurou, sufocado. — Era isso o que tinha a me dizer?

Aglaio balançou a cabeça, assentindo levemente enquanto os olhos se fechavam.

— Importe-se consigo — a alma disse sutilmente, temendo espantar mais ainda o jovem. — Com mais ninguém...

Quando colocou os pés em casa, sentiu-se tonto e encalistrado. Os passos foram descuidados e por vezes se encontrava com algum objeto jogado no chão.

Depois que Aglaio evaporou em meio a uma bruma, Galen se pegava pensando o que significava as palavras dele... Afinal, sempre que Aglaio comentava algo sobre o tempo, acontecia. Dois Sóis?, Galen pensou em um alarme gritante. A Terra vai...?

Ele escutou uma exclamação de dor e, imediatamente, acordou de seus pensamentos. E pôde perceber que se manteve escorado na parede próxima à porta por longos minutos, colocou-se em posição de alerta e os olhos atentos na movimentação da casa quando viu sua superior e avó, Helena, sair com a mão ensanguentada e uma expressão de dor.

— Oh, Galen... — ela murmurou em um abafo de angustia. — Você está bem? Pensava que tinha ido à Atenas, você pegou o carro sem dizer uma palavra...

— Acho que eu que devo perguntar se está bem — Galen discordou com a cabeça e se aproximou de Helena, pegando-a pela mão machucada e tocando a dele sobre a pele ferida. — O que estava fazendo?

— Cozinhando, descuidei-me e me cortei com a faca.

— Na palma da mão? — ele franziu o sobrolho e Helena adotou um semblante de espanto. — Mas... Não me importo o que me contar, aproxime-se mais.

Ela não disse nada a mais e adiantou dois passos, estendendo mais a mão. Galen fechou sua palma sobre a dela e uma luz pálida atingiu o olhar de ambos, cegando a avó dele por um momento curto, uma dor agoniante alastrou em sua mão e ela segurou um grito agudo que instalou-se em sua garganta. Instantes depois, Galen soltou sua mão de Helena e não havia mais nenhum ferimento nela até mesmo cicatrizes antigas tinham desaparecido.

Ela sorriu.

— Você melhorou bastante... Andou praticando? — Helena comentou enquanto uma cocegas se fez em seguida na palma pálida.

— Fora de nossas aulas, não — mentiu. Na verdade, ele se infiltrava na floresta que cercava a casa e fazia ferimentos em si mesmo e se curava em seguida, a cada tentativa ele deixava o ferimento maior e mais profundo.

— Mas, bom trabalho.

— Obrigado.

☾☾

Dakota Clarkson usava uma máscara improvisada na qual fazia cócegas em suas bochechas. O cabelo castanho numa tonalidade clara estava preso a um cabo de cavalo alto e firme, deixando poucos fios saltarem para fora, porém não foi o motivo para ela se preocupar. O que realmente deveria achar sua atenção eram os tetos escorregadios devido à fina — quase invisível — camada de neve. Seu supervisor não gostava quando Dakota decidia praticar o esporte urbano de nome Le Parkour. Principalmente no inverno.

Somente conseguia se aventurar neste esporte quando usava uma máscara, Dale — o homem que dedicou sua vida inteiramente pela Dakota — não aspirava ao reconhecimento dos movimentos calculados e cuidadosos dela. Aquilo lhe parecia estranho, porém Dakota evitava discutir sobre tal assunto, afinal ele já lhe dera a liberdade de pratica-lo à contra gosto.

Desta vez ela se encontrava em uma escola. Era de manhã, possibilitando o sol cujo calor acariciava a pele descoberta do rosto dela como de uma mãe. Estava sentada no telhado, local que não era permitido à passagem de estudantes e funcionários por não ter uma escada, e era ali que Dakota podia presenciar o declínio do Sol.

Firmando a mão na beirada do parapeito, ela sentiu a fina camada de neve derreter sob o seu contato e gotículas molharam suas mãos.

Por poder controlar o fogo, Dakota raramente tinha a experiência de ficar com frio, entretanto o uso de roupas quentes em dias como aqueles era somente para deixar sua imagem oculta em meio aos demais.

O sinal das aulas tocou e significou que o dia escolar havia terminado.

Os alunos começaram a sair do edifício e Dakota seguiu seus passos. Seria totalmente invisível aos olhos dos demais se estivesse usando o uniforme daquele colégio. Ela foi recebida com o olhar acusador de uma jovem um ano mais nova, entretanto Dakota apressou o passo e saiu dos arredores do colégio.

Ela queria ir ao colégio, ter aulas nas quais os alunos reclamavam. Mas Dale alertava Dakota que por mais ter treinado sua vida toda, o fogo que controlava poderia representar risco aos demais e até para ela mesma se ocorresse um caso extremo. Por isso, sempre que conseguia obter um tempo, ela pulava de teto em teto até o colégio mais próximo e assistir uma aula às escondidas, o som da voz do professor recitando sua matéria a fazia feliz, nem que fossem por meros quarenta e cinco minutos além de se arriscar um pouco mais ao fazer tal loucura.

Para ela a vida não deve ser protegida, valorizada, se não poder viver do jeito que desejar, qual seria o sentido de desfrutar de uma? Era o modo como pensava quando via Dale puxando-a para mais um treino cansativo.

O caminho para a sua casa não foi longo, contudo rendeu a ela um bom tempo para pensar em tudo à sua volta. Dakota sempre se questionava o por que de ter um poder de destruir tudo ao invés de consertar? Como o poder de cura? Dakota sempre soube da existência dos doze escolhidos, porém nunca soube o motivo para eles terem esses poderes, pois quando perguntava Dale sempre a respondia com outra pergunta aleatória.

— Isso é tão ruim assim? — perguntou a si mesma com um sorriso costumeiro. — Mas... Não é hora de me preocupar, o lanche me espera.

Quando entrou numa casa espaçosa para duas pessoas, viu Dale sentado em uma poltrona apreciando a leitura de um livro grosso e de capa desenhada com figuras as quais Dakota nunca desejou saber.

— Dale, quem é você? — questionou e tirou o casaco que vestia, deixando-o pendurado.

— Sou seu padrinho, Dale — através dos óculos, seus olhos se encontraram. — Por que sempre me pergunta isso?

Dakota deu de ombros e andou em direção ao sofá do lado da poltrona de Dale.

— É uma pergunta que a Lagarta Azul fez à Alice — respondeu ao pegar o controle e colocar em qualquer canal. — E ela não soube responder na primeira vez.

— Disso eu sei, você sempre está lendo e assistindo Alice no País das Maravilhas. Penso que na verdade você é a Alice.

— Bem que eu queria, pois é uma... — sua voz se extinguiu quando um sorriso aflorou de seus lábios. — É uma loucura maravilhosa, não acha?

— Sim, porém hoje não vou dizer por que existem mais onze pessoas que tem poderes, Dakota — Dale era um homem roliço, de bigode e olhos escuros, o cabelo lhe faltava em algumas partes da cabeça e sempre adivinhava o rumo das conversas de Dakota.

— Ah... — aquilo pareceu desmotiva-la e ela desligou a televisão, pondo-se de pé. — Estarei no meu quarto... Estudando.

Dakota passou a maior parte de sua tarde num estupor mudo, sem saber ao certo o que fazer. Sua mente estava entorpecida e quase toda dormindo. Era difícil a pronuncia sueca, seus acentos eram totalmente diferentes e isso lhe causava frustação.

Fechou o livro de línguas instantes depois de sentir os olhos pesarem, o barulho das folhas se chocando a fez lembrar-se de não ter treinado naquele dia. Mesmo não gostando de seu treinamento, ela precisava.

Saiu de sua casa ao final da tarde, usando uma camiseta de mangas compridas e gola alta, e uma calça jeans. Não comentou a Dale que estaria saindo, pois ele estaria a ficar louco e puxar seu corpo para o quarto. O local de treinamento era pouco fora de Helston, Inglaterra, e isso possibilitou Dakota entrar em um táxi e dizer-lhe o seu caminho. Durante o percurso, ela se encontrou em seu passado.

Aconteceu cedo demais para ela. Dakota nem fizera seis anos quando descobriu que poderia controlar o fogo; as evidencias de ela não ser normal já vieram à tona muito antes: o calor excessivo e uma grande paixão pelas labaredas de uma fogueira, entretanto aquela vez Dakota deixou suas evidências de lado e a presença do medo mergulhando em seus olhos deixando-a totalmente encurralada. Era em uma primavera chuvosa, o calor da estação não fazia diferença para os demais enquanto Dakota sentia necessidade de estar vestida com roupas leves próprias para o verão.

Esgueirando pelos corredores, ela se viu livre do olhar protetor de Dale e se pôs a correr no bosque que estava prestes a abraçar a casa em que ambos conviviam. Correu como nunca pôde, sentia a terra molhada manchar suas botas de borracha e as gotas da chuva penetrarem livremente em suas vestimentas, em seguida, evaporando como se estivessem tocando o fogo ao fazerem contato com a pele cálida dela. Somente parou quando sentiu seus pulmões em brasa e o coração descompassado com tanta força que temia que lhe escapasse do peito. As gotículas de suor não demoravam muito para desaparecer da testa de Dakota.

Apoiou suas mãos nos joelhos e tentava normalizar a respiração quando viu uma sombra dançar entre o dossel e se aproximar lentamente ao encontro dela. Aquilo foi um alerta e Dakota recuou alguns passos, enlaçando seus próprios pés. Viu-se jogada no chão quando mais sombras se desviavam das árvores e corriam de modo arrebatado, as sombras eram como mãos alongadas e dedos finos que poderiam chicotear qualquer um.

Dakota contemplou estarrecida aquele acontecimento insólito e deixou um grito se prender na garganta. Estava cercada por aquelas coisas e começou a chorar como uma criança que se perdeu dos pais, a voz lhe escapou quando ao seu redor era um véu negro. Dakota sempre teve um medo inexplicável do escuro, era como se toda energia fosse consumida em segundos e sua motivação fosse inexistente.

Ela curvou sobre seus joelhos e sentiu o ar escapar do peito como um soco certeiro, inspirou profundamente enquanto tentava inutilmente puxar o oxigênio. Totalmente em vão.

Lágrimas ardiam em seus olhos.

Entretanto uma chama expandiu na direção das sombras, abrindo uma passarela nelas e fazendo-as sumirem de sua frente como orvalho ao amanhecer. Dakota se viu longe daquelas figuras negras dançantes, porém o medo ainda consumia seu corpo. Foi, então, quando percebeu que o fogo fazia um circulo confortável ao seu redor, como um protetor, e a cada momento ele se expandia de tal forma que os olhos dela não conseguiram acompanhar.

As labaredas consumiram o conjunto de dossel a sua volta e Dakota recuou para o encontro de um corpo. Apenas não caiu quando mãos geladas seguraram sua cintura e a puxou para um abraço. Era Dale. Reconheceu o cheiro de madeira dele.

O choro dela se tornou mais alto à medida que corriam em direção a casa.

Ficará tudo bem — ele sussurrou com sua voz empoeirada e Dakota dormiu em seus braços, amedrontada demais para presenciar o restante.

— Senhorita? — o homem à sua frente perguntou em um tom baixo como se estivesse acordando alguém de um longo sono. — Bem... Chegamos.

Dakota estremeceu levemente e estendeu uma quantia necessária a ser paga, saiu do carro com pressa e andou aos passos apertados em direção a um vasto bosque que cercava a estrada para o sul.

Depois de passar por longos arbustos, árvores que arranhavam seu braço coberto por um fino casaco, Dakota se encontrou em uma clareira. O vento fresco acariciava a pele branca e ela estremeceu de leve, impossibilitada de voltar ao presente naquele instante.


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Notas finais do capítulo

Vocês dormiram?
Continuarei meu discurso enorme aqui.
Eu acho que nunca me senti tão desesperada e limitada ao fazer esse capítulo, mesmo não aparentando, me deu um trabalho enorme.
E antes de finalizar o capítulo, eu queria pedir desculpas aos personagens que moram na Escócia. Por eu estar retratando no começo do ano de 2013 (janeiro), eu havia esquecido que na Escócia as 15 e pouco já está escurecido e justamente na parte de Keira eu fiz como se estivesse logo pelas 18 e pouco. Eu poderia ter apagado sua parte e ter escrito tudo novamente, entretanto eu havia gostado deste modo e acabei deixando assim... Então, perdoe-me, na próxima vez eu farei tudo certinho ;u;
Explicando melhor por que um amigo de Keira morreu e as sombras já começaram a se manifestar, pergunto a vocês, o que pensam? Pistas? Percebe-se que Armim já está agindo cedo, colocando medo em nossos protagonistas antes mesmo da mais nova/mais novo completar seus 15 anos... Mas por quê? Não contarei nada por enquanto, mas espero que vocês possam fazer suas conclusões ou chutes xD
E sinceramente? Taquem-me tortas ou qualquer coisa, nunca desejei tanto apagar um capítulo quanto este, vocês podem pensar: “Ah, mas ela só quer dizer que amamos esse capítulo pra deixar o ego dela inflando”. NÃO! Eu... Ah... Desisto!
E para a criadora de Galen, perdoe-me, mas fiz algumas modificações, houve muita coisa que saiu contexto.
Prometo, prometo... PROMETO DO FUNDO DO MEU CORAÇÃO QUE O PRÓXIMO NÃO IRÁ DEMORAR UM SÉCULO! (minha promessa de 2014... vesh ;u;)