POV Evelyn

Saio do quarto a correr, antes que minha mãe me veja. Não quero ter que dar satisfações a ela. Mas como nunca nada corre como eu quero ela me apanhou nas escadas. A sua sorte não muda nunca Evelyn.

– Onde pensas que vais? E nem venhas dizer que vais para o ballet que eu sei muito bem que hoje não há aulas. – ela me olhou séria. Ela me tinha apanhado a conversar animadamente com Zac, no caminho para casa uns meses atrás e não ficou nem um pouco feliz. Claro que não haveria de ficar feliz, afinal Zac não era do nosso “estatuto” social. Agora fazia de tudo para me impedir de estar com ele– Vais ter com aquele garoto? Nem pense nisso ouviu? Ele não é homem para você. Henry sim.

– Henry é meu amigo mãe. Meu amigo. Volto antes do jantar. Talvez – desafiei

– Vês? Desde que andas com aquele rapaz passaste a ser uma insolente! – Ela me deu um tapa na cara.

– Não se preocupe não. Que logo que possa esta insolente aqui desaparece da sua vida. – rugi furiosa. Sem lhe dar tempo para responder, ou bater-me novamente, desapareço pela porta fora. Vou a pé em direcção à pequena loja em que Zac trabalha, afinal não é assim tão longe. Entro e logo ele repara em mim e me lança um enorme sorriso.

– Chegaste mais cedo do que eu esperava – me deu um simples beijo, afinal, ele estava a trabalhar – Ainda vou demorar um pouco a terminar aqui.

– Eu tenho tempo. Importaste que espere por ti ali no parque em frente? – Perguntei enquanto enterrava minhas mãos no seu cabelo.

– Claro que não me importo. Já te disse que te amo? – Ele perguntou todo romântico e voltando a me beijar.

– Já, mas eu nunca canso de me ouvir essas palavrinhas. – Respondi acenando para ele e saindo em direcção ao parque. O parque era enorme e ficava exactamente no centro da cidade de Columbus, Ohio. Algumas pessoas caminhavam felizes, outras corriam tentando manter a forma… Eu adorava me sentar perto do rio olhando para aquela água e tons cinza, o mesmo tom dos olhos de Zac. Enquanto esperava por ele comecei a entrar num estado de pânico. Minha mãe e eu nunca nos déramos bem, mas quanto essa situação pode piorar? Ela me expulsaria de casa? Ela me prenderia em um asilo? Eu não sabia como enfrentar aquela situação. Quando dei por mim já estava a chorar, não pela minha situação, mas por finalmente saber o que é ser amada por alguém e amar de volta. Meus pais nunca me deram amor, carinho.

– Ei, amor, estás a chorar? Eve… Não chores, vai ficar tudo bem – ele se sentou ao meu lado e abraçou-me enquanto mexia em meu rabo-de-cavalo.

– Como podes ter a certeza? Tu já conheceste os meus pais, sabes como eles são! Como eles irão reagir? Zac, eu tenho medo – desabafei contra seu peito.

– Nós vamos ultrapassar isso juntos. Juntos. – Ele tentava -me tranquilizar mas eu continuava bastante nervosa.

– Mas e se.. E se.. – Não consegui terminar a frase.

– Eles não podem -te obrigar a tirar a criança. Não podem – parecia que ele estava a tentar convencer-se a si próprio. Me abracei ainda mais a ele.

– Mas e se eles tentarem? E se não conseguir impedi-los? – Me afastei encarando os seus olhos. Ele permaneceu em silêncio como que se estivesse pensando numa solução.

– E se não esperássemos para ver qual a reacção deles? – Seus olhos brilharam e seu semblante se tornou ainda mais sério. Arqueei uma sobrancelha, sem saber onde ele queria chegar então ele continuou – Casa comigo!

– Zac! Eu… - Ele me apanhou completamente desprevenida. Vendo que eu fiquei desconcertada com o pedido ele prosseguiu:

– Eve, vamos fugir juntos. Seus pais nunca saberão que esperas um filho meu. Vamos para qualquer lugar que queiras. Eu tenho algum dinheiro guardado e poderei arranjar outro emprego. Então casaríamos antes do bebé nascer. O que me dizes meu amor?

– Zac, eu não posso abandonar assim meus estudos, minha dança… - Eu queria tanto poder dizer que sim para ele. Ele tinha planos para nós, para o bebé e isso me emocionou. Mas eu não podia abandonar algo porque eu tanto lutei. Aliás eu também não podia perder o homem porque tanto lutei, por quem eu desafiei meus pais. Eu estava num beco sem saída.

– Eu nunca te pediria uma coisa dessas e sabes disso. Mas eu tenho uma ideia. Sua academia de dança é uma rede de academias pelo país, então é só pedires transferência para uma delas. E a mesma coisa em relação ao colégio. Como já tens dezoito anos, poderás tratar de tudo sem os que os teus pais nem sonhem… Basta quereres ficar comigo, para sempre.

– Isso nem se pergunta, meu amor! É claro que eu quero ficar contigo para sempre. – Coloquei sua mão na minha barriga ainda inexistente – Juntos?

– Juntos!

POV Katniss

– Mãe!! Cheguei e estou morta de fome! – Gritei aos quatro ventos mal botei os pés dentro de casa.

– O jantar está quase pronto minha linda. – Minha mãe apareceu da cozinha sorrindo pelo meu dramatismo. Lhe dei um beijo na bochecha e fui subindo as escadas para o meu quarto.

– Vou tomar um banho, o treino foi pesado hoje. Papai vem jantar?

– Vem sim, aliás nós temos uma proposta para você, então vê senão demora no banho.

– Proposta? Vou tomar banho em tempo recorde!

Subi a correr para o quarto. Quando posei minha bolsa no chão, meu celular começou a tocar

“ It´s going down,

I´m Yelling timber,

You better move,

You better dance…”

–Alô?

– Katniss? Eu queria falar contigo no fim do ensaio mas tu desapareceste logo. – Johanna fez uma pausa e logo retomou – Como é que estás?

– Como achas que eu estou? Meu namorado termina comigo e cinco minutos depois está a enfiar a filha da puta da língua na filha da puta da anã chamada Clove! Ahhh é claro, já me ia esquecendo, ele me disse que hoje seria meu último treino com vocês! – tratei de baixar o tom de voz antes que minha mãe viesse cá acima perguntar o que se passava ou dar-me sermão pela linguagem.

– Eu não acredito naquele canalha! Mas afinal porque ele te expulsou? Eu cheguei em cima da hora e não percebi.

– Ele disse para o grupo que me viu dançando com um cara e deduziu que eu estava a coexistir com outro grupo de dança. Ou seja a passar os movimentos dele para outro grupo. Partilhou isso com os outros e todos concordaram em expulsar-me.

– E você estava a coexistir com outro grupo – ela perguntou incerta.

– Até tu? Não! Eu estava dançando com o Gale sim, mas numa boa. Ele nem é daqui, ele mora nos Estados Unidos! – Bufei – e não mostrei para ele nenhum movimento de Cato!

– Gale? Bem, não importa, eu confio em ti. E para que saibas eu saí do grupo.

– Não precisavas fazer isso amiga. E agora? – Indaguei.

– Agora nos movemos ao ritmo do destino! – Ela ironizou – vai correr tudo bem.

– Olha, falamos depois, tá? Te encontro amanha na escola! Beijo – e desliguei

Bem, o banho vai ter que ser mais rápido do que eu esperava. Faço um coque improvisado para não molhar o cabelo e entro na box. O banho apesar de ter sido à velocidade da luz, foi fantástico. À medida que a água escorria pelo meu corpo minhas más energias iam junto. Saí do banho e logo ouvi minha mãe me chamar para descer. Coloquei um vestidinho leve florido e umas sandálias e desci enquanto desfazia o coque. Quando cheguei à sala de jantar, já meus pais estavam sentados à mesa a cochichar e aos sorrisinhos.

– Boa noite, minha filha! – Meu pai falou alegre quando lhe dei um abraço.

– Só se for para você papai… - respondi enquanto me sentava ao lado da minha mãe.

– Que se passa querida? – Ele questionou com cara de preocupação.

– Cato me viu dançando com Gale, me expulsou do grupo e terminou comigo. – Falei talvez depressa demais.

– Gale? Quem é esse? E quem Cato pensa que é para expulsar sua melhor bailarina? – Papai ficou irritado.

– Querido, Gale é o filho de Hazelle, lembra? De quem te falei à pouco – meu pai concordou com a cabeça. Minha mãe prosseguiu – Eu lamento muito minha filha. E Johanna?

– Ahhh a Johanna não chegou a tempo para me defender mas decidiu sair do grupo também.

– Huumm – minha mãe permaneceu pensativa e olhou para meu com um olhar cúmplice.

– Nesse caso, e após os infelizes acontecimentos do dia, acho que a nossa proposta te vai interessar ainda mais meu docinho. – Franzi o nariz, detestava quando meu pai me chamava assim. Mas logo minha carranca se transformou num sorrisinho.

– Papai, fala logo, antes que me mate de curiosidade!

– Nós criamos uma Drama Queen! – Minha mãe ironizou – Gale te contou onde ele estuda?

– Sim, numa escola de artes qualquer nos Estados Unidos. – Respondi sem saber o que tinha a ver aquilo com a proposta.

– Sim, na califórnia. Bom, eu estive a conversar com Hazelle e quando eu falei para ela que você dançava, ela me falou do Gale e da sua escola. Então, conversa puxa conversa e ela acabou me dizendo que agora em Setembro vão abrir as inscrições para potenciais novos alunos em todos os âmbitos, Dança, musica, teatro,… Enfim, seu pai e eu gostaríamos que você se candidatasse para essa escola.

– Está falando sério? Sério mesmo? Ahhh Eu adorava! – eu me levantei saltando no ar empolgada. – Mas e vocês? Vão largar aqui o emprego?

– Querida, nós não vamos contigo. – Papai falou calmamente

– Mas então onde ficarei? Ficarei lá sozinha? É isso? – Perguntei. Ela sozinha numa cidade, não, num país completamente diferente não era recomendável.

– Katniss, a escola recebe muitos alunos do estrangeiro, então eles tem uma espécie de residência para os alunos que precisem. E não se preocupe que não irá sozinha. Nós achamos que é uma excelente oportunidade e tal como nós, os pais da Johanna acharam o mesmo.

– A Jojo virá comigo? Ai meu Deus!! – Eu saltava, dançava e tudo mais pela sala de jantar. Abracei meus pais feliz da vida. Era bom mudar de ares e não ter que ver a cara de Clato! É juntei o nome deles. Meu telemóvel tocou.

– KAAATTTT!!!! – Joh gritou pelo celular.

– EUUU SSEEEIII! Se preparem, porque nós vamos incendiar o local!