Acordo e a primeira coisa que meus olhos enxergam são dois pontos claros. Pergunto-me onde estou e o que aconteceu, porém, sinto a impressão que minhas perguntas serão respondidas em alguns instantes. Vejo uma mulher de cabelos negros e esvoaçados vindo em minha direção. Olho de relance ao meu redor e o clima vultoso faz com que sinta uma pontada na cabeça, como se estivesse prestes a desmaiar. Solto um grito agudo e a mulher de cabelos pretos segura a minha mão, de uma certa forma, tentando confortar-me. Minerva McGonagall.

— O que está acontecendo? - pergunto, aflita. — Onde estou? — a mulher franze o cenho.

— Você não se lembra de nada? — ela limpa a garganta. — Você foi encontrada nas escadas de seu dormitório, depois de provavelmente ter saído da detenção. Desmaiada.

— Ahn... Mas isso não seria normal? Eu não me lembro, mas devo ter ficado em detenção ontem.

— Como? — ela faz uma pausa. — A sala de detenção foi desativada desde o começo de Hogwarts. — tento me lembrar o que fiz na noite passada, porém isso parece praticamente impossível. Lágrimas começam a cair e percebo que estou perdendo o controle.

— C-como me acharam? — pergunto, balbuciando.

Minerva aponta para um garoto de olhos azuis-escuros e cabelos castanhos. Está encostado na porta da enfermaria, encarando-me. Dou de ombros. — Agradeça a ele, afinal, caso não tivesse a encontrado, você provavelmente rolaria a escada abaixo.

Reviro os olhos e logo suspiro.

— Não vou agradecer porra nenhuma. Não mandei ele ir me buscar. — cruzo os braços e olho pra frente. Talvez infantil demais, ou apenas orgulhosa.

— Olhe os modos, Srta. Buttler! - McGonagall me repreende. Era só o que me faltava.

Bufo, e olho pra ela.

— Você não vai conseguir me fazer agradecê-lo.

— Certo. — ela revira os olhos. — Tenho que resolver algumas coisas. Tyler irá cuidar de você. — ela esboça um sorriso.

— Cuidar de mim? Isso é totalmente ridículo. Já estou me sentindo bem melhor, aliás, o que acha que eu sou? Uma garota de cinco anos?

— Descanse, Hayley. — a mulher sai da sala. Eu não entendo qual é o seu propósito. Um garoto da minha idade cuidando de mim? Isso não faz sentido. Apenas quero sair daqui e viver mais um dia sem importância. Olho para o garoto, que agora se aproxima e seus olhos se tingem em um tom mais claro. Certamente ele era enigmático.

— Qual é o seu nome, estressadinha?

— Você é surdo ou se faz de? Não ouviu Minerva falando? — ele deu de ombros e estendeu sua mão.

— Tyler McFee. — recuso seu aperto de mão. — É um prazer conhecê-la. — ele se vira.

— Por que você estava lá? — pergunto.

— Lá?

— Não se faça de idiota. Nas escadas, quando me encontrou desmaiada.

— Isso você terá que descobrir sozinha. — ele dá uma risada e sai da sala. Eu já havia o visto, porém nunca conversamos. E agora eu só confirmei o que já havia suspeitado: o garoto era um completo idiota. Após mais alguns minutos ele continuava em pé encostado na porta na minha frente.

— Fala sério, você não vai sair daí não? Achei que já tivesse saído.

— Pelo o que eu me lembro a McGonagall pediu pra que eu ficasse aqui cuidando de você, não foi? - disse, num tom de zombaria.

— E eu me lembro de ter dito que não preciso de uma babá! - Devolvi no mesmo tom.

— Você é insuportável, garota. Sabia? Eu nem te conheço direito, mas acho que teremos problemas.

— Por que não fala logo que me odeia? — ele hesita, mas responde.

— Bem... não vamos tirar conclusões precipitadas. Ainda nos encontraremos em breve. Muitas vezes. — ele dá um sorriso falso, como se estivesse se divertindo com a situação.

— Ahn? — ergui uma sobrancelha, mas ele já havia saído da sala. Finalmente iam me tirar daquela merda. Agora é só esperar.

***

O relógio bateu às 16.

Estou sendo conduzida à algum lugar. Não sei onde vão me levar, mas qualquer coisa é melhor que ficar presa numa enfermaria. Olho de relance ao meu redor e vejo pessoas eufóricas vindo em minha direção. Desespero-me e acidentalmente sou levada pela multidão. Uma garota com um cachecol azul esbarra em mim, fazendo com que eu caia de joelhos no chão. Todos pararam e encararam-me, rindo. Levantei-me delicadamente, limpando minha roupa. Olhei pra frente e exclamei.

— Qual é seu problema? Tens merda na cabeça? — a menina recua e suas bochechas coram. Viro-me para os outros. — O que foi? Não tem nada mais interessante pra fazer não, seus filhos da puta? — eles olham assustados pra mim e se afastam. A garota continuou me encarando. — O que? Ficou muda? Não vai falar nada?

— Desculpe. Meu nome é Emilly Williams, sou da Corvinal também. - Sua voz era doce e meiga demais para os meus ouvidos. Ela era quase uma barbie humana, só que ruiva. O rosto totalmente simétrico, como aquelas garotas que saem nos jornais do Ministério da Magia.

— Hayley Buttler. — disse, curta e grossa.

— Eu sei quem é você. Aliás, todos lhe conhecem. — ela sorri, de um modo doce. Acho que vou vomitar. Semicerrei os olhos.

— Eu nem vou perguntar como. —digo, e ao mesmo tempo o último sino bate, mas sequer era 18h, fazendo com que eu e Emily nos entreolhemos. Ouvimos a voz da McGonagall ordenando que todos os alunos fossem para seus dormitórios imediatamente.

— Ahn...Eu já estou indo, você vem? - ela me perguntou envergonhada.

— Não, vou ao banheiro antes. - Menti. Ela assente e sai.

Sigo meus instintos e saio caminhando por Hogwarts. Quando me dou conta, estou perto das masmorras de Sonserina. Dou meia volta, perguntando-me o que aconteceu para o sino bater antes das seis. Acordo do devaneio e volto ao meu dormitório.

Enquanto ando, vejo, em alguns cantos, pessoas namorando. Escondido provavelmente. Uma garota que aparentava ser da Grifinória olhou para mim. Faço um sinal com o dedo, imitando alguém forçando o vômito, mas ela dá de ombros e volta a beijar seu namorado. Continuo caminhando, até ouvir duas vozes familiares, na sala de McGonagall. Sei que isso é errado, mas eu não ligo para bons modos, portanto, aproximo-me da porta.

"Você não podia ter feito isso!" a voz de Minerva exclama

"Eu tinha alguma escolha?" reconheço a voz de Tyler.

"É claro que tinha. Dumbledore tirou você dali exatamente para isso. Para ser alguém melhor. Para aprender a ser como nós. Para estar ciente da escolha entre o bem e o mal." ouço a mulher berrar e recuo.

Saio correndo ao meu dormitório, temendo que alguém me veja. Fechei a porta cautelosamente, para não acordar ninguém. Deito-me na cama, mas antes de sequer fechar os olhos, a garota a qual esbarrara em mim, murmura algo que eu não consigo ouvir. Percebo que ela se dirige a mim.

— Falou alguma coisa? — sussurro.

— Por que você estava lá?

Puta que pariu.

I'm not listening to you

I am wandering right through existance

With no purpose and no drive

'Cause in the end we're all a lie

A lie